




Capítulo III: Recados da máfia
"O que você quer dizer com 'não está pronto'?" Arcangelo riu e deu uma tragada no cigarro. "Me disseram que eu podia contar com sua entrega pontual. Mas, aparentemente, não é o caso, não é?"
Ele ouviu a tentativa inútil do fornecedor de dar uma desculpa e pedir mais tempo, mas ele não estava disposto a aceitar.
"Vou mandar alguém buscar a entrega em meia hora. Não me importa se você tem ou não, meus homens estarão lá. Se a remessa estiver lá, ótimo. Mas se você estiver de mãos vazias, eu terei um pente vazio no final do dia."
Com essa mensagem entregue, ele arrancou o dispositivo Bluetooth do ouvido e o jogou na mesa.
"Você sabe que deveria parar de ameaçá-los." Uma voz falou por trás, fazendo-o zombar.
"Não aja como uma esposa comigo, Vincent. Você sabe como esse mundo funciona."
O homem, Vincent, gemeu e agarrou suas mechas loiro-sujas, bagunçando o penteado.
"Fala comigo, porra!" Ele exclamou enquanto Arcangelo ignorava o surto, sentando-se atrás de sua mesa enquanto o outro avançava. "Você ainda está bravo por eu ter estrangulado aquela garota? Eu não podia ter certeza de que ela não era uma deles! Você sabe disso!"
Em vez de uma resposta, o segundo em comando foi recebido pelo som da caneta no papel.
"Eu sou seu melhor amigo! Diga alguma coisa!" Vincent o agarrou pela frente da camisa, querendo sacudi-lo, mas congelou quando sentiu o cano frio da arma pressionar o meio de sua testa.
"Você é o marido da minha irmã, o pai da minha sobrinha e meu segundo em comando." Ele afirmou e destravou a arma. "Está na hora de começar a agir como tal."
A dor brilhou nos olhos verde-maçã de Vincent enquanto ele soltava seu chefe, afastando-se e ficando em posição de sentido. Com as costas retas e os ombros erguidos, ele cruzou as mãos na frente do corpo, olhando com uma expressão impassível.
"Há algo que você precise de mim, chefe?" Ele perguntou monotonamente enquanto Arcangelo voltava a digitar em seu laptop.
"Não," Arcangelo respondeu com uma calma assustadora. "Sairemos em 10 minutos."
Com um aceno curto e uma inclinação de cabeça, ele girou nos calcanhares e saiu do escritório, batendo a porta propositalmente atrás de si.
Beliscando a ponte do nariz, Arcangelo fechou e abriu os dedos enquanto tentava controlar seu temperamento. Ele precisava de uma cabeça fria para lidar com os homens que iria encontrar.
Pegando a arma da superfície da mesa, ele abriu o pente e o carregou antes de fechá-lo no lugar. Enfiando-a no coldre, ele se levantou do assento e pegou tudo o que precisava antes de colocar o dispositivo Bluetooth no ouvido novamente.
"Ricardo." Ele falou no dispositivo enquanto as portas do escritório se abriam. "Diga-me que você tem algo."
"Estamos trabalhando nisso, chefe," Ricardo falou. "Reduzimos a área para um raio de 16 quilômetros, agora estamos tentando localizar a posição exata."
"Quanto tempo vai levar?"
"Duas horas? Talvez três?"
"Faça isso rápido. Já faz três meses e estou louco para matar."
"Sim, chefe."
Com isso dito, Arcangelo apertou o botão no dispositivo e se dirigiu à varanda. Colocando seus óculos aviador pretos, acomodou-se em seu Porsche antes de sair dirigindo, com dois Range Rovers seguindo atrás dele. Levou 10 minutos para chegar ao cais de embarque, onde pôde notar homens correndo freneticamente.
Estacionando o carro, ele acendeu um cigarro e saiu.
Atrás dele estavam quatro homens armados, todos a três passos de distância, permitindo que ele lidasse com a situação.
Arcangelo nunca lidava com as remessas pessoalmente, porque ele não deveria ser visto ou reconhecido, ele era apenas um rumor. Mas quando os problemas acontecem repetidamente, ele não tem escolha a não ser intervir, como agora.
Ele sempre gostou de agir como um de seus subordinados e fingir que ele mesmo se enviou. Ninguém iria reconhecê-lo, então ele poderia ser quem quisesse.
