Capítulo 4 - A visita
O barulho alto na minha porta da frente me acordou brutalmente na manhã seguinte. Eu xinguei quem quer que estivesse batendo na porta e olhei para o relógio ao lado da cama. Eram 6 da manhã.
Quem diabos estava batendo na minha porta às 6 da manhã?
Empurrei os cobertores para o lado e jurei dar um soco em quem estivesse na porta enquanto me arrastava para fora da cama. Enquanto caminhava grogue até a porta, prendi meu cabelo em um coque bagunçado e esfreguei o rosto, tentando me acordar.
Houve outra batida alta quando cheguei à porta.
“Já vou, já vou, cala a boca,” gritei e abri a porta com raiva, pronta para xingar o idiota por me acordar tão cedo.
No entanto, o rosto inesperado, mas familiar, do outro lado me deixou sem palavras.
Pisquei algumas vezes, tentando ter certeza de que não estava sonhando. O que diabos ele estava fazendo aqui às 6 da manhã? Melhor pergunta, como ele sabia onde eu morava?
“Você é o Keiran Collier,” murmurei. Minha garganta e boca secas dificultavam a fala.
“Fico feliz que você lembrou meu nome, porque eu com certeza não lembrava o seu,” ele riu nervosamente, coçando a nuca.
Agora que eu podia ver Keiran de perto sob uma luz adequada, pude ver o quão bonito ele realmente era. Ele tinha olhos castanhos deslumbrantes, bem como um maxilar definido. Ele era alto, muito alto, e forte; me fazia sentir uma anã. No entanto, a parte mais bonita dele era o sorriso.
Em algum lugar da minha mente, eu estava comparando ele com o Zach. Os olhos do Zach, o sorriso do Zach, o físico do Zach. Mesmo que eu só o tivesse encontrado uma vez, Zach tinha deixado uma marca em mim.
Enquanto eu estava perdida em meus pensamentos, os olhos de Keiran percorreram meu corpo antes de ele rapidamente desviar o olhar e limpar a garganta.
Merda! Eu estava usando minha camisola de cetim azul marinho que abraçava meu corpo, e como toda garota, eu não estava usando sutiã por baixo. Rapidamente cruzei os braços sobre meus seios. Infelizmente, esqueci de pegar meu roupão na pressa de sair da cama.
Isso era tão embaraçoso.
“Hum, desculpe, eu não deveria ter aparecido tão cedo. Posso esperar se você quiser se vestir,” Keiran sugeriu, ainda evitando olhar para mim.
“Ah, sim. Por favor, entre. Eu já volto.” Deixei a porta aberta e corri para o banheiro.
Meu apartamento era tão pequeno que o banheiro era o único lugar para se vestir com privacidade. A sala de estar, o quarto e a cozinha eram todos integrados em um só.
Peguei uma calça de moletom e uma camiseta do chão do banheiro e rapidamente os vesti. Keiran deve pensar que sou uma desleixada. Embora, a culpa seja dele por aparecer tão cedo.
Apressei-me em arrumar meu rosto e cabelo antes de voltar para encarar o cara no meu apartamento.
Keiran ainda estava parado na porta quando saí do banheiro.
“Hum, então, o que exatamente você está fazendo aqui às 6 da manhã, e como você me encontrou?” perguntei, caminhando em sua direção.
“Na verdade, estou aqui a pedido do Zach. Ele queria te ver. Então liguei para a Sam, e ela disse que você estaria indo para o escritório em breve, então pensei em te dar uma carona para o hospital e depois para o trabalho.” Keiran sorriu.
Zach queria me ver? Mas por quê?
“Zac-... quer dizer, Sr. Masters ainda está no hospital?”
“Sim, ele está. Ele está bem; só quiseram mantê-lo em observação. A reação foi bem grave, e se não fosse por você, Deus sabe o que poderia ter acontecido.” O sorriso de Keiran desapareceu enquanto ele desviava o olhar.
“Desculpe por não ter te agradecido adequadamente ontem à noite. O que você fez pelo Zach, fico muito feliz que você estava lá para ajudá-lo e administrar os remédios. Só de pensar no que poderia ter acontecido me dá calafrios.” Ele olhou para os dedos enquanto falava.
“Você não precisa me agradecer, Sr. Collier. Eu só estava no lugar certo na hora certa. Fico feliz em saber que o Sr. Masters está bem.” Sorri para ele e recebi um sorriso lindo em troca.
“Bem, o Zach pediu para te ver. Foi a primeira coisa que ele pediu quando acordou esta manhã. Falei com a Sam sobre você ter a manhã de folga para ver o Zach. Você poderia estar pronta às 7:30? Estou indo para casa me trocar e depois volto para te buscar.” As olheiras e a barba por fazer me disseram que ele não tinha ido para casa desde que foi ao hospital com o Zach na noite passada.
