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O chefe

Levanto-me e olho mais uma vez para a porta. Dois já tinham sido entrevistados e saíram do escritório do chefe visivelmente abalados. Mas o terceiro estava lá há mais de 10 minutos, o que poderia indicar coisas boas para ele e ruins para mim. Levanto-me da cadeira e começo a andar em círculos para me acalmar. Logo ouço uma voz familiar no corredor e fico impressionada ao ver quem era.

"Sr. Parker?" Pergunto com um sorriso.

Ele se vira para mim e me olha por um tempo, então se lembra de quem eu era e me dá um sorriso.

"Laura Castro?" Ele pergunta animado.

Eu aceno com a cabeça, tentando fingir normalidade ao ouvir aquele sobrenome.

"É um prazer vê-lo novamente". Falo enquanto o cumprimento com um aperto de mão.

"Igualmente". Ele responde. "Está perdida? Quer que eu te leve ao andar onde seu marido trabalha?" Ele pergunta atenciosamente.

"Na verdade, estou aqui para uma entrevista de emprego". Respondo e fico surpresa. "Para ser sua secretária, na verdade".

Ele fica confuso a princípio e depois ri alto.

"Acho que você me confundiu com o dono da empresa, querida, afinal, temos o mesmo sobrenome". Ele diz, ainda rindo.

Não consigo disfarçar a surpresa que estava sentindo.

"Eu poderia jurar que você era o dono da empresa". Falo e ele ri ainda mais.

"Sou o supervisor, mas nem de longe sou o dono. Somos Parkers diferentes". Ele explica novamente e eu suspiro. "É a sua vez?" Ele pergunta e aponta para a porta.

Olho para trás e vejo que o terceiro candidato acabara de sair do escritório do chefe com um sorriso vitorioso no rosto.

"Acredito que sim". Respondo, já sentindo meu estômago revirar.

"Não se preocupe, vou tentar te ajudar". Fala com um sorriso gentil.

Ele caminha até a porta do chefe e entra, fechando a porta logo em seguida. Volto para o meu assento e espero, sentindo minhas esperanças indo por água abaixo. Certamente o supervisor Parker me contrataria, mas agora a competição está acirrada. Olho para o meu currículo e sinto pena de mim mesma, afinal, só tinha algumas coisas preenchidas. Nada interessante que me fizesse destacar.

"Laura". Ouço alguém me chamando e vejo o Sr. Parker. "Você pode entrar agora".

Retorno o sorriso dele o melhor que posso e agradeço quando ele me deseja boa sorte. Entro na sala e vejo um homem alto olhando pela janela. Não só era alto, como também era grande e dava para perceber, mesmo com o terno, que ele era musculoso.

"Feche a porta". Sua voz ressoa pela sala.

Sua voz tinha um tom autoritário impressionante, fazendo-me obedecer sua ordem imediatamente e inconscientemente.

"Sente-se". Fala novamente.

Instantaneamente, já estou sentada na cadeira e esperando atentamente para ouvir sua próxima ordem. Ele se vira para mim e me deixa completamente atônita. A única coisa que passava pela minha mente era: como é possível existir um homem assim? Ainda não tinha a resposta, mas lá estava ele. Ele me olhava seriamente, sem expressar nenhum sentimento. Observou-me por um longo tempo e então sentou-se em sua cadeira, de frente para mim.

"Este é o seu currículo?" Ele pergunta, olhando para mim com uma sobrancelha arqueada.

Finalmente volto ao meu estado normal, lembrando da importância deste momento na minha vida. Olho para o papel em suas mãos e vejo minha foto, então aceno com a cabeça. Ele estava sério e então olha para o meu currículo novamente, soltando um suspiro. Seu rosto não estava bom, nem a expressão em seu rosto, e o suspiro só indicava o que eu já tinha certeza.

"Por que você acha que está qualificada para esta posição?" Ele pergunta e então me olha novamente com atenção.

"Bem, eu..." Respiro fundo e começo de novo, tentando controlar meu nervosismo. "Me formei com as melhores notas e tenho uma carta de recomendação do meu diretor. Falo três idiomas fluentemente e sou boa em lidar com pessoas. Além disso, tenho vários cursos extras e conhecimentos que podem agregar muito valor". Respondo finalmente conseguindo me manter calma e me expressar bem.

"Se você tem todas essas qualidades, por que não tem nenhuma experiência?" Ele pergunta, olhando para o meu currículo e depois para mim.

Ele não parecia confuso, suas perguntas e olhares soavam mais como um desafio. Claro que eu sabia que isso era um teste, mas não esperava que fosse de uma maneira tão óbvia.

"Eu dei uma pausa na minha carreira". Explico e ele fica quieto.

"Em que ano você se formou?"

"2017". Respondo.

"Então você deu uma pausa de cinco anos?" Ele pergunta novamente com uma sobrancelha arqueada.

"Sim." Respondo rapidamente.

"Você tem filhos?" Ele pergunta, e eu fico surpresa.

"Eu não..."

"Este trabalho exige disponibilidade para viagens, imprevistos de última hora e muitas horas extras". Ele explica rapidamente, interrompendo minha resposta.

Suspiro e aceno com a cabeça.

"Eu não tenho filhos". Respondo e ele acena com a cabeça.

"Casada?" Ele pergunta sem olhar para mim.

"Sim". Sinto realmente uma dor na garganta por ter que dizer isso.

"Obrigado por vir, você receberá uma mensagem em breve". Ele fala ainda sem olhar para mim.

Levanto-me meio confusa, sem entender por que ele parecia ter parado no meio do caminho. Saio daquela sala e respiro fundo, sentindo-me mais aliviada. Mas logo o peso da derrota cai sobre meu corpo novamente e solto um suspiro irritado. Pego o elevador para sair o mais rápido possível e poder afogar minhas mágoas em um grande pote de sorvete. Saio daquela empresa e caminho lentamente pelas ruas. Passo em frente ao restaurante dos meus sonhos e paro para admirá-lo.

Não sei quantas vezes implorei para o Joy para virmos jantar aqui. Não saíamos juntos há muitos anos, só íamos às casas de amigos e parentes. Que idiota meu marido era e eu não via? Solto um suspiro irritado e tenho uma ideia. Pego minha carteira e vejo que o cartão do Joy ainda está lá. Abro um sorriso e entro no restaurante, pronta para "me levar para sair".

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