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Capítulo 2

"Em algum momento, as raças sobrenaturais perceberão que não precisam viver nas sombras como baratas se escondendo da luz. Esse momento está chegando rapidamente. Está quase na hora de nossos irmãos e irmãs saírem à luz do dia e tomarem seus lugares de direito como pastores entre as ovelhas. Está quase na hora de nos levantarmos e colocarmos o mundo em sua ordem correta." ~A Ordem

Lilly olhou para o bebê adormecido em seus braços e sentiu seu coração apertar no peito. Ela se lembrou de quando Jacque nasceu e de como segurou aquele pequeno bebê exatamente como estava segurando este agora. O nascimento de Jacque aconteceu em um momento difícil na vida de Lilly. Agora, o filho de Jacque estava seguindo os passos da mãe, seu nascimento marcando um tempo de grande provação. Lilly se lembrou de como se sentiu destruída depois que Dillon foi embora. E até Jacque nascer, ela pensava que tinha superado. Mas ao segurar a filha perto do coração, percebeu que criar um filho com alguém cria um vínculo difícil de romper.

"Você dormiu alguma coisa?" Alina perguntou da porta, espiando o quarto que haviam convertido em um berçário improvisado. A mansão da alcateia sérvia seria aparentemente o lar por enquanto, enquanto observavam, esperavam e se preocupavam com Fane e Jacque. Alina se encarregou de conseguir tudo o que precisariam para cuidar do neto. Lilly sabia que ambas estavam tentando manter a sanidade enquanto cada um de seus filhos lutava por suas vidas. Nenhum deles tinha visto seu filho antes de desaparecerem, juntos, para pairar entre a vida e a morte.

"Eu cochilei," Lilly admitiu. "Mas não gosto de fechar os olhos."

Alina entrou mais no quarto, com os braços cruzados na frente do peito. "Eu entendo. Você os vê quando fecha os olhos."

Lilly sabia que ela estava falando de Jacque e Fane. "Eu não posso pensar nisso, Alina." Ela suspirou. "Toda vez que penso, mesmo por um segundo, que eles não vão voltar disso, eu não consigo respirar. É como se um tijolo de duas toneladas tivesse sido jogado no meu peito. Sinto como se fosse sufocar e, se eu pensar nisso, não sei como poderia me recuperar de uma devastação dessas." Sua mandíbula se contraiu enquanto confessava suas emoções, tentando se manter firme.

"Eles são ambos lutadores, Lilly. São teimosos. Não vão desistir da chance de criar seu filho."

"E se eles não tiverem escolha?" Lilly perguntou suavemente. "E se isso estiver além do poder de Peri, das habilidades de Rachel e de nossas próprias vontades? E se isso for o que está destinado a acontecer?"

Alina balançou a cabeça. Ela endireitou os ombros enquanto deixava as mãos caírem ao lado do corpo. Sua cabeça estava erguida; seu queixo projetado desafiadoramente. Ela parecia exatamente a fêmea Alfa que era—regal, no controle, confiante. "Eu irei até as Parcas pessoalmente e oferecerei Vasile e a mim no lugar deles. Não vou ficar parada e assistir meu filho e minha nora partirem da vida que estavam apenas começando. Este não é o fim deles, Lilly. Preciso que confie em mim nisso."

"Isso é mesmo possível?"

"Não é inédito. Com o poder combinado de Peri e Vasile, podemos chamar a atenção delas. Podemos exigir uma audiência. As Parcas adoram fazer acordos. Elas nos ouviriam."

Lilly finalmente assentiu, relutantemente, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto. "Você quer segurá-lo?"

Alina sorriu. "Preciso falar com Peri por alguns minutos e depois volto para assumir. Tudo bem?"

"Faça o que precisar. Não vamos a lugar nenhum," disse gentilmente enquanto olhava para o neto que dormia pacificamente.

Lilly não ouviu a fêmea Alfa sair, mas sentiu o poder de sua presença recuar e soube que ela tinha ido. Ela queria se sentir mais esperançosa depois de ouvir a declaração de fé de Alina, mas Lilly não era tola. Sabia que as Parcas poderiam recusar o pedido. Se chegasse ao ponto de Alina se oferecer, Lilly estaria ao lado dela. Havia muitas escolhas difíceis na vida, mas a escolha de sacrificar sua vida pelo filho não era uma delas. Se tivesse que fazer, seria uma das escolhas mais fáceis que já teria que tomar. Esperava nunca se encontrar na posição de fazê-la, mas se chegasse a isso, faria sem hesitação.

Alina entrou silenciosamente na sala de jardim onde Peri estava entre duas das pessoas mais importantes de sua vida. Ela caminhou lentamente pela sala, seus olhos fixos na forma inerte de seu filho. Continuava esperando que ele se sentasse de repente, exigindo ver seu novo filho. Mas ele não fez isso. Ele simplesmente ficou lá com os olhos fechados.

A alta fada olhou para ela e Alina parou em seus passos. A mulher normalmente impecável agora parecia ter envelhecido algumas décadas e não se importara em parar para pentear o cabelo durante todo esse tempo. Olheiras escuras marcavam seus olhos e seus lábios, geralmente cheios, estavam comprimidos em uma linha fina em seu rosto magro. Suas mãos estavam nas testas de cada um de seus protegidos e Alina podia ver um leve brilho emanando de suas palmas.

