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Sua presa

Engulo seco, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas sob o olhar analítico dele.

"Senhor..."

"Sim, eu ouvi". Ele responde, me interrompendo, dando a resposta à pergunta que eu faria. "Você sabia que eu quero saber de tudo o que acontece aqui e você, como minha secretária e responsável por tudo quando eu não estou presente, tem a obrigação de me contar todos os detalhes". Ele me olha seriamente e com um tom de reprovação, fazendo-me abaixar a cabeça.

"Peço desculpas, Sr. Parker". Falo imediatamente.

"Eu preciso confiar em você, e é difícil se você esconde coisas para evitar que pessoas desqualificadas sejam demitidas". Fala seriamente e eu levanto a cabeça.

"Eu só..." Tento me explicar, mas ele me interrompe novamente.

"Sem desculpas, Garcia, não deixe isso acontecer de novo". Fala um pouco mais alto.

"Sim, senhor". Concordo, e volto a organizar as pastas.

Eu estava focada em arrumar tudo e sair daquela sala, mas podia sentir o olhar dele sobre mim. Eu não sabia por que me sentia tão desconfortável perto dele, mas a verdade era que sua presença me dava um frio na barriga.

"Quero você ao meu lado amanhã". Fala quebrando o silêncio, fazendo-me olhar para ele surpresa e confusa. "Quero dizer, na reunião de amanhã. Quero que você anote tudo e me ajude a convencer os investidores". Fala se corrigindo e voltando sua atenção para os papéis.

"Sim, senhor". Falo forçando um sorriso. "Precisa de mais alguma coisa?"

"Não, você pode ir para casa". Ele responde, ainda sem olhar para mim.

Eu apenas assinto e saio da sala com a maioria das pastas. Respiro fundo assim que saio do escritório dele, percebendo só agora que não conseguia respirar direito na presença dele. Balanço a cabeça para tentar tirá-lo da minha mente e pego minha bolsa, logo pegando o elevador. Dirijo até minha casa e suspiro ao estacionar na garagem. Eu tinha decidido voltar para minha casa, que estava desocupada até então. Eu a encaro e um sentimento estranho toma conta do meu corpo. Era estranho mudar e era ainda mais estranho dizer adeus a algo que eu amava.

Eu não estava apenas dizendo adeus a Joy, mas a todo o meu modo de vida. E sim, eu não podia mentir e dizer que não sentiria falta dele, porque sentiria. Eu estava acostumada a ser esposa e tê-lo ao meu lado. Saber que nada era real e perder tudo o que eu tinha trabalhado tanto para construir estava sendo devastador. Sem dúvida, a pior dor que já senti em toda a minha vida. Entro na casa e a encontro organizada. Meus antigos empregados tinham deixado tudo no lugar e isso me faz sorrir. Subo lentamente as escadas e abro a porta do meu antigo quarto, jogando-me na cama.

Suspiro profundamente e tento acalmar meus batimentos cardíacos, tentando me convencer de que tudo iria melhorar. Que eu faria uma nova rotina e encontraria algo para amar. Olho para aquela maldita pintura e caminho rapidamente até ela. Eu a tiro da parede e a jogo debaixo da cama, junto com todos os outros porta-retratos. Respiro fundo e tiro minhas roupas, entrando na cama. Por enquanto, eu me afogaria no trabalho para esquecer tudo. E eu tinha certeza de que o Sr. Parker garantiria isso.

[***]

"Ótimo trabalho novamente, Parker". Um dos futuros parceiros da empresa fala enquanto cumprimenta o Sr. Parker com um sorriso. "E excelente funcionária, você me convenceu a pagar caro logo nos primeiros argumentos". Fala olhando para mim e eu sorrio verdadeiramente.

"Agradeço, senhor". Falo com um sorriso enquanto apertamos as mãos.

"Fique de olho, porque a qualquer momento posso tentar tirá-la de você". Ele fala e nós três sorrimos.

Olho para o Sr. Parker um tanto impressionada, já que era a primeira vez que eu o via sorrir e agir de forma mais leve.

"Vou esperar sentado". O Sr. Parker fala e os dois riem.

Eu só consigo olhar para aquela cena, afinal, qual era o defeito desse homem? O que era aquele sorriso? Ele simplesmente foi abençoado com toda a beleza do mundo, era enjoativo. O homem saiu e o Sr. Parker me encarou, fazendo-me desviar o olhar rapidamente.

