Capítulo 4
Kiara:
Acordei com um sorriso no rosto.
Estava no meu quarto.
Enrolada na cama.
De jeans e camisa preta de manga longa.
Espera aí…
O quê?
"Princesa, é hora de acordar", ouvi Emily entrar no meu quarto. Me escondi debaixo do cobertor, escondendo minha roupa, e meus olhos se arregalaram ao ver um papel ao meu lado, debaixo do cobertor, com a mesma caligrafia familiar que chamou minha atenção.
"Princesa?" Emily perguntou, olhando para mim debaixo do cobertor. Rapidamente peguei o pequeno papel e o escondi em um dos bolsos da calça antes de murmurar sonolenta.
"Mais dez minutos, Emily", disse como de costume. Sabia que ela sairia, como sempre fazia quando eu pedia, eles geralmente vinham me acordar dez a quinze minutos antes do horário que eu deveria levantar.
Meu sorriso se alargou quando ouvi a porta se fechar enquanto Emily saía. Me desvencilhei do cobertor para abrir o bilhete, mordendo o lábio inferior enquanto lia.
"A noite passada foi adorável, e espero repeti-la novamente. Por favor, aceite meu pequeno presente, foi um prazer conhecê-la, princesa.
-Klaus."
Olhei para a pequena caixa preta que também estava ao meu lado, debaixo do cobertor. Abri-a, revelando uma pulseira de prata com cristais ao redor, fazendo meus olhos se arregalarem ao ver o lindo presente.
Meu sorriso se alargou ao perceber que tudo o que aconteceu na noite passada era real, não foi apenas um sonho. Mas como eu acabei na cama era um mistério para mim, como o rapaz, Klaus, sempre entrava no meu quarto e falava comigo? Todas essas perguntas passavam pela minha mente, mas uma coisa me fazia sorrir.
Tudo era real.
Eu realmente saí do palácio na noite passada, e realmente o conheci.
Sorrindo, rapidamente saí da cama e corri para o closet para vestir minha camisola e esconder a pulseira na minha caixa de joias, depois corri de volta para a cama antes que Emily entrasse, tomando cuidado para jogar o bilhete na lareira como fizera com o anterior.
Melhor prevenir do que remediar.
Foi um dia longo e agitado entre as aulas e meus deveres no palácio, mas foi, de todas as formas, um dos dias mais bonitos da minha vida.
Meu sorriso podia ser visto a quilômetros de distância, até minha mãe notou a mudança no meu ânimo quando entrei na sala de jantar parecendo que tinha acabado de ganhar um prêmio de uma vida inteira, o que, na minha opinião, eu ganhei, só a memória da noite passada, como as pessoas eram gentis, como ele era bonito, seus olhos azuis nos meus, o brilho que senti quando ele me olhou, como meu coração disparou ao ouvir sua voz, tudo o que aconteceu me fazia sorrir.
"Princesa, você conhece as regras sobre se distrair", minha mãe repreendeu, me olhando severamente enquanto estávamos na sala de jantar para o jantar. Meu pai estava nos contando sobre um baile que aconteceria no palácio na noite seguinte e minha mãe estava explicando como iam os preparativos, mas eu nunca era permitida a contribuir em qualquer conversa, então por que eu realmente prestaria muita atenção?
"Peço desculpas, minha rainha, foi um dia longo", disse respondendo formalmente. Eu geralmente fazia isso na presença de qualquer um dos servos, não era permitido que eu chamasse o rei e a rainha de mãe ou pai na frente de qualquer pessoa que não fosse da nossa família ou do nosso nível, então fora do quarto deles ou do meu, eu deveria chamá-los de meu rei e minha rainha. No entanto, nem me lembro de chamar meu pai por esse nome desde que era criança, pois geralmente estava sendo repreendida ou gritada por ele, nunca passávamos tempo de qualidade juntos.
"Um dia longo? Seus professores me disseram que você esteve de ótimo humor o dia todo", meu pai afirmou, olhando para mim com uma sobrancelha levantada.
"Foi um dia longo, meu rei, pois estive de serviço desde as oito da manhã até quase seis da tarde, mas sim, tive uma boa noite de sono, por isso estava relaxada", disse respondendo calmamente, colocando minha mão esquerda no meu pulso direito enquanto usava a pulseira que Klaus me deu.
Pai me ignorou, voltando-se para mãe e falando com ela sobre o baile como se eu não existisse mais uma vez, não que isso me incomodasse mais, era melhor assim de qualquer forma, já que as únicas coisas que ele conseguia fazer eram me criticar ou gritar comigo, e agora, eu não queria ouvir nenhuma dessas coisas.