Ele ficou diante das inúmeras caixas com homens patrulhando o terreno com espingardas. Arcangelo teve que segurar uma risada ao ver como suas armas estavam desatualizadas.
Espingardas, sério?
Ele esperou silenciosamente com a mão no bolso da calça, fumando tranquilamente, esperando ver o homem responsável. E em poucos segundos, um homem de jeans rasgados e uma camiseta preta sob uma jaqueta de couro correu em sua direção. Seus olhos castanhos estavam arregalados e dilatados, a respiração ofegante como se tivesse corrido uma maratona, suor escorrendo pela testa e nervoso.
"Bom dia!" Ele exclamou alto demais enquanto Arcangelo o encarava por trás dos óculos escuros. "Eu sou o responsável aqui! E você é?"
"Não importa quem eu sou." Ele respondeu profissionalmente, soltando uma baforada de fumaça. "Tudo o que importa é o fato de que estamos aqui pela remessa do chefe."
"Sim, sim. Cannabis e ópio."
Arcangelo levantou uma sobrancelha enquanto dava outra tragada no cigarro, vendo o homem se contorcer sob seu olhar.
"Não. A heroína e a cocaína."
"O quê? Ah! Certo! Certo!" O homem divagou. "Desculpe, há tantas remessas passando por aqui que às vezes confundo o conteúdo. O ópio é para algum executivo de negócios importante que-"
"-Cale a boca."
"Claro."
"A remessa?"
"Por aqui, senhor." Ele liderou o caminho pelo armazém, olhando para os quatro homens que caminhavam atrás de Arcangelo. "Esses homens são realmente necessários?"
"Seus homens são necessários?"
"Bem... mais ou menos."
"Bem, esses são. Fim da história."
"Certo, ok." Ele engoliu em seco enquanto liderava o caminho até a remessa.
Eles chegaram à entrada dos cais, onde havia quatro grandes caixas de madeira na porta. Duas delas tinham o nome 'Peru' impresso, enquanto as outras duas tinham 'Afeganistão', escrito em preto.
"Abra-as," Arcangelo instruiu enquanto o homem se tensionava.
"O quê?"
"Eu disse, abra-as."
"M-mas..."
"Meus homens precisam fazer isso?"
"N-não." Ele balançou a cabeça e engoliu em seco. "Traga o pé de cabra."
Depois de um minuto, o cara voltou com dois pés de cabra, e um deles abriu uma caixa cada. Removendo a tampa de madeira, eles recuaram e gesticularam para as caixas enquanto Arcangelo avançava, olhando para o conteúdo. Vendo ambos segurando pacotes transparentes contendo pó branco, com heroína e cocaína escritos em vermelho.
Ele estava quase satisfeito com a entrega correta e estava prestes a ordenar que os homens carregassem as caixas no carro quando notou algo estranho sobre elas. Inclinando-se para trás, ele olhou para o nome escrito enquanto se agachava, passando a mão sobre o nome, que parecia liso.
Liso demais para a superfície de uma caixa.
Arranhando a borda do nome, ele percebeu que era uma página colada na madeira. Rasgando-a, ele viu de onde a entrega realmente veio. A heroína, que deveria ser entregue do Afeganistão, veio de Burma, e a cocaína, que deveria ser do Peru, era da Colômbia. O pedido estava errado.
Há uma razão pela qual as pessoas pagam 90 euros por grama, e é porque suas drogas são sempre de primeira qualidade.
O submundo lida com sangue, drogas e dinheiro. Tudo de qualidade superior, nada de origem inferior.
Uma risada sombria escapou de Arcangelo enquanto ele se levantava com as páginas amassadas no punho.
"Você esperava sair impune com isso, não é?" Arcangelo riu do homem. "Você realmente achou que poderia nos enganar?"
"E-e-eu" O homem gritou e disse algo em uma língua estrangeira, seus sentinelas apontando suas armas para os homens de Arcangelo, que instantaneamente também miraram.
Outra risada sarcástica borbulhou nele enquanto ele removia os óculos de sol, alcançando o bolso da jaqueta e retirando sua arma, apontando-a para o homem à sua frente.
"Diga aos seus homens para abaixarem as armas e eles podem sair daqui vivos."
O homem teve a audácia de rir na cara de Arcangelo.
