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3. O anúncio da festa

Serena

"Finalmente te encontrei!" A brisa da manhã carregou sua voz pelo ar. Muitos alunos se viraram para olhar, mas a saudação de Donya era direcionada a uma única pessoa. Serena levantou a cabeça e lá estava ela, descendo os degraus em alta velocidade. A loira a envolveu em seus braços e a abraçou como se não a visse há semanas, apesar de terem se visto ontem. "Por um momento, achei que você não ia conseguir."

Serena retribuiu o abraço de bom grado, mas sua mente ficou confusa, pois não conseguia entender a declaração da amiga. Ela deu a Donya um olhar perplexo enquanto se afastavam. "Sério, por quê? Você ouviu que algo aconteceu ou...?"

Donya fez uma careta que a deixou ainda mais confusa, como se não percebesse algo que deveria.

"Ah, não é nada importante," disse ela. "É SÓ as 'princesas maravilhosas' te fazendo trabalhar muito mais do que costumam. Você nem tem tempo para fazer suas próprias tarefas, mas não é nada." Serena ignorou o sarcasmo da amiga e seguiu para dentro da escola. "É algo com que vou ter que me acostumar," disse Serena simplesmente. "Não é como se eu fosse a algum lugar tão cedo, certo? Tenho que lidar com isso."

Donya parou de andar. Sentiu como se uma panela de baratas tivesse sido derrubada em sua cabeça. Será que Serena realmente não vê as coisas como ela vê? Será que ela realmente não percebe o quanto isso a afeta?

Os olhos da morena voltaram a encontrar os de Donya quando sentiu sua mão apertar seu ombro. Seus movimentos eram lentos enquanto era virada. Serena tinha uma sensação de onde isso ia dar e ainda não estava pronta para isso.

'Será que vai ser uma daquelas conversas de novo?'

"Vamos, querida," disse Donya. "Não diga coisas assim! Um dia você vai conseguir um bilhete só de ida para fora daquele inferno que chamam de casa e nunca mais olhar para trás! Você não vai ter que lidar com nada em breve ou fingir que leva na boa!"

O corpo da morena era sacudido para frente e para trás a cada palavra. Risos saíam de sua boca, mas Donya franzia ainda mais a testa. O riso de Serena tinha um tom triste. "Você nunca vai mudar. Relaxa. Eu não estou fingindo--"

'Pelo menos não quando estou sozinha.'

"--e descobri algumas maneiras de não deixar que eles me afetem. Encontrei tranquilidade~."

Sua melhor amiga não insistiu mais no assunto, apenas a virou e sorriu. "Acho que alguém não notou meu novo penteado. Como sempre."

Quando as duas entrelaçaram os braços, Donya decidiu que aquela discussão já era suficiente para elas, além de não querer fazer Serena se sentir mal continuando.

Pisadas, conversas, grunhidos, espirros. Tudo dos alunos que vieram para as aulas de inverno. O barulho era perfeito para Serena, mais uma distração de seus pensamentos. Ela sentiu um empurrão, era Donya, mostrando algo colado na parede. "Ei, olha isso. Festa de Natal na mansão particular de algum cara rico. Legal, né?"

"Seria ainda mais legal se eu realmente fosse," disse Serena, revirando os olhos. "O 'dragão' nunca vai me deixar ir."

Donya olhou para Serena e suspirou. "Você precisa parar de deixar essa mulher controlar sua vida."

"Não é como se eu realmente tivesse escolha," retrucou Serena. Ela tirou a mão da de Donya. "Deveria estar feliz que ela não me mandou para algum orfanato para sofrer. Ela ainda tem meu fundo universitário, então se eu desobedecê-la, tudo isso, minha única esperança de viver uma vida para mim mesma, vai embora! Não é como se eu pudesse conseguir uma bolsa de estudos com minhas notas e eu não pratico esportes. Além disso," sua mão apertou firmemente a alça da bolsa. "Apesar de quanto eu reclamo, poderia ser muito pior.

"Tenho sorte de estar sendo permitida ir à escola, mesmo que seja só para fazer a Jenifer parecer bem. Além disso..." Serena parou no meio do corredor e olhou para trás, em direção ao lado de fora, onde a luz brilhante parecia levar a um lugar cheio de felicidade. "Não acredito que devo deixar a casa dos meus pais nas mãos de alguém como ela. Há uma sensação estranha no meu estômago que me diz que ainda há algumas coisas que preciso descobrir sobre a morte do meu irmão. É só que a maneira como ele morreu não parecia com Brodian, parecia uma história inventada. Algo aconteceu naquela casa quando eu era jovem, Donya, mas não me lembro o que." Uma lágrima escorreu pelo lado direito do seu rosto. Serena a enxugou.

