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Fane sentou-se silenciosamente no chão ao lado de Jacquelyn enquanto a ambulância, os caminhões de bombeiros e os carros de polícia chegavam ao local com sirenes estridentes. Ele não ousava tocá-la por causa de toda a pele queimada. Sentia como se um fio afiado estivesse enrolado em seu coração e sendo puxado cada vez mais apertado. Em algum momento, Vasile se aproximou, mas Fane não o ouviu. Nem percebeu quando o resto da matilha chegou. O rosnado profundo de Decebel o tirou de seu torpor. Fane olhou para cima e viu o homem enorme ajoelhar-se ao lado do corpo inconsciente de Jen. A parte superior do corpo dela estava coberta apenas por um sutiã, e cada centímetro de sua pele exposta estava queimada, vermelha, irritada e cheia de bolhas. Fane não sabia o que pensar do comportamento de Decebel, mas isso poderia ser resolvido depois, quando as garotas fossem cuidadas.

Os paramédicos se aproximaram do corpo de Jacquelyn, mas hesitaram quando ele rosnou para eles.

"Fane." A voz de Vasile era um aviso. Com um suspiro, Fane deu um passo para trás e permitiu que os paramédicos colocassem Jacque em uma maca. Ele caminhou ao lado dela até a ambulância.

"Senhor, você é da família?" um deles perguntou.

"Sim," ele respondeu rispidamente antes de passar pelo homem e subir na parte de trás do veículo. Ninguém fez um movimento para detê-lo. Fane ouviu seu pai dizer a Decebel para ir com Jen. Fane só podia supor que ele havia percebido a demonstração de emoção de Decebel mais cedo e decidido usá-la a seu favor, por enquanto. Afinal, um bom Alfa sempre utilizava seus lobos da melhor maneira possível. Fane só podia esperar que seu Alfa estivesse usando os outros lobos para descobrir exatamente o que havia acontecido. Sally e Lilly estavam sendo levadas juntas em outra ambulância, e Fane viu sua mãe subindo para ir com elas.

O pai de Fane se aproximou dele pouco antes de fecharem as portas da ambulância. "Eu vou seguir você até o hospital. Sorin, Skender e Boian vão ficar aqui e ver se conseguem descobrir o que aconteceu." Fane assentiu. Seu lobo estava à superfície e Fane não confiava em si mesmo para falar, com medo de liberar a raiva mal contida que fervia perto da superfície. Qualquer um perto dele estava em potencial perigo. Os paramédicos fecharam a porta da ambulância e, alguns momentos depois, Fane sentiu o veículo se mover.

A viagem até o hospital foi tensa, o ar pesado com o medo e a raiva de Fane. O lobo estava inquieto em um espaço tão fechado. O paramédico que estava na parte de trás continuava lançando olhares nervosos para Fane. Era claro que o homem sabia que estava na presença de alguém perigoso. Quando finalmente chegaram ao hospital, Fane estava mais do que pronto para tirar sua companheira da caixa fechada.

Os paramédicos abaixaram a maca até o chão e começaram a rolar Jacquelyn rapidamente para a emergência. Eles haviam colocado uma máscara sobre o rosto dela, fornecendo oxigênio vital para seus pulmões debilitados. Seu rosto, a metade que não estava queimada, estava pálido. Seus braços, cobertos de bolhas das chamas que os haviam atingido, descansavam inertes ao lado do corpo. Fane sentiu um rosnado subir em sua garganta novamente. Antes que ele o soltasse, uma mão pousou em seu ombro e o poder de seu Alfa o envolveu. O lobo de Fane se submeteu imediatamente, e o rosnado foi abafado.

Fane seguiu a maca que carregava sua preciosa carga—sua companheira. Ele continuou mesmo quando a levaram para a sala de cirurgia. Assim que ele entrou na sala, uma mão se ergueu em seu peito, empurrando-o para trás. Sua resposta foi rápida—um rosnado feroz para quem ousasse se interpor entre ele e sua companheira. O pai de Fane estava lá em um instante. "Peço desculpas pelo comportamento do meu filho. Aquela é a noiva dele, e ele está preocupado," Vasile disse ao médico que, por bravura ou pura estupidez, ainda mantinha a mão no peito de Fane.

"Eu entendo," respondeu o homem. "Mas ele não pode ficar aqui, é um ambiente estéril. Assim que tivermos informações, você será o primeiro a saber."