"Como você vai sair daqui vivo? Você é o que está em menor número; você vai mor-"
Ele não teve a chance de terminar a frase quando o tiro perfurou seu crânio, o som reverberando pelo armazém enquanto todos os homens olhavam perplexos para a súbita explosão do tiro.
"Você fala demais," Arcangelo declarou antes de se abaixar atrás de uma caixa enquanto os tiros ecoavam, seus homens contra os homens do cadáver. Ele atirava sempre que tinha um alvo claro e, em poucos minutos, todo o barulho cessou. O único som era o da respiração pesada dos homens.
Espiando de trás da esquina, ele viu corpos espalhados pelo chão, o cheiro de sangue por toda parte enquanto seus homens estavam de pé, alguns ofegantes ou feridos, mas todos os quatro vivos.
"A costa está limpa." Um de seus homens falou com um gemido de dor enquanto se levantava. "Não há mais ameaça."
Acenando com a cabeça, Arcangelo se levantou de sua cobertura, limpando o terno e guardando a arma no coldre enquanto via que todos estavam, em sua maioria, ilesos. Um bip repentino em seu ouvido o fez reconhecer o Bluetooth em seu ouvido.
"Chame reforços e mande carregar tudo e levar embora." Ele instruiu enquanto atendia as chamadas.
"Sim, chefe." Eles responderam enquanto ele se dirigia ao carro, com seus dois guardas seguindo atrás, um deles parecia meio atordoado e o outro segurava o braço sangrando.
"Onde?" Ele falou no dispositivo e um endereço foi dito em seu ouvido.
Um sorriso surgiu nos lábios de Arcangelo enquanto ele se acomodava no carro, saindo com um Range Rover logo atrás.
"Na contagem de três," Major falou em um sussurro para os homens amontoados ao redor da porta. "Um... dois... três." E com isso ele atirou na maçaneta enquanto outro chutava a porta, homens invadindo o apartamento com armas estendidas e se espalhando.
"Limpo." Ecoou, um após o outro, descobrindo que o apartamento estava vazio.
Ricardo passou pela soleira, seguido por Arcangelo enquanto olhavam ao redor para as várias páginas coladas na parede com inúmeros recursos espalhados pelo chão e uma planta colocada na mesa.
"Sua propriedade?" Ricardo perguntou enquanto ambos olhavam para a planta com confusão.
"Não..." Arcangelo murmurou e puxou-a para mais perto. "É... a planta de um complexo de apartamentos."
"Um complexo de apartamentos? Por quê?"
"Não faço a menor ideia." Ele murmurou e olhou ao redor, procurando por pistas nas paredes.
Eram todos materiais variados.
Sistemas de segurança, horários e um cronograma. Havia vários nomes e uma infinidade de fotos de diferentes pessoas desconhecidas para o chefe da máfia. Todos pareciam estar na faixa dos 20 anos, e a pergunta surgiu: por que estão mirando em jovens?
"Uh... chefe," Major chamou de um quarto. "Você vai querer ver isso."
Virando-se, Arcangelo entrou no quarto vendo Major parado no centro, sua arma abaixada e seus olhos se movendo em pânico.
"O que é?" Ele perguntou enquanto notava que o quarto era como o resto do apartamento: desprovido de vida e cheio de fotos.
Silenciosamente, Major gesticulou ao redor do quarto enquanto Arcangelo se aproximava da parede, a realização o atingindo ao ver as fotos. Olhando ao redor, ele foi saudado pelo mesmo rosto em todos os lugares. O mesmo nome repetido várias vezes. As fotos das outras pessoas finalmente fazendo sentido sobre quem eram.
"Merda." Ele sibilou entre os dentes cerrados. "Não."
Correndo para fora do quarto, ele empurrou Ricardo para longe da mesa onde a planta estava e olhou para ela de um ângulo diferente, notando um quadrado circulado.
"Merda!" Arcangelo jogou o conteúdo da mesa no chão. Olhando furiosamente para todo o material nas paredes, sua cabeça latejando enquanto as fotos e nomes nadavam diante de seus olhos.
"Eles vão matá-la." Ele ofegou, tudo se encaixando.
Instantaneamente ele correu para fora e desceu as escadas, acomodando-se no carro enquanto os homens o chamavam, mas ele não se importava com os perigos porque não podia arriscar a chance de chegar tarde.
Não de novo.