Capítulo 6
Eles sorriram em resposta e olharam para ela, eternamente gratos pelo favor que nunca seriam capazes de retribuir.
Um zumbido suave encheu a sala enquanto mais lobos se juntavam a eles e eles reiniciavam o filme. No começo, ela achou muito estranho e perturbador estar nas terras da alcateia e cercada por todos os lobos, mas agora, ela tinha se afeiçoado bastante a isso.
Ela não encontrou nenhum lobo que fosse desagradável ou rude na sua frente, grata pelo fato de que aqueles que não concordavam com o que estavam fazendo escolhiam se distanciar deles. Na verdade, ela acabou fazendo alguns amigos na alcateia e ficou feliz com a recepção calorosa que teve.
No entanto, ela tinha certeza de que a notícia de que ela era meio-loba e estava carregando um filhote ajudou tremendamente nessa transição.
No meio do filme, ela se pegou se apaixonando novamente por Robert Pattinson – o vampiro brilhante pelo qual sua versão adolescente tinha sido completamente apaixonada.
Foi só quando o filme terminou e Anastasia não conseguiu lutar contra o cansaço que Raphael e Justas se ofereceram para levá-la para casa. Antes de sair, ela fez questão de acenar para todos e cumprimentar pessoalmente o casal Beta. Embora não tivesse certeza de como funcionavam os costumes dos lobisomens, ela sabia que um Beta era uma posição de alta hierarquia na alcateia e queria que eles gostassem dela, especialmente porque tinha muitos planos de visitar o bebê quando nascesse; e se uma das pessoas mais poderosas da alcateia não gostasse dela por algum motivo, isso seria muito difícil de fazer.
“Tem certeza de que não quer passar a noite?” Raphael fez beicinho enquanto lançava seu melhor olhar de cachorrinho, tentando convencê-la.
“Absoluta.” Ela respondeu baixinho, com um sorriso sonolento no rosto. “Tenho um pote de sorvete de chocolate com pedaços de chocolate me esperando.”
O trio riu enquanto saíam da casa da alcateia e começavam a subir as escadas.
Ela não tinha como explicar, mas quanto mais se aproximava do carro e se afastava da casa da alcateia, mesmo que apenas por alguns metros, Anastasia se via não querendo ir embora. Ela não conseguia explicar, mas sentia a necessidade de ficar por perto. Atribuindo isso ao filhote de lobisomem que estava carregando, ela balançou a cabeça para afastar o pensamento e se forçou a continuar em frente.
Tudo tinha um limite e ela não queria que os lobos da alcateia – ou pior, o Alfa ou o Beta – sentissem que ela estava abusando da hospitalidade deles. Só porque estava fazendo esse favor para seus amigos e carregando o filhote deles não significava que ela tinha um passe livre para a casa da alcateia.
“Ana? Está tudo bem? É o bebê?” Raphael perguntou preocupado enquanto descia correndo os degraus e se apressava para o lado dela, colocando uma mão em suas costas para apoiá-la, quase como se temesse que ela fosse desmaiar a qualquer momento. “Diga-me o que está doendo.”
Ela riu suavemente e acenou com a mão no ar, esperando dissipar os dois pares de olhos preocupados que agora estavam fixos nela, observando cada movimento com cautela.
“Não há nada com que se preocupar, não se preocupem.” Ela tentou tranquilizá-los. “Só estou cansada.”
“Tem certeza?” Justas perguntou com os lábios curvados para baixo, segurando a porta do carro aberta para ela enquanto Raphael a ajudava a entrar no banco do passageiro, mesmo que ela fosse perfeitamente capaz de fazer isso sozinha.
“Sim.” Anastasia olhou para os dois com um grande sorriso no rosto, não querendo preocupá-los com algo tão trivial e fora do controle deles.
Além disso, ela não tinha a menor ideia de por que estava se sentindo assim.
“Tem certeza de que não quer passar a noite?” Raphael perguntou, com um brilho esperançoso nos olhos enquanto se acomodava no meio do banco traseiro e apoiava as mãos nas costas dos dois assentos da frente, inclinando-se para frente assim que Justas ocupou seu lugar no banco do motorista.
Anastasia sorriu para seu melhor amigo e acenou com a cabeça, estendendo a mão para dar um aperto suave e reconfortante na mão dele.
“Vou me sentir mais confortável na minha própria cama.”
“Entendemos.” Justas assentiu enquanto ligava o carro e engatava a marcha antes de começar a sair da vaga. “Mas a oferta continua de pé, então não tenha medo de pedir se algum dia quiser ficar aqui. Tenho certeza de que o Alfa não se importará.”
Anastasia não pôde deixar de franzir a testa com isso, apesar das palavras gentis de Justas.
Ela não conseguia explicar, mas sempre que ouvia falar do Alfa, um arrepio percorria sua espinha, quase como se acendesse seu corpo só de mencioná-lo. Era uma reação boba e inexplicável, especialmente por um homem de quem ela só tinha ouvido falar e nunca tinha visto fisicamente com seus próprios olhos, mas mais uma vez, ela atribuía isso ao filhote que estava carregando. Quase como se o lobo já reconhecesse seu Alfa desde o útero.
Ela não entendia muitas coisas sobre lobisomens, provavelmente porque era apenas um quarto loba e nunca tinha experimentado tais coisas, mas sabia que todos os lobos da alcateia olhavam para o Alfa como seu líder. Talvez fosse por isso que ela se sentia estranha sempre que ele era mencionado.
De qualquer forma, ela não tinha nada com que se preocupar, pois um lobo ocupado como ele não se interessaria por uma mera humana como ela.
Seus pensamentos incoerentes foram interrompidos quando um uivo profundo soou na escuridão da noite, fazendo o chão sob as quatro rodas do carro tremer e sacudir, forçando Justas a frear suavemente para evitar perder o controle do veículo.
Foi só quando o som assustador foi seguido por um silêncio ensurdecedor que Anastasia se atreveu a falar.
“O que foi isso?” Ela se endireitou no assento e olhou pelas janelas, sem saber exatamente o que estava procurando.
Seus olhos se arregalaram enquanto olhava para a floresta de onde o som tinha vindo, mas não viu nada fora do comum.
Durante todas as vezes que visitou a casa da alcateia nos últimos meses, Anastasia nunca tinha visto um lobo se transformar. Algo lhe dizia que isso se devia a Justas e Raphael não quererem sobrecarregá-la, mas nas terras da alcateia e em uma casa cheia de lobisomens, ela estava um pouco desapontada por ainda não ter visto nenhuma ação.
“Aquele era o Alfa.”
“O Alfa?” Ela não pôde deixar de perguntar, incapaz de desviar os olhos das árvores altas e da escuridão que elas escondiam, mesmo com Justas voltando a dirigir.
“Sim. Provavelmente ele está apenas liberando um pouco de tensão antes de ir para a cama. Ele tem estado muito ocupado ultimamente.” Raphael explicou despreocupadamente do banco traseiro, nenhum dos lobos no veículo parecia muito incomodado com o que acabaram de testemunhar, quase como se fosse uma ocorrência normal. E para eles, provavelmente era.
Ela apenas murmurou em resposta e continuou olhando pela janela, sem saber exatamente o que estava procurando ou por que a necessidade de voltar crescia em tamanho e força à medida que o carro se afastava da casa da alcateia.
Era um sentimento inexplicável, que não fazia sentido e que ela nunca tinha sentido antes. No entanto, por alguma razão estranha, isso não a assustava nem um pouco.
Na verdade, tinha o efeito completamente oposto.