Ela continuou em frente, tendo se recuperado do choque com a aparência de Peri. "Onde está Rachel?"

"Ela precisava dormir. Não me serve de nada se não conseguir se manter de pé," respondeu Peri. Sua voz estava rouca, como se a tivesse perdido de tanto gritar.

A Alfa assentiu. Tirou os sapatos e entrou na água rasa que havia sido infundida com a magia curativa da poderosa curandeira e sentiu um formigamento contra seus pés descalços. Ela caminhou até Jacque primeiro e se inclinou, pressionando um beijo em sua bochecha. A pele da garota estava fria e Alina sentiu como se uma mão gelada estivesse apertando suas entranhas, espalhando um frio por todo o seu corpo.

A Alfa se levantou, tremendo, e caminhou até seu filho. Alina fechou os olhos, erguendo a cabeça e engolindo dolorosamente. Ela não queria olhar para baixo. Não queria ver o filho que trouxe ao mundo, o garoto que criou por dezenove anos—seu único filho—reduzido a um cadáver. Sua respiração acelerou e ela teve que respirar fundo várias vezes para recuperar a compostura. Finalmente, abriu os olhos e olhou para baixo.

Seus olhos estavam fechados como se estivesse dormindo. Mas, em vez de parecer pacífico, seu rosto estava contorcido, congelado em algum estado de dor desconhecida. Ela estendeu uma mão trêmula e segurou seu queixo. Como a pele de sua companheira, a de Fane estava gelada. Sentir isso foi o ponto de ruptura da Alfa. Ela caiu de joelhos, indiferente à água que encharcava suas roupas. Alina agarrou a camisa dele com ambas as mãos, apertando o tecido com força. Não tinha certeza se estava tentando mantê-lo neste reino ou se estava tentando se manter inteira. Seus olhos percorreram o rosto dele, lembrando-se da primeira vez que o segurou como um bebê. Ela havia passado as pontas dos dedos por cada centímetro de seu pequeno rosto. Ficara maravilhada com algo tão perfeito, tão especial, sendo dado a ela para cuidar. Suas mãos também tremiam naquela época, tantos anos atrás. Seu coração acelerou quando ele abriu seus olhos azuis brilhantes e a olhou com admiração. Naquele momento, ela era o mundo inteiro dele. Não havia ninguém no mundo tão importante para ela quanto ele, nem ninguém tão importante para ele quanto ela. Ele ouvira sua voz por nove meses. Não sentira outro cheiro além do dela por nove meses. Ela era seu lugar seguro e isso estava tudo ali em seus pequenos olhos enquanto ele a olhava para protegê-lo, alimentá-lo e amá-lo. E ela o fez, enquanto pôde, até que ele cresceu e deixou sua proteção.

Ela podia segurá-lo em seus braços como fez no dia em que ele nasceu, mas ela não era mais o mundo dele. Agora havia outras pessoas que ele amava, e havia perigos além de seu controle. Agora ele era o protetor, o provedor e o pai.

Esses fatos não tornavam aceitável ver seu filho deitado sem vida ao lado de sua verdadeira companheira. Ela era sua mãe. Ela deveria morrer primeiro. Pais nunca deveriam ter que enterrar seus filhos e ela sabia que isso destruiria Vasile se fosse o caso.

Ela se aproximou mais dele até estar bem em frente ao seu rosto e fixou seu olhar nele. Suas palavras saíram em sua língua nativa, como se tivessem mais efeito do que se fossem faladas em sua segunda língua. "Nós te ensinamos a lutar desde que você era um menino. Nós incutimos em você a necessidade de perseverar mesmo quando a situação parece impossível. Nós te demos todas as ferramentas que você precisava para ser o homem que é. Você não pode parar agora. Eu não permitirei! Fane Lupei, você vai voltar para esta vida. Onde quer que sua alma tenha vagado, é melhor puxá-la de volta para o seu corpo e abrir os olhos para o mundo onde você é necessário. Sua companheira precisa de você, seu filho, oh Deus, Fane, seu filho—" Sua voz falhou enquanto engolia as lágrimas. "Ele é lindo, olhos azuis como os seus e cabelo ruivo como o de Jacque—perfeito em todos os sentidos. E ele precisa de você—você, Fane—não eu, não Lilly, não Vasile. Nós somos apenas substitutos insignificantes. Ele precisa dos pais dele. Você precisa lutar! Eu não vou dizer adeus ao meu único filho. Então lute, maldição!" Ela bateu com o punho no peito dele enquanto finalmente deixava as lágrimas caírem.

Ela ouviu outro soluço que não era o seu e seus olhos se voltaram para a fada que ela havia esquecido que estava ali. Lágrimas escorriam pelo rosto de Peri enquanto ela olhava de volta para Alina. "Estou tentando," ela engasgou. Seus lábios tremiam enquanto ela se ajoelhava. Suas mãos permaneciam nas testas de Jacque e Fane, mas sua cabeça caiu para frente e seus ombros tremiam de tristeza.

