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Capítulo 10

Banhos de gelo não eram tudo isso que diziam ser.

"Para de reclamar," Amanda—ou Mandy, como os meninos a chamavam—disse. Ela era a chefe da fisioterapia e não aceitava desaforo. "Juro, você é pior que os meninos."

"Está muito frio."

"Essa é meio que a ideia." A outra mulher, pequena e morena, cheia de vida e com curvas de dar inveja—basicamente tudo que Brit não era—olhou para o relógio. "Mais dois minutos."

Brit não estava sentada em uma banheira de gelo, como nos filmes de beisebol, mas com a combinação do gelo e uma versão botânica de IcyHot no ombro, era quase a mesma coisa.

Apesar do desconforto, ela tinha que admitir que a sala de fisioterapia era... bem, incrível.

Paredes cinza claro ostentavam o logo do Gold. Armários embutidos brancos guardavam uma variedade de instrumentos de tortura da Mandy. Havia uma máquina de estimulação elétrica em um canto, um aparelho de ultrassom em outro, e todos os tipos de fitas, bandagens e suportes.

Ela estava sentada em uma das três mesas de exame e pensou que seu pai teria adorado aquilo.

Mas, por outro lado, ele adorava qualquer coisa que envolvesse consertar corpos. Se não estivesse quebrado, machucado ou torcido, ele não se interessava.

Uau. Sério?

Talvez todos os pucks na cabeça ao longo dos anos estivessem finalmente cobrando seu preço.

Ela estava na sala há uma hora, primeiro preenchendo seus formulários de histórico médico, mesmo que Mandy parecesse saber tudo sobre ela, desde sua aversão a cogumelos—tinham pedido comida para o jantar—até os três dedos fraturados no último ano do ensino médio. Depois, ela passou pelo tratamento prescrito por Mandy.

Que não era ruim ou algo que Brit não tivesse experimentado centenas de vezes, mas com todas as memórias surgindo e a fazendo se sentir vulnerável, ela estava pronta para sair dali.

Uma corrida de alguns quilômetros empurraria a porcaria para fora de sua mente, e amanhã ela seria capaz de funcionar.

"Eu diria que você deveria tirar um dia de folga—"

Isso clareou a mente de Brit na hora. Ela olhou para Mandy, que parecia divertida.

"Eu não disse que você tinha que tirar o dia de folga. Só que você poderia."

Brit bufou.

"É. Não achei que fosse provável." Mandy pegou um rolo de fita KT—um tipo especial de bandagem de cinesiologia que reduz inchaço e hematomas. "Não vou contar para o Bernard que você precisa de um dia de folga, desde que você prometa me avisar se a dor piorar."

"Claro."

Mandy lançou um olhar severo. "Sério. Promete."

Irritação e humor percorreram Brit, e ela levantou as mãos em rendição, não pela primeira vez desde que entrou.

Nos mais de sessenta minutos que conhecia Mandy, ela aprendeu que era mais fácil aceitar a derrota do que discutir com a terapeuta.

Claramente Max não tinha exagerado no chuveiro.

"Eu prometo," Brit disse.

"Promete," Mandy insistiu. "De verdade."

"O que somos, da segunda série?" Brit revirou os olhos. "Eu prometo. Ou talvez eu deva dizer que juro solenemente não exagerar?" Ela levantou o braço bom para segurar o cabelo fora do caminho quando Mandy se abaixou para enfaixar seu ombro.

"É. Claro. Você e todo atleta profissional que eu conheço que força além do que deveria." A outra mulher bufou, terminou de aplicar a fita, então se afastou e encontrou os olhos de Brit. "Você sabe o que isso significa, né?"

"Hum. Não?"

Será que Mandy não percebeu que ela estava brincando? Será que ela realmente ia contar para o Bernard—

"Você acabou de se comprometer a uma maratona de Harry Potter comigo."

Alívio percorreu Brit. Ela soltou um suspiro, seu coração se acalmando. "Isso eu posso fazer. Harry Potter é tudo."

Mandy riu, um som delicado que contrastava com sua postura durona na sala de fisioterapia. "Concordo."

"Bom. Eu trago a pipoca." Brit se levantou. "Terminamos aqui?"

"Sim. Faça esses alongamentos, e vamos reavaliar depois do treino de amanhã."

Argh. Mas era melhor do que ficar no banco por causa de um hematoma idiota. "Ok."

Ela saiu rapidamente em direção à porta.

"Brit?" Mandy chamou.

Com a mão ainda na maçaneta, ela se virou. "Sim?"

"Cuidado com o Mike Stewart," Mandy disse. "Ele sempre vai para o golpe baixo."


Não surpreendeu Brit que Stewart tivesse dado o golpe. Ou pelo menos era isso que ela assumiu que Mandy quis dizer com sua declaração enigmática.

A comunidade do hóquei profissional era relativamente pequena considerando a quantidade de times em suas várias ligas. Mas com o tempo, os elencos tendiam a se sobrepor à medida que os jogadores subiam de nível.

