




O primeiro turno
Sophia POV
Meu nome atual é Sophia Turner, você deve estar se perguntando por quê, bem, eu já tive muitos nomes e tudo isso só para sobreviver ao meu passado e não deixar que ele me alcance, eu prefiro morrer a voltar a ser como eu era.
Hoje sou enfermeira no Hospital Memorial Gillian, tenho poucos amigos, mas esses são muito queridos para mim e são os únicos que conhecem minha história.
Sou uma mulher bonita, e hoje eu vejo isso, meu cabelo curto é tingido de um vermelho intenso, uma cor que destaca meus olhos esverdeados, com linhas azuladas, muitos dizem que parecem olhos de gato. Meu nariz é fino e assim são as linhas gerais do meu rosto, sim, eu fiz cirurgia plástica e não me importo de dizer isso. Este novo rosto é quem eu sou, quem eu nasci para ser: Uma mulher adulta, independente, com gostos e desgostos, com opiniões fortes e que não leva desaforo para casa.
Tenho 1,72 m de altura e não uso salto alto, afinal, passar de 12 a 48 horas em pé não é para qualquer um e muito menos deve ser feito de salto, mas o bom é que consigo ficar um tempo maior de salto sem reclamar.
No hospital eu só uso o necessário, o uniforme azul claro, com o cabelo preso em uma rede, unhas sempre curtas, sem esmalte, mas cutículas sempre bem cuidadas e sem maquiagem ou perfume. Afinal, unhas podem furar luvas, maquiagem pode cair em cima de uma ferida e infeccionar, e alguns pacientes podem ser alérgicos a perfumes.
Meus hobbies? São tão variados quanto o número de pacientes que entram na emergência. Já joguei RPG, na verdade, ainda jogo quando tenho tempo, adoro rock e música clássica, assisto vídeos engraçados no TikTok e depois leio as notícias do dia, ainda estou estudando, acabei de escrever um artigo sobre tratamentos especiais em caso de queimaduras. Sim, eu sei que sou enfermeira, mas gosto de me destacar e já me perguntaram por que não sou médica, eu simplesmente respondo: E quando vou ter tempo para estudar para ser médica? Além disso, amo ser enfermeira e adoro trauma!
Não sou perfeita, tenho meus defeitos, mas não os escondo. Tenho diagnóstico de transtorno bipolar com depressão e mais recentemente hipomania, o que significa que faço acompanhamento psicológico duas vezes por semana e uma vez por mês com o psiquiatra, não tenho vergonha disso, sei as causas dos meus problemas, mas não posso mudá-las, estou apenas tentando aceitá-las e seguir com minha vida.
Isso, isso sou eu, pelo menos uma parte muito resumida de quem eu sou, acho que falta muita coisa.
“Ei! Soph!”
“Soophhh!!”
“SOPHIA TURNER!”
Virei a cabeça para o lado e vi minha amiga, Luciana O'Conner, ela tem cabelo loiro, olhos castanhos e um corpo que faz muita gente ter inveja.
“Você estava na lua de novo!”
Sorri e revirei os olhos.
“Você sabe, eu adoro divagar!” Então olhei ao redor e vi a luz do trauma acendendo e pulei.
"Excelente! Agora está de volta à Terra!" A risada de Luciana ecoou e algumas cabeças se viraram para nós.
"Vamos, vamos! Em 10 minutos as ambulâncias, bombeiros e polícia chegam!”
Gritei para o grupo de enfermeiros e enfermeiras que estavam ali, já tinha o tablet com o aplicativo de informações na mão.
Trabalhar no Gillian's significava ter acesso à melhor tecnologia para trabalhar, éramos o hospital número um em trauma nos Estados Unidos. O relatório indicava que três pessoas estavam chegando com múltiplos cortes e perfurações de bala, já tinham perdido muito sangue, enviei o pedido ao banco de sangue, solicitando O+ e O-, enquanto olhava as salas de cirurgia e já pedia para reservar três. Bem, esse não é exatamente o papel de uma enfermeira, mas eu era a chefe de enfermagem naquele setor. Mandei uma mensagem para o chefe de trauma que estava de plantão hoje, Doutor Victor Benedict, um dos melhores do país.
Logo eu estava na sala de espera, enquanto a equipe médica esperava do lado de fora, outros estavam menos feridos e também estavam prestes a chegar, separei a equipe de acordo com suas forças e fraquezas, as camas já estavam feitas, e só restava esperar que eles chegassem.