"Eu sei que você está," Alina disse a ela enquanto empurrava seu medo, dor e raiva de volta para baixo. Ela chamou seu lobo para lhe dar força e clareza de mente para que não fosse guiada por suas emoções, especialmente porque suas emoções eram um tufão furioso naquele momento. Ela precisava ser forte. "Você está fazendo algo que eu nunca poderia fazer. Obrigada. De verdade, Perizada, obrigada." Ela se levantou, acariciando o rosto de seu filho uma última vez antes de se afastar. Alina caminhou até Peri e puxou a fada de volta para seus pés. "As altas fadas só se curvam a uma, e eu não sou ela. Sou eu quem deveria me curvar a você. Eu sei o que você está fazendo e sou egoísta o suficiente para pedir que aguente um pouco mais."

Os olhos de Peri se arregalaram. "Como se eu fosse parar, mesmo que você me ordenasse. Ninguém morre sob minha vigilância—não se eu puder fazer algo a respeito."

"Por quanto tempo você pode fazer isso?" Alina apontou para suas mãos.

"Tenho muita imortalidade para dar," ela disse com um sorriso familiar que ajudou Alina a ganhar ainda mais controle.

"Wadim está fazendo pesquisas—"

"Isso é surpreendente," Peri interrompeu, enxugando suas próprias lágrimas. "Ele é o historiador e guardião dos registros da alcateia, afinal."

Os lábios de Alina se levantaram ligeiramente. Se Peri ainda podia ser contrária, então havia esperança, pelo menos era isso que Alina escolheria acreditar.

"O que o peludo está pesquisando?" Peri perguntou.

"Rachel mencionou algo a Gavril quando ele esteve aqui mais cedo."

Peri franziu a testa. "Eles nunca falaram."

Alina tocou sua testa.

A alta fada revirou os olhos. "Desculpe, momento loira burra. Não conte para Jen."

"Rachel mencionou a Gavril uma sensação que teve quando estava nas mentes deles. Ela disse que os espíritos deles pareciam estar perdidos, presos em um limbo de alguma forma, incapazes de encontrar o caminho de volta para este mundo, não importa o quanto seus donos estivessem lutando para trazê-los de volta. Gavril disse a Wadim para verificar nossos registros e ver se ele conseguia encontrar um registro de outros curandeiros que já tivessem encontrado isso."

A cabeça de Peri inclinou ligeiramente. "Perdidos," ela disse, quase para si mesma. "Nenhum deles está disposto a deixar esta vida. É por isso que estão perdidos." Ela soltou uma risada que estava cheia de tanto alívio que Alina quis agarrá-la e sentir também. "Jacque estava lutando para trazer seu filho a esta vida enquanto a sua própria escorregava. Fane estava lutando por Jacque e seu filho. Ele puxou a força do vínculo da alcateia. Ele usou sua conexão com Vasile, sua conexão como Alfa. Embora eu não saiba se ele estava consciente disso, ele estava tão desesperado para mantê-los vivos. Com todo o poder fluindo através deles de mim, Sally, depois Rachel, o vínculo da alcateia e suas próprias vontades... é como se eles forçassem suas almas a não deixarem este reino, as prenderam aqui, mesmo que já devessem ter partido há muito tempo."

"Mas eles não estão realmente neste reino," Alina apontou.

"Não... mas estão onde podemos alcançá-los. Se suas almas já tivessem partido, estariam além do nosso alcance e minha magia não estaria funcionando. Não posso acreditar que Rachel descobriu isso antes de mim."

"Não é como se você estivesse um pouco estressada ou cansada ou algo assim," Alina disse secamente. Ela olhou de volta para seu filho e sentiu a pequena esperança que Peri acabara de dar diminuir. Ele parecia tão sem vida. "Então você acha que eles podem ser salvos?" Seus olhos encontraram os da alta fada mais uma vez.

Os olhos de Peri se estreitaram e se fixaram nela como um falcão após sua presa. "Eu morrerei antes de deixá-los escapar deste reino. Eles podem não ser meus filhos ou mesmo da minha espécie, mas são parte de quem eu sou, de quem eu me tornei. Eu vou aguentar até descobrirmos como trazê-los de volta. Você tem minha palavra, Alfa." Peri inclinou a cabeça para Alina, uma forma rara de respeito dada por um ser mais poderoso a um que não é seu igual.

Nissa tinha certeza de que ser uma alta fada nunca tinha sido tão bagunçado até aquele momento. Ela estava ao lado de Jeff Stone, o Alfa da alcateia de Coldspring, olhando para as quatro pessoas que haviam resgatado do ataque mais recente contra os vampiros. Dois eram menores de dez anos, e os outros dois eram adolescentes ou estavam no início dos vinte. Todos pareciam como se tivessem sido arrastados pela lama, mergulhados em esgoto e depois pisoteados pelos pés cobertos de esterco de mil fadas irritadas. Em outras palavras, eles pareciam realmente, realmente mal. Seus olhos estavam fundos devido à perda de peso e suas bochechas se projetavam acentuadamente de seus rostos. Nissa não era exatamente do tipo maternal, mas a irritava ver crianças sendo abusadas. Ela estava feliz por terem dizimado completamente o coven que mantinha as crianças cativas.

