




Capítulo 7
Gwen estava sentada no quarto de seu pai, um pequeno cômodo de pedra com tetos altos e afilados e uma enorme lareira de mármore, enegrecida pelos anos de uso, nos andares superiores do forte. Ela e ele estavam sentados em lados opostos do quarto, sobre pilhas de peles, olhando para o fogo crepitante em um silêncio sombrio. A mente de Gwen girava com as notícias enquanto ela observava um tronco desmoronar, e acariciava o pelo de Logel, que estava enrolado aos seus pés. Atordoada com o que estava acontecendo, ela olhava para as chamas como se não houvesse mais nada pelo que viver. Sentia como se aquele fosse o dia em que sua vida terminava.
Gwen geralmente encontrava conforto ali, naquele quarto onde passara incontáveis horas lendo, se perdendo em histórias de batalhas, de bravura, e às vezes de mitos, de lendas que nem ela nem seu pai sabiam se eram reais ou fantasia. Seu pai lia para ela, às vezes até as primeiras horas da manhã, crônicas de um tempo diferente, de um lugar diferente. Acima de tudo, ela amava as histórias dos guerreiros, seus grandes desafios. Logel sempre estava aos seus pés e Alston frequentemente se juntava a eles, e em mais de uma noite, Gwen voltava com os olhos cansados pela manhã de tanto ler ou ouvir histórias a noite toda. Ela adorava ler, até mais do que adorava armas, e enquanto olhava agora para as paredes do quarto de seu pai, forradas com estantes cheias de pergaminhos e volumes encadernados em couro passados de geração em geração, desejava poder se perder em alguns deles agora.
Mas ao olhar para seu pai, a terrível realidade voltava. Se havia algo que perturbava mais Gwen, era a expressão no rosto de seu pai; ela nunca o tinha visto tão perturbado, tão conflituoso, como se pela primeira vez na vida, ele não soubesse que ação tomar. Seu pai era um homem orgulhoso—todos os seus homens eram orgulhosos—e nos dias do reino unido, quando tinham um rei, um castelo, uma corte para se reunir, quando eram todos homens livres, cada um deles teria dado a vida pela liberdade, teria levado a batalha ao inimigo nos portões, por mais imponente que fosse. Não era do feitio de seu pai, nem de seus homens, se render, negociar ou fazer um acordo. Mas o velho rei que os traiu, que se rendeu, os deixou nessa posição terrível, e como um exército fragmentado e disperso, não conseguiam encontrar um inimigo que já havia sido permitido se alojar em seu meio.
"Teria sido melhor ter sido derrotado em batalha, ter enfrentado Bandrania com nobreza e perdido," disse seu pai, com a voz pesada, dolorida. "A rendição do velho rei foi uma derrota—apenas uma longa, lenta e cruel. Dia após dia, ano após ano, uma liberdade após a outra é tirada de nós, cada uma nos tornando menos homens."
Gwen sabia que ele estava certo; mas também entendia a decisão do velho rei: Bandrania se espalhava por metade do mundo. Com seu vasto exército de escravos, teriam devastado Escalon até não sobrar nada. Eles nunca teriam desistido, nunca teriam recuado. Pelo menos agora estavam vivos—se é que se podia chamar isso de vida.
"Isso não é sobre levar nossas meninas," continuou seu pai, contra o fogo crepitante. "Isso é sobre poder. Sobre subjugação. Sobre esmagar o que resta de nossas almas."
Ela examinou seu pai, sentado ali olhando para as chamas, um grande guerreiro que amava seu rei, agora deixado para presidir o que restava de um reino fragmentado e ocupado. Enquanto ele olhava, ela podia ver que ele estava olhando para seu passado e seu futuro ao mesmo tempo. Ele estava debatendo qual era o preço da harmonia.
Enquanto Gwen estava sentada ali, ela esperava e rezava para que ele chegasse a uma forte resolução interna, se virasse para ela e dissesse que havia chegado a hora de lutar, de se levantar pelo que todos acreditavam, de fazer uma resistência. Que ele nunca a deixaria ser levada.
