




CAPÍTULO DOIS: De Rogue a Princesa
Havia um Dragão. Silvia o tinha visto. Ela o observou pousar na sua frente. Seu corpo imenso se erguia sobre ela. Silvia ficou surpresa por não estar com medo. Quando ele inclinou a cabeça para ela e a confortou gentilmente, ela sentiu algo que nunca havia sentido antes. Segurança. Sua respiração ainda pairava, envolvendo-a em um cobertor quente antes que sua força vacilasse. Ela só soube que ele tinha voado embora pelas vozes que a despertaram da escuridão.
"Im...possível, um... um Dragão!" Uma voz rouca chamou.
"Inacreditável!" Disse uma segunda voz. "A bruxa estava certa. Talvez a lenda do Deus Sol seja verdadeira afinal..." a admiração tingia sua voz.
"Neo, Robert. Olhem." A terceira voz disse, mais alta que as outras. "Parece que os oráculos da sacerdotisa estavam certos sobre muitas coisas." Silvia ouviu enquanto os homens se aproximavam. "Não há engano, esta é a Princesa perdida. Olhem para seu manto prateado."
"Suponho que esta não foi uma missão ridícula afinal." A voz rouca acrescentou. "Sua Majestade ficará satisfeito."
"Não tão rápido, Neo." A segunda voz disse. "Ainda não vimos os olhos dela."
"Robert está certo. Temos que verificar antes de levá-la de volta para Mescus."
Quando ouviu os passos se aproximarem, Silvia abriu os olhos. Num instante, ela se levantou mostrando os dentes. Os homens congelaram ao ver sua presença agressiva, braços estendidos em sinal de rendição. Silvia abaixou a postura, rosnando entre dentes cerrados. Um homem ousou dar um passo mais perto e Silvia estalou no ar entre eles. Se fossem outro bando de ladrões, ela pelo menos mataria um, talvez dois. Esperançosamente, o terceiro recuaria ao ver que ela não seria uma presa fácil.
Silvia arregalou seus olhos azuis gelados e perfurou os três homens com o olhar. Sua postura suavizou quando ela notou suas armaduras brilhantes, as espadas presas aos lados, junto com suas capas extravagantes bordadas com o brasão da família real. Cavaleiros. Ela pensou e uma onda de alívio a varreu. Não eram ladrões. Silvia relaxou o corpo rapidamente, ficando de pé, mas gemeu de dor por causa das costelas quebradas.
Confusão pintou sua expressão enquanto observava os cavaleiros se ajoelharem instantaneamente diante dela. "Sua alteza." Eles disseram em uníssono.
"Eu sou Neo, minha princesa." Ele colocou um punho sobre o coração, mantendo a cabeça inclinada enquanto se levantava. Princesa? "Por favor, venha conosco de volta para Mescus. Sua Majestade tem procurado por você." Silvia olhou para sua mãe antes de olhar de volta para os Cavaleiros. "Princesa, venha para a capital para que possamos começar o Rito da Aurora."
Dolores puxou a corda interna que a conectava a Silvia. Este era seu pedido silencioso para assumir o controle. Silvia ergueu a cabeça para o céu e se transformou de volta em Dolores. Os cavaleiros se curvaram mais uma vez.
"Por favor, levantem-se," Dolores implorou. "Vocês devem estar enganados. Eu não sou uma Princesa." Dolores se apresentou com um gesto da mão indicando que ela definitivamente não era uma Princesa. Eles deviam ter a garota errada. O cavaleiro Neo se aproximou, removendo sua capa e envolvendo o material pesado ao redor do corpo nu de Dolores.
"Se você vier comigo, Princesa, eu explicarei tudo assim que a colocarmos na carruagem..." Ele gesticulou em direção à estrada não marcada além da clareira.
"Minha mãe..." Dolores disse e então se virou para ver um dos cavaleiros levantando-a nos braços.
