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CAPÍTULO QUATRO: O destino tem seus caminhos

"Entendi," declarou o Rei Alfa Zachary, sua voz tão profunda e sombria quanto melaço. "Farei de Adam meu príncipe herdeiro." A multidão rugiu em aprovação. Adam encontrou o olhar de Dolores e lhe deu uma piscadela zombeteira, depois curvou a boca em um sorriso sinistro enquanto saudava seu futuro reino e agradecia ao enxame de ministros que o parabenizavam politicamente.

"Mas, majestade," Crystal interrompeu, sua raiva fazendo a excitação diminuir e seus olhos prateados se tornarem frios. "O primeiro Ritual foi um fracasso, e o Deus Sol não apareceu até trazermos a Princesa Dolores aqui. Esse fato por si só prova que Dolores é a herdeira legítima."

"Sacerdotisa, respeito sua religião e sua devoção, mas por favor, perdoe minhas palavras. Não acho que a princesa Dolores seja qualificada o suficiente para ser a próxima Rei Alfa. Ela é uma garota, e uma Ro...," O Rei Alfa Zachary parou abruptamente, mas Dolores sabia o que ele pretendia dizer. Ele pigarreou, deixando claro que não queria se alongar no fato de que, embora Dolores tecnicamente fosse uma Princesa e tivesse sido escolhida pelo Deus Sol, ela sempre seria uma Renegada.

"Além disso, não acho que uma bruxa como você deva estar aqui, me dando lições sobre a política de um reino de lobisomens!" Seu tom estava carregado de irritação crescente. "Devemos adorar apenas um deus, e esse é a única Deusa da Lua, além de focar em... questões políticas ao escolher o próximo Rei Alfa."

"Mas, majestade!" Crystal implorou. "O…"

"O Rei Alfa está certo. O mais importante é manter o equilíbrio entre todas as alcateias," acrescentou um dos ministros, com seus colegas ministros sussurrando em concordância. Crystal marcou cada um de seus rostos, e Dolores viu como todos se enrijeceram diante de seu olhar ameaçador. Então, sem dizer uma palavra, Crystal se ajoelhou diante das estátuas da Deusa da Lua e do Deus Sol, que estavam lado a lado no centro do Panteão.

Dolores examinou as estátuas mais de perto do que na noite anterior, observando que a Deusa da Lua era representada por um lobo uivando para o céu e o Deus Sol por um Dragão olhando para baixo enquanto pairava acima. Em sua mente, Dolores imaginou as duas estátuas fundidas juntas e viu um abraço amoroso entre os dois Deuses. Naquele momento, Dolores percebeu que a flor inflamada que ela havia visto desenhada no portão do Panteão era o símbolo da união do Deus Sol e da Deusa da Lua. Uma oração desesperada abalou sua consciência, e ela observou enquanto Crystal fechava os olhos e entoava, sem a menor intenção de abençoar o novo príncipe herdeiro, mas sim como se estivesse implorando por perdão à Deusa da Lua e ao Deus Sol.

"Pelo amor de Deus, dragões já se foram há muito tempo!" Zachary gritou, sua irritação finalmente chegando ao limite. "Ninguém os viu em séculos."

"Majestade," Dolores interrompeu timidamente. Ela não ousou chamá-lo de pai. "Mas eu vi um dragão vir aqui na noite passada. Ele veio aqui, e ele..." Me beijou é o que Dolores ia dizer, mas não conseguiu, então mordeu o lábio inferior, sem saber o que dizer a seguir.

Adam riu com um rugido desagradável, "O quê? Ridículo!" Outros se juntaram, e Dolores sentiu a familiar sensação de humilhação rastejar sob sua pele. "Acontece que você não é apenas uma Renegada imunda, mas também uma mentirosa nojenta." Adam zombou, cutucando seu ombro para aumentar a mortificação.

O rosto de Dolores ficou profundamente vermelho. "Eu não..." Dolores argumentou.

"Vamos, Adam," Bryan se colocou entre ela e Adam na tentativa de trazer paz. Ele olhou para seu irmão mais velho, acrescentando, "Eu não acredito que Dolores mentiria para nós." Dolores sentiu uma semente de gratidão começar a crescer. "Ela pode ter tido apenas um sonho estranho, e a pobrezinha realmente acredita que é verdade ou talvez..."

"Não foi um sonho estranho!" Dolores explodiu, não conseguindo mais conter sua frustração. A gratidão que havia começado a crescer murchou e morreu. Eles nunca a veriam como uma igual, nunca a aceitariam, nunca a chamariam de irmã. "E eu não estou mentindo." Ela lançou um olhar desafiador para Adam e seu pai, o Rei. Ambos permaneceram impassíveis. Dolores podia sentir a raiva começar a crescer, despertando o desejo de Silvia de ser libertada junto com ela. Ela não podia mais ficar ali, parecendo a tola, a Renegada imunda. Dolores mordeu o interior da bochecha, como havia feito inúmeras vezes, mantendo Silvia sob controle. Dolores se afastou da mortificação, enquanto seu pai, o Rei, bradava para seu súdito, escolhendo não mais dar atenção a Dolores.

