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6. Young Fate (parte 1)

Serena

Kimberley xingou o telefone. Com certeza ela não estava fazendo nada importante o suficiente para não atender suas ligações. Mais uma vez, a chamada foi enviada para a caixa postal. Ela estava prestes a guardar o telefone quando viu o identificador de chamadas de Anime.

"Alô!" Kimberley atendeu com uma voz irritada. "Estou tentando te ligar há séculos!"

"Desculpa," respondeu a voz tímida. "Eu estava passeando com o Murry e--"

Kim revirou os olhos. "Ann, quando. Você vai. Parar. De perder seu tempo. Com. Os amadores?"

"Amadores? Quem? Murry? Mas ele é tão doce, Kimberley, e um verdadeiro cavalheiro. Os outros caras agem como idiotas e pervertidos!"

"E ele também é um nerd de matemática!" Kimberley balançou a cabeça para a garota. Será que essa menina não sabia reconhecer algo de qualidade? Tão baixos padrões. "Larga ele e namora o Connie. Ele está a fim de você e vale o seu tempo."

"Mas, eu não gosto dele."

Kim parou no meio do caminho. "Então você prefere um nerd a um atleta? Não me faça rir, Anime! Essas são as coisas que você usa para construir seu status. Você não vai a lugar nenhum ficando com ele. Tudo o que ele vai fazer é te derrubar e no final te deixar sem nada."

Um suspiro suave pôde ser ouvido do outro lado da linha.

"Ok," Anime murmurou.

"Desculpa, querida, mas é assim que o mundo funciona!"

Kimberley não estava tão distraída ao telefone para não perceber que alguém havia surgido das árvores à sua frente. Os fortes raios de sol brilhavam sobre uma garota em um vestido branco decorado com flores azuis, assim como sapatinhos azuis fofos que cobriam seus pés. Seu cabelo parecia castanho escuro, quase preto, e estava preso com uma fita azul em um rabo de cavalo. A jovem levantou a cabeça e Kimberley viu olhos azuis brilhantes e sobrancelhas ligeiramente espessas, mas bem cuidadas.

"Anime, vou te ligar de volta a tempo de te ajudar a se vestir para o baile."

"Hã? Mas Kim--"

Ela desligou antes que Anime pudesse dizer outra palavra, então observou a garota.

"O que você está fazendo aqui?" Kimberley perguntou. "Onde estão seus pais?"

Em vez de responder, a garota fez outra coisa; tirou um caderninho de algum lugar e começou a escrever nele com um lápis. Kimberley revirou os olhos.

"Oi, garota, estou falando com você!"

Depois de alguns segundos, a garota arrancou a página e entregou a ela. Kim pegou o papel e leu.


Você pergunta sobre meus pais, mas onde estão os seus?


"Sério, garota, você poderia ter dito isso."

Ela amassou a nota e a jogou por cima do ombro. "E, em segundo lugar, eu sou adulta. Não preciso de pais me vigiando como você."

A garota apenas sorriu e escreveu no caderno em um ritmo muito mais rápido. Kim leu a segunda nota, mas não sem lançar um olhar fulminante para a criança.


Bem, isso explica muito sobre você. As garotas deste mundo são realmente bobas. Espero não parecer ou agir como você quando crescer. Você parece o tipo de pessoa que chamariam de vaca.


Seu rosto ficou com uma expressão de espanto, mas ela rapidamente se recuperou e lançou outro olhar mortal para a jovem.

"Bem, com licença, Madame Azul, mas eu prefiro ser uma vaca do que a garota que está prestes a ser o brinquedo descartável de algum cara. E pensar que eu estava tentando te salvar disso. Hum!"

Kim jogou essa nota nos arbustos e continuou a caminhar pela estrada deserta. Isso deveria ser o fim para ela. Mas, infelizmente, não importava o quanto ela andasse, a garota conseguia se manter alguns passos à frente dela, sempre andando de costas. Kimberley gemeu de frustração.

"Garota, pela última vez, vá encontrar seus pais!"