"Obrigado," Vasile disse ao médico. O Alfa agarrou Fane pelo braço, puxando-o para fora da sala de cirurgia. Vasile soltou um rosnado agora, empurrando seu poder em Fane para forçar a obediência do filho. Fane recuou relutantemente da sala, sem tirar os olhos da forma imóvel de Jacquelyn até que as portas se fecharam e ele não pôde mais vê-la. Nesse momento, eles ouviram um estrondo alto e um rugido feroz vindo de algum lugar no corredor. Vasile empurrou Fane contra a parede e o encarou. Novamente, usando seu poder de Alfa, Vasile ordenou, "Fique." O lobo de Fane encontrou os olhos de Vasile por três segundos antes de finalmente se submeter. Com isso, Vasile se virou e saiu, movendo-se em direção aos rosnados maliciosos.

Ele virou a esquina para outra sala de cirurgia e encontrou Decebel agachado em frente ao corpo de Jen, que estava imóvel na maca. "Que diabos?" Vasile rosnou. Decebel rosnava continuamente, seus olhos brilhando em dourado. Vários humanos de jaleco azul estavam na frente dele em posturas defensivas, tentando explicar que estavam tentando ajudar a garota e precisavam tocá-la para isso. Decebel não se movia. Estava claro para Vasile que o lobo do homem estava no controle. Vasile deu um passo à frente, empurrando gentilmente um dos humanos para fora do caminho. Ele rosnou para Decebel e, assim como com Fane, enviou seu poder de Alfa.

"Recuar, Beta, eles precisam ajudar Jen." Decebel não se moveu. Ele virou a cabeça ligeiramente, dando uma pequena visão de seu pescoço. Um reconhecimento, mas não submissão. "DECEBEL, SAIA. AGORA!" Vasile rugiu, liberando seu poder sem restrições.

Finalmente, com a ordem do Alfa dada, Decebel não teve escolha a não ser sair do caminho, como se uma força invisível o tivesse empurrado para o lado. Com olhares perplexos para Decebel e Vasile, os humanos entraram em ação. Eles trabalharam rápida e eficientemente, como uma máquina bem lubrificada. Decebel observava, tremendo de raiva contida enquanto eles espetavam Jennifer com agulhas e colocavam uma máscara de oxigênio em seu rosto. Assim que começaram a cortar suas roupas, ele se tensionou e rosnou novamente. Vasile o agarrou e o empurrou para fora da sala, fechando as portas atrás deles.

Ele puxou seu Beta para frente e perguntou, "Decebel, o que diabos foi aquilo?"

Decebel desviou os olhos em submissão enquanto respondia ao seu Alfa. "Eu estava apenas cuidando dela. Todos os outros estavam ocupados, e ela estava sozinha. Eu era o único que restava para garantir que os humanos não a machucassem."

"Hmm." Vasile fez um som de suspeita em sua garganta. Ele olhou fixamente nos olhos de Decebel, tentando avaliar a veracidade de sua declaração. Não havia engano. Mas Vasile viu algo mais nos olhos do Beta, algo que ele não tinha certeza se o próprio Decebel detectava.

"A família dela estará aqui em breve. Alina os chamou. Quando eles chegarem, você deve se afastar. Até lá, eu pediria que você permanecesse do lado de fora desta porta e aguardasse informações do médico. Estamos entendidos?"

"Estamos entendidos," Decebel respondeu, sua voz sem emoção, sua expressão dura.

"Mais uma coisa, Beta. Mantenha seu lobo sob controle," Vasile advertiu.

"Sim, Alfa," Decebel respondeu enquanto recuava contra a parede, cruzando os braços sobre o peito e ficando de sentinela.

Vasile se virou e se afastou, balançando a cabeça em confusão.

"O que foi tudo aquilo?" Fane perguntou quando seu pai voltou. Fane ainda estava exatamente onde Vasile o havia deixado, em frente à sala de cirurgia onde Jacquelyn estava sendo tratada.

"Decebel estava protegendo Jen. Ele disse que se sentia responsável por ela, já que o resto de nós estava em outro lugar."

"Sério?" A voz de Fane soou cética.

"Eu também não sei o que pensar. Mas quando virei a esquina, Decebel estava guardando-a. Ele se recusou a permitir que a equipe a tocasse. Tive que forçá-lo a sair da sala," Vasile explicou, sua testa franzida, sua voz pesada de descrença.

