Capítulo 2
Kiara:
Saí correndo do palácio o mais rápido que pude, embora tivesse cuidado para não ser vista.
A porta, no entanto, estava um pouco enferrujada e foi um pouco difícil destrancá-la, mas felizmente consegui fazer isso sem abri-la muito, escorregando para fora e depois fechando-a o suficiente para poder reabri-la quando precisasse voltar, antes de correr o mais rápido e o mais longe que pude.
Demorou um pouco, mas de repente fui recebida pelas luzes da cidade, o que me fez sorrir ao ver tudo ao meu redor de perto. Eu sempre as via da janela do meu quarto, mas nunca na minha frente.
Não percebi que estava parada no meio da rua até que um carro buzinou para mim, fazendo-me pular de susto e corar para o homem que estava dirigindo. Ele balançou a cabeça para mim e eu rapidamente caminhei para a calçada, sorrindo enquanto observava o lindo céu noturno, as luzes, as diferentes lojas, os casais. Tudo parecia surreal, e eu temia acordar no palácio e isso ser apenas um simples sonho. No entanto, eu sabia que não era, eu realmente estava fora do palácio.
O cheiro de algo sendo cozido captou meus sentidos e meus pés me guiaram até uma padaria onde uma fornada fresca de biscoitos e diferentes doces estava saindo do forno. Uma senhora e um senhor os tiravam juntos, pareciam ser marido e mulher, pois o homem olhava para a mulher com olhos tão gentis e ela sorria enquanto olhava para os produtos que estavam fazendo.
Sorri olhando para o casal, nunca na minha vida tinha visto meus pais se olharem assim. Eu até acreditava que o amor não existia e estava apenas em contos de fadas ou filmes, mas ali estava eu testemunhando uma das formas mais simples de amor. Apenas um olhar para sua esposa fazia-o sorrir e apenas um olhar de seu marido fazia-a corar.
O homem foi o primeiro a me ver, ele sorriu e abriu a porta para mim, mas eu corei e dei um passo para trás, sem saber realmente o que dizer ao homem. Eu estava observando ele e sua esposa que esqueci que sua atenção poderia ser captada por aquela ação simples.
"Entre, querida, está uma noite fria", ele disse suavemente. Eu corei, embora não sentisse frio, o ar da noite ainda não tinha me atingido, mas ele estava certo, era uma noite gelada.
"O que você gostaria de beber ou comer?" Ele perguntou suavemente, seus olhos eram grandes e castanhos enquanto olhava para mim, uma gentileza como nenhuma outra podia ser vista através deles e eu não pude deixar de sorrir para ele.
"Mas eu não tenho dinheiro", eu disse olhando para o homem. Eu podia dizer que era uma loja, pois via o caixa, as mesas e a vitrine, mas saí do palácio com tanta pressa que esqueci de trazer qualquer coisa que me permitisse pagar por algo que desejasse, não que eu tivesse algo para pagar em primeiro lugar.
"Não tem problema, querida, é por conta da casa", disse a senhora suavemente, seus olhos encontraram os meus e eu não pude deixar de sorrir para sua gentileza. Olhando para o casal, eu não conseguia entender por que minha mãe sempre afirmava que o mundo lá fora não era um lugar seguro. "Você gostaria de experimentar os biscoitos? Eles estão recém-assados."
A oferta da mulher quase me fez salivar, o cheiro dos biscoitos atingiu minhas narinas do lado de fora da loja, e ao senti-los de perto, parecia despertar um desejo em mim. Assenti mordendo o lábio inferior para evitar que meu sorriso se alargasse.
"Sente-se, querida", a mulher sorriu com minha reação, divertimento preenchendo sua expressão.
"E aqui está um chocolate quente para aquecer seu interior também", disse suavemente o velho, colocando uma caneca branca cheia de chocolate quente e marshmallows enquanto a velha trazia um prato branco com três biscoitos do tamanho da minha mão. Esses eram os maiores biscoitos que eu já tinha visto, os do palácio eram pequenos e eu nunca podia comer mais de um ou, em raras ocasiões, dois.
"Obrigada", disse timidamente, o homem e a mulher sorriram enquanto ele envolvia o braço ao redor da cintura dela, puxando-a para mais perto. Ele beijou sua têmpora e eu não pude deixar de admirar o relacionamento deles, uma parte de mim desejando ter um assim quando me casasse um dia.
"De nada, querida", a mulher sorriu, mais algumas pessoas entraram na padaria, todas indo em direção ao caixa, algumas pedindo biscoitos, outras pedindo brownies, bebidas como café, chá ou chocolate quente. Sorri enquanto dava uma mordida no biscoito de chocolate, quase gemendo de prazer ao sentir o sabor maravilhoso preencher minhas papilas gustativas, nunca tinha provado nada assim antes.
"Imagino que gostou?" O velho perguntou olhando para mim, sua esposa estava recebendo o dinheiro de um casal que parecia estar na casa dos trinta, a mulher usava uma jaqueta vermelha que chegava até a metade da coxa e jeans pretos, enquanto o homem usava uma jaqueta de couro preta e jeans pretos, seu braço envolvia a cintura dela enquanto ela apoiava a cabeça no peito dele, olhando para o casal de idosos.
"Eu adorei!" Disse honestamente, o casal sorriu calorosamente para mim antes de acenar para os jovens parceiros que estavam pagando e se sentaram na mesa ao meu lado.
"Primeira vez aqui?" O velho perguntou, assenti, eu tinha vivido neste reino minha vida inteira e ainda assim nunca tinha experimentado os produtos que eles tinham.
"De onde você é?" A velha perguntou olhando para mim, seus olhos gentis enquanto falava. Debati se deveria ou não dizer a verdade, mas se o fizesse, eles poderiam me denunciar ao palácio, e se o fizessem, eu estaria tão boa quanto morta, bem, não literalmente, mas acabaria trancada naquela torre.
Como se fosse minha sorte, a porta da padaria se abriu revelando um homem atraente que fez a mulher que estava sentada com seu amante momentaneamente esquecê-lo enquanto olhava para o homem misterioso. Sua aura dizia tudo sobre confiança enquanto ele se dirigia ao caixa, nossos olhos se encontraram, azul com verde, e eu poderia jurar que senti como se meu coração fosse explodir ao vê-lo.
Ele me deu um aceno rápido antes de se virar para a velha que sorriu para ele.
"Um café, por favor, e alguns desses biscoitos, eles cheiram deliciosos."