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Adrian estava sentado em frente à televisão, jogando um jogo de tiro em primeira pessoa, basicamente monopolizando a sala de estar inteira. Não que Scarlett estivesse em posição de reclamar. Ela tinha um favor para pedir. Um grande favor.

"Vou fingir que não é um favor," decidiu Scarlett. "Vou fazer parecer que ele é o cara mais sortudo do planeta."

"Então, o que você achou da minha amiga, Sienna?" ela perguntou.

Adrian tirou o fone de ouvido, lançou-lhe um olhar irritado por interrompê-lo e perguntou o que ela queria.

"Você gostou da Sienna?" ela repetiu.

"Sua amiga loira?" Adrian perguntou e fez um gesto de vômito. "Mesmo para um humano, ela era irritante. Não sei como você aguenta essa merda dia após dia. Se fosse por mim, eu arrancaria suas gargantas magricelas."

"Ela é a garota mais popular da escola e quer sair com você," continuou Scarlett com um sorriso largo, ainda tentando fazer a ideia parecer atraente, embora soubesse que era uma batalha perdida.

Seu rosto confirmou que ele não estava caindo nessa.

"Passo," ele murmurou antes de colocar o fone de ouvido de volta e continuar a gritar instruções para seus amigos.

Soltando um suspiro desanimado, Scarlett percebeu que não tinha escolha a não ser avisar Sienna. A garota vinha a importunando para perguntar desde a noite passada, e havia apenas tantas desculpas que ela poderia inventar.

"Ele disse não," Scarlett digitou e colocou um monte de emojis tristes.

"Por quê?" Sienna digitou de volta quase instantaneamente. Ela imaginou a outra garota segurando o telefone com as mãos brancas de tanto apertar, olhando para a tela sem piscar.

"Ele acha que seria estranho sair com minha amiga," Scarlett mentiu. Se ela dissesse a verdade, só faria Sienna explodir de raiva, e quando isso acontecia, era Scarlett quem sofria as consequências.

"Então convença-o de que não será estranho," Sienna digitou.

Resmungando, Scarlett percebeu que a mentira foi um erro.

"E agora, e agora?" ela murmurou para si mesma.

"Vou fazer o meu melhor," ela respondeu.

Depois de alguns momentos, Sienna enviou uma mensagem ameaçadora, avisando que seu melhor deveria ser bom o suficiente para mudar a opinião dele.

"Se você atrapalhar de novo, não seremos mais amigas, então ele não terá que se preocupar com isso ser estranho," dizia a mensagem.

Scarlett sabia por experiência que a ameaça não era vazia. Depois de uma briga por um garoto que ambas queriam, Sienna a ignorou por semanas, convencendo todas as outras amigas a fazerem o mesmo. O grupo dela não era exatamente gentil com os outros alunos da escola, o que significava que Scarlett não tinha amigos de reserva ou mesmo conhecidos para passar o tempo. Ela foi forçada a sentar, comer e estudar sozinha durante aqueles dias horríveis.

"Tudo porque ele me escolheu em vez dela," pensou Scarlett.

Ela nunca confiou totalmente em Sienna ou em qualquer uma das outras amigas desde então, mesmo depois que Sienna a "perdoou" e deixou as coisas voltarem ao normal. Fazer parte do grupo tóxico "popular" tinha suas vantagens, mas também era muito solitário e assustador quando você sabia que estava a um erro de ser ostracizada. Como andar sobre ovos.

Adrian ainda estava jogando quando Scarlett se aproximou dele com uma xícara de chá—apenas um pouco de leite e duas colheres de açúcar, exatamente como ele gostava.

"Me deem dois minutos, pessoal," ele disse, tirando o fone de ouvido e olhando para ela com desconfiança.

"Por que você está sendo tão legal comigo?" ele perguntou, olhos semicerrados.

"Eu sempre sou legal com você," respondeu Scarlett. Isso era uma mentira. Uma mentira descarada e inútil.

Ela puxou a manga para segurar a xícara quente e ofereceu-lhe a alça.

"Você envenenou ou algo assim?" ele perguntou ao aceitar. Depois de tomar um gole, ele assentiu. "Muito bom, obrigado."

