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~Dois anos depois~
ARTEMISIA
Eu estreitei os olhos enquanto encarava meus pais do outro lado do salão de jantar. O que eles estavam pensando ao fazer um anúncio na frente de milhares de pessoas sem o meu consentimento?
Deveria ser ilegal fazer coisas sem o consentimento do seu filho. Talvez, eu estabeleça isso como uma lei a ser seguida quando me tornar presidente.
Mas agora, isso parece completamente impossível. Porque eu vou me casar amanhã com sabe-se lá quem!
Apesar do dilema em que eu estava, joguei a cabeça para trás e soltei uma gargalhada. Talvez, de tão ridícula que a situação parecia.
"É bom saber que você está bem com isso. Achei que você faria um escândalo." Minha mãe sorriu.
Eu estava bem com isso?
Eu não estava nada bem! Queria gritar. Queria fazer um escândalo como ela disse, mas não podia por causa da presença de alguns convidados.
Se eu soubesse que hoje seria o dia em que meus pais anunciariam que eu estava sendo leiloada, talvez eu tivesse evitado isso fugindo.
Embora não parecesse que eles estavam me vendendo para os convidados, devido à forma como anunciaram de maneira picante. Além disso, os convidados até me parabenizaram porque estavam alheios.
Conhecendo o tipo de pessoas que meus pais eram, eu tinha certeza de que eles se encontraram com o estranho para discutir o preço pelo qual eu valia e concordaram com o que lhes interessava.
Eu sei que não conseguiria fugir para sempre, mesmo que quisesse, porque meu pai era um homem poderoso e tinha informantes por todo o estado. No entanto, eu tinha certeza de que me esconderia antes que eles me encontrassem.
"Estou ainda espantada," murmurei.
Então a raiva borbulhou dentro de mim ao lembrar o que eles tinham feito. Peguei um guardanapo da mesa e limpei a boca antes de encará-los.
"Vocês estão fazendo isso sem o meu consentimento. Isso é inaceitável!"
"Somos seus pais. Temos o direito de fazer o que quisermos, seja do seu desejo ou não." Disse meu pai.
Eu não estava surpresa. Ele sempre encontrou uma oportunidade para me arranjar um marido desde que terminei o ensino médio. Ele estava procurando todos os meios possíveis para se livrar de mim e conseguir muito dinheiro em troca. Dinheiro que ele esbanjaria em pouco tempo devido ao seu estilo de vida excessivo.
Meu pai vem de uma família de velhas riquezas. Ele herdou as propriedades de seu pai - o terceiro Conde de Thorns - após sua morte. Isso significa que ele era rico e não precisava da ajuda de ninguém. Ainda assim, ele escolheu conspirar com minha mãe.
"Com licença? Vocês são meus pais e, claro, eu tenho todo o direito de fazer o que desejo porque sou maior de idade!"
"Cuidado, mocinha." Advertiu meu pai.
"Enquanto você estiver sob este teto, minha querida, faremos o que quisermos com você," acrescentou minha mãe.
"Por que estão fazendo isso comigo? Sempre fui uma ótima filha e nunca quebrei nenhuma regra que vocês impuseram. Por que querem me vender?" Questionei, fungando.
"Não é vender e Deus nos livre de fazer isso com qualquer um dos nossos filhos." Declarou minha mãe, me encarando pelo uso da palavra.
"É praticamente a mesma coisa, mãe." Apontei. "O que eu não entendo é por que vocês estão fazendo isso."
"Porque isso é o melhor para você. É melhor você se casar agora e ter filhos do que esperar até ficar mais velha, quando os homens não te acharem mais desejável."
Meus olhos se arregalaram com o que ela disse. Eu deveria me casar para gerar herdeiros para o estranho a quem eu estava sendo vendida?
Isso era a coisa mais absurda que eu já tinha ouvido e uma desculpa lamentável para vender sua filha e conseguir mais riqueza.
No entanto, parecia que eles já tinham tomado a decisão, porque nada do que eu dizia parecia afetá-los. Nem mesmo o meu pedido para esperar pelo menos mais um ano.
"Eu queria ter sido adotada! Pelo menos eu aceitaria essa desculpa ridícula de vocês para ganhar mais dinheiro comigo."
"Jovem dama..." Meu pai começou.
"Com licença," murmurei, saindo do quarto.
Andei de um lado para o outro no quarto por um tempo. Então me joguei na cama enquanto encarava o teto branco, cansada de ficar em pé.
Peguei meu travesseiro, soquei-o antes de gritar nele.
"Por que eu?!"
Eu sempre estava na linha de frente de tudo. Diziam que eu era mais velha e tinha que fazer muitas coisas. Especialmente se minha irmãzinha, Emma, tivesse feito algo errado, eu era quem limpava a bagunça dela.
Nós tínhamos praticamente apenas dois anos de diferença. Então, cada vez que queriam que eu fizesse coisas no lugar dela, dizendo que ela era muito jovem, mesmo que fosse culpa dela, parecia horrível.
Gemi, virando de lado. Balancei a cabeça enquanto vários pensamentos de como escapar invadiam minha mente.
Eu não podia fugir. Nem podia mudar a decisão já tomada dos meus pais porque eu estava completamente presa.
Pensei em como seria o dia de amanhã.
"Amanhã." Fiz uma careta. Eu seria entregue a um homem pelo meu pai.
Ele iria me conduzir até o altar em direção a um estranho que eu nunca tinha visto antes.
Pensei no homem com quem estavam me forçando a casar. Não conseguia imaginar sua aparência, já que nunca o tinha visto.
A única informação que meus pais me deram durante o anúncio foi que ele era absurdamente rico.
Um homem absurdamente rico?
Certamente, ele seria um homem velho. Nunca tinha visto um homem jovem descrito dessa forma antes.
Engasguei ao imaginar um homem de barriga saliente, altura mediana, com entradas no cabelo e olhos fundos, parado na frente do padre no altar.
Lembrei-me de assistir a um filme em que os pais da protagonista a forçaram a se casar com um homem porque estavam à beira da falência.
O homem com quem ela iria se casar supostamente pagaria uma grande quantia de dinheiro por se casar com a filha deles.
Agora, eu estava na mesma situação. Nunca na minha vida pensei que algo assim aconteceria comigo.
Eu sempre imaginei um príncipe encantado que me arrebataria. Um príncipe encantado que seria meu marido e o homem com quem eu teria todos os meus filhos.
Agora, essa visão parecia vaga porque eu iria me casar amanhã.
Um casamento sem amor. Pior ainda, um casamento com um homem que era velho o suficiente para ser meu pai!
Lembrei-me de rir da cara horrorizada da protagonista no momento em que ela viu seu noivo ao chegar ao altar.
Talvez eu não devesse ter rido da situação. Agora, eu estava na mesma situação e tinha certeza de que alguém estava se divertindo às minhas custas atualmente.