




Capítulo 04
LIANNA
Acordei assustada no dia seguinte, pois nem me lembrava de como tinha conseguido dormir no dia anterior, e também porque estava ouvindo sons estranhos junto com conversas do lado de fora da porta.
Até tentei ir ver o que estava acontecendo, mas a porta estava trancada, e tudo o que eu conseguia ver era o que estava ao alcance da pequena fresta na porta — o que me dava acesso a praticamente nada.
Isso me fez voltar para a cama, e ao sentir o cheiro dele no tecido que me cobria... acabei lembrando da noite anterior. Os toques, os beijos... a respiração, e as mãos quentes...
Isso fez meu coração disparar, e me deixou extremamente irritada.
Eu não podia sentir isso pelo inimigo, e novamente, — assim como tinha repetido para mim mesma várias vezes na noite anterior — eu não podia deixar que ele fizesse o que quisesse comigo, especialmente só porque ele era bonito.
Isso não era suficiente para trair meu povo.
Isso me fez procurar maneiras de escapar dali de alguma forma, mesmo que eu tivesse que nadar completamente sozinha, eu tinha que sair dali, eu tinha que...
"Você ouviu o que aquele velho disse? Que deveríamos trocar as filhas dele?" Acabei ouvindo um dos guardas dizer enquanto ria.
"Sim, eu ouvi. O que esse louco pensa que está fazendo? Se uma filha já está aqui, ele deveria deixá-la aqui!" O outro simplesmente soltou, o que fez o desespero se espalhar pelo meu corpo, junto com uma certa angústia.
Meu pai não podia estar falando sério, por que ele queria continuar com essa ideia estúpida de colocar Emily no meu lugar? Que diferença isso fazia?
"ABRAM ESSA PORTA!" Acabei batendo na porta cada vez mais forte — provavelmente devido ao desespero que só crescia dentro de mim —, "VAMOS! ME TIREM DAQUI! ME TIREM DAQUI!"
Eu estava praticamente esmurrando aquela porta com toda a minha força. Meu pai não podia fazer isso com Emily! Ele não podia simplesmente colocar uma criança no meu lugar, especialmente com aquele louco!
"Ei, gatinha... respira." O guarda que abriu a porta para mim zombou, e todos ao redor dele pareciam ter as mesmas expressões no rosto.
Mas é claro que tinham, afinal, eu tinha mantido uma personalidade forte e inabalável até agora, e de repente, queria bancar a desesperada.
Até eu zombaria de mim mesma.
Mas eu não tinha tempo para ouvir a conversa inútil deles, e disse o que precisava.
"Vocês precisam me levar até meu pai!" Praticamente implorei enquanto falava, "ele não pode cometer essa atrocidade, não com ela!"
"Gatinha, acho que você não entendeu," um deles se aproximou, com um sorriso quase psicótico no rosto, "Não importa como essa história se desenrole ou não, tudo na sua ilha patética vai virar cinzas depois de um tempo."
"Isso mesmo, até não sobrar nada do seu tipo nojento e fedorento." Outro disse enquanto dava um passo em minha direção, me forçando a recuar, "E sabe por quê? Porque nós podemos fazer isso, e vocês nem têm os recursos para nos parar!"
Eles estavam me encurralando cada vez mais enquanto falavam, como se estivessem tentando me pressionar contra uma parede.
"Ela é tão ingênua, não é?" Agora um dos guardas começou a falar com o outro.
"Sim, ela deve ter pensado que salvou a ilha dela ou algo assim." O outro disse logo em seguida, o que fez aqueles dois idiotas começarem a rir e ficarem completamente distraídos.
Isso me fez escapar pela última brecha que eles deixaram,
E eu caminhei por aquele corredor gigante, que parecia nunca acabar, apenas para dar de cara com aquele maldito lobo, que estava com meu pai e alguns homens e...
Minha irmã.
Minha irmã estava chorando tanto que fez aqueles olhos verdes como jade ficarem completamente vermelhos e inchados.
Ela não queria isso, e com certeza, estava com medo de ser entregue a aquele homem selvagem e sem coração.
"Parem com isso agora!" Eu disse, interrompendo aquela conversa hedionda, "Ninguém aqui vai levar minha irmã para lugar nenhum!"
CALEB
Aquela humana simplesmente chegou dizendo o que queria, sem nem se importar com as consequências, e isso... fez um sorriso quase se formar nos meus lábios, uma certa satisfação.
Mas eu não queria mostrar que estava sentindo isso, então me contive, colocando uma máscara de seriedade no rosto como se nada pudesse me abalar naquele momento.
"Eu te disse para não interferir, Lianna!" O pai dela parecia falar, praticamente apontando o dedo na cara dela, "Você vai voltar comigo para a ilha, e ponto final!"
"Eu nunca voltaria com um monstro como você! Alguém que quer entregar uma criança para salvar seu povo!" Ela retrucou, puro, genuíno ódio preenchendo seus olhos esmeralda, "Eu não vou deixar isso acontecer, então leve Emily para casa! E nunca mais pense em uma ideia tão absurda!"
"VOCÊ NÃO ENTENDE NADA! APENAS VOLTE COMIGO!" Aquele velho parecia perder a paciência, "ENTÃO VAMOS LOGO! SUA IRMÃ PODE AGUENTAR ISSO!"
"NÃO! EU NÃO VOU! E ELA NÃO AGUENTARIA! VOCÊ NÃO TEM IDEIA, TEM?" Ela continuou, gritando no mesmo tom enquanto enfrentava o pai, "VOCÊ DEVE ESTAR DOENTE TAMBÉM! TODOS VOCÊS ESTÃO DOENTES!"
Ela falou enquanto apontava para todos os homens ao redor do pai, o que me deixou ainda mais interessado nela, e curioso sobre ela.
"PARE DE FALAR SOBRE COISAS QUE VOCÊ NÃO ENTENDE!" Aquele trapo enrugado continuava a esbravejar, como se de alguma forma, estivesse certo, "PARE COM ISSO AGORA, LIANNA!"
"Já chega!" Eu disse, tentando emular uma certa frieza, "Eu aceito o acordo como está, e não quero ouvir mais nada sobre isso."
Os dois apenas começaram a olhar para o meu rosto, completamente atônitos.
Lianna — eu tinha acabado de descobrir que esse era o nome dela — estava me olhando como se não soubesse se me agradecia ou me mandava ficar fora disso. E o pai dela, bem... ele estava apenas surpreso, em choque, eu diria.
"Agora saiam daqui! Há muitos humanos neste lugar." Essa foi minha palavra final, o que fez meus homens escoltarem aquelas criaturas de volta para onde vieram, deixando-os lá com aquela mulher que apenas me encarava.
Me encarava com completa confusão e raiva.