




Gravidez
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Fui informada que você foi encontrada praticamente desmaiada no seu apartamento, que tinha vomitado muito e estava tendo calafrios.
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Sim. Eu estava bem e acabei ficando muito tonta, vomitei algumas vezes.
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E você está se sentindo melhor? - Ela se aproximou de mim, verificando o soro vazio e depois removendo o acesso do meu braço.
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Sim, acho que sim. - Apertei meu braço com algodão para evitar que sangrasse.
Ela pegou uma prancheta e começou a verificar os resultados.
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Você está tomando algum medicamento?
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Não. Você bebe ou fuma?
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Não.
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Tem se alimentado com frequência?
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Hmmm... - Engoli seco, demorando um pouco mais para responder. - A verdade é que estou um pouco desleixada com a alimentação. - Sorri sem graça.
Ela balançou a cabeça negativamente, como se desaprovasse.
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Isso, de fato, agravou seus sintomas. Qual foi a data da sua última menstruação?
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Um pouco mais de um mês, meu ciclo nunca foi regular.
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Sim, entendo. Bem, Nicole, você está anêmica e seu nível de açúcar no sangue está baixo. O desmaio deve ter ocorrido devido a uma queda repentina de pressão. - Assenti enquanto ela falava. - Seu exame de sangue também mostra que seu Beta HCG está positivo para gravidez.
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O quê? - Perguntei, sorrindo como se fosse uma piada.
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Seu exame de sangue está positivo para uma possível gravidez.
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Não, não, não, não, não, não, não, não, não, não... Não... Não... O que você está dizendo? - Respirei fundo e desci da maca.
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Quer que eu chame alguém? - Ela finalmente olhou para mim, tirando os olhos do exame.
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Não - gritei. - Não quero ver ninguém! Quero refazer esse exame.
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Tudo bem. Se você quiser, podemos fazer um exame de ultrassom transvaginal.
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Claro. - Respondi de forma um tanto rude.
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Só um momento. Vou trazer o equipamento aqui. Gostaria que eu chamasse alguém para ficar com você? Sua sala de espera está cheia.
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Não, só quero acabar logo com isso e ir para casa. Por favor - sussurrei. Minha voz baixou alguns decibéis - não diga nada a ninguém. Preciso de um tempo para assimilar tudo isso.
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Tudo bem - ela disse, abrindo a porta. - Sigilo médico. É melhor eu ir fazer xixi. - Então ela piscou.
O teste tinha que estar errado! Lembro bem do dia em que Luck e eu transamos, usamos preservativos. Minha anemia pode ter alterado o teste, nunca se sabe. Minhas mãos suavam frio, eu estava inquieta. Levantava e sentava na maca, aquele teste estava errado.
Passei minutos, que pareciam horas, dias, anos, assim.
Ela tinha instalado tudo. Deitei na maca ginecológica, que estava escondida atrás de uma cortina. Senti um pouco de vergonha de estar exposta assim, mas queria acabar logo com aquilo. Ela se sentou em um banquinho na minha frente. Observei enquanto ela colocava o gel no equipamento devidamente encapado com um preservativo. Ela disse:
- O exame não é doloroso, apenas uma pequena parte das mulheres sente desconforto. Apenas uma pequena parte do transdutor é colocada dentro da vagina. Não se preocupe, não vai doer. - Ela sorriu docemente.
Eu estava tão ansiosa que não consegui nem retribuir o sorriso. Por que ela tinha que dizer que uma pequena parte de mim sentiria desconforto? E se eu estivesse na minoria estatística? Apenas assenti.
Ela inseriu o transdutor calmamente, mas eu não pude deixar de me sentir invadida. Mexi-me desconfortavelmente.
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Você precisa relaxar - ela disse. - Não vou te machucar, mas você precisa relaxar o corpo.
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Tudo bem - respondi, fechando os olhos.
Ela tentou novamente. Mas aquilo era terrível. Qualquer coisa para provar que ela estava errada. Apertei os olhos como se o tempo fosse passar mais rápido.
Bop bop bop bop.
- Aqui está - ela disse, sorrindo. - Esses são os batimentos, consegue ver?