Mas, em vez disso, para sua crescente decepção e raiva, ele ficou ali em silêncio, olhando, meditando, sem lhe oferecer as garantias de que ela precisava. Ela não tinha ideia do que ele estava pensando, especialmente depois da discussão anterior, e sentia uma distância maior se espalhando entre eles.
"Eu me lembro de um tempo em que servi ao Rei," ele disse lentamente, sua voz profunda e forte a acalmando, como sempre fazia, "quando toda a terra era uma só, todos os nossos cavaleiros juntos. Nosso Reino era invencível. Só precisávamos guarnecer As Chamas para conter os trolls, e defender o Portão Sul para conter Bandrania. Fomos um povo livre por séculos. Sempre foi assim que deveria ser."
Ele ficou em silêncio por um longo tempo, o fogo crepitando, e Gwen esperou impacientemente que ele terminasse, acariciando a cabeça de Logel.
"Se o velho Rei tivesse nos ordenado defender o portão," ele continuou, "nós o teríamos defendido até o último homem. Todos nós teríamos morrido felizes, irmãos de armas, lado a lado, pela nossa liberdade. Mas uma manhã todos acordamos para encontrar Bandrania entre nós, para descobrir que ele havia feito um acordo, havia aberto o portão; ao amanhecer, nossas terras estavam cheias deles."
"Eu sei de tudo isso," Gwen lembrou, impaciente, cansada de ouvir ele repetir a história.
Ele se virou para ela, seus olhos cheios de derrota.
"Quando seu próprio rei desistiu," ele perguntou, "quando o inimigo já está entre você, o que resta para lutar?"
Gwen fervia de raiva.
"Talvez reis não devam sempre ser seguidos," ela disse, sem mais paciência para a história. "Reis são apenas homens, afinal. Em alguns casos, a rota mais honrosa pode ser desafiar seu rei."
Seu pai suspirou, olhando para o fogo, sem realmente ouvi-la.
"Nós aqui, de Magandi, vivemos bem comparado ao resto de nossa terra. Eles nos permitiram manter armas—armas de verdade, ao contrário dos outros, que foram despojados de todo aço sob pena de morte. Eles nos deram a ilusão de liberdade, apenas o suficiente para nos manter complacentes. Você sabe por que eles nos deram tais concessões?" ele perguntou, virando-se para ela.
"Porque você foi o maior cavaleiro do Rei," ela respondeu. "Porque eles querem lhe conceder honras condizentes com seu posto."
"Não," ele respondeu. "A razão deles é muito mais pragmática. É apenas porque somos tudo o que está entre eles e As Chamas. Bandrania teme os trolls mais do que a nós. É apenas porque somos o último forte entre aqui e As Chamas, entre nós e eles, e porque sabemos como defender a muralha. Eles têm seus próprios homens, seus próprios recrutas, mas nenhum tão vigilante quanto nós. É por isso que eles querem nos manter felizes: como guardiões."
Gwen pensou.
"Sempre pensei que nossa causa permanecia nobre: não estamos apenas defendendo para Bandrania," ele disse, "mas para nosso próprio povo, nossa própria terra natal. Afinal, se os trolls invadissem, eles nos matariam também. E sempre pensei que estávamos de alguma forma acima de tudo isso, acima do alcance de Bandrania. Mas esta noite," ele disse gravemente, virando-se para ela, "percebo que isso não é verdade."
Ele suspirou.
"Essas notícias... Eu esperava algo do tipo há anos," ele disse. "Não percebi há quanto tempo estava me preparando para isso. E apesar de todos esses anos, agora que chegou... não há nada que eu possa fazer."
Ele abaixou a cabeça e ela olhou de volta para ele, horrorizada, sentindo uma indignação furiosa crescendo dentro dela.
"Você está dizendo que os deixaria me levar?" ela perguntou. "Você está dizendo que não lutaria por mim?"
Seu rosto escureceu.
"Você é jovem," ele disse, "ingênua. Você não entende o jeito do mundo. Você olha apenas para esta luta—não para o reino maior. Se eu lutar por você, se meus homens lutarem por você, podemos vencer uma batalha. Mas eles voltarão—sempre voltam—e não com cem homens, ou mil, ou dez mil—mas muitos mais. Se eu lutar por você, condeno todo o meu povo à morte."