Brit já tinha jogado em uma boa quantidade de times. Por causa disso, ela conhecia muita gente.

E quase ninguém gostava de Mike Stewart. Ele era grosseiro. Ele era arrogante. Tinha sido pego por dois DUIs nos últimos anos e até passou uma noite na cadeia por uma briga de bar na temporada anterior.

Se havia uma pessoa de quem ela precisava se cuidar, era Stewart.

Exceto que não havia nada que ela pudesse fazer além de ficar alerta. Com um suspiro, ela caminhou até seu armário no vestiário para terminar de arrumar sua mochila.

Chaves, roupas sujas, carteira, celular. Seu equipamento ficaria, agora nas mãos dos responsáveis pelo material.

A sala estava quieta, e metade das luzes estavam apagadas, mergulhando o ambiente em sombras.

Algo se moveu do outro lado.

Era tão parecido com aquela noite que Brit teve que conter um suspiro. Mas ainda era cedo, ela disse a si mesma. Ainda havia muitas pessoas por perto.

Essa não era aquela noite, e ela estava muito mais experiente agora do que três anos atrás.

Vários cursos de autodefesa, uma lata de spray de pimenta e muito dinheiro gasto com um terapeuta fariam isso.

A sombra se moveu novamente, e falando em spray, Brit alcançou sua mochila para pegar a lata de metal lisa.

A voz de Frankie tanto a acalmou quanto a assustou. "Como foi a fisioterapia?"

Brit tinha completamente esquecido que eles deveriam conversar depois da sessão com Mandy. "Bem—"

Seus olhos voltaram para o canto quando a sombra se moveu.

O olhar de Frankie seguiu o dela. "Eunice, pode vir aqui?"

Uma mulher de meia-idade saiu da escuridão, caminhou em direção a eles, e todo o medo que tinha enrijecido a espinha de Brit dissipou. Ela percebeu que a mulher mais velha devia estar limpando algo, dado o pano e a garrafa de spray em suas mãos.

"Brit, conheça a Eunice," disse Frankie.

"Prazer em conhecê-la, Sra. Plantain." Eunice estendeu a mão como se fosse apertar antes de morder o lábio e recuar.

Brit não sabia se era porque a outra mulher usava luvas ou simplesmente não tinha o hábito de apertar as mãos dos jogadores.

Ela não se importava com nenhum dos dois.

Estendendo a mão entre elas, ela sorriu e apertou a palma de Eunice.

"Prazer em conhecê-la também," ela disse. "E Brit, por favor."

O sorriso da outra mulher iluminou seu rosto, acalmando os últimos nervos de Brit.

"Eunice ajuda na limpeza nos dias de treino. Ela nunca perde um turno." Frankie inclinou a cabeça, piscou. "A menos que o filho dela esteja jogando."

Deus, Brit amava esse esporte. Amava a maneira como colocava um olhar de orgulho no rosto dos pais, amava a maneira como iluminava a vida das crianças.

Claro, havia idiotas, e pessoas que se machucavam ou tinham experiências negativas.

Mas, no geral, ela nunca tinha feito parte de nada melhor.

Os três conversaram por mais alguns minutos, Brit descobrindo que o filho de Eunice estava tendo uma chance nos Junior As—uma boa perspectiva para um garoto da Califórnia—e que ele jogava como central.

"Ela trabalha em troca de equipamento," Frankie disse baixinho depois que Eunice voltou à limpeza. "Não poderia pagar de outra forma. Bernard a contratou com a condição de que ela nunca trabalhasse em um dia que seu filho jogasse."

"Você está tentando me amolecer em relação a ele."

"Não precisa," disse Frankie. "Ele é um bom homem. Você verá isso em breve. Ele é duro como pedra, mas..."

Brit suspirou, embora em seu coração ela já soubesse a verdade—tendo visto ele interagir com o time no treino.

Ela já teve treinadores ruins. Bernard não era um deles.

"Ele é bom," ela disse em concordância. O que realmente não deveria ser irritante, mas de alguma forma ainda era.

Frankie sorriu. "Agora você está entendendo." Ele acenou com a cabeça em direção a Eunice. "E o filho dela é o garoto mais bem equipado do time dele com os rejeitos da NHL."

"Bem, droga," ela resmungou de brincadeira, completamente encantada apesar de si mesma. "Por que você teve que me contar isso?"

"Não posso deixar você laborando sob um equívoco."

Ela soltou um suspiro e jogou a mochila sobre o ombro bom. "Eu poderia ter laborado por mais alguns dias."

"Melhor que não. Vamos." Frankie gesticulou em direção ao corredor. "Vou te acompanhar até o carro."

Brit sentiu alívio com suas palavras, o que temperou um pouco de sua diversão. "Estou bem."

Frankie não respondeu, apenas começou a andar, e ela teve a sensação de que mesmo se recusasse sua oferta, Frankie ainda a acompanharia até o carro.

Como Mandy havia demonstrado, algumas batalhas não valiam a pena lutar.

Especialmente quando o resultado era o que ela precisava no fundo, de qualquer maneira.

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