'Droga, elas estão caindo. Você não prometeu a si mesma que nunca choraria em público? Você e suas histórias tristes.'

Ela sentiu uma mão se envolver ao redor de seus ombros e relaxou um pouco enquanto Donya a trazia para um abraço apertado.

"Eu sei, eu sei. Aconteça o que acontecer, estou aqui para você."

Serena manteve uma expressão séria e retribuiu o abraço de bom grado. O calor de seus corpos a acalmou e lhe deu força. Mas então...

"Você e o Lance se beijaram de novo? Você está com um cheiro meio estranho."

Donya a soltou e deu um tapa em seu ombro, apontando para ela e murmurando dramaticamente, "p-p-por que você!"

"Hum," uma voz atrás delas interrompeu a conversa. Donya revirou os olhos.

"Um segundo, Nick," disse Donya, pensando que era seu irmão. "Como você ousa dizer essas coisas?"

"Hum."

"Caramba, garoto, eu disse para me dar um minuto! Para seu conhecimento, Serena, eu cheiro muito melhor do que qualquer garota que você já conheceu e, mesmo que Lance e eu estivéssemos nos beijando, o cheiro não pode, e repito! Não pode simplesmente pular dele e cair em mim. Eu uso muito perfume para isso!"

"Parece que você tem muito tempo livre também," comentou a voz atrás delas.

"Ah não," murmurou Serena.

Donya, ainda sem perceber de quem era a voz, se virou e gritou para eles. "Nick, pela milionésima vez, cale essa--" ela parou de falar imediatamente. O diretor Guillotine estava atrás delas, Nicholas não estava à vista.

"--essa boca linda e impecável que você tem," ela continuou, forçando um sorriso. "Já te disse o quanto admiro seus lábios? Eu queria ter lábios como os seus. Onde você os fez? Quer dizer, não como cirurgia ou algo assim, tipo, hum..."

Serena estava tentando ao máximo suprimir uma risada, mas a risada veio de qualquer maneira, uma grande, desamparada risada.

A diretora Guillotine franziu o nariz em desgosto para as garotas. "Vocês estão atrasadas demais para ficarem perambulando pelos corredores. Sugiro que vão para suas salas de aula, imediatamente."