Um pedaço de papel respondeu a ela.


Você vai precisar deles mais do que eu.


"O que diabos isso quer dizer?" A garota mais nova a ignorou e voltou a escrever no caderno. Por um momento, Kimberley sentiu a brisa da tarde, antes quente, se fortalecer e ficar fria.


O que tem na bolsa?


Ela franziu a testa com a pergunta repentina, mas respondeu mesmo assim. "Um vestido de baile vermelho. Por quê?"

A jovem sorriu, escreveu e entregou a Kimberley o pedaço de papel...


Perfeito.


...que foi a última coisa que ela viu naquele dia.

~•~•~•~•~•~•~•~•~

'Ok. Então eu já limpei o chão, as janelas, arrumei as camas, cuidei dos coelhinhos de poeira, limpei os talheres, o que mais? Ah, sim, a toalha de mesa!'

Quando terminou tudo, Serena deu um passo para trás e olhou para o lugar. Tudo estava pronto.

As cortinas vermelhas estavam fechadas e as decorações de Natal espalhavam-se pela casa. Os sinos e a fita vermelha estavam presos a uma trepadeira plástica verde que serpenteava ao longo de todas as paredes. O chão estava impecável. Pratos e copos decorativos estavam dispostos na mesa e a comida estava guardada, esperando para ser servida e aquecida mais tarde.

Tudo parecia estar em ordem. Serena suspirou após um longo dia de trabalho, aliviada que Jenifer era orgulhosa demais para decorar o exterior com enfeites de Natal.

Ah, bem, problema dela.

E menos trabalho para Serena.

O relógio sobre o piano marcava 19h30. Vendo que tinha tempo livre, ela tirou o avental, pegou o casaco, trancou a porta da frente e saiu para dar uma volta.

A maioria dos vizinhos estava fora e as crianças corriam pela grama. Sua cidade não recebia muita neve, mas com a imaginação de uma criança havia toneladas dela. Até Hilda estava na grama criando anjos de neve imaginários com seus netos. Serena acenou para ela e Hilda acenou de volta.

Enquanto fazia isso, Serena involuntariamente captou pedaços de uma conversa entre duas adolescentes que passavam.

"...Caramel me disse quando a montagem..."

"...ele vai perceber que saímos para a festa de Natal do Baile de Máscaras de Vampiros? A rainha vai ficar tão linda..."

Serena as observou enquanto caminhavam, conversando e rindo, antes de enfiar as mãos frias nos bolsos e se virar.

Elas deviam estar falando sobre a festa de máscaras daquela noite, mas onde entrava a parte de "se vestir como um vampiro"? Isso não estava no cartaz da última vez que ela verificou.

Suspiro.

Donya terá que confrontar Lance sozinha esta noite.

'Eu sei que a mamãe não me quer aqui, então por que eu fico?'

'Não é como se eu tivesse muita família para me apegar, todos foram embora.'

Mas Serena nunca entendeu por quê.

Minutos depois, ela estava de volta ao ponto de partida. O cachorro do outro lado da rua latia para algum pedestre desconhecido. Seu corpo relaxou enquanto ela se sentava no muro de um metro em frente ao portão, o mesmo muro que segurava terra, ervas daninhas e samambaias. Lá ela permaneceu em silêncio, olhando para a rua e tentando não pensar muito. Algo que ela nunca parece conseguir fazer.

Então lá estava ela, olhando para as estrelas a cada poucos minutos. Alguém tocou em seu ombro e ela pulou, mas a adrenalina esfriou quando viu que era uma garota de provavelmente dez ou oito anos. A jovem sorriu para ela, carregando um caderno, um lápis e um pequeno pacote.

"Oi," Serena cumprimentou, afastando uma mecha de cabelo escuro e ondulado do rosto. "O que você está fazendo?"

A jovem, ainda sorrindo, balançou a cabeça fazendo seu rabo de cavalo saltar alegremente. Ela se sentou ao lado de Serena e juntas as duas ficaram olhando para o nada.

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