“Vamos lá, pessoal, parece que tivemos uma tentativa de assassinato que não deu certo e muitos dos que vão chegar são o que chamamos de danos colaterais. Todos que não forem casos de cirurgia serão atendidos por nós e pelos médicos residentes.” Apontei para os médicos que ficariam ali conosco. “Somos o hospital número um e nossa taxa de perda é muito baixa e eu não quero que essa taxa aumente justamente no meu turno! Então vamos trabalhar e, depois do turno, se não houver incidentes, o bar do John terá duas rodadas pagas para todos deste turno! Então não me decepcionem!”
Ouvi o grito de alegria da maioria dos que estavam ali, claro, alguns não gostavam de beber, então completei.
“Para quem não gosta de beber, no próximo turno eu trago meu famoso bolo de chocolate!”
Sorri vendo-os ficarem felizes também e assim que terminei meu discurso a porta de emergência se abriu e as pessoas começaram a chegar.
O tempo passou rapidamente enquanto todos os feridos eram atendidos, não demorou mais de cinco minutos para alguém me chamar e pedir permissão, ou me perguntar algo e então vi meu turno de 24 horas quase acabar.
“Sophia!”
Ouvi meu nome ser chamado enquanto eu caminhava para bater o ponto e ir me trocar. Virei-me para ver a Doutora Miriam Davis se aproximando, ela era a chefe médica do hospital.
“Eu sei que foi um turno longo, mas vou pedir para você ficar pelo menos mais algumas horas. A família Heroux pediu especificamente para você cuidar do andar em que estão.”
Respirei fundo e fechei os olhos, encostando na parede.
“Esse turno foi cheio, mal parei para descansar.” Honestamente, eu precisava de pelo menos algumas horas de sono. “Já estou acordada há 24 horas, preciso de pelo menos 3 horas de sono. Você sabe…”
“Eu sei, foi o que respondi a eles. Você pode dormir em um dos quartos, vou pedir para te chamarem em quatro horas se não houver emergência.”
Senti a mão de Miriam no meu ombro e abri os olhos novamente e sorri.
“Tudo bem, vou só dar uma olhada em tudo e depois vou dormir.”
Desencostei da parede e comecei a caminhar para o 42º andar, passando por uma das recepções e peguei um dos tablets, entrei com minha senha no sistema e fui olhar a rotação de pessoas no andar indicado.
Sorri ironicamente, eles tinham reservado o andar inteiro só para a família e amigos, ao entrar no andar vi que o sobrenome fazia jus aos que estavam ali.
Havia vários homens e mulheres ao longo dos corredores, parados ao lado das portas de entrada, vestindo ternos pretos ou uniformes militares pretos.
“Exército de Lobos.”
Sussurrei e revirei os olhos e comecei a caminhar para a recepção do andar, percebi que alguns olhos se voltaram para mim, provavelmente tinham ouvido meu sussurro. Pessoas treinadas assim estão acostumadas a notar coisas ao redor, então não fiquei surpresa com isso.
“Ei Julie, preciso que você faça essas modificações.”
Passei para a mulher na recepção, ela era uma das minhas amigas mais próximas.
“Claro!”
A voz dela era um pouco mais fina e alguns até diriam irritante, mas eu já tinha me acostumado com isso.
“Soph! Graças a Deus!”
Ouvi uma voz masculina falar um pouco mais alto e virei a cabeça na direção dela. Joshua Gregory estava lá, provavelmente o médico responsável agora. Ele tem cabelo preto curto e espetado, está usando o jaleco cinza claro sobre o terno, e seu corpo não é tão musculoso quanto os dos seguranças que estavam ali, mas era bem definido, como um modelo. Sei que ele passa algumas horas por dia na academia.
“Joshua, se eu soubesse que era você aqui, teria negado o pedido!”
Respondi em tom de brincadeira e então o abracei e beijei sua bochecha.
“Ou teria vindo mais rápido!”
Revirei os olhos e sorri.
“No mínimo teria vindo só por causa do 42.” Ele continuou e eu bocejei.
“Claro, afinal, é a resposta para o sentido da vida, do universo e tudo mais.”
Respondi e comecei a caminhar em direção ao elevador novamente.
“Já pedi algumas modificações na equipe do andar e coloquei algumas sugestões de tratamento.” Entreguei o tablet para ele.
“Bom que estão!”
Ouvi algumas pessoas falando comigo e acenei para elas.