As garotas não precisaram ouvir duas vezes, saíram de lá como um raio!

~~~~~~~*~

"Eu ainda não acredito que você disse que os lábios dela eram falsos," exclamou Serena, andando de mãos dadas com sua amiga depois da aula.

Donya riu. "Primeiro de tudo, eu disse que me perguntava onde ela os fez."

"Ah, claro, porque isso definitivamente não é a mesma coisa."

Elas entraram na fila e esperaram sua vez para começar a pegar a comida. Serena olhou ao redor para todas as opções disponíveis. Um sanduíche de atum parecia bom. Talvez ela tentasse uma salada de batata hoje.

Donya apontou para um pote de mini barras de chocolate e elas rapidamente pegaram uma. No meio disso, Serena avistou um tesouro raro, a coisa mais bonita do mundo.

'Cheesecake!'

Só havia uma fatia sobrando. Não era tão grande quanto poderia ser, mas isso não importava, uma colherada já seria suficiente para ela. Ela rezou para que as duas pessoas à sua frente fossem intolerantes à lactose ou tivessem um medo horrível de laticínios (porque essa é a única maneira de alguém passar por um cheesecake, certo?).

Para sua sorte, eles deslizaram suas bandejas para longe. Ela sussurrou um pequeno agradecimento, trouxe sua bandeja e estendeu a mão para pegá-lo. O fantasma do seu sabor já podia ser sentido em sua língua. No entanto, antes que seu desejo pudesse ser realizado, uma mão bem cuidada o reivindicou.

"Ei!" Ela gritou. 'Como você ousa tirar o sagrado cheesecake?!'

Seu rosto ficou ainda mais quente quando viu quem era.

"Kimberley. Devia ter adivinhado que era alguém sem educação."

Os olhos de Kimberley perfuraram os de sua prima e ela sorriu. "OI, Serena! Não, espera, ouvi dizer que você está sendo chamada de 'empregada' hoje em dia, certo?" Kimberley riu de sua própria piada e assim fizeram suas três capangas: Mina, Tiffany e Anime.

"Acho que essa piada já está bem velha, Kimberley," declarou Serena revirando os olhos. "Seca e desgastada, como alguém que ambas conhecemos."

"É isso aí!" incentivou Donya atrás da morena.

'Droga, Donya, cala a boca!'

Kimberley revirou os olhos para elas. "E onde está seu namorado, 'Gorducha'? Não o vejo vindo ao seu resgate hoje. Ah, sim! Agora me lembro! Depois que você o deixou sozinho atrás das arquibancadas, tivemos a conversa mais doce." Ela lambeu os lábios. "Muito da conversa foi com a língua."

Serena podia perceber que Donya ficou tensa de raiva e incerteza atrás dela.

'É hora de acabar com isso, estou ficando com fome. Não devia ter pulado o café da manhã.'

"Kimberley, estou tão feliz por você!" Serena exclamou em uma felicidade fingida. Donya olhou para ela como se tivesse dito algo equivalente ao sol fazer ótimos sapatos. "Você finalmente começou a praticar para sua futura profissão."

"O que diabos--"

"Não seja tímida! Você sabe do que estou falando, se metendo com homens casados que nunca vão te querer?" Ela observou enquanto a boca de Kimberley caía antes de continuar. "Mas, infelizmente, na sua profissão, há poucos homens neste mundo que escolheriam uma vadia para casar. Então, por que você não dá o fora e para de piscar esses cílios falsos para mim? Apenas volte para casa com seu grupinho de aspirantes."

Kimberley se endireitou, mas era óbvio que estava chocada com a resposta de Serena. A garota estava pronta para avançar nela, mas se manteve parada.

"Bem," ela começou, piscando os cílios como se tentasse segurar as lágrimas. Seus olhos estavam vermelhos de raiva e suas bochechas ficaram quentes. "Sinto muito que você não esteja tendo tanta ação enquanto limpa banheiros!" As capangas riram de seu comentário. Serena manteve sua posição, colocando uma mão no quadril enquanto a outra segurava a bandeja. "É uma pena que sua mãe não esteja aqui para te ajudar. Eu me pergunto o que a matou, aliás? Deve ter sido algo que ela pegou do seu pai depois de dormir com vadias como eu!"

Serena suspirou, tentando ao máximo não deixar sua frustração transparecer com o uso constante da morte de sua família nos insultos de Kimberley ao longo dos anos, que começaram no primeiro ano do ensino médio. "Você sabe que dizem que admitir é o primeiro sinal de recuperação..."

Donya riu. Serena podia se sentir orgulhosa agora que fez sua melhor amiga rir. Kimberley apenas rosnou para elas e entregou o cheesecake para Anime, a loira à sua esquerda que agia como se seus dedos inquietos fossem a coisa mais interessante para olhar.

"Pegue isso, eu não quero."

Anime a olhou, de olhos arregalados. "Mas eu sou intolerante à lactose."

Kimberley fez uma careta antes de balançar seus cabelos lisos. "Parece que eu me importo em descobrir o que isso significa?!"

Com isso, ela estalou os dedos e as quatro saíram, com Anime seguindo desajeitadamente atrás.

Serena ficou ali, querendo balançar a cabeça para sua suposta prima. Sua mente acabou vagando para o espaço profundo. As quatro garotas já haviam tomado conta de uma mesa, deixando o primeiro e único ocupante lá nervosamente olhando para elas. A atenção trazida pela conversa começou a se dispersar, atenção que as duas garotas nem perceberam que tinham. Donya observou os alunos próximos sussurrarem entre si, sentindo-se envergonhada por Kimberley ter mencionado algo assim em público. Ela sentiu-se puxando a ponta do suéter sobre a boca. Sentindo que era hora, ela emergiu de trás de Serena.

"Como alguém pode sequer pensar em tratar sua irmã assim?" Serena se perguntou em voz alta, olhando para Kimberley e Anime.

"Bem, meio-irmãs, estou certa?"

Donya ficou em silêncio por um tempo após sua declaração sobre meio-irmãs e Serena viu que ela parecia triste.

"Donya, não me diga que você realmente acreditou nela?"

Ela deu de ombros. Por trás dela, Serena avistou um folheto com um visco no topo. A legenda, "Baile Anual", destacava-se em belas letras cursivas douradas. Ela pegou a mão de Donya, pensando cuidadosamente sobre sua decisão.

"Você sabe," ela disse, "você poderia simplesmente confrontá-lo na festa..."

Donya levantou a cabeça, olhos esperançosos. "Você quer dizer que você vai?!"

Serena riu, colocando um braço ao redor da loira e a levando para uma mesa.

"Eu estou com você."

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