Confiança
Isabelle
Eu olhava para o monte de roupas que Cassandra tirava das sacolas uma a uma, só conseguia assistir em estado de choque. Nos últimos dez minutos, ela estava desempacotando as roupas, que agora estavam quase empilhadas na cama como uma pequena montanha.
Já estava quase anoitecendo, eu estava esperando por Kaden desde que ele me disse que me mostraria sua mansão. Embora ainda não fosse noite, eu não sabia por que havia uma estranha antecipação borbulhando dentro de mim. Como se eu estivesse quase ficando impaciente para vê-lo, mas eu não estava incomodada com a presença de Cassandra, ela era legal e seu comportamento me lembrava minha própria irmã, cuja memória agora estava toda embaçada, mas alguns fragmentos ainda estavam lá.
"E este aqui, eu pedi ao designer para fazer especialmente para você." Ela sorriu e puxou um vestido roxo vibrante, eu não conseguia identificar o tecido, mas parecia mais brilhante que seda e mais leve que tule.
"É realmente lindo," exclamei, meus olhos olhando os enfeites com admiração. Estava brilhando.
"É todo seu, na verdade, todas essas roupas são suas. Você pode até experimentar as minhas se quiser," ela sorriu inclinando-se para dar um leve beliscão na minha bochecha.
"Obrigada, Cassandra. Mas você não acha que são demais?" perguntei hesitante, eu nem conseguia contar quantos vestidos havia ali.
"Demais? De jeito nenhum," um sorriso incrédulo tomou conta de seus lábios, "Isso é só o começo. Eu encomendei mais vestidos para você, vou recebê-los na próxima semana."
Eu podia sentir minha cabeça ficando tonta, no palácio antes eu só recebia quatro vestidos, a maioria deles rasgados e remendados. Era quase inacreditável que essas roupas fossem todas para mim.
"Você tem certeza?" perguntei.
"Tenho mais certeza do que nunca," ela riu, "Afinal, você é a Luna... você merece muito mais do que is..." o resto das palavras não saiu de sua boca, ela fechou a boca e eu pude notar seus olhos se arregalando e seus dentes mordendo a língua como se tivesse dito algo que não deveria.
A palavra mais desconhecida ressoou na minha cabeça--Luna. O que isso significava?
"Luna?" A confusão tomou conta de mim.
Eu a vi mexendo nos dedos, ela parecia nervosa e eu não conseguia entender o motivo. A curiosidade estava lá, mas o caos a sobrepujava.
"Umm... uma Luna, é uma... uh," ela começou hesitante.
"Hmm?"
"Uma Luna é a... ahm, é..." Sua gagueira foi interrompida pelo som alto da porta se abrindo.
Eu me sobressaltei por causa do barulho repentino e Cassandra virou a cabeça para olhar para a entrada. Quando meus olhos seguiram para lá também, vi Kaden entrando apressadamente no quarto.
Seus olhos instantaneamente lançaram um olhar fulminante na direção de Cassandra e ela desviou o olhar como se tivesse sido pega fazendo algo errado.
"Isabelle, me desculpe pelo atraso," o olhar de Kaden suavizou enquanto ele caminhava em minha direção, "Fiquei preso em alguns trabalhos, como você está se sentindo agora?"
"Melhor," um sorriso se formou automaticamente em meus lábios ao vê-lo.
"Então, vamos?" Ele perguntou.
"Sim," concordei, sua presença me fez esquecer a pergunta que eu tinha feito a Cassandra.
Quando tentei me levantar, um pequeno gemido escapou dos meus lábios por causa da dor nas mãos e nos pés, percebi que teria que suportar. A expressão de Kaden ficou preocupada e ele rapidamente me segurou pelos braços.
"Você está bem?" Ele perguntou preocupado.
"Sim, só meus pés estão um pouco doloridos," respondi.
Ele suspirou, "Você não precisa andar," antes que eu percebesse, meus pés já não estavam mais no chão. Ele me pegou com facilidade e minha mão se enrolou em seu pescoço por reflexo enquanto um grito escapava da minha garganta.
