




Capítulo 8
Thalia sentiu seu coração subir até a garganta enquanto Jennifer continuava a encará-la. As lições que ela havia aprendido quando era filhote voltaram como um reflexo. Todos os filhotes eram ensinados desde cedo a tomar cuidado para não revelar quem realmente eram para os humanos. Claro que havia alguns que sabiam das espécies sobrenaturais que existiam, mas havia um acordo tão antigo quanto o tempo para manter os humanos no escuro o máximo possível, a fim de protegê-los dos perigos que vinham com o mundo sobrenatural.
"Relaxa," Jennifer quebrou o silêncio primeiro, soltando uma risada sem humor. "O Sr. Connaught me conta tudo."
"Oh, meu Deus..." Svetlana revirou os olhos. "Suas ilusões estão piorando a cada dia. Ele contou para todos nós."
"Mas ele me contou primeiro!" Jennifer argumentou, seus longos dedos esguios brincando com seu cabelo loiro platinado antes de jogá-lo sobre o ombro. "Nós conversamos o tempo todo."
"Espera, então todos vocês sabem que eu não sou humana e que a maioria das pessoas aqui são..." Thalia deixou a frase no ar, incerta sobre o que exatamente o Sr. Connaught era ou o que sua equipe era, mas sabia que com certeza não se encaixavam na categoria de humanos.
"Não se preocupe. Nós não vamos, tipo, pedir para você nos mostrar ou algo assim." Miriam finalmente falou, seus olhos brilhando como joias. "A menos que você queira, claro. É totalmente sua escolha."
"Bem, eu por um estou curiosa." Jennifer interrompeu novamente. "Você só se transforma na lua cheia? Você sabe andar ao lado?"
"Jennifer!" Laila ofegou.
"Ah, relaxa, estou só brincando." Jennifer sorriu, mas Thalia podia ver a malícia em seus olhos tão clara quanto o dia. Jennifer estava com ciúmes. Por quê?
"Está tudo bem." Thalia falou, inclinando-se para fazer uma xícara de café. "Na verdade, eu preciso me transformar regularmente, caso contrário, posso ficar selvagem e desejar o sangue dos humanos. Infelizmente, isso acontece muito com os lobisomens.
"Você conhece a história de Jack, o Estripador, certo? Bem, ele na verdade era um lobisomem que enlouqueceu. A história diz que ele ficou preso por dez anos, incapaz de se transformar por medo de ser morto pelos outros presos ou guardas. No entanto, dez anos foi tempo demais e, quando finalmente o soltaram, o dano já estava feito.
Na próxima lua cheia, sua besta tomou o controle completo e ele se transformou em uma criatura horrível, meio homem, meio lobo. Ele caçava nas ruas por vítimas fáceis, devorando o sangue e a carne de suas vítimas até que a loucura o fez pular no Rio Tâmisa, nunca mais sendo visto ou ouvido novamente."
Enquanto Thalia falava, o rosto de Jennifer começou a empalidecer, seus olhos azuis se arregalando. Até mesmo Svetlana, a que parecia menos provável de se abalar com qualquer coisa, se mexeu desconfortavelmente em seu assento. O silêncio que se seguiu exalava o desconforto dos humanos. Seus corações batiam freneticamente como asas de pássaros, revelando facilmente seu medo. Por um momento, Thalia se sentiu mal por pregar tal peça, mas se havia uma coisa que Thalia tinha aprendido em todos os seus anos na Terra, era que se você desse um centímetro aos valentões, eles tomariam um quilômetro, e Jennifer era uma valentona. Thalia sabia que precisava cortar qualquer maldade pela raiz.
Thalia não conseguiu manter sua fachada séria por muito tempo e, após alguns segundos, uma risadinha escapou ao ver o rosto agora pálido de Jennifer. Demorou alguns momentos para as cinco garotas perceberem que Thalia estava brincando com elas antes que Svetlana, Miriam e Laila caíssem na gargalhada também. Até Priyanka esboçou um sorriso tímido, mas divertido. Apenas Jennifer não achou graça na pequena brincadeira de Thalia, suas bochechas ficando vermelhas de raiva.
"Que bárbaro!" Ela murmurou e se levantou. "Não vou ficar aqui para ser feita de boba!"
"Oh, Jennifer, não seja boba!" Miriam chamou a garota enquanto ela se afastava furiosa. "Jennifer!"
"Jennifer. Não. Por favor, volte." Svetlana falou sem entusiasmo, claramente não querendo dizer uma palavra do que disse. "Oh não. Ela se foi. Que pena."
"Desculpe, não queria chateá-la." Thalia murmurou. Claro, ela queria sutilmente dizer a Jennifer para recuar, mas não tinha a intenção de chatear a pobre garota. "Talvez eu devesse ir atrás dela e pedir desculpas."
