




05.” EU SINTO FALTA DE ALGUÉM...”
ISABELLE NASH
[....] Alguns dias depois...
Sentada na mesa de café no refeitório da fraternidade, passo a mão pelo cabelo, olhando a lista interminável nos jornais, procurando um apartamento que caiba no meu orçamento até que eu consiga finalmente um emprego decente e possa deixar meu bico de bartender para trás.
Há tantos lugares, tantas opções, mas tudo fica caro em Chicago, seja nos bairros centrais ou nos mais afastados; os preços me assustam, fazendo-me duvidar um pouco se conseguirei sobreviver longe da fraternidade com o pouco que ganho. Embora eu tenha conseguido economizar um pouco de dinheiro extra durante a faculdade.
"Oh Deus, me ajude!" Levo as mãos ao rosto, pressionando as palmas sobre as pálpebras.
"Sentindo-se ansiosa, amiga?" A voz de Amara me pega de surpresa, fazendo-me dar uma leve careta.
"É mais como desespero. Estou prestes a ter que deixar a fraternidade e não consigo encontrar um apartamento que eu possa pagar."
Ela faz um biquinho, olhando para mim com seus olhos castanhos, brilhando com uma alegria que eu gostaria de compartilhar no momento. Amara é minha melhor amiga, uma confidente para todas as horas, mas ela nunca perde a chance de estar por dentro de todas as possíveis novidades acontecendo na faculdade.
"Talvez seus problemas tenham acabado. Você deixou seu celular no quarto e ele não parava de tocar. Então, decidi atender, e você acabou de receber um convite para uma entrevista de emprego na maior joalheria de Chicago, garota." Amara solta alguns gritinhos de felicidade, fazendo-me olhar ao redor do refeitório, dando sorrisos sutis de constrangimento.
Pego meu celular, verificando o número que ligou, depois a caixa de entrada do e-mail, onde está escrito em letras formais:
Assunto: Convite para Entrevista de Emprego na Diamond Haven
Prezada Isabelle Nash,
Espero que esta mensagem a encontre bem.
Em nome da equipe da Diamond Haven, gostaria de agradecer pelo seu interesse na posição de Designer de Joias em nossa empresa. Sua candidatura chamou nossa atenção, e ficamos impressionados com sua experiência e qualificações.
Temos o prazer de informar que gostaríamos de convidá-la para uma entrevista de emprego para discutir mais sobre sua candidatura e suas habilidades. A entrevista será realizada nas seguintes datas e horários:
Data: 12 de março de 2024
Hora: 9:00 A.M.
Local: Diamond Haven
123 Main Street
Chicago, IL 60601
Durante a entrevista, gostaríamos de discutir mais sobre sua experiência profissional, suas habilidades relevantes para a posição e como você pode contribuir para o sucesso de nossa equipe na Diamond Haven.
Se você tiver alguma dúvida ou precisar de mais informações antes da entrevista, sinta-se à vontade para nos contatar.
Estamos ansiosos para conhecê-la pessoalmente e discutir suas perspectivas de carreira na Diamond Haven.
Atenciosamente,
Clara Thompson
Gerente R.S.
Diamond Haven
Coloco o celular cuidadosamente na mesa, atordoada com o que acabei de ler. Eu realmente fui chamada para uma entrevista na Diamond Haven.
Mas, de repente, meus olhos se estreitam, voltando-se para Amara, toda animada, olhando para mim expectante. Eu me recosto na cadeira, apontando para o celular.
"Eu não me inscrevi na Diamond porque sabia que era difícil entrar lá." Entrelaço os dedos, olhando fixamente para Amara. Ela levanta as mãos, rendendo-se, como se não tivesse culpa de nada.
"Não me olhe assim. Eu não fiz nada, talvez o Simon?" Ela sugere, sua voz voltando a ser doce.
Respiro fundo, fecho os olhos e afundo na cadeira. Simon, ele não faria algo assim, faria? Talvez tenha sido alguém do baile, depois que a própria anfitriã falou comigo e me defendeu dos ataques da Evelyn.
Desde o dia em que saí de lá, descobrindo que não tinha dormido com o Simon, não tive coragem de falar com ele. Não que eu tenha vergonha daquele momento, que foi tão prazeroso de uma maneira que nunca experimentei antes. Mas porque não consigo olhar nos olhos dele, sabendo o que ele sente por mim, quando desejei isso por tanto tempo e depois deixei de lado. Simon e eu viemos de mundos diferentes; os pais dele nunca aceitariam isso. Agora a Evelyn, ela é a ideal para ele.
"Você ainda não falou com ele, né?" Amara me pergunta, fazendo-me abrir os olhos e balançar a cabeça, um pouco decepcionada comigo mesma.
"E eu não quero, você sabe o quanto eu queria que os sentimentos dele fossem recíprocos. Mas agora, parece tão vago; não posso fazer com que ele brigue com os pais porque quer ficar comigo quando nem eu mesma tenho certeza se quero o mesmo." Solto um suspiro pelos lábios, exausta por tudo que venho guardando desde aquele baile.
"Você não pode evitá-lo para sempre, Belle. Ele também estuda aqui; logo vocês vão se encontrar," ela diz, levantando-se. Vindo até mim, ela beija minha bochecha. "Eu preciso ir, tenho uma aula importante agora, te amo."