"Posso te mostrar a mansão assim. Não quero que você se machuque." Ele falou olhando para mim, senti meu coração pular uma batida.
Mas por que ele se importava tanto comigo?
Eu era apenas uma estranha.
"Não quero te causar nenhum desconforto," consegui dizer.
"Oh, Isabelle, confie em mim--Carregar você é a última coisa que causaria qualquer desconforto a ele." Cassandra riu, notei Kaden lançando um olhar fulminante para ela, mas o motivo também permaneceu desconhecido.
"Anjo, está tudo bem. Eu estou bem em te carregar, na verdade, estou ainda mais feliz por estar fazendo algo por você." Ele me ofereceu um sorriso, "Então nunca mais pense em algo assim, ok?"
Me vi acenando com a cabeça para suas palavras e o sorriso em seu rosto se alargou.
"Vamos então?" Ele perguntou.
"Sim," sorri de volta.
Ele se inclinou, colocando um beijo na minha testa e saiu do quarto. Ao sairmos, vi os longos corredores levando a algum lugar que eu ainda não conhecia. Li as placas de identificação penduradas em cada porta, o quarto de Kaden era logo ao lado do que eu estava hospedada, como ele havia me informado. Outras placas de identificação também chamaram minha atenção.
Enquanto Kaden nos levava mais adiante, vi que estávamos entrando em uma área espaçosa que presumi ser o salão. Notei alguns homens parados ali, havia um grande sofá no meio e um conjunto adicional que incluía prateleiras cheias de garrafas com algum tipo de líquido colorido, havia um balde com gelo e reconheci Jason enchendo um copo com algum líquido que não consegui identificar e adicionando alguns cubos de gelo.
"Kaden?" Falei e suas pernas desaceleraram, ele olhou para mim.
"Sim, amor?"
"O que é aquele lugar?" Apontei para onde Jason estava sentado em uma cadeira.
O olhar de Jason se voltou para nós e vi ele apressadamente escondendo o copo atrás das costas.
Kaden pigarreou, "Aquele é um bar,"
"O que é um bar?" Minha curiosidade tomou conta.
"Bem... é um lugar onde você pode tomar bebidas, nós temos nossas bebidas aqui."
"Que bebidas?"
Vi ele abrir e fechar a boca duas vezes antes de suspirar, "Bebidas alcoólicas."
"O que é álcool?" Perguntei.
"Você não sabe o que é álcool?" A incredulidade apareceu em suas feições.
Balancei a cabeça em resposta à sua pergunta e ele parecia realmente surpreso com minha confissão.
"É feito de frutas, e ao beber você pode ficar um pouco tonta e alegre." Ele falou, superando seu estado de surpresa.
"Faz mal para a saúde?" Perguntei e ele murmurou em resposta.
"Então por que ele está bebendo?" Apontei para Jason, que agora estava levantando o copo sorrateiramente até a boca. Vi seus olhos se arregalarem com minha frase antes de ele colocar o copo no chão e se levantar.
"Não vou beber mais," ele levantou as mãos em rendição e um suspiro baixo escapou dos lábios de Kaden.
"Você ouviu? Ele não vai beber mais." Ele sorriu para mim e começou a andar novamente, pude ver a expressão aterrorizada de Jason voltando ao normal.
"Você também bebe ál-álcool--" Lutei um pouco para pronunciar o nome, "álcool também?"
O corpo de Kaden ficou ligeiramente tenso com minha pergunta, pude ver a hesitação em seus olhos enquanto ele me olhava.
"Sim, às vezes," a relutância estava lá enquanto ele admitia.
"Por quê?" Uma carranca se formou automaticamente entre minhas sobrancelhas.
"Ajuda a aliviar o estresse."
"Você não bebe muito, né?" Eu não sabia por que a preocupação estava tomando conta de mim.
Pude ver o brilho em seus olhos ao notar a mudança na minha voz, um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, "De jeito nenhum, é só muito ocasional, além disso, não sou muito fã." Ele falou enquanto continuava andando, eu estava tão absorta em observá-lo que não percebi que estávamos fora do prédio, indo em direção ao campo verde.