"E agora, o que fazemos?" Jeff perguntou a ela.

"Agora eu vejo se eles têm família para onde possam voltar. Vou ter que alterar suas memórias. As coisas que aconteceram com eles não deveriam ter acontecido e eu não quero que isso os assombre pelo resto de suas vidas. E eles não precisam saber sobre o mundo sobrenatural, pelo menos não agora."

"Dois deles são dormentes," ele apontou.

Ela olhou para ele com uma sobrancelha levantada.

"Eles são verdadeiros companheiros de alguém. Eles pertencem a nós."

Nissa entendia o quão desesperados os machos estavam para encontrar suas companheiras. Havia uma escassez de fêmeas por tanto tempo. "Eles parecem prontos para saber algo assim?" Ela apontou para eles.

Jeff olhou para eles novamente e, após vários minutos, soltou um suspiro exausto. "Tudo bem. Faça o que tem que fazer, mas vamos manter um olho neles. Quando for a hora certa, vamos buscá-los—temos que fazer isso."

A alta fada caminhou lentamente até as crianças, não querendo assustá-las. Ela sorriu calorosamente para elas e explicou que as levaria para casa. Ela se aproximou do primeiro menino e se ajoelhou. "Posso tocar sua cabeça?" ela perguntou. "Não vou te machucar."

Ele assentiu.

Nissa colocou as mãos na cabeça dele e fechou os olhos. Ela vasculhou suas memórias até encontrar a informação que precisava. Então, sem uma palavra, ela desapareceu com o menino. Peri havia explicado a melhor maneira de devolver as crianças às suas casas, então Nissa fez o mesmo. Depois de alguns minutos, ela voltou, repetindo o processo mais duas vezes. Finalmente, ela se deparou com a última, uma garota mais velha. Quando Nissa olhou em suas memórias, viu o que aconteceu com a garota quando foi levada. Sua família havia sido massacrada bem na sua frente.

"Quantos anos você tem?" ela perguntou à garota.

"Dezenove. Fui levada quando tinha doze," ela respondeu em um tom monótono. Não havia emoção em sua voz ou em seus olhos assombrados.

"Você tem algum parente, além de seus pais, para onde gostaria de voltar?"

A garota riu sombriamente. "Como eu poderia voltar para aquela vida depois dos últimos sete anos? Eu nem saberia como viver, não naquele mundo, não mais."

"Eu posso tirar as memórias. Posso te dar novas memórias. Você não precisa se lembrar do que sofreu." Nissa sabia que tirar tantas memórias de alguém da idade dela poderia ser perigoso para o humano, mas essa garota não era apenas humana.

A garota deu um passo para trás da alta fada. Seus olhos se arregalaram ligeiramente enquanto balançava a cabeça. "Eu não quero que mexam na minha cabeça. E eu quero saber sobre esses monstros. Não posso voltar a ser ignorante agora. Como posso me proteger se não souber?"

Nissa considerou isso. Ela tinha que admitir que entendia de onde a garota estava vindo. Ela estava tomando uma decisão sábia, embora não sem dor. "Eu não posso deixar você voltar ao mundo humano com suas memórias intactas. O mundo não está pronto para saber sobre nós, ou sobre eles," ela disse, indicando um vampiro morto no canto da sala. "Se você mantiver as memórias, terá que ficar com os seus."

"Que 'meus'?" A garota estreitou os olhos, uma expressão de incredulidade cruzando seu rosto.

Nissa levantou as sobrancelhas e inclinou a cabeça em direção a Jeff e seus guerreiros.

"Você quer dizer como eles," a garota guinchou, sua determinação de aço se quebrando. "Um lobo?"

Nissa assentiu. "Sim, você é parte Canis lupus. É por isso que você foi levada. Posso te levar para uma alcateia que tem um Alfa muito poderoso. Eles têm experiência em lidar com dormentes—é assim que você é chamada. Eu sei que isso é muito para absorver, mas realmente não temos outras opções, e você tem que começar de algum lugar."

"Por que você não está surtando?" Jeff falou. Seus olhos estavam fixos na garota, mas ela não recuou. Ela não era dominante—não exatamente—mas tinha coragem. Isso era bom porque significava que ela lutaria para sobreviver. As alcateias precisavam de tantos lobos dominantes quanto pudessem conseguir.

Seus lábios se apertaram enquanto ela encontrava o olhar dele e o sustentava por várias respirações antes de finalmente desviar. "Passei os últimos sete anos sendo mordiscada como uma caixa de biscoitos e você acha que aprender que existem outros monstros por aí me assustaria?"

"Eu estava falando mais sobre o fato de que você é parte monstro," Jeff disse com um sorriso torto.

A garota deu de ombros. "Eu não me importo. Eu poderia ser um maldito troll, desde que não tenha que ser escrava desses sugadores de sangue." Sua mandíbula estava cerrada e seus punhos cerrados ao lado do corpo. Nissa não teria ficado surpresa se ela tivesse se lançado contra a primeira pessoa que a fizesse se sentir ameaçada.

"Justo," disse Nissa. "Vamos então. Vasile e Alina vão querer conhecê-la."

"Ela poderia ficar aqui," Jeff falou.