"Robert a trará," Neo respondeu. "Você consegue andar?" Dolores assentiu com a cabeça antes de seguir Neo em direção ao que ela descobriu ser uma carruagem gloriosa. Sua mãe foi deitada em um assento coberto de veludo. Dolores sentou-se em frente, admirando os belos desenhos que cobriam o interior da porta da carruagem.
Sua mãe acordou quando a carruagem começou a se mover. "Dolly?"
"Mãe!" Dolores praticamente caiu do assento quando ouviu a voz de sua mãe. "Mãe, você está machucada?" Dolores ajudou sua mãe a se sentar.
"Dolores, onde estamos? Onde estão os ladrões?" Sua mãe perguntou ansiosamente, olhando ao redor da carruagem.
"Está tudo bem, mãe, você está segura. Estamos seguras." Dolores abraçou sua mãe, sentindo seu perfume de jasmim, e então contou tudo o que havia acontecido.
"Você tem certeza de que viu um Dragão, Dolly?" A voz da mãe de Dolores estava cheia de ceticismo.
"Eu juro que vi um Dragão vermelho. Se não fosse por ele, nós estaríamos..." A mãe de Dolores colocou sua mão frágil na bochecha de Dolores.
"Shh, eu sei." Dolores olhou para sua mãe. Ela estava pele e osso, com hematomas frescos por todo o corpo. Sua mãe tossiu violentamente, e Dolores bateu suavemente em suas costas.
"Deite-se, mãe, você ainda está muito doente." Sua mãe, Diana, fez o que Dolores sugeriu, usando o colo de Dolores como travesseiro.
Depois de um longo momento de silêncio, Dolores perguntou. "Então... tudo o que você disse era..."
"Verdade," Diana completou.
"Então meu pai não era um nobre, ele era o..."
"Rei." Dolores não podia acreditar no que sua mãe havia dito. Rei. Como se sentisse a confusão de Dolores, Diana contou toda a sua história pela primeira vez. "Como você sabe, eu era uma Ômega no Clã Cauda Cinza, e também sendo mulher, minhas escolhas de parceiros, ou de vida, eram limitadas."
A carruagem parou de repente, interrompendo a história de sua mãe. Neo então apareceu na porta. "Peço desculpas, Princesa, chegamos ao acampamento e partiremos para a capital com o resto do grupo em breve." Como havia feito antes, ele se curvou, colocou um punho sobre o peito e abaixou a cabeça. Dolores lhe deu um leve agradecimento e então olhou para além de Neo, para o acampamento Real.
Ela esperava um acampamento de soldados. Pequenas fogueiras espalhadas junto com pequenas tendas armadas, mas ela viu elegantes tendas prateadas e azuis alinhadas com a bandeira Real cuidadosamente desmontadas e colocadas em carroças esculpidas à mão puxadas por cavalos bem cuidados. Ia ser um desfile. Pensou Dolores. Ela tentou contar o número de cavaleiros, mas perdeu a conta quando chegou a 32. Isso era uma demonstração de riqueza e poder. Esta era a família Real, sua família. Ela olhou para sua mãe, que também havia se sentado para ver o acampamento.
"Ainda bem que a viagem até a Capital é curta." Diana disse distraidamente. Dolores apenas assentiu, ainda chocada com a magnitude da missão para encontrar a Princesa perdida.
"Na época..." Diana começou, falando como se estivesse longe de onde estavam. "Eu era apenas um presente do Clã Cauda Cinza oferecido a um membro da família real que não sabia nada sobre mim... Eu era um símbolo usado para manter o Clã seguro." Ela soltou um suspiro e então olhou para o céu através da janela da carruagem. "O encontro..." Diana riu. "Se é que se pode chamar assim... Eu fui drogada antes de me entregarem, e estava nos aposentos dele quando acordei."
Diana fez uma pausa, e Dolores percebeu que estava prendendo a respiração. Ela sempre pensou que sua mãe havia escolhido ser acasalada. "Ele também foi drogado, mas com um tipo de afrodisíaco." Diana envolveu os braços ao redor de si mesma. "As coisas aconteceram muito rapidamente, e... Foi só uma vez, mas mesmo assim eu fiquei..."