"E em eventos e festivais, às vezes." A menção do festival chamou minha atenção, eu frequentemente ouvia sobre diferentes tipos de ocasiões da boca das empregadas, mas nunca tive a chance de participar, exceto na minha infância, que foi destruída por aqueles monstros muito cedo.
"Vocês celebram festivais aqui?"
"Sim, na verdade muitos." Ele deve ter notado a empolgação em meus olhos, "Eu poderia até organizar um depois que você se recuperar totalmente."
"Sério? Você faria isso?" Um sorriso se abriu no meu rosto sem que eu percebesse.
"Por que não? É uma coisa simples, além disso, eu faria qualquer coisa para ver esse sorriso no seu rosto." Ele sorriu e se inclinou para beijar a ponta do meu nariz.
Uma risada escapou da minha garganta com sua ação, mas então, enquanto suas palavras se repetiam na minha mente, algo profundo girou dentro de mim. Era indescritível, as palavras que saíam de sua boca eram reconfortantes e derretiam o gelo que eu não sabia que havia revestido meu interior.
Pela primeira vez em todos esses anos, senti minhas asas tentando se abrir. As sensações de formigamento ao lado da minha coluna e o ponto abaixo do meu ombro. As asas queriam sair, mas eu tive que suprimi-las.
Eu confiava em Kaden, mas também me lembrava das palavras que minha mãe e meu pai disseram--Não exponha sua identidade e suas especialidades para ninguém, a menos que você possa confiar plenamente neles. Eu confiava em Kaden, mas tinha acabado de conhecê-lo. Precisava de mais tempo para mostrar e me abrir completamente para ele.
A ideia de acabar naquele inferno novamente me aterrorizava. A escuridão, os passos pesados, aqueles olhos ameaçadores, a lembrança de tudo me fazia querer me esconder.
"Este é o jardim." Sua voz me tirou dos pensamentos.
Meus olhos se moveram para olhar o belo jardim à frente, havia uma fonte no meio e uma escultura bonita. Incontáveis flores cobriam todo o lugar. Lindas rosas, peônias, lavandas, begônias e outras desconhecidas. Era lindo.
As brisas suaves estavam rondando.
Kaden se sentou no banco, nunca me soltando de seus braços. Acabei em seu colo e minha cabeça descansando contra seu peito. A batida rítmica de seu coração acalmou meus próprios batimentos.
Eu não sabia se ficar tão próxima dele era apropriado, fui ensinada que a proximidade deveria ser evitada se eu não confiasse, mas me sentia segura em seus braços, então me aconcheguei mais em seu peito, respirando seu cheiro.
Seus braços se moveram para envolver meu corpo, um suspiro de contentamento saiu de sua boca.
"Você está com frio?" Ele perguntou enquanto as brisas ficavam um pouco mais fortes.
"Não," olhei para ele e respondi.
"Não hesite em me dizer se sentir frio, eu pego um casaco para você." Ele sorriu e colocou algumas mechas do meu cabelo atrás da orelha.
Eu nunca tinha visto o carinho e a ternura nos olhos de ninguém por mim, exceto nos de Kaden. Minha vida inteira, tudo o que eu tinha visto era tormento, mas ele era o completo oposto do que eu tinha enfrentado. Ele me segurava em seus braços como se se importasse, ele olhava para mim e sorria, ele me acariciava enquanto eu estava acostumada apenas a receber feridas.
"Por que você se importa comigo, Kaden?" A pergunta saiu automaticamente da minha boca.
Algo brilhou em seus olhos, muito diferente e estranho.
"Há algumas coisas que não posso te contar agora, Anjo," ele acariciou minha bochecha, "Mas prometo que quando chegar a hora certa, vou te contar tudo o que você merece saber, mas agora realmente não posso responder essa pergunta."
A suavidade em seu olhar e a sinceridade em sua voz me fizeram deixar o assunto de lado e me inclinei em seus braços, desta vez meus próprios braços envolveram seu torso, e suspirei em seu abraço.
"Obrigada, Kaden." Isso foi tudo que me lembro de ter dito antes de lentamente adormecer com os dedos de Kaden desenhando pequenos círculos nas minhas costas, acalmando meus medos e transformando-os em nada.