Observo Amara se afastar, sentindo-me sozinha novamente em meio aos jornais. Dou uma olhada na tela do celular, ainda sem acreditar nesse convite. Lembro que hoje seria o aniversário da minha avó; preciso ir ao túmulo dela e colocar lindas rosas, como faço todos os anos. Recolho os jornais, colocando-os entre as páginas do meu planejador.
Guardo tudo na minha bolsa, coloco-a no ombro e pego o celular para verificar a previsão do tempo. Estamos na temporada de neve e chuva, mas a primavera está se aproximando. Minha estação favorita do ano, preciso escolher uma flor que esteja dentro de uma pequena cápsula, para que dure mais se chover.
Fecho o zíper do meu casaco pesado e saio do refeitório, indo direto para onde posso pegar um táxi.
"Por favor, para o Cemitério Mount Carmel." O motorista de táxi apenas acena com a cabeça e segue em direção ao endereço.
Olho pela janela para Chicago, uma cidade tão movimentada, bairros com tantas histórias. Sinto falta dos tempos em que minha avó estava aqui, me ensinando sobre esta cidade, com toda a sua beleza.
Meus olhos caem de volta no celular, procurando fotos dela e de mim. Minha avó era tão animada, tão cheia de saúde, e moderna além de seu tempo. Sua paixão era desenhar joias. Foi inteiramente por causa dela que decidi seguir essa carreira. E aqui estou eu, tentando colocar em prática tudo o que aprendi com ela e com meus estudos.
Como sinto falta da minha avó. Solto um suspiro triste, olhando novamente para fora, observando os carros passando e as pessoas andando na rua com seus casacos para se proteger do frio.
Quando me aproximo do cemitério, há uma floricultura; peço ao táxi para parar ali. Saio do carro vendo que o tempo está mudando.
"Preciso me apressar, antes que chova." Corro para pagar o táxi pela janela, agradecendo ao motorista. Vou direto para a loja, olhando as lindas flores na frente, e escolho uma que chama minha atenção, com um tom rosado dentro de uma pequena cápsula, inscrita: "Para sempre em meu coração."
Sorrio, satisfeita, mas minha atenção é atraída por uma figura no fundo da loja, vestida com um sobretudo preto, com cabelo impecável, embora eu apenas admire a constituição atlética e forte de suas costas. Ouço uma voz feminina me perguntando algo que não entendi direito.
"Qual forma de pagamento, senhorita?" Ela repete, e eu pisco algumas vezes, tirando meu foco do homem, que de alguma forma capturou minha atenção.
"Desculpe, débito." Entrego o cartão a ela, olhando de volta para onde ele estava, mas não o vejo. Ele não está em nenhum lugar do meu campo de visão.
Balanço a cabeça, afastando a curiosidade que tomou conta de mim desde o momento em que fui atraída pela figura de um homem que nem conheço. Pego meu cartão, coloco na bolsa, agradeço à vendedora e seguro a rosa. Abro a porta da loja, sentindo a brisa fria do inverno me atingir, e está começando a chover, gotas finas caindo do céu, pingando no meu casaco. Decido caminhar rapidamente para dentro do cemitério.
Dizem que aqui há vários túmulos famosos, muitos fazem parte da história de Chicago; nunca tive tempo de verificar se é verdade, mas talvez um dia.
A chuva está ficando mais forte, então abro meu guarda-chuva, caminhando em direção ao túmulo da minha avó. Infelizmente, a perdi cedo; ela sempre foi minha única esperança desde que minha mãe me deixou após a morte acidental do meu pai. Eu tinha apenas 5 anos quando tudo aconteceu, mas, felizmente, tive minha avó que me criou, me amou e sempre esteve lá por mim, até 2 anos atrás, quando descobrimos que ela tinha câncer terminal.
Respiro fundo, afastando a tristeza que ameaça dominar minhas emoções.
"Sinto tanto a sua falta, vovó. Hoje faz 2 anos desde que você se foi. Ainda dói muito, mas vim te contar que de alguma forma fui chamada para uma entrevista na maior joalheria de Chicago. Você ficaria orgulhosa." Sorrio, enxugando a lágrima que escorre.
Ao colocar a rosa no túmulo da minha avó, um arrepio percorre minha espinha. Virando-me, vejo um homem observando silenciosamente à distância, sua figura envolta na densa névoa da chuva.
"Você está perdida aqui na chuva sozinha?" sua voz ecoa, soando estranhamente familiar, mas distorcida pelo som da chuva e pela névoa que envolve a área.
Assustada com sua presença repentina, tento ver seu rosto através da névoa, mas é difícil com a distância e a chuva se intensificando.
"Estou apenas visitando alguém especial. E você?" Respondo cautelosamente.
Ele sorri enigmaticamente, seus olhos ainda fixos em mim, mas seu rosto permanece indistinto, deixando-me ainda mais arrepiada.
"Sinto falta de alguém..." ele murmura antes de desaparecer lentamente na chuva enevoada, deixando-me com a sensação de que já o conhecia de algum lugar, mesmo que nunca tenha visto claramente seu rosto.