"Grávida." Dolores completou. Diana assentiu.
"Pela manhã, os efeitos das drogas no Rei haviam passado e eu... Ele foi embora sem dizer uma palavra e, de repente, fui enviada de volta ao Clã Cauda Cinza." Dolores notou sua mãe circulando a mão sobre o abdômen. "Um mês depois, descobri que estava grávida, mas quando contei ao Alfa do nosso clã, ele me chamou de mentirosa e prostituta."
"Sinto muito, mãe. Não consigo imaginar o fardo e a desonra que trouxe para você... Às vezes, eu gostaria de nunca ter nascido. Pelo menos assim você não teria sofrido e vivido como viveu." Lágrimas caíram dos olhos de Dolores.
"Oh não, minha doce Dolly, não diga isso." Diana puxou Dolores para perto, acariciando seu cabelo em movimentos suaves. "Eu te amo mais do que a lua, e isso não é sua culpa." Dolores abraçou sua mãe com mais força, deixando as lágrimas correrem. Dolores queria gritar, Por quê! Por que a vida é tão injusta com as mulheres? Por que devemos ser acasaladas só porque somos mulheres? Por que as mulheres são peões no jogo distorcido dos homens? Por que mulheres maltratadas como nós são desprezadas quando não é culpa delas? Por quê!
As lágrimas caíram mais intensamente, e apenas o suave "Shhh minha Dolly, shh" de sua mãe aliviou a dor no coração de Dolores. "Além disso..." Diana disse suavemente. "Não importa mais porque não somos mais ladrões." Dolores levantou a cabeça do peito de Diana. "Você é uma princesa de sangue, e todas as coisas ruins não acontecerão mais." Ela deu um leve toque no nariz de Dolores, um truque que sempre a animava.
"Você está certa." Dolores enxugou os olhos e se sentou a tempo de ver a vila do Clã Cauda Cinza. Lobisomens alinhavam a estrada principal, maravilhados com as carruagens reais. Dolores se aproximou da janela e viu a boca de Heather aberta em choque e uma fração de terror em seus olhos. Ela observou enquanto Heather empurrava os guardas e segurava a carruagem, seguida por seu grupo.
"Por favor! Nós não sabíamos," Heather implorou. "Tenha misericórdia, Princesa!" Suas sombras ecoaram. Ao som do apelido cruel que costumavam usar para ela, Dolores se inclinou perto de Heather. Com uma expressão fria como pedra, ela tirou a mão de Heather da carruagem. Dolores deu um sorriso malicioso, então avistou Dora, que correu de medo quando seus olhos se encontraram.
Os homens do Clã que antes as desprezavam agora se gabavam em voz alta para os cavaleiros que caminhavam ao lado das carruagens. "Essa é uma das nossas mulheres que teve um filho do Rei Alfa." Dolores se afastou da janela; ela nunca voltaria para aquele buraco de merda novamente. Dolores deveria estar radiante. Feliz até por estar livre daquela vida. Ela era uma Princesa, mas não se sentia assim.
"Neo?" Dolores não olhou para ele enquanto falava. "Por que agora? Se o Rei não queria nada com minha mãe, por que procurar por uma possível Princesa?"
"Eu não sei."
"Apenas seguindo ordens." Dolores citou.
"Na verdade," Neo limpou a garganta. "Ouvi dizer que outra pessoa solicitou a busca por você, Princesa."
Dolores olhou para ele então. "Outra pessoa? Quem?"
"Não tenho certeza." Ele deu de ombros rigidamente. "Tudo o que ouvi foi que queriam garantir que todos os filhos de Razamas estivessem presentes no Rito deste ano."
O Rito? Silvia perguntou silenciosamente. "O que você acha que isso significa? E se o Rei não foi quem nos mandou buscar, então quem foi?"