Abri os olhos e vi um pequeno borrão na tela.
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Não, não! Oh, Deus! - Isso foi a primeira coisa que consegui dizer. Nem parecia um batimento, mais como um ruído. Coloquei as mãos sobre a boca enquanto chorava. - É um bebê?
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Sim - ela disse. - E mede cinco milímetros, seu peso é cerca de um grão de arroz.
Então ela retirou o equipamento.
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Está com cerca de cinco semanas.
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Não, não, não... - Eu estava em choque. - O que vou fazer agora?
Chorei baixinho. A médica, que parecia estar comovida, se aproximou, acariciando meus ombros.
- Se você quiser, posso chamar alguém para entrar. As pessoas na sala de espera estão muito nervosas. Vai te fazer bem ter alguém para compartilhar isso.
Eu não respondi. Estava em choque. E tudo o que eu conseguia fazer era chorar.
Minutos se passaram enquanto ela imprimia o papel do ultrassom, a prova física de que isso estava realmente acontecendo.
- Aqui está! - ela disse, me entregando um envelope branco. - Você vai precisar começar o pré-natal o mais rápido possível e tomar as vitaminas necessárias e se alimentar corretamente para não adoecer novamente. Isso pode ser muito prejudicial para você e para o bebê.
Eu não consegui responder, apenas assenti e coloquei meus exames na mesa ao lado.
- Você provavelmente vai precisar de alguém para te ajudar se essas quedas de pressão continuarem, e de um acompanhamento médico preciso. Fora isso, você está bem e está de alta. - Então ela saiu, me deixando sozinha. Sim, eu definitivamente cheguei à conclusão de que a vida não é justa. Como isso poderia estar acontecendo comigo? O que eu ia fazer? Como eu ia contar para Madeleine? Como eu ia contar para Luck? Sim, eu estava ferrada.
Abotoei o último botão do meu jeans e vesti a camisa. Que tinham trazido para mim, porque a anterior estava coberta de vômito. Quando Alice abriu a porta, eu não tive reação. Será que ela sabia? Será que suspeitava?
- Ei, você quase nos deu um ataque cardíaco! - disse Vivian, que entrou.
atrás dela.
Dei um sorriso triste.
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O que foi? Você não está com uma doença terminal, está? - Ela me abraçou forte.
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Não. - Funguei. - Só uma anemia boba.
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Não parecia boba. Achei que estava morrendo. Agora posso rir, mas foi realmente assustador. Ainda bem que eu estava com o Matthew e ele ajudou a te carregar.
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Agradeço, meninas. Mas não foi nada demais, prometo cuidar melhor de mim agora.
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Sim, você vai - disse Alice. - Sua mãe está vindo, Nicole. Ela pegou o primeiro voo quando o Matthew ligou para contar o que aconteceu.
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Não podíamos nem interferir. Não sabíamos o que você tinha. Não seria justo não contar para ela.
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Sim, eu entendo. - Estou ferrada. - Vocês têm razão. - Minha mãe vai me matar.
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Esse é seu exame? - ela disse, interrompendo a conversa e pegando o envelope com o ultrassom.
Caminhei em direção a ela e tirei da mão dela. - Sim, é meu exame. Minha vida. Minha privacidade.
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Meu o quê? - Vivian me olhou espantada. - Nicole, se você está doente, precisamos saber a verdade. O que há de errado com seu exame?
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Nada! - Gritei, histericamente. - Eu só não quero mostrar para ninguém. É meu exame, não quero que ninguém veja. Por que não podemos simplesmente esquecer isso?
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Nicole, você está nos assustando. Não temos segredos umas com as outras. Seja lá o que for que você descobriu no seu exame, não precisa agir assim. Somos amigas há muito tempo, não há razão para esconder.
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E por que você acha que estou escondendo algo? - Gritei mais uma vez.
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Porque você está agindo de forma estranha, defensiva e suspeita. - Ela gesticulou em minha direção enquanto rapidamente puxava o exame da minha mão. E eu fiquei sem palavras.
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Vivian, devolva isso agora!
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Nicole. Sem problema, eu vou te devolver. - Disse, abrindo o envelope e olhando para ele.