Fane não sabia como responder a isso, mas sabia que não podia se preocupar com isso agora porque tudo o que conseguia pensar era em sua companheira. Ele continuava vendo sua forma inerte, o único sinal de vida sendo sua respiração superficial. Sua atitude animada, seu toque gentil, tudo havia desaparecido. Ele fechou os olhos, desligando suas emoções para manter seu lobo sob controle.

"Fane, Vasile, onde estão Jacque e Jen?" Lilly perguntou ao se aproximar, sua voz tirando Fane de seus pensamentos. Embora ainda um pouco de olhos arregalados, e além de alguns arranhões aqui e ali nos braços, a mulher não parecia estar pior.

"Jacque está nesta sala de cirurgia," Fane respondeu. "E Jen está logo no corredor. Decebel está guardando a porta dela."

Os ombros de Lilly caíram, e sua cabeça se inclinou para frente enquanto lágrimas silenciosas caíam no chão. Fane caminhou até a mulher que trouxe sua preciosa companheira ao mundo e a envolveu em seu abraço. Ela o apertou com força, como se sua vida dependesse disso. Após vários momentos, Lilly se afastou. Ela olhou para o rosto de Fane e deu um tapinha em sua bochecha. "Obrigada, Fane, obrigada," sua voz estava rouca de emoção.

Lilly recuou contra a parede e deslizou até o chão, preparada para ficar ali até que o médico saísse com notícias de sua filha. Vasile caminhou até ela e se ajoelhou na sua frente. "Lilly, você pode me contar o que aconteceu? O que você se lembra?" ele perguntou.

Lilly inclinou a cabeça para trás contra a parede, olhando para o teto. Então, ela apertou os olhos, tentando se lembrar de quando estava dirigindo para longe de sua livraria. "Eu tinha recebido uma ligação de um dos meus funcionários." Ela contou tudo sobre Jeff e o suposto cliente irritado que, aparentemente, não existia e como Jeff havia desaparecido quando ela chegou à loja. Então, pouco antes de contar sobre o barulho alto e perder o controle do carro, ela se lembrou do homem que Jen havia apontado na beira da estrada.

"Eu me lembro de um homem alto na beira da estrada ao lado de um carro azul," ela disse. "Você o viu?"

Vasile balançou a cabeça. "Não havia outros carros por perto."

"Jen o apontou. Logo depois que o vimos, houve um barulho alto e então eu perdi o controle. Parecia que ele poderia ter tido um pneu furado ou algo assim. Ele não poderia estar longe de onde o acidente aconteceu, ele deve ter visto."

Fane ouviu um tom de pânico na voz de Lilly. Alina e Sally se aproximaram, e Fane notou que Sally também parecia estar quase intacta, exceto por alguns arranhões e hematomas. Alina se ajoelhou do lado oposto ao de seu marido e segurou a mão de Lilly. "Vamos descobrir o que aconteceu, Lilly, vai ficar tudo bem," a Alfa fêmea disse gentilmente.

"Mas a Sra. P está certa," disse Sally. "Havia um homem na beira da estrada. Ele era grande. Eu não consegui ver direito, mas, segundo Jen, ele era, e cito, 'um pedaço de mau caminho.'"

Vasile olhou para Fane, que estava ouvindo silenciosamente as garotas descreverem o que havia acontecido. "Você viu alguém indo embora quando se aproximou das garotas? Você foi o primeiro a chegar lá."

"Não, não havia ninguém, apenas as garotas," Fane respondeu, trazendo a imagem da forma danificada de Jacquelyn à sua mente. Ele fechou os olhos e tentou afastar a imagem.

"Sally, Lilly, vocês estão bem?" Fane perguntou, tentando tirar sua mente das imagens do acidente.

"Apenas alguns cortes e queimaduras leves. Fora isso, estamos bem," Sally respondeu. "Tenho certeza de que Lilly já perguntou, mas há alguma notícia sobre Jen e Jacque?"

Vasile balançou a cabeça. "Jen está no final do corredor, na outra sala de cirurgia, e estão tratando dela. Decebel está de guarda do lado de fora da porta. Jacquelyn está nesta sala aqui. Os médicos disseram que nos informarão assim que puderem."

Sally assentiu. "Acho que vou ficar com Decebel para que ele não tenha que esperar sozinho."

"Provavelmente é uma boa ideia," Vasile concordou.