"Companheiros Krequins! O Ritual da Aurora terminou. Por favor, vão e festejem enquanto aguardam a posse de nosso novo herdeiro de Krequin." Zachary ergueu os braços para o céu e a multidão rugiu sua devoção. O Rei então envolveu um braço em torno dos ombros de Adam, saindo do Panteão com o resto dos filhos reais seguindo atrás deles.

Dolores ficou parada no mesmo lugar até que a família Razamas, sua família, se tornasse apenas uma linha de pontos em direção ao Palácio. Ela correu pela multidão, afastando-se do Panteão até chegar a um jardim longe o suficiente do barulho e da vergonha que pareciam assombrar sua vida.

Ao entrar no jardim cercado por salgueiros, Dolores usou as costas das mãos para enxugar o que decidiu serem gotas de suor, em vez de lágrimas, de seu rosto. Ela olhou ao redor do jardim escondido com reverência. Devia haver um feitiço mágico ali, permitindo que cada flor permanecesse florescida. O espaço estava cheio de todas as cores conhecidas, com apenas um caminho de pedras serpenteando por entre os vários tipos de flores silvestres, mal grande o suficiente para uma pessoa de cada vez.

Dolores seguiu pelo caminho, respirando a doce fragrância ao seu redor até chegar a um lago escondido da vista pelas ramagens dos salgueiros. Lá, ela encontrou um pedaço macio de terra. Sentada com os joelhos puxados contra o peito, ela falou com ninguém.

"Eu simplesmente não entendo," ela soou desanimada. "Achei que as coisas mudariam agora que sou uma princesa, mas por que todos ainda me tratam da mesma forma?" Dolores fechou os olhos com força para impedir que as lágrimas viessem, apertando os braços ao redor das pernas com mais força.

Os galhos dos salgueiros farfalharam, e as costas de Dolores se endireitaram ao som distinto. "Quem está aí?" Ela procurou ao redor, não vendo nada nem ninguém, e então ele apareceu. Um pequeno dragão. Ou talvez um bebê dragão, pensou Dolores. Ele era menor do que Dolores teria imaginado que bebês dragões seriam, e suas escamas pareciam brilhar em um caleidoscópio de laranja e vermelho, lembrando a Dolores os pássaros do amor que vinham no início do verão em sua aldeia.

Desenrolando-se, ela ofereceu a mão com a palma para cima em um gesto de boas-vindas, inclinando-se para olhar seu rosto. Ela foi recebida com olhos âmbar flamejantes. Instantaneamente, ela se lembrou de seu sonho com o Deus Sol. Aquele magnífico Dragão voando pelo centro da cúpula, pousando ao lado dela.

Só que o Dragão que ela via agora era significativamente menor do que o do seu sonho, mas o Dragão à sua frente não era um Dragão de verdade. Ele era um menino. Um menino que era o mais bonito que ela já tinha visto. Ela poderia chamar um menino de bonito? Dolores não sabia, mas sabia que ele era deslumbrante e, quando ele a puxou contra si, devorando sua boca em um beijo perfeito e quente, cada célula de seu corpo clamou por mais.

Dolores sentiu seu rosto ficar vermelho como um tomate ao lembrar da noite anterior. Distraindo-se, ela voltou seu olhar para o pequeno Dragão que agora cutucava sua mão. Dolores sorriu para ele e levantou a mão para acariciá-lo, mas parou ao vê-lo lhe oferecer uma flor com folhas em forma de coração, realçadas por uma grande pétala branca brilhante centrada em um amarelo quente que se espalhava até as pontas da pétala.

Uma flor-da-lua. Os olhos de Dolores se arregalaram em realização.

Dolores piscou rapidamente enquanto tentava conectar os pontos das últimas 48 horas. O pequeno Dragão que voava em círculos perseguindo seu rabo como um cachorrinho era o Deus Sol? Não. Dolores descartou o pensamento. Não havia como o bebê dragão ser o Deus Sol. O Deus Sol era enorme! Dolores pegou a flor-da-lua que o pequeno Dragão lhe havia presenteado. Ela estava pensando demais. Os últimos dois dias foram um turbilhão.

Ela havia passado de Renegada a descobrir que era a Princesa perdida, a ser escolhida pelo Deus Sol, para ser novamente descartada.

Onde ele encontrou essa flor-da-lua? Dolores lembrou-se das histórias de ninar de sua mãe que as flores-da-lua representavam a parceria dos dois Deuses, mas elas haviam desaparecido há séculos. A versão miniatura do Dragão que salvou sua vida duas noites atrás na clareira perseguia uma libélula. Os dois dragões eram semelhantes com suas escamas vermelhas e olhos âmbar, mas Dolores se recusava a admitir que eram a mesma criatura.

Dolores podia acreditar que o Dragão que a salvou era idêntico ao que veio até ela durante o Ritual, mas este pequeno Dragão era brincalhão, enquanto o outro era ameaçador. Dolores esfregou os olhos. Talvez ela estivesse imaginando este pequeno Dragão. Talvez ele estivesse ali por magia para zombar dela.

"Por que você está aqui?" Ela disse, encolhendo-se novamente, mas tentando soar brincalhona, "Você está aqui para zombar de mim?"

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