“O que você vai vestir, princesa?” Mãe perguntou olhando para mim, desta vez eu estava prestando atenção no que eles estavam dizendo, então não fiquei tão surpresa quando ela me dirigiu a pergunta.
“Os alfaiates fizeram alguns novos vestidos de baile para mim, vou experimentá-los amanhã de manhã e escolher o que mais gostar, depois vou pedir para as meninas trazerem a Taylor para fazer meu cabelo e maquiagem” disse olhando para mãe, que assentiu e olhou para pai, cujos olhos estavam frios enquanto olhava entre nós duas, ouvindo minha resposta.
Dei uma mordida no meu fondue, apenas para mãe me lançar um olhar severo, quase me fazendo franzir a testa em confusão sobre o que eu tinha feito de errado desta vez, mas rapidamente consegui controlar minha expressão e coloquei a colher de lado, esperando que ela me dissesse o que a havia incomodado.
“Temos um baile amanhã à noite, e aqui está você ainda comendo, sem falar em sobremesa” mãe repreendeu, abaixei o olhar evitando seus olhos. Eu estava perdendo tanto peso ultimamente por não estar comendo direito, pois estava perdendo o apetite, que pensei que dar uma ou duas mordidas na sobremesa não incomodaria mãe, mas, novamente, estávamos falando de mãe, eu deveria morrer de fome antes que ela admitisse que eu perdi peso.
“Peço desculpas, minha rainha” disse evitando seu olhar duro. Eu não gostava de estar em tais situações, com os guardas e criadas me observando em silêncio ao fundo enquanto eu era repreendida como uma criança de cinco anos, mas infelizmente, eu não tinha outra escolha ou opção.
“Você está dispensada” pai disse querendo que eu deixasse a mesa de jantar, sem dizer uma palavra, levantei-me lentamente, fiz uma reverência, depois me virei para a porta, Emily e Natasha ambas olhando para mim com olhos tristes ao verem a dor nos meus olhos, embora nenhuma delas ousasse abrir a boca para falar, mãe e pai teriam suas cabeças se dissessem uma palavra.
“Suas aulas estão canceladas amanhã, certifique-se de dormir o suficiente e de estar pronta antes das sete, pois o baile começa às oito e precisamos garantir que você esteja adequada, não queremos ser envergonhados por nenhuma de suas ações” mãe disse me fazendo parar no meio do caminho, fechei os olhos impedindo as lágrimas de caírem, lembrando da minha noite com Klaus ontem, como me senti feliz e despreocupada.
Virei-me para encarar mãe, dando-lhe um rápido aceno de cabeça e uma reverência antes de me virar novamente e acenar para Lorenzo abrir a porta, ele caminhando na minha frente, e tanto Natasha quanto Emily caminhando atrás de mim.
Lorenzo abriu a porta do meu quarto para mim e eu entrei furiosamente, enxugando minhas lágrimas que continuavam a cair enquanto lembrava da atitude dura de mãe e pai em relação a mim, a maneira como me tratavam como se eu fosse um desastre que caiu sobre suas cabeças, ou como se eu fosse uma desgraça para os dois, me doía muito mais do que eu ousaria admitir.
“Princesa…”
“Saia, Emily” ordenei.
“Mas…”
“Eu disse saia!” gritei, virando-me para encará-la e Natasha antes de me sentar na beira da cama, olhando para longe das duas meninas que ficaram congeladas ao me verem. Eu geralmente era muito mais composta do que estava agora, acostumada com tudo isso, pensando que era assim que todos eram tratados e como todos lidavam, mas depois de ver como era a vida fora do palácio.
Como as pessoas eram gentis umas com as outras, mesmo que algumas claramente não fossem as mais gentis, mas ainda assim tratavam umas às outras com respeito, eu me perguntava por que nunca fui tratada da mesma maneira, por que sempre fui tratada como se fosse um erro? Algo que eles deveriam ter se livrado há muito tempo; isso não fazia sentido para mim.
Demorou um pouco até eu me acalmar, Emily e Natasha não saíram do meu quarto, não importa quantas vezes eu pedisse, provavelmente preocupadas que eu me machucasse ou ferisse, mas, novamente, ninguém se importaria se eu o fizesse.
Olhei para as duas que me observavam atentamente, se perguntando o que eu faria ou como reagiria.
“Por favor, preparem o banho para mim.”