Nissa podia ver a esperança nos olhos dele, esperança de que ela fosse a companheira de um de seus lobos. Talvez fosse, mas ela não estava pronta para algo assim. Ela balançou a cabeça para ele. "Recebi ordens de levar qualquer dormente que precise de refúgio para os Alfas da Romênia."

Os ombros do Alfa caíram enquanto ele dava um aceno curto. Estava claro que ele não gostava nem um pouco dessa ordem. Mas ele não desafiaria Vasile, não se quisesse viver, de qualquer maneira.

Nissa pegou a mão da garota e sorriu para ela. "Desculpe se isso te deixar um pouco enjoada. Feche os olhos e não será tão ruim."

A garota obedeceu sem questionar. Nissa inclinou ligeiramente a cabeça para Jeff e então desapareceu, levando a garota para sua nova vida, esperançosamente livre de vampiros.

Decebel andava de um lado para o outro na biblioteca enquanto segurava Thia em seus braços. A menina havia descoberto que podia fazer barulhos com a boca, e estava atualmente espalhando saliva por todo ele enquanto fazia isso repetidamente, parando para rir entre cada um. Ele estava esperando Jennifer voltar de ajudar Bethany. Estava irritado porque ela não o deixara ir com ela.

'Drake vai surtar se você chegar perto da companheira dele,' ela havia dito, implorando. Decebel tinha que dar crédito a ela por uma imagem mental tão agradável. Então ele a deixou levar seu pequeno traseiro mandão até um quarto que tinha um novo par de verdadeiros companheiros—não ligados, um deles selvagem, e o outro sem noção. Ele oficialmente havia perdido a cabeça. Como ele a deixava convencê-lo a fazer essas coisas, ele não sabia, mas com certeza encurtaria sua vida muito longa e lhe daria úlceras e pressão alta.

"Tente pegar mais leve com seu companheiro, Thia," ele disse enquanto a balançava gentilmente em seus braços. "Ele vai estar sem noção de como te proteger enquanto também te deixa ser quem você precisa ser." Ele soltou um suspiro. "Mas realmente, você não precisa se preocupar com isso por pelo menos um século. Quem quer que seja seu verdadeiro companheiro, ele vai precisar de pelo menos cem anos para ser maduro o suficiente para lidar com a filha da minha companheira."

"Quantas vezes você vai dizer a ela que não pode se ligar até ter, tipo, cem e poucos anos?" Jen bufou enquanto entrava na sala.

Decebel não pôde deixar de olhá-la com avidez, seus olhos percorrendo-a de cima a baixo. Ela estalou os dedos para ele e apontou para cima. "Olhos aqui em cima, peludo."

"Eu só quero ter certeza de que está claro para que não haja confusão mais tarde."

Ela riu. "Cara, você é como um GIF, repetindo-se várias e várias vezes. Eu não acho que ela vai ter a oportunidade de ficar confusa. Você vai dar a ela um complexo."

"Como foi com Bethany?" ele perguntou, decidindo que era melhor mudar de assunto, para que ela não começasse a lhe dar uma palestra sobre como a filha deles tem o direito de se ligar com seu verdadeiro companheiro quando o encontrar e blá, blá, blá. Ele geralmente a ignorava quando ela começava a falar essas besteiras.

"Bem, ela é um doce. Muito ignorante sobre muitas coisas, mas parece estar lidando bem com tudo."

"E Drake?"

"Sim, aquele lobo está completamente louco."

"Jennifer," ele rosnou. "Linguagem."

"O quê?" ela deu de ombros. "Eu não posso adoçar algo tão sério quanto um lobo selvagem. Sem Bethany ao lado dele, Drake mataria um unicórnio, mastigaria borboletas até a morte e basicamente atacaria qualquer coisa com um pulso... e provavelmente algumas coisas sem pulso se ele as considerasse uma ameaça. Eu a levei para tomar banho, depois de usar meu poder de Alfa nele, e quando voltamos, suas patas estavam ensanguentadas de tanto tentar cavar através do chão de concreto, que agora tem mais arranhões do que um bilhete de loteria do Texas."

Decebel sentiu seu lobo se agitar. Doía-lhe, como Alfa de Drake, ver um dos seus em tal estado. Ele não sabia como ajudá-lo. Pensara que encontrar sua companheira acalmaria a escuridão do lobo, mas estava começando a parecer que era tarde demais para Drake. Que tipo de vida Bethany poderia ter se tivesse que ficar praticamente trancada com seu companheiro porque o lobo dele não conseguia lidar com ela fora de sua vista ou perto de outros machos? Decebel poderia permitir que tal coisa acontecesse? Seria uma alternativa melhor tirar Drake da equação e deixar Bethany como uma fêmea não ligada sem chance de um verdadeiro companheiro? Talvez, então, ela pudesse seguir com sua vida, talvez até se apaixonar por outra pessoa. Certamente não seria o mesmo que estar com seu verdadeiro companheiro, mas talvez ela ainda pudesse ser feliz.

Jen estreitou os olhos para ele. "Eu sei o que você está pensando, B, e você não pode. Não é justo para nenhum dos dois. Algo tão importante precisa ser decidido por eles, não por nós."