“Claro. Estarei pronta.” Sorri.
“Perfeito. Até logo. Se eu não subir, meu motorista subirá, então não se assuste, ok?” Keiran riu nervosamente.
“Espera aí,” eu ri, pegando o bloquinho de anotações que eu tinha no balcão para minha lista de compras.
Escrevi meu número e entreguei a Keiran.
“Me manda uma mensagem quando chegar. Eu desço.”
Ele riu e acenou com a cabeça antes de descer os quatro lances de escada. Fechei a porta e corri para o banheiro.
Às 7:30 em ponto, meu celular apitou. Rapidamente terminei meu café e peguei minha bolsa antes de descer.
Um Audi preto brilhante estava na calçada quando saí do prédio. Keiran estava encostado no carro, mexendo no celular. Agora ele estava usando um terno de três peças com um sobretudo por cima. Ele estava barbeado e com o cabelo penteado para trás, diferente da bagunça que estava de manhã.
“Belo carro,” comentei ao me aproximar.
Keiran riu e se virou para abrir a porta traseira do passageiro. Entrei, e Keiran fechou a porta atrás de mim, caminhando para o outro lado para entrar.
“Trevor, hospital, por favor,” o motorista acenou com a cabeça, e o carro ligou suavemente.
O hospital ficava do outro lado da cidade, uma viagem de 20 minutos. Ficamos em silêncio por alguns minutos antes de Keiran limpar a garganta.
“Então, desculpe novamente por esta manhã. Eu deveria ter ligado em vez de aparecer tão cedo.”
“Tudo bem. Você não sabia o que ia encontrar atrás da porta número 2 quando bateu nela,” eu ri.
“Aprendi minha lição. Nunca mais, prometo,” Keiran riu comigo.
“Posso te fazer uma pergunta?” mordi o lábio.
Keiran acenou com a cabeça.
“Por que você e o Sr. Masters não têm o mesmo sobrenome?”
“Por que teríamos o mesmo sobrenome?” ele parecia confuso.
“Você disse ao motorista da ambulância que vocês eram irmãos.”
Será que eu ouvi errado?
“Ah, certo! Sim, eu disse, não disse?” havia um toque de vermelho em suas bochechas.
“Eu menti. Zach e eu, nós não somos irmãos, bem, não no sentido convencional, de qualquer forma. Somos melhores amigos/sócios. Conheço o Zach a minha vida inteira. Quando ele começou o negócio, Zach não tinha muito dinheiro; nós dois não tínhamos. Levou três anos economizando cada centavo que tínhamos para que o banco nos desse um empréstimo. Agora, o banco está implorando para que a gente dê dinheiro a eles,” o sorriso de Keiran me mostrou o quanto ele estava orgulhoso de suas conquistas.
“Seus pais não ajudaram vocês?” Inclinei a cabeça, agora mais curiosa sobre a história deles.
“Foi complicado com nossos pais. Para nossos pais, começar esse negócio era mais como um rito de passagem. Nossa maneira de provar o quão capazes éramos. Acho que conseguimos,” Keiran piscou para mim.
“Seus pais devem estar muito orgulhosos. Bom trabalho,” sorri, tentando esconder o rubor nas minhas bochechas.
O que estava errado comigo? Keiran era apenas mais um cara rico e bonito. Eu sabia melhor do que deixar algum cara rico e bonito despertar sentimentos em mim.
“E você? Sempre quis ser empregada, ou isso é só temporário?”
Lá estava. A pergunta que eu sempre temia ser feita. Mesmo tendo memorizado uma história perfeita, ainda ficava nervosa ao responder.
“É temporário, espero. Meus pais acumularam muitas dívidas, e depois que eles faleceram, o banco confiscou tudo. Fiquei sem-teto e desamparada. Não pude pagar por mais estudos e não queria encarar as pessoas na cidade, então arrumei minhas coisas e me mudei. Tive a sorte de encontrar a Sam e a Crystal quando cheguei aqui. Algum dia no futuro, espero ter dinheiro suficiente para voltar a estudar e fazer algo de mim mesma.” Dei a Keiran um sorriso apertado e olhei para meus dedos.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, o carro desacelerou e parou em frente a um grande prédio branco.
As grandes letras vermelhas na frente do prédio diziam “Hospital West Seattle.”
“Chegamos, senhor,” Trevor chamou.
“Obrigado, Trevor,” Keiran respondeu e saiu do carro.
Ele rapidamente deu a volta no carro e abriu a porta para mim.
“Que cavalheiro,” eu ri.
“Minha mãe criou um cavalheiro,” ele riu e fez um gesto em direção à entrada.
Keiran me guiou pelos corredores clínicos do hospital. Memórias do meu passado inundaram minha mente.