Depois que Sally se afastou, todos esperaram em silêncio, como se qualquer quebra do silêncio pudesse de alguma forma causar dano a Jen ou Jacque. Fane rangia os dentes enquanto imaginava sua companheira, queimada e quebrada, deitada inconsciente na mesa de cirurgia. A espera não era apenas ruim, era um verdadeiro inferno.


Sally ficou do outro lado do corredor de Decebel. Claro, em sua mente, ela sabia que ele era um homem grande. Mas, agora sozinha com ele na proximidade do corredor enquanto ele a encarava, suas feições de pedra não traindo nada de seus pensamentos ou emoções, ele parecia imensamente enorme. Sua única comunicação com ela foi um leve aceno de cabeça quando ela se aproximou. Sally não pôde deixar de pensar que ele iria soltar um "eu Decebel, você Sally" a qualquer momento. Ela sorriu ligeiramente com o pensamento. Era um comentário que Jen teria apreciado.

Sally não gostava da ideia de passar o próximo, sabe-se lá quanto tempo, em completo silêncio, então decidiu pelo menos tentar conversar com o homem. "Como você está, Decebel?" ela perguntou.

Decebel levantou uma única sobrancelha para ela. Parecia que ele estava considerando a pergunta. Para Sally, parecia que a máscara implacável em seu rosto escorregou por um momento e ela viu uma emoção que não reconheceu. Medo, talvez?

Num piscar de olhos, a máscara estava de volta. "Estou bem. E você?"

"Também estou bem. Você é sempre tão reticente?"

"Estou guardando esta porta, o que significa que devo permanecer sensível ao meu entorno. Isso pode me fazer parecer distante."

Sally levantou as sobrancelhas agora. "Duas frases completas seguidas? Bem, eu vou te contar. Acho que é o máximo que já ouvi você falar. Uau, você estava realmente, tipo, se explicando para mim e tudo mais. Jen ficaria tão orgulhosa de você." Decebel visivelmente se tensionou ao ouvir o nome de Jen. "Sabe, acho que ela pensa que você é como os coelhinhos de chocolate que vendem na Páscoa. Sabe, todo gostoso por fora, mas oco por dentro." Agora Sally estava agindo como Jen. A válvula da boca da garota simplesmente não fechava.

"Ela me compara a um coelhinho?" Decebel perguntou incrédulo.

"Não exatamente com essas palavras. Você tem que entender, Jen gosta de caras. Bem, ela gosta de caras bonitos." Sally notou que ele se tensionou novamente com essas palavras. Hmm, vou ter que fazer algumas investigações. "Mas ela não namora muito porque, apesar de seu jeito durão, ela é muito inteligente e se entedia facilmente. Então, se o pacote externo é interessante, mas o interior é uma porcaria, ela se contenta em admirar o pacote de longe."

Antes que Decebel pudesse responder, a porta da sala de cirurgia se abriu. Decebel se virou, ficando diretamente na frente de um homem calvo, de meia-idade, com olhos pequenos e um queixo severo. Seus olhos se arregalaram de repente quando ele olhou para o obstáculo à sua frente. Sally adivinhou que o lobo de Decebel devia estar olhando através de seus olhos, porque a mandíbula do médico caiu abruptamente. Sally se colocou na frente de Decebel e exibiu seu sorriso mais doce. Ela olhou para o crachá do médico antes de falar.

"Doutor Thomas, como está Jen?" Sally não pôde evitar um leve tremor em sua voz. Até agora, ela só temia o pior. Sally só podia esperar que o médico não transformasse seus medos em realidade.

Dr. Thomas olhou para Decebel e depois de volta para Sally. "Algum de vocês é da família? Os pais da Srta. Adams estão aqui?"

"Eu sou o noivo dela," Decebel disse.

O que diabos? Sally quase torceu o pescoço ao se virar para olhar para ele, sua mandíbula caindo. Decebel apenas a encarou, desafiando-a a contradizê-lo. Ela não o fez. Mas quando se virou de volta para o médico, podia ver claramente o ceticismo estampado em seu rosto.

Sally pigarreou. "Decebel é da Romênia. Eles fazem as coisas de forma diferente lá. Sabe, casamentos arranjados, esse tipo de coisa."

"Um casamento arranjado?" Estava claro que o médico não estava comprando o que Sally estava vendendo.