Rezei para que ele não tivesse percebido que eu estava babando por sua beleza há um bom tempo. Começo a arrumar a sala e sinto o olhar dele sobre mim, mas ignoro. Tento me concentrar nisso, o que era praticamente impossível, já que aquele homem estava me encarando.

"Deixe isso aí, vamos resolver algumas coisas". O Sr. Parker fala para chamar minha atenção e eu assinto.

Caminho em direção a ele e andamos juntos até o escritório dele, mas sou forçada a parar quando vejo Joy. Entro na primeira sala que vejo e bufo irritada, batendo o pé no chão com raiva. O que Joy estava fazendo nesse andar? Provavelmente só está tentando me atrapalhar. Logo o Sr. Parker entra na sala e me olha novamente como se eu fosse louca, fazendo-me sorrir tristemente.

"O que aconteceu?" Ele pergunta com uma sobrancelha arqueada, olhando para mim atentamente.

"Pode ir na frente, senhor, eu preciso fazer algumas..." Olho ao redor da sala, tentando encontrar uma boa desculpa. "Algumas cópias". Digo, aproximando-me da impressora com um sorriso forçado, tentando ser o mais convincente possível.

Ele me olha de cima a baixo e cruza os braços, me encarando seriamente.

"Por que diabos você decidiu trabalhar no mesmo lugar que ele?" Ele pergunta em um tom de voz bastante severo, fazendo meus olhos se arregalarem de surpresa.

Ele sabia, e isso imediatamente me fez abaixar a cabeça. Suspiro e mordo os lábios, me condenando por isso.

"Surgiu uma vaga, então eu..."

"A verdade". Fala me interrompendo e ainda com um tom severo e repreensivo.

Suspiro e junto as mãos, aceitando que era praticamente impossível mentir para aquele homem.

"Eu não sei". Respondo sinceramente e suspiro de exaustão. "No começo eu queria fazê-lo pagar, mas depois me vi completamente sem um plano". Começo a falar, honestamente. "Eu não sei o que fazer".

Eu estava com a cabeça baixa e, por algum motivo, não conseguia manter meu olhar nele. Mas eu podia sentir que ele estava me olhando atentamente, assim como ouvindo.

"Ficar perto dele só vai te fazer piorar". Ele fala, quebrando o silêncio.

Olho para ele, um tanto surpresa com seu discurso, e posso ver preocupação em seu olhar.

"Se você está aqui por causa dele, apenas vá embora". Ele fala firmemente, ficando sério novamente.

Ele novamente faz meus olhos se arregalarem e eu gaguejo, ainda surpresa com suas palavras. Ele sai da sala e eu imediatamente o sigo, andando o mais rápido que posso e sem me importar se Joy me veria. Entro no escritório dele e o encontro parado, olhando pela janela.

"Eu não estou aqui por causa dele". Falo firmemente, ganhando sua atenção, e ele arqueia uma sobrancelha, duvidando de mim. "No começo talvez, mas agora é diferente".

"O que é diferente?" Ele pergunta, se aproximando lentamente de mim, mantendo seu olhar fixo no meu.

"Eu gosto do que faço e gosto de trabalhar aqui". Falo e tento me concentrar, já que ele havia parado muito perto de mim.

"O que mais?" Ele me encoraja a continuar.

Pode ser coisa da minha cabeça, mas eu podia sentir que seu olhar estava nos meus lábios e isso me fez respirar fundo. Sua voz estava mais baixa e estávamos tão próximos que eu podia sentir seu cheiro. Era um cheiro amadeirado e isso fez as borboletas no meu estômago voltarem.

"Trabalhar aqui é bom para mim e eu não quero perder a melhor oportunidade que apareceu para mim". Falo mais suavemente, sentindo meu coração acelerar.

A próxima coisa que percebi foi que eu também estava olhando para os lábios dele, que eram perfeitamente desenhados. Para piorar, ele umedeceu os lábios com a língua, fazendo-me seguir cada movimento. E lá estava eu, totalmente hipnotizada por ele.

"Não se preocupe, eu vou te ajudar a esquecê-lo". Ele diz, se aproximando ainda mais de mim e colocando a mão no meu rosto.

Suspiro ao sentir seu toque e sinto minhas pernas ficarem fracas. Ele estava me olhando, totalmente diferente desta vez, como se eu fosse sua presa.

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