"Bethany não entende as implicações. Como ela pode tomar uma decisão racional sobre isso?" ele apontou. Decebel não estava tentando ser argumentativo; ele estava simplesmente fazendo o papel de advogado do diabo porque precisava ver qual era a opinião de Jennifer. Ele precisava da sabedoria de um ponto de vista feminino, um que visse mais do que apenas um lobo selvagem.

"Pelo menos dê a ela uma chance de aprender. Talvez ele só precise de tempo com ela. Talvez a presença dela comece a combater a escuridão nele e ele melhore. Eles merecem uma chance." Ela estendeu a mão para Thia enquanto ele processava suas palavras.

"Tudo bem," ele disse entre dentes cerrados. Ele estava frustrado com a decisão. Nem ele nem seu lobo gostavam quando as escolhas não eram simplesmente preto ou branco. "Vou dar um tempo a eles. Mas teremos que ser muito cuidadosos com Drake. E Bethany vai precisar de orientação, além do que seu companheiro pode lhe dizer."

"Não se preocupe, eu cuido disso," ela disse enquanto sorria para Thia, fazendo a menina rir.

"Como você vai fazer isso enquanto procura uma de suas melhores amigas e se preocupa com a outra?" Ele inclinou a cabeça ligeiramente enquanto cruzava os braços na frente do corpo.

Jen começou a caminhar em direção à porta enquanto respondia. "Como é que você continua esquecendo o quão incrível eu sou? Se você procurar 'incrível' no dicionário, minha foto está bem lá. Não duvide das minhas habilidades, Dec. Posso me preocupar com Jacque, procurar por Sally, arranjar tempo para Thia e ajudar Bethany a se adaptar ao presente. Sem problema."

"E eu?" ele perguntou enquanto começava a segui-la.

Ela riu. "Tire uma foto, não, espere, talvez um vídeo. Então apenas olhe para eles quando sentir minha falta. Mas, por favor, tente não tentar apalpar a tela quando estiver assistindo ao vídeo."

Ele rosnou para ela e deu um tapa em seu traseiro. "Você é perversa."

"E como você gosta disso. Agora vamos. Gavril vai brincar com Thia, já que Rachel está meio ocupada mantendo o homem-lobo e a Ruiva vivos. Vamos dar uma corrida e ir até a mansão da alcateia romena. Podemos dar uma passada e ver o garoto da história enquanto estivermos lá."

"Wadim sabe que estamos indo vê-lo?" Decebel perguntou.

"Depende da sua definição de saber," ela respondeu com humor na voz.

"Jennifer," ele advertiu. "Quantas definições podem haver?"

"Você ficaria surpreso."

Decebel passou a mão pelo cabelo e depois apertou a ponte do nariz. Sua companheira podia levá-lo em uma montanha-russa verbal se ele continuasse a fazer perguntas que ela não queria responder. Alguns dias ele adorava isso. Era uma espécie de caça, que seu lobo adorava, é claro. Mas em outros dias era tão frustrante quanto sua falta de necessidade de roupas em todas as situações fora do quarto deles. Ok, talvez a questão das roupas fosse na verdade muito mais frustrante.

"Vá na frente. Eu preciso falar com Costin," Decebel disse e sentiu seu lobo se tensionar dentro dele.

Jen parou e se virou completamente para seu companheiro. Seus olhos, que continham tantas emoções, estavam arregalados e fixos nele. "Ele está bem? Ele piorou?"

"Ele está," Decebel começou e depois parou, rangendo os dentes contra a escuridão que sentia nos vínculos da alcateia, especificamente emanando de Costin. "Ele é quem precisamos nos preocupar."

Jen prendeu a respiração. "Ainda mais do que Drake?"

"Muito mais do que Drake," ele confirmou.

Jen caminhou até Decebel e envolveu um braço livre ao redor dele. Ela apertou e o segurou. Decebel adorava esses momentos porque com sua companheira eles eram raros.

"Seja gentil, ele está sofrendo," ela implorou.

"Um lobo selvagem não precisa de gentileza, querida, ele precisa de controle. Eu sou o Alfa e o único que poderá controlá-lo se ele perder completamente o controle."

"É totalmente inapropriado, mas sinto que deveria haver uma música com aquele som de 'dun, dun, duuuuuuuun' e depois uma voz profunda dizendo 'nosso herói sucumbirá ao lado negro ou lutará por toda a humanidade?'"

"Ele não está lutando por toda a humanidade, apenas por si mesmo e por sua companheira," Decebel apontou.

Jen bufou. "Esse não é o ponto. É uma referência engraçada, haha, a todos aqueles desenhos de super-heróis e a voz—" Suas palavras se interromperam quando ela percebeu que Decebel não estava realmente prestando atenção. "Ah, esqueça. Não deixe sangue por todo o quarto dele, Sally ficaria tão brava quanto um gato que acorda e percebe que é apenas metade do gato que costumava ser. Oh meu Deus, estou pegando fogo." Ela levantou a mão. "Mas totalmente inapropriado. Vejo você em alguns minutos." Ela se esticou nas pontas dos pés, deu-lhe um beijo rápido e então saiu correndo da sala.