"Sim, bem, veja, Jen vai completar dezoito anos em poucas semanas. A cerimônia foi planejada pelas famílias há algum tempo e é por isso que Decebel está aqui agora, porque—"

"Você vai me dizer como ela está," disse Decebel, cortando-a. Sally o encarou. "Hum, por favor," ele acrescentou.

O médico soltou um suspiro. Sally não sabia se sua resposta era fruto do medo do que o grande homem carrancudo poderia fazer ou de uma simples agenda ocupada que fazia o homem querer se livrar deles rapidamente. "Sua amiga ainda não está consciente. Não tenho como saber quando ela ficará. Mas isso é uma bênção por enquanto. Ela vai se curar e será doloroso. Quanto mais ela dormir, melhor. A Srta. Adams sofreu queimaduras em setenta por cento do corpo."

Um guincho escapou da garganta de Sally. Ela sentiu os joelhos fraquejarem. Ela poderia ter caído no chão se a mão de Decebel não a tivesse estabilizado.

"O dano é mais severo no lado esquerdo do abdômen. Havia muitos pedaços de vidro e pequenos fragmentos de metal embutidos em suas costas e braços que tivemos que remover um a um. Isso levou mais tempo. Ela precisará ser transferida para nossa unidade de queimados, onde terá desbridamentos diários. Não vou adoçar a pílula. Ela tem um longo e doloroso caminho de recuperação pela frente."

Sally queria fazer mais perguntas sobre a mulher que era como uma irmã para ela, mas não conseguia fazer sua boca funcionar.

"E quanto às cicatrizes?" Decebel perguntou.

Dr. Thomas zombou. "Serão extensas. O quê? Você acha que ela não vai mais atender ao seu desejo de uma noiva por correspondência?"

Os comentários do médico foram como água fria espirrando no rosto de Sally, fazendo-a agir. Ela podia sentir a raiva emanando de Decebel como ondas. Malditos lobisomens temperamentais. Ela levantou a mão e a colocou no braço dele, esperando acalmá-lo.

"Ok, bem, obrigada, Dr. Thomas," ela disse. "Podemos acompanhar quando transportarem Jen para a unidade de queimados?" Ela apertou o braço de Decebel, esperando que ele não dissesse mais nada.

O médico hesitou novamente. "Isso será possível," ele finalmente disse. "As enfermeiras me notificarão assim que os pais dela chegarem, e eu discutirei o tratamento com eles." Dr. Thomas lançou um último olhar afiado para Decebel. Mas quando Decebel estreitou aqueles olhos amarelos para o homem, ele se virou abruptamente e saiu apressado.

Pouco depois da partida nervosa do médico, um par de enfermeiras levou Jen em uma maca. Após a pequena exibição de Decebel anteriormente, Sally ficou surpresa quando ele deu apenas uma olhada rápida para ela. Decebel desviou o olhar rapidamente e se virou para olhar Sally nos olhos. "Vou avisar Vasile sobre o que está acontecendo com Jen. Você vai com ela. Vou mandar Alina subir com você."

"Ok, podemos pausar essa pequena comédia por um segundo porque, há pouco, você estava todo, esta é minha noiva, blá blá blá, e agora você está apenas deixando ela aos meus cuidados? Eu não entendo," Sally disse.

"Você não precisa entender." A voz de Decebel era quase um rosnado.

"Só um," disse Sally. "Tudo o que eu quero é um maldito lobo que não seja mandão, rabugento, peludo e cabeça-dura," Sally murmurou para o teto enquanto se virava para seguir a maca. "É pedir demais?"

Ela não tinha certeza, mas achou ter ouvido um murmurado 'sim' de Decebel.

Fane viu Decebel se aproximando. Ele assumiu que isso significava que havia notícias de Jen. Por que estava demorando tanto com Jacquelyn? Assim que Decebel o alcançou, a porta ao lado de Fane se abriu. Uma mulher baixa, de meia-idade, emergiu. Seu cabelo era curto e eficiente. Os olhos da mulher falavam de uma vida que tinha visto muita tristeza. Mas nada disso prendeu a atenção de Fane assim que ele captou o cheiro da mulher. Fane se virou rapidamente e olhou para seu pai. Estava claro pelo olhar no rosto de Vasile que ele também havia percebido o cheiro—essa mulher era uma Canis lupus.

"Quem é o responsável por Jacquelyn Pierce?" a mulher perguntou, escaneando o grupo. Quando seus olhos caíram sobre Vasile, Fane achou ter visto um leve reconhecimento neles.