O cheiro de antisséptico, as máquinas apitando… Parecia casa.
Keiran parou em frente a um quarto e fez um gesto para que eu fosse primeiro. Coloquei a cabeça para dentro e encontrei Zach sentado, bebendo algo em um copo na cama. Assim que me viu, o rosto de Zach se iluminou com um sorriso deslumbrante. Senti meu coração pular uma batida ao ver o quão feliz ele estava em me ver.
“Olha quem eu encontrei,” Keiran passou por mim e colocou a bolsa preta que trouxe na cama.
“Stacey, vejo que você conheceu o Keiran,” Zach se levantou e colocou o copo na mesa.
“Sim, conheci. Você tem sorte de ter um amigo tão incrível. Como você está se sentindo, Sr. Masters?”
“Graças a você, estou vivo e me sentindo ótimo.” Zach se levantou e caminhou até mim.
“Como se agradece alguém que salvou sua vida?”
Zach estava bem na minha frente, seus deslumbrantes olhos cinza cheios de gratidão.
Engoli em seco. “Eu-... Você-... você não precisa me agradecer, Sr. Masters. Honestamente, tudo o que fiz foi administrar uma Epipen.”
“E essa Epipen foi o que salvou minha vida. Pare de ser tão humilde. Como posso te retribuir?” Zach deu mais um passo em minha direção.
Meu coração acelerou, e minha boca secou. Por que eu era tão sensível ao Zach? Eu era uma mulher forte e independente. Não podia deixar um cara que acabei de conhecer me deixar tonta por dentro. Eu sabia melhor do que deixar caras bonitos e de fala mansa entrarem na minha vida.
Dei um passo para trás e criei uma distância entre Zach e eu. Zach arqueou a sobrancelha com meu movimento, mas não disse nada.
“Tudo bem. Salvar sua vida foi destino. Eu estar lá na hora certa, foi o destino intervindo. Então vamos deixar por isso mesmo. Você não me deve nada. Estou apenas feliz que você está bem.”
Uma emoção passou pelos olhos de Zach. Seu rosto tinha uma expressão que eu não conseguia decifrar.
“Destino. Você está certa. O destino interveio.” Zach sussurrou.
“O quê?” perguntei, confusa.
“Zach, você quer se trocar? O médico disse que você pode ir para casa hoje,” Keiran nos interrompeu.
A emoção ainda pairava no rosto de Zach, seus olhos vidrados procurando os meus. Ele parecia dividido sobre algo, mas eu não conseguia entender o que era.
“Zach,” Keiran chamou novamente.
Zach assentiu, seus olhos não deixando os meus. “Sim, essa roupa de hospital é tão desconfortável.”
“Eu aposto que é. Os paramédicos fizeram um bom trabalho destruindo suas roupas ontem à noite.” Keiran tirou as roupas que ele trouxe na bolsa.
“Não foram os paramédicos. Eu cortei as roupas do Zach,” mordi o lábio para suprimir uma risada enquanto olhava para meus dedos. Eu podia sentir o calor subir no meu rosto.
“Uau, essa é uma maneira de tirar um cara das roupas dele,” Keiran riu.
“Cuidado, Keiran. Ela estava apenas tentando ajudar,” Zach rosnou.
Keiran sorriu e balançou a cabeça como se estivesse gostando de uma piada interna.
“Eu realmente sinto muito pela sua camisa, Sr. Masters. Prometo que vou substituí-la,” eu disse rapidamente.
“Esqueça a camisa. Como você vai apagar toda a pele nua que você viu?” Keiran riu.
Minhas bochechas ficaram mais quentes do que antes. Isso era pior do que Keiran me ver na minha camisola de cetim esta manhã.
Vamos, Stace, mantenha a compostura. Você já viu centenas de pessoas nuas enquanto tentava salvar suas vidas. Zach não é diferente.
“Eu estava apenas tentando ajudar. Não vou contar a ninguém sobre o que vi. Eu prometo.” Olhei para meus dedos, tentando esconder meu constrangimento.
Um rosnado baixo ecoou pela sala. Olhei para cima e vi Zach encarando Keiran. Se olhares pudessem matar, Keiran estaria seis palmos abaixo do chão.
“DEIXE. ELA. EM. PAZ!” Zach sibilou.
Você podia ver o medo nos olhos de Keiran quando ele percebeu que Zach estava falando sério.
“Ei cara, eu estava só brincando. Calma.” Keiran levantou as mãos, rendendo-se.
A postura de Zach não mudou. Seu corpo tenso tremia um pouco.
“Zach, você está bem? Você está tremendo. Está com frio?” Instintivamente, estendi a mão para tocar sua pele.
“Droga, você está quente!” gritei assim que minha mão tocou sua pele.