Decebel caminhou em direção à porta o mais devagar possível. Talvez, se ele andasse devagar o suficiente, alguém encontraria Sally antes que ele chegasse ao quarto de Costin. Então tudo ficaria bem e a conversa que estava por vir seria totalmente desnecessária. Ele sabia por que estava andando devagar. Ele temia ter que ver seu amigo em tal estado por algo que ele, seu Alfa, não podia consertar. Sem mencionar que provavelmente teria que emitir comandos de Alfa a um velho amigo. Ele odiava ter que fazer isso.

Quando seu cérebro finalmente fez seus pés se moverem, ele deixou seu lobo sair apenas o suficiente para seus olhos mudarem e colocou suas emoções em relação ao amigo de lado. Agora ele estava agindo com o instinto do animal, mas com as palavras do homem. O animal estava a caminho de lidar com um membro da alcateia que precisava de disciplina. O homem estava indo lidar com seu amigo. Dois seres diferentes, duas motivações diferentes, trabalhando em conjunto. Era muito difícil de explicar, mas Decebel entendia e seu lobo entendia, e isso era tudo o que importava.

Quando ele chegou à porta da suíte de Costin e Sally, levantou a cabeça e cheirou o ar. O cheiro de dor, raiva, confusão e algo mais que ele não conseguia identificar estavam todos se infiltrando pelas frestas da moldura da porta. Quando ele abriu a porta, os cheiros o atingiram em cheio. Decebel ignorou o odor e se concentrou em seu amigo, que estava sentado no chão fazendo um quebra-cabeça com Titus.

"Você não bateu," Costin rosnou sem olhar para cima.

Movimento errado, Beta, pensou Decebel. "Eu sou Alfa. Não preciso bater. Você é meu amigo, mas também é meu Beta, e isso significa que você vai me olhar quando se dirigir a mim." As palavras rosnadas de Decebel continham seu poder, a força de sua vontade. Costin não teve escolha a não ser levantar a cabeça. Decebel pensou que veria raiva, dor ou outras coisas que podia sentir, mas em vez disso, os olhos castanhos de seu Beta encontraram os seus com completa submissão. Isso pelo menos significava que o homem ainda estava no controle. Sua cabeça inclinou-se o suficiente para que seu pescoço ficasse vulnerável e seu olhar mudou para algo além do ombro de Decebel. Sem contato visual, sem desafio. Bom.

"Como está seu filho?" Decebel perguntou, olhando para Titus. Ele olhou de volta para Costin e uma pergunta não dita pairou no ar. Você é um perigo para ele?

"Não é tão ruim para isso, ainda não," Costin assegurou.

Costin sabia que Decebel colocaria a proteção de Titus como sua maior prioridade. Como um dos membros mais jovens da alcateia, o menino precisaria ser mantido seguro, mesmo de seu próprio pai, se necessário. E o tempo poderia chegar em que Decebel teria que remover Titus dos cuidados de Costin, pelo menos até Sally retornar.

"Peço desculpas por não ter batido. Eu não sabia o que encontraria aqui e meu lobo já estava nervoso. Mas você é meu Beta e tal posição não é sem honra na alcateia. Eu não teria colocado você nessa posição se não confiasse em você. E confio em você para saber como controlar seu próprio lobo. Mas, mais importante, confio em você para me dizer se ele se tornar demais para você lidar."

Apesar de suas palavras tranquilizadoras, a troca preocupava profundamente Decebel. Se o lobo de Costin estava reagindo ao Alfa por instinto, e esse instinto estava dizendo a Costin para desafiar Decebel em vez de se submeter, então a escuridão estava se espalhando, rápido.

"Por favor, Alfa, me dê mais alguns dias."

Decebel podia ver a sinceridade nos olhos de seu Beta. O lobo estava dizendo não, mas o homem queria mostrar alguma compaixão. "Costin, você ainda é muito jovem. Você encontrou sua companheira muito mais rápido do que a maioria de nós. Eu vivi mais de um século antes de encontrar minha Jennifer. Talvez, nenhum lobo estivesse mais próximo da escuridão do que eu antes de encontrá-la. Eu lutei contra isso, Costin. Dia após dia, ano após ano, eu lutei contra a escuridão. Eu sei como é. Mas você... você não sabe o quão sortudo foi por encontrar sua Sally tão jovem. Você não passou as vidas lutando contra isso como a maioria de nós. Agora parece que séculos de escuridão estão caindo sobre você de uma vez. Dizem que ter um tesouro e perdê-lo é muito pior do que nunca ter tido um. Você realmente pode controlar seu lobo, Beta?"

Costin respirou pesadamente enquanto olhava para Titus. O menino estava calmamente examinando as peças do quebra-cabeça antes de colocá-las em seus respectivos lugares. "Prometa-me uma coisa, Alfa. Se chegar a hora... prometa-me que você e Jen vão—" As palavras de Costin engasgaram em sua garganta. "Prometa-me que vocês vão—"

"Você sabe que faríamos," Decebel respondeu. "O menino é da alcateia. Cuidaríamos dele assim como cuidamos de Thia."

Titus olhou para cima de onde estava sentado no chão e encarou os olhos do Alfa sem piscar. "Você rosna muito," ele disse apontadamente.

Decebel assentiu com a cabeça. "Eu rosno muito, mas às vezes as pessoas simplesmente precisam ser rosnadas."