Lilly deu um passo à frente, preocupação e medo estampados em seu rosto. "Eu sou a mãe dela."

"Eu sou a Dra. Cynthia Steele." Houve uma respiração coletiva do grupo. Afinal, fazia apenas vinte e quatro horas desde que Fane havia matado Lucas Steele. Agora, eles estavam diante de uma médica com o mesmo sobrenome? "Preciso discutir a condição de sua filha com você. Gostaria de ir a algum lugar privado?"

Fane soltou um baixo rosnado e a Dra. Steele franziu a testa para ele.

"Não precisamos ir a lugar nenhum," Lilly explicou, "todos aqui são família para Jacque."

Antes que a médica pudesse continuar, Vasile deu um passo à frente. "Dra. Steele, precisamos que você seja clara conosco sobre a condição dela. Você entende o que estou dizendo?"

"Você não precisa usar essa merda de Alfa comigo, Vasile Lupei. Eu sei quem você é, e sei quem é seu filhote, considerando que ele matou meu irmão apenas um dia atrás," ela retrucou. Fane e Decebel se tensionaram. Essa mulher era incrivelmente corajosa ou incrivelmente estúpida para usar aquele tom de voz com o Alfa deles. O rosto de Vasile permaneceu impassível.

"De fato, Dra. Steele," disse Vasile, "tenho certeza de que você está—"

"Sim, eu matei seu irmão," interrompeu Fane. "E sinto muito pela sua perda, mas não me arrependo de proteger minha companheira de alguém que tentou tirá-la de mim."

"Proteger sua companheira? Se ela está tão protegida, Fane Lupei, então por que ela está deitada, queimada até os ossos no meu hospital?" As palavras da Dra. Steele foram como um tapa na cara.

Os olhos de Fane brilharam e o poder emanou ao seu redor, fazendo com que a Dra. Steele abaixasse a cabeça. Não era uma submissão à sua autoridade, no entanto, apenas uma resposta involuntária de seu lobo diante de um mais dominante.

"Podemos, por favor, voltar a falar sobre minha filha? Podemos lidar com essa merda de lobisomem em um minuto," Lilly disse com a voz carregada de estresse.

"Minhas desculpas," disse a Dra. Steele. "Jacque sofreu queimaduras em sessenta e cinco por cento do corpo, a maioria de terceiro grau, mas algumas de segundo. Sua perna direita está quebrada em dois lugares abaixo do joelho, seu quadril está deslocado e fragmentos de vidro tiveram que ser removidos de seus braços. Ela está estável, mas não acordou da anestesia que demos para a cirurgia. Não sei quando ela vai acordar." A médica fez uma pausa para deixar suas palavras serem absorvidas. Quando ninguém respondeu, ela continuou. "Ainda não fiz nada com a perna dela. Queria esperar para ver como o corpo dela responde aos tratamentos para queimaduras. Como ela é meio lobo, Jacque vai se curar mais rápido do que um humano. A pele dela deve se curar completamente sem cicatrizes, a perna, não tenho certeza. Mas estava preocupada que, se colocasse pinos agora, o sangue de lobisomem dela faria com que ela se curasse rápido demais. Nesse caso, os pinos seriam um obstáculo, não uma ajuda." A médica respirou fundo. "Mas há outro problema que pode causar complicações."

"Que problema?" Lilly perguntou.

"Jacque recebeu uma transfusão de sangue humano antes que eu pudesse chegar aqui. Não sei como o sangue dela vai interagir com isso. Não é algo que eu já tenha encontrado."

Lilly começou a chorar e Alina a abraçou. Fane se apoiou na parede, sentindo o ar ser sugado de seus pulmões. "Eu preciso vê-la. Agora." Os olhos de Fane brilharam e suas mãos tremiam com o esforço que estava fazendo para manter seu lobo sob controle.

"Isso não será possível até que ela seja transferida para a unidade de queimados," disse a Dra. Steele.

"Acho que você não me ouviu direito. Eu preciso ver minha companheira, agora." A pele de Fane formigava com a necessidade de se transformar.

A mandíbula da Dra. Steele se tensionou brevemente, mas ela rapidamente recompôs seu rosto. "Sua companheira? Vocês não acham que são um pouco jovens para tomar uma decisão tão permanente?"

"Eu não posso, nem gostaria, de mudar o que o destino escolheu para mim. Ela é minha e você vai me levar até ela ou eu vou destruir este hospital para encontrá-la."