Suas palavras a cortaram como uma faca, deixando-a tremendo por dentro, não apenas pelas palavras, mas pelo desespero por trás delas. Uma parte dela queria sair correndo dali, enojada, tão decepcionada com esse homem que ela uma vez idolatrara. Ela sentia vontade de chorar por dentro com tal traição de seu próprio pai.
Ela se levantou, tremendo, e olhou para ele com raiva.
"Você," ela fervia, "você, o maior lutador de nossa terra—mas com medo de proteger a honra de sua própria filha?"
Ela viu o rosto dele escurecer, humilhado.
"Cuidado com o que diz," ele avisou sombriamente.
Mas Gwen não recuaria.
"Eu te odeio!" ela gritou.
Agora ele se levantou.
"Você quer que todo o nosso povo seja morto? Tudo pela sua honra?" ele gritou de volta.
Gwen não conseguiu se controlar. Pela primeira vez em tanto tempo quanto conseguia se lembrar, ela explodiu em lágrimas, tão profundamente ferida pela falta de cuidado de seu pai por ela.
Ele deu um passo à frente para consolá-la, mas ela abaixou a cabeça e se virou enquanto chorava. Então ela se recompôs rapidamente, virou-se e enxugou as lágrimas, olhando para o fogo com os olhos marejados.
"Gwen," ele disse suavemente.
Ela olhou para ele e viu que seus olhos também estavam marejados.
"Claro que eu lutaria por você," ele disse. "Eu lutaria por você até meu coração parar de bater. Eu, e todos os meus homens, morreríamos por você. Na guerra que se seguiria, você também morreria. É isso que você quer?"
"E minha escravidão?" ela retrucou. "É isso que você quer?"
Gwen sabia que estava sendo egoísta, que estava colocando a si mesma em primeiro lugar, e isso não era de sua natureza. Claro que ela não permitiria que todo o seu povo morresse por sua causa. Mas ela só queria ouvir seu pai dizer as palavras: Eu lutarei por você até a morte. Quaisquer que sejam as consequências. Você vem primeiro. Você é o mais importante.
Mas ele permaneceu em silêncio, e seu silêncio a machucou mais do que qualquer coisa lá fora.
"Eu lutarei por você!" veio uma voz.
Gwen se virou, surpresa, ao ver Alston entrando no quarto, segurando uma pequena lança, tentando colocar sua expressão mais corajosa enquanto marchava para dentro.
"O que você está fazendo aqui?" seu pai rosnou. "Eu estava conversando com sua irmã."
"E eu ouvi tudo!" Alston disse, marchando para dentro, determinado. Logel pulou e correu até ele, lambendo-o, e ele acariciou sua cabeça.
Gwen não pôde deixar de sorrir. Alston compartilhava a mesma veia de desafio que ela, mesmo que fosse muito jovem e pequeno para que sua habilidade correspondesse à sua vontade.
"Eu lutarei por minha irmã!" ele acrescentou. "Mesmo contra todos os trolls da floresta!"
Ela se inclinou e o abraçou e beijou sua testa, enxugando suas lágrimas.
Ela então se virou de volta para seu pai, seu olhar escurecendo. Ela precisava de uma resposta; precisava confrontá-lo e ouvi-lo dizer isso.
"Eu não importo mais para você do que seus homens?" ela perguntou.
Ele olhou de volta, seus olhos cheios de dor.
"Você importa mais para mim do que o mundo," ele disse. "Mas eu não sou apenas um pai—sou um comandante. Meus homens também são minha responsabilidade. Você não consegue entender isso?"
Ela franziu a testa.
"E onde essa linha é traçada, Pai? Quando exatamente seu povo importa mais do que sua família? Se o sequestro de sua única filha não é essa linha, então o que é? Tenho certeza de que se um de seus filhos fosse levado, você iria à guerra."
Ele franziu a testa.
"Isso não é sobre homens versus mulheres," ele retrucou.
"Mas não é?" ela retrucou, determinada a manter sua posição. "Por que a vida de um menino vale mais do que a de uma menina?"
Seu pai estava furioso, respirando pesadamente, e afrouxou o colete, mais agitado do que ela jamais o tinha visto.