Scarlett respirou fundo. "Sobre minha amiga Sienna, ela realmente não é tão ruim quanto parece quando você a conhece pela primeira vez. E você tem que admitir que ela é muito atraente e sexy."

"Não estou interessado," disse Adrian, olhando para ela com olhos desconfiados.

"Talvez você pudesse dar uma chance a ela?" Scarlett sorriu e assentiu.

"Por quê?" ele perguntou.

Era uma pergunta justa, mas o que ela deveria dizer? Para que eu não seja expulsa do grupo popular por não conseguir um encontro para a Rainha Sienna com você? Para que eu não perca a fachada de 'apenas uma garota normal' que passei anos cultivando?

Adrian tomou outro gole e colocou a xícara na mesa de centro antiga ao lado do porta-copos, em vez de em cima dele. Alguns anéis apareceram na mesa preciosa de sua mãe, mas ela não reclamaria para ou sobre Adrian. Fazer com que ele e seu pai—Ron—se sentissem em casa aqui era de extrema importância, segundo sua mãe.

"Bem, ela é minha amiga e realmente gosta de você," disse Scarlett. Era a verdade. Não toda a verdade e nada além da verdade, mas esta era sua sala de estar, não um tribunal.

Adrian soltou um som de deboche, quase cuspindo o chá na cara dela. "Gosta de mim? Eu literalmente disse uma frase para ela."

"Deve ser sua atração animal inata," disse Scarlett e deu de ombros com muito entusiasmo.

"Tanto faz," disse Adrian. "Ela não é meu tipo."

"Você daria uma chance a ela mesmo assim?" Scarlett perguntou, com os olhos arregalados e suplicantes.

Enquanto ela persistia, ele inclinou a cabeça e semicerrava os olhos para ela, ficando desconfiado.

"Por quê?" ele perguntou novamente.

"Já falamos sobre isso," reclamou Scarlett, cansada de falar em círculos. Tudo o que ela queria era que ele dissesse sim.

Enquanto sentia a vida e a esperança se esvaindo de seu corpo, uma ideia lhe ocorreu.

"Eu pago pelo encontro," ela ofereceu. "E você pode trocar de quarto comigo. Eu sei que você quer o quarto grande."

Era uma ótima oferta, mas só o deixou mais desconfiado.

"Por que você pensaria isso? Eu gosto do quartinho. É aconchegante," ele disse.

Isso tinha que ser uma mentira, ou ele havia mudado de ideia sobre o assunto. Ontem ela o ouviu reclamando com seu pai sobre o tamanho do novo quarto. Ele não queria se mudar para cá e estava punindo seu pai reclamando de cada coisinha. Em casa, ele era tratado com respeito e reverência por causa de seu status. Aqui, ele teria que agir e ser tratado como qualquer outro cara comum. Era como ser um ômega, como ele dizia.

"Você pode ter minha TV no seu quarto?" Scarlett ofereceu.

"Onde?" ele zombou. "Ela pode levitar?"

"Bom ponto," disse Scarlett, olhando para baixo em pensamento profundo. O que mais ela poderia oferecer a ele?

"Eu te pago," ela disse finalmente, sorrindo como uma maníaca.

Ele olhou para ela como se ela tivesse acabado de oferecer um strip-tease. "Olha, eu aprecio o chá e todas as ofertas generosas e quase assustadoras, mas isso não vai acontecer. Desculpe. Eu tenho que viver com esses humanos horríveis, mas isso não significa que eu tenha que namorar um."

Desistindo por enquanto, Scarlett voltou para a cozinha. Ela começou a arrumar e limpar, varrendo um monte de arroz que alguém havia derramado e deixado para outra pessoa. Provavelmente foi Ron. Ele adorava cozinhar mais do que gostava de limpar depois. Uma peculiaridade que a mãe achava fofa agora, mas que logo se cansaria.

Enquanto esfregava os últimos grãos das palmas suadas, a campainha tocou.

'Por favor, não seja a Sienna,' ela pensou.

Quando abriu a porta, seu estômago estava em nós.

"Olá?" ela disse.

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