A médica ficou parada, com a mandíbula cerrada. Um rosnado baixo veio do peito de Fane. Ele deu um passo à frente. "Tudo bem, me siga," Dra. Steele disse abruptamente e deu um passo para trás, abrindo a porta da sala de cirurgia sem tirar os olhos de Fane.

Fane pegou a mão de Lilly, arrastando-a junto e dando à sua futura sogra um pequeno sorriso de conforto. Eles seguiram a Dra. Steele por duas salas antes que ela empurrasse outra porta dupla, levando-os a uma grande área aberta com várias salas revestidas de vidro, de modo que aqueles que as ocupavam eram claramente visíveis. Uma mesa redonda no meio da sala servia claramente como um centro de comando.

Fane respirou fundo. Embora houvesse muitos cheiros na sala—doença, limpador antisséptico, preocupação humana—ele ainda conseguia distinguir a fragrância de algodão doce de sua companheira. Ele puxou Lilly junto enquanto seguia o rastro do cheiro de Jacque, não mais preocupado em seguir a liderança da médica. Passou por três salas de vidro antes de finalmente parar em frente à dela. Fane deslizou a porta para abrir o pequeno quarto e deixou Lilly entrar antes dele. Ela correu para a cabeceira de Jacquelyn e imediatamente começou a falar com ela, segurando sua mão, afastando o cabelo de seu rosto. Fane ficou parado e observou silenciosamente, dando tempo a Lilly com sua filha. Seu lobo estava tão inquieto, ansioso para estar perto de sua companheira, tocá-la e sentir a vida fluindo nela. Ele quase rosnou com a ideia de esperar mais um minuto.

Finalmente, Lilly se virou para Fane. "Você quer que eu saia?"

Fane odiava pedir isso a ela, mas precisava de alguns minutos a sós com sua Luna. "Sim, por favor." Sua voz estava tensa enquanto ele se segurava. Lilly assentiu, deu um beijo rápido na mão enfaixada de Jacquelyn e então saiu do quarto, deslizando a porta atrás de si. Finalmente, era só ele e Jacquelyn. Ele caminhou lentamente até a cabeceira dela, com medo de que o momento fosse apenas uma miragem e evaporasse diante de seus olhos se ele respirasse muito fundo. Mas quando ele chegou à cabeceira, ela ainda estava lá, não uma figura de sua imaginação, mas carne e osso reais. Fane se inclinou para frente e gentilmente afastou alguns fios de cabelo do rosto enfaixado dela. Ele colocou o nariz o mais próximo possível de seu pescoço sem tocá-la e respirou fundo seu cheiro. Seu cheiro era como um bálsamo calmante. Acariciava seu lobo, acalmando-o e ajudando-o a limpar a mente do medo que havia sido seu companheiro constante desde que sentiu a dor e o medo de Jacquelyn através de seu vínculo. Ele beijou seus lábios, tão levemente que mal sentiu seu calor e sussurrou seu nome. "Jacquelyn." Primeiro em voz alta e depois através de seu vínculo. "Jacquelyn. Por favor, me ouça, meu amor, acorde para mim." Fane não sabia se isso ajudaria, mas ele tinha que tentar. Depois de esperar vários minutos, Fane percebeu que ela não iria acordar, pelo menos não naquele momento. Ele ouviu a porta atrás dele se abrir e se virou para ver a Dra. Steele e Lilly esperando pacientemente.

"Vamos transferi-la para a unidade de queimados, a amiga dela também está lá. Ambas terão que passar por múltiplos desbridamentos para remover a pele morta para que a nova pele por baixo possa se curar," Dra. Steele explicou a eles.

"Posso ficar com ela?" Fane perguntou, sem tirar os olhos de Jacquelyn.

"Você pode visitá-la, mas não pode ficar no mesmo quarto com ela. Há um grande risco de infecção."

Fane não gostou dessa resposta, mas sabia que era o melhor para sua companheira. O que quer que fosse necessário para que o corpo quebrado dela se curasse era o que ele queria.

"Quando você acha que saberemos se o sangue humano terá efeitos colaterais?" Fane perguntou à médica.

"Não posso dizer, Fane. Sei que não é o que você quer ouvir. Nos próximos dias, à medida que o corpo dela se cura, o sangue de lobo dela deve acelerar esse processo. Se não acelerar, então saberemos que o sangue humano está atrapalhando."

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