Vivian olhou por um momento para o exame, e depois para mim. Novamente olhou para o exame, e depois para mim. Então colocou a mão sobre a boca. Seu rosto estava indecifrável. Acho que ela tentou falar, mas perdeu a voz. Ela se virou para Alice, que não demorou a falar.
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Quem é ele? - ela disse, olhando para baixo.
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Eu juro. - Gaguejei. - Eu juro, eu ia contar para vocês. Não durou, foi só uma vez, então não vi necessidade de contar... Eu...
Vivian me interrompeu.
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Nós nunca escondemos nada de você! Como você pôde esconder isso de nós? Achei que fôssemos amigas. Poderíamos ter te ajudado.
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Eu não sei... - Tentei segurar as lágrimas que embaçavam minha visão.
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Você sabe quem é o pai?
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Droga, Vivian, pega leve. - Alice se aproximou e secou minhas lágrimas.
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Luu... Luuuck... - disse entre lágrimas.
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Luck Petrelli? - ela acrescentou.
Assenti.
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Puta merda! - Ela colocou a mão sobre a boca. - Ele te abusou? - ela disse, se aproximando.
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Não - disse de uma vez só. - Eu quis. Mas não entendo. Nós nos cuidamos, isso não era para acontecer.
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Quando isso aconteceu? - Alice perguntou.
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Na noite da nossa formatura.
Alice soltou um assobio baixo.
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O Luck é um canalha. Não pode ver um buraco que quer se enfiar. - Ela deu um sorriso triste.
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E agora, o que você vai fazer?
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Eu não sei.
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Você vai tirar, não vai? Você não pode ficar com essa criança, o Luck nunca aceitaria essa criança. E tem a Madeleine.
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Sim, eu sei - respondi. - Mas ele precisa saber.
Vivian riu, mas foi uma risada triste, infeliz. - Qual é o seu problema? Estou falando sério. Posso estar errada, mas se você juntar as peças, vai ver que ele te deu um pé na bunda.
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Sim, eu sei. - Enxuguei as lágrimas que escorriam pelo meu rosto. - Mas ele precisa saber.
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Tá bom, vou lavar minhas mãos. Você precisa começar a encarar a realidade. Olha onde essa paixão platônica te levou. Você é linda, poderia ter tido qualquer garoto decente dessa cidade. Mas não, você tinha que experimentar com a única pessoa que não presta. E pior, engravidar dele. E ainda pior, esperar que ele vá te assumir e essa criança. Sério, se você levar essa história adiante, me exclua. Você teve todas as chances de fazer a escolha certa e simplesmente estragou sua vida. E sabe, mesmo que você não queira tirar, sua melhor chance é se livrar desse bebê. Vou te levar a algum lugar e ninguém nunca vai saber que isso aconteceu.
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Você não precisava ser rude. E não acho que sou a melhor pessoa para dizer coisas assim. - Alice estreitou os olhos para Vivian, que estava entre nós.
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Eu só disse o que você queria dizer há muito tempo! Você não tem mais dez anos, Nicole, cresça.
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Eu queria contar para vocês, juro, só não sabia como. Estava tão confusa. - Suspirei profundamente entre soluços. - Nunca pensei que o Luck me trataria assim...
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Nicole, por favor... - Alice disse, acariciando meus braços amorosamente de cima para baixo. - Se ele fez algo com você, se você não quis, ou se ele te forçou, você precisa nos contar. Não há vergonha nisso, mas precisamos saber de tudo.
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Não. - Eu disse. - Eu quis! Eu já disse, eu quis, eu desejei isso. Por que é tão difícil de acreditar? - Enxuguei meu rosto.
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É porque nós te avisamos. Você não precisava ir tão longe para poder ver a verdadeira face do Luck, que estava lá o tempo todo, você só não queria ver. Nem quero pensar em quão longo esse caminho vai ser para você. - Vivian disse calmamente, e então bateu a porta.
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Ei, está tudo bem. - Alice me abraçou. - Ela só precisa de um tempo. Todos cometemos erros.
Chorei por um longo tempo. Saímos e fomos para casa. Ela queria dormir comigo, mas preferi ficar sozinha.