




Negócios
Thomas Werneck
Cheguei à empresa naquela manhã de sexta-feira com atraso e uma ressaca forte. Vincent e eu tínhamos saído na noite anterior e acabamos exagerando um pouco, deixando-nos levar por distrações que nos levaram além dos limites da razão.
Vincent, meu sócio na H&W, não estava em um bom momento. Sua avó, Esmeralda, estava determinada a comprometê-lo, de uma forma ou de outra, com uma jovem que ela havia escolhido para ele. No entanto, Vincent não queria isso para sua vida. Apesar de ter trinta e dois anos, ele deixava claro que não estava interessado em compromissos no momento, preferindo manter sua vida livre de amarras.
Prova disso foi ele me ligar na noite de quinta-feira e me convidar para tomar uns drinques no nosso clube favorito, numa tentativa de esquecer seus problemas. E, como sempre, eu não podia recusar um convite de Vincent. Afinal, era difícil resistir à companhia de um amigo e sócio tão próximo.
No clube, Vincent e eu conhecemos uma mulher extremamente interessante. Uma loira sensual que deixou claro desde o primeiro momento que estava aberta a experimentar. Isso foi o sinal verde para Vincent e eu aproveitarmos a oportunidade. Apesar de sermos heterossexuais, não perdemos a chance de compartilhar a mesma mulher, e naquela noite não foi diferente.
O que deveria ter sido apenas alguns drinques se estendeu por quase toda a noite, e agora eu me sentia um completo destroço. A ressaca bateu forte, e eu me arrependi da falta de moderação que mostramos na noite anterior. Mas pelo menos nos divertimos, mesmo que isso significasse que agora eu estava pagando um preço alto por isso.
Ao entrar na recepção do escritório, encontrei minha eficiente secretária sentada em seu lugar em frente ao computador. Cumprimentei Jennifer gentilmente, e ela, como sempre, respondeu com sua expressão séria habitual. Dirigi-me ao meu escritório, pensando nela.
Apesar de ser bonita, loira de olhos verdes e um corpo deslumbrante, Jennifer nunca despertou o menor interesse em mim. Sua personalidade perpetuamente mal-humorada não me excitava, o que tornava muito fácil para mim manter minha determinação de não me envolver em assuntos do escritório. A mulher que trabalhava mais próxima de mim era simplesmente inacessível, e eu me mantinha seguro das tentações.
Assim que fechei a porta atrás de mim, o silêncio se instalou na sala, quebrado apenas pelo suave deslizar das cortinas sendo fechadas para bloquear a luz intrusiva do sol. Afundei na poltrona atrás da minha mesa, envolto na penumbra proporcionada pelas cortinas fechadas. Com a visão turva e a cabeça latejando, fiz um esforço para me concentrar na agenda do dia. Meus olhos percorreram as linhas, e lá estava, piscando em vermelho, o nome de um dos investidores mais importantes da H&W.
Respirei fundo, tentando afastar a dor pulsante na minha cabeça. Decidi que não podia me dar ao luxo de parecer nada menos que perfeito na frente de Petros Kouris. Endireitei-me, determinado a tentar melhorar meu estado atual.
Apertei o botão do interfone e chamei Jennifer. Ela apareceu prontamente, seus olhos vasculhando a sala em busca de pistas sobre minha condição. Não pude deixar de esboçar um sorriso irônico diante da pergunta direta sobre minha ressaca.
"Sim," admiti, francamente. "Agora, seja gentil comigo, forneça-me apenas o essencial para o dia e prepare-se para a reunião com Petros Kouris."
Jennifer prontamente concordou, sem fazer mais perguntas. Seu profissionalismo era inabalável, e eu era grato por isso em momentos como esses. Eu podia contar com ela para manter as coisas sob controle enquanto eu tentava me recuperar o suficiente para enfrentar o dia que tinha pela frente.
"O Sr. Hickmann deseja vê-lo em seu escritório," Jennifer me informou.
Um suspiro escapou dos meus lábios, uma mistura de frustração e desânimo. Vincent não era um dos problemas que eu precisava lidar agora, especialmente nessas condições. Com um aceno resignado, pedi a Jennifer que transmitisse minha mensagem a Vincent:
"Entre em contato com ele e diga que simplesmente não estou em condições de ir a lugar nenhum agora. Se ele precisar falar comigo, pode vir ao meu escritório."
Mal tive tempo de me preparar mentalmente para a possibilidade de uma visita de Vincent quando ele irrompeu no meu escritório, entrando abruptamente. Sua expressão séria e repreensiva era, no mínimo, desnecessária.
"O que você quer, Vincent?" perguntei, tentando manter a voz firme apesar do desconforto.
Ele ignorou minha pergunta e foi direto para as cortinas, puxando-as com força. O brilho repentino me fez piscar, e uma onda de desconforto se espalhou pelo meu corpo. Minha ressaca estava se tornando uma tortura, e Vincent não estava facilitando as coisas.
"Vincent, por favor, tenha um pouco de compaixão," implorei, minha voz soando mais áspera do que eu gostaria.
A risada de Vincent ecoou pela sala, atingindo minha cabeça já abalada como um golpe. Senti minha irritação aumentar. Era irônico, lamentável até, que Vincent estivesse em perfeitas condições e se divertindo às minhas custas, considerando que ele havia feito tudo o que eu fizera na noite anterior.
Vincent ignorou minhas palavras, ainda rindo, e se acomodou na cadeira à minha frente, como se estivesse em casa, cruzando as pernas com uma confiança insolente. Seu gesto casual de puxar a manga do paletó para verificar a hora no Rolex só serviu para aumentar minha frustração.
"Thomas, meu caro amigo," ele começou, com falsa simpatia na voz. "Você está em condições de se encontrar com Petros Kouris hoje? Se não, não se preocupe, eu posso assumir esse compromisso por você. Afinal, estou me sentindo um pouco culpado pelo seu estado atual."
Seus olhos brilhavam com diversão, e eu tive que lutar para não rir da minha desgraça. Por trás de toda aquela arrogância, eu sabia que Vincent estava genuinamente preocupado com a reunião da manhã, e sua oferta era sincera.
"Vou conseguir passar por essa, pode ficar tranquilo," assegurei-lhe de forma convincente. Esta não era a primeira ressaca da minha vida, e certamente não seria a última.
"Ótimo. Tenho alguns compromissos importantes que não devem ser deixados de lado, mas devo admitir que estava preocupado com você."
"Acho que bebidas e mulheres são uma combinação inadequada para mim no momento," brinquei, provocando-o ainda mais. "Pretendo recusar qualquer novo convite para trios..."
"Talvez seja hora de algo... mais tranquilo," Vincent apontou, sua voz carregada de ironia. "Mas tenho certeza de que você não seria capaz de tal coisa."
"Você está certo," concordei, sentindo-me renovado. "Eu nunca poderia deixar de lado uma diversão de alto nível."
Nossa conversa foi interrompida pelo som do interfone, onde Jennifer nos informou que Petros Kouris acabara de chegar. Como Vincent apontou corretamente, eu não estava nem um pouco arrependido da noite anterior, mas agora era hora de focar nos negócios.