A cabeça de Titus inclinou-se lentamente para o lado e seus olhos se estreitaram em Decebel. Era uma sorte ele ser um filhote, ou o lobo de Decebel estaria fazendo mais do que rosnar.

"E se rosnar não funcionar?" Titus perguntou.

"Bem, geralmente funciona," disse Decebel. O grande Alfa se agachou para ficar ao nível dos olhos do menino. "Mas se não funcionar... você sabe o que os lobos fazem depois de rosnar, não sabe?"

Os olhos de Titus se arregalaram.

"Eles mordem," Decebel disse, pulando no menino e agarrando-o, fazendo cócegas embaixo de seus braços e nas costelas. Titus guinchou de alegria por um momento, depois ficou subitamente sério.

"Você vai morder meu pai?" o menino perguntou.

"Você ama seu pai, não é, Titus?"

O pequeno garoto assentiu lentamente com a cabeça.

"Bem, eu também. Veja, Titus, aqui nesta casa, somos mais do que apenas mamães e papais, irmãos e irmãs, amigos e vizinhos. Somos algo chamado alcateia. E cada membro da alcateia é muito especial. A alcateia cuida uns dos outros e se preocupa uns com os outros. Seu pai é parte da alcateia, e agora você também é parte da alcateia.

"Mas todas as alcateias têm um líder. E o trabalho do líder é proteger sua alcateia a todo custo. E adivinhe quem é o líder da nossa alcateia?"

Titus apontou lentamente para o peito de Decebel, claramente digerindo as palavras do Alfa.

"Isso mesmo. Isso significa que vou proteger você e seu pai, não importa o que aconteça. E também vou fazer tudo o que puder para encontrar sua mãe. Isso soa bem?"

O pequeno garoto pensou sobre isso e depois assentiu com a cabeça. "Ok. Acho que entendo que o papai precisava ser rosnado, mas é só porque minha mamãe se foi. Então, se você a trouxer de volta, sem mais rosnados... e sem mordidas!"

"Combinado," disse Decebel com um aceno de cabeça e um pequeno sorriso, levantando-se novamente.

Decebel se virou para ir embora, mas parou quando ouviu Titus novamente.

"Alfa," ele chamou.

Decebel se virou para encará-lo mais uma vez.

"Talvez, se você tiver que rosnar para o papai de novo, talvez você devesse rosnar para mim em vez disso."

Decebel olhou para Costin, que estava olhando para seu pequeno garoto, seus olhos úmidos com lágrimas não derramadas. "Por que eu precisaria rosnar para você em vez disso?" Ele perguntou.

"Porque o papai está quebrado e eu não acho que seus rosnados possam consertá-lo. Mas você pode rosnar para mim." Titus estava completamente sério e acreditava em cada palavra que saía de sua própria boca. O garoto era inteligente, isso era certo. Mas a intuição do garoto, muito parecida com a de um lobo, interessava ainda mais a Decebel. Isso não é algo que se aprende, é apenas parte de quem e do que você é, pensou o Alfa.

"Cuide bem dele," Decebel disse a Titus.

O pequeno garoto assentiu e endireitou os ombros, orgulhoso de ter recebido uma tarefa.

"Sim, Alfa," ele repetiu as palavras que seu pai havia falado alguns minutos atrás.

Decebel deu a Costin mais um olhar significativo e então se virou, saindo da mesma maneira que entrou, só que desta vez ele não se perguntava com o que estava lidando—ele sabia. Se não encontrassem Sally em breve, Costin não seria capaz de lutar contra a escuridão. Ele se tornaria completamente selvagem.

Costin olhou para as peças do quebra-cabeça esmagadas que estava segurando. Era exatamente assim que ele se sentia, esmagado. Ele olhou através do quebra-cabeça para Titus, que havia voltado a procurar o lugar correto das peças como se não tivesse acabado de se oferecer para receber o castigo de Costin.

"Titus," Costin esperou até que ele olhasse para cima.

"Sim, papai," ele respondeu e então olhou para ele.

"Desculpe," a voz de Costin falhou e ele fez uma pausa, lutando com tantas emoções. "Desculpe por tudo isso ter acontecido e logo depois de você chegar aqui também. Desculpe que sua mamãe não está aqui e eu não consigo consertar isso. Desculpe que você sinta que deve receber meu castigo por mim." Titus ficou embaçado por causa das lágrimas que inundavam os olhos de Costin. Seu coração não estava apenas partido por sua companheira; estava também partido pelo filho que eles haviam recebido.

"Você é meu papai. É isso que os filhos fazem pelos seus papais, e você faria isso por mim porque eu sou seu filho." Titus respondeu sinceramente.

Costin estendeu a mão e pegou seu filho, colocando-o em seu colo. Ele envolveu os braços ao redor dele e o segurou perto. "Você está certo, eu faria isso por você. Eu sempre farei o que for melhor para você." Costin não disse ao garoto que poderia chegar um momento em que o melhor para ele seria estar o mais longe possível de Costin.

Se ele se tornasse selvagem, Costin correria, o mais rápido e o mais longe possível das pessoas que ele amava. Ele não deixaria seu lobo destruir o que ele amava.

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