"Há outra maneira," ele finalmente disse.
Ela olhou de volta, perplexa.
"Amanhã," ele disse lentamente, sua voz assumindo um tom de autoridade, como se estivesse falando com seus conselheiros, "você escolherá um rapaz. Qualquer rapaz que você quiser entre o nosso povo. Você se casará antes do pôr do sol. Quando os Homens do Senhor vierem, você estará segura, aqui conosco."
Gwen olhou de volta, horrorizada.
"Você realmente espera que eu me case com um estranho?" ela perguntou. "Que eu simplesmente escolha alguém, assim? Alguém que eu não amo?"
"Você vai!" seu pai gritou, seu rosto vermelho, igualmente determinado. "Se sua mãe estivesse viva, ela cuidaria desse assunto—ela teria cuidado disso há muito tempo, antes de chegar a este ponto. Mas ela não está. Você não é uma guerreira—você é uma garota. E garotas se casam. E isso é o fim da questão. Se você não tiver escolhido um marido até o final do dia, eu escolherei um para você—e não há mais nada a dizer sobre o assunto."
Gwen olhou de volta, enojada, enfurecida com ele. Mas, acima de tudo, sentia decepção em seu pai.
"É assim que o grande Comandante Oscar vence batalhas?" ela perguntou, querendo machucá-lo. "Encontrando brechas na lei para se esconder de seu ocupante?"
Gwen não esperou por uma resposta, mas se virou e saiu do quarto, Logel em seus calcanhares, batendo a pesada porta de carvalho atrás de si.
"Gwen!" seu pai gritou atrás dela—mas a porta batida abafou sua voz.
Gwen marchou pelo corredor, sentindo seu mundo inteiro se deslocar sob seus pés, como um terremoto. Sentia como se não tivesse mais um chão sólido para pisar. Percebeu, a cada passo que dava, que não poderia mais ficar ali, quaisquer que fossem as consequências. Que sua presença colocaria todos em perigo. E isso era algo que ela não podia permitir.
Gwen não conseguia entender as palavras de seu pai. Ela nunca, jamais, se casaria com alguém que não amasse. Ela nunca cederia e viveria uma vida como todas as outras mulheres. Ela preferia morrer primeiro. Ele não sabia disso? Ele não conhecia sua própria filha?
Gwen parou em seu quarto, calçou suas botas de inverno, se envolveu com suas peles mais quentes, pegou seu arco e bastão, e continuou andando.
"Gwen!" a voz irritada de seu pai ecoou de algum lugar no corredor.
Ela não lhe daria a chance de alcançá-la.
Gwen continuou marchando, virando corredor após corredor, determinada a nunca mais voltar ali. O que quer que a esperasse, lá fora no mundo, ela enfrentaria de frente. Ela poderia morrer, sabia disso—mas pelo menos seria sua escolha. Pelo menos ela estaria livre.
Gwen chegou às portas principais do forte, Logel ao seu lado, e os servos, parados ao lado de tochas morrendo tão tarde da noite, olharam para ela, perplexos.
"Minha senhora," um disse, "a tempestade está furiosa."
Mas ela ficou ali, determinada, até que finalmente eles entenderam. Eles trocaram um olhar, então cada um estendeu a mão e lentamente puxou a pesada porta.
O vento uivava e uma rajada gelada atingiu seu rosto, a neve cortante como gelo, e ela olhou para fora e viu a neve até seus tornozelos. Mas ela não se importou.
Gwen saiu, direto para a neve, sabendo que era perigoso estar ali fora à noite, os bosques cheios de criaturas, criminosos experientes, e às vezes trolls. Especialmente nesta noite, a Noite da Lua de Inverno, a noite em que todos deveriam ficar dentro de casa, trancar os portões, a noite em que os mortos cruzavam mundos e qualquer coisa poderia acontecer. Ela olhou para cima e viu a enorme lua vermelha-sangue pendurada no horizonte, como se a tentasse a se aventurar ao ar livre, e, com a neve batendo em seu rosto, ela o fez.
Gwen deu o primeiro passo e não olhou para trás, pronta para enfrentar o que quer que a noite tivesse reservado para ela.