




“Eu sou o culpado”
Sento-me à mesa e sorrio. O ambiente era elegante e calmo, muito melhor do que eu tinha imaginado. Só havia casais ali, o que me fez respirar fundo. Não tinha ideia se esse desconforto algum dia iria acabar, mas desejava com todas as minhas forças que sim. Suspiro e olho o cardápio, então faço meu pedido ao garçom.
Meu pedido chega rapidamente e eu o agradeço com um sorriso, sentindo o aroma delicioso que a comida emanava. Dou um sorriso e como um pedaço daquele bife, que me fez soltar um gemido de prazer. Era uma das melhores coisas que já provei. Ouço um casal sorrindo um pouco à frente e os observo atentamente. Eles estavam se olhando amorosamente e conversando felizes. A comida desce amarga e eu tomo um gole de suco, desviando o olhar. Desde quando comecei a invejar a felicidade dos outros?
A porta do restaurante se abre e o barulho soa alto, fazendo todos olharem, inclusive eu. Vejo Joy entrar no restaurante e ele estava abraçado com a mesma mulher da última vez. Ele pede desculpas a todos e os dois entram sorrindo, caminhando até uma mesa. Levo um susto e rapidamente me abaixo, desejando que eles não me vissem. Ainda agachada, olho ao redor do restaurante e os vejo sentados um pouco à frente. Eles estavam sorrindo e se olhando como se fossem um casal há anos.
Era impossível desviar o olhar daquilo, mesmo que estivesse me fazendo sangrar profundamente. Eu só conseguia ver Joy e a maneira como ele olhava para aquela mulher. Uma mulher que não tinha feito um terço das coisas que eu fiz, uma mulher que não tinha desistido de nada por ele. Eu podia ver claramente agora, nada era real. Se tivesse sido, pelo menos por um momento, ele não teria nos substituído tão rapidamente. Enquanto eu estava quebrada e não conseguia nem sair da cama, ele estava feliz.
"O que você está fazendo?" Uma voz grossa soa atrás de mim.
Olho para cima rapidamente e vejo o Sr. Parker, olhando para mim como se eu fosse uma louca. Mas ele me olhando ali entregou tudo. Puxo seu braço rapidamente, fazendo-o se agachar comigo. Ele me olha surpreso e confuso.
"Eu só..." Tento explicar e não consigo inventar uma boa desculpa para a situação.
Ele fica sério e olha na mesma direção que eu estava olhando, para Joy com sua nova namorada.
"Quem é?" Ele pergunta olhando para mim.
O olhar em seus olhos me incomodava, porque parecia que ele já sabia de tudo.
"Ninguém". Respondo rapidamente, quase automaticamente.
Ele arqueia uma sobrancelha, como se soubesse que eu estava mentindo.
"É seu marido?" Ele pergunta, ainda sério.
Baixo a cabeça e aceno, soltando um longo suspiro.
"O que você quer fazer?" Ele pergunta e eu o olho confusa. "Quer se vingar?"
Olho para ele surpresa, mas ele parece sério. Permaneço em silêncio e pensativa.
"Eu só quero sair sem ser notada". Dou minha resposta com a cabeça baixa, com medo de que ele pense que sou fraca.
Ele fica quieto por um tempo e então pega minha mão, fazendo-me levantar com ele. Ele me coloca na frente dele e caminha comigo até o fundo do restaurante. Ele era grande, e graças à minha baixa estatura, eu estava completamente escondida.
"Obrigada". Agradeço e rapidamente me afasto dele.
Estávamos muito próximos um do outro e ele segurou minha mão o caminho todo. Ele permaneceu sério e me observando atentamente. Coloco um sorriso fraco no rosto e abaixo a cabeça novamente.
"Estou indo". Falo e dou alguns passos.
"Aproveite sua própria companhia, para que você não passe o resto dos seus dias chorando por alguém que nunca vai voltar". Ele diz, me fazendo parar.
Eu o encaro surpresa, sentindo o peso de cada uma dessas palavras. Ele acena com a cabeça, como se estivesse se despedindo, e volta para o restaurante. Continuo parada no mesmo lugar, sem saber qual parte do meu corpo doía mais. A dor era imensa e eu me recusava a deixar as lágrimas caírem. Saio dali assim que começo a sentir minhas pernas novamente e entro em um supermercado. Pego a primeira garrafa de bebida que vejo e pago por ela. Abro e dou um gole, sentindo a bebida descer queimando.
Caminho até o mar e me sento na areia, longe das pessoas. Fico ali bebendo e a imagem de Joy se repetindo na minha cabeça. Por que eu me sentia tão estúpida? Esqueci de mim mesma e dediquei minha vida inteira a ele. No final, ele está bem e eu me encontro bêbada, em uma praia deserta e me sentindo totalmente idiota. Bato a cabeça várias vezes, dizendo os piores adjetivos que consigo pensar agora. Termino a garrafa e me deito na areia, suspirando alto.
Fico ali deitada e logo tenho a sensação de que alguém está me observando. Assim que abro os olhos vejo meu pai, me olhando seriamente. Ele estava parado ao meu lado e me olhando de um jeito diferente. Ele estende a mão e eu a aceito, então ele me levanta. Não consigo andar sozinha, então ele me coloca em seus braços. Sinto o cheiro dele e as lágrimas começam a cair rapidamente, me fazendo soluçar.
"Desculpa, pai". Falo em meio ao choro.
"Está tudo bem, filha". Ele fala com uma voz calma.
Ele me coloca cuidadosamente no banco de trás do carro e então começa a dirigir. Meus olhos estavam pesados e eu já não conseguia sentir nenhuma parte do meu corpo. Mas a dor que eu sentia no peito não diminuiu nem por um minuto. Toquei meu peito e chorei mais forte, tentando colocar tudo para fora. Eu só queria esquecer tudo e parar de sentir tanta dor. Queria parar de me sentir culpada pela minha própria infelicidade, mas não conseguia me convencer do contrário. Eu sou a culpada.