"Não, deixe-a." Laila suspirou. "Ela está apenas chateada porque o Sr. Connaught tem um novo brinquedo e ela acha que deveria ser a prioridade número um dele."
"Eu não entendo..." Thalia olhou para cada uma das garotas. "O Sr. Connaught não comprou todas vocês?"
"Sim, comprou." Laila assentiu, sorrindo tristemente. "Fui tirada da minha família há seis anos. Fui forçada a trabalhar em uma mina ilegal e depois em uma fábrica clandestina desde então. Havia um boato de que as autoridades iam invadir a fábrica, então os homens nos reuniram para nos matar, mas no último segundo o Sr. Connaught apareceu e nos comprou. Não sei o que aconteceu com as outras garotas, mas fui trazida para cá."
"Eu estava na prisão." Svetlana suspirou. "Estava furtando para sustentar minha família, mas as autoridades conseguiram me incriminar por tráfico de drogas, então eu ia passar o resto da minha vida na cadeia. Fui atacada no meu terceiro dia lá por um guarda. Ele me deixou com essa lembrança depois que eu o chutei nas partes íntimas quando ele tentou me estuprar." Svetlana apontou para sua garganta. "A próxima coisa que sei é que me soltaram dizendo que havia uma tecnicalidade. Acordei aqui, incrivelmente viva e sob os cuidados do Sr. Connaught."
"Fui forçada a trabalhar com sexo." Miriam falou, seus olhos verdes olhando para o vazio enquanto parecia se lembrar de algo. "Quando eu supostamente fiquei velha demais para a clientela daquele bordel, fui enviada para ser vendida. Foi quando o Sr. Connaught me resgatou."
Thalia sentiu um peso no coração ao ouvir cada garota contar sua história. Seus olhos encontraram Priyanka, que segurava sua xícara e pires cuidadosamente. Ela era tão tímida quanto um rato e um olhar naqueles olhos assustados disse a Thalia que o que quer que ela tivesse suportado antes de chegar aqui não era melhor do que o que as outras tinham passado. Todas elas tinham sofrido de maneiras diferentes e, no entanto, todas tinham uma coisa em comum; Dante Connaught as havia comprado e estava tratando-as como princesas em vez de posses.
"Vocês sabem o que o Sr. Connaught quer de nós?" Thalia finalmente perguntou, esperando que uma das outras tivesse alguma pista.
"Infelizmente, não." Miriam suspirou. "Mas eu ouvi a Sra. Thorton e o Doutor McKinley conversando outro dia e, seja o que for, vamos descobrir em breve. A Sra. Thorton continuava dizendo ao Doutor que agora que todas estamos aqui, o Sr. Connaught quer seguir em frente com seus planos imediatamente."
"Provavelmente ele está apenas se preparando para nos vender de novo." Svetlana resmungou. "Os porcos pagam bem por garotas que parecem saudáveis, então o Sr. Connaught vai nos engordar e obter um bom retorno."
"Você não sabe disso." Laila suspirou, mas o medo brilhou em seus olhos escuros.
"Claro que sei. Homens ricos são todos iguais. Na verdade, todos os homens são iguais. Eles não precisam ser ricos para serem porcos!" Svetlana declarou. "Você vai ver."
"Ele disse que nos deixaria ir depois que o ajudássemos." Priyanka finalmente falou, sua voz tão pequena que Thalia pensou ter imaginado. "Isso não soa como se ele quisesse nos vender."
"Acho que Priyanka está certa." Laila assentiu.
O silêncio caiu sobre o grupo de garotas enquanto refletiam sobre o motivo de estarem ali sendo tratadas como rainhas. Mesmo enquanto se ocupavam com bebidas quentes e os pequenos sanduíches ou bolos à sua frente, nenhuma delas estava realmente prestando atenção ao que estava diante delas, mas sim, perdidas em seus próprios pensamentos.
"Alguém mais notou como este lugar é estranho?" Thalia finalmente perguntou.
"Estranho, como?" Miriam franziu a testa em confusão.
"Bem, para começar, nenhum dos quartos parece combinar com os outros." Thalia começou. "E na outra noite, o Sr. Connaught conseguiu me acompanhar até meu quarto sem subir nenhuma escada, embora mais cedo naquela noite a Sra. Thorton tivesse me levado pela escadaria principal."
"Isso aconteceu comigo, mas eu só pensei que fosse o vinho." Miriam deu de ombros. "Eu sou meio fraca para bebida."
"Há muitos corredores diferentes e caminhos por aqui," Laila acrescentou. "É tão fácil se perder."
"Talvez você tenha razão..." Thalia murmurou, mas não conseguia se livrar da sensação de que havia mais acontecendo do que as outras garotas estavam dispostas a admitir. Ela decidiu então que precisava descobrir exatamente o que era aquele lugar e quem realmente era Dante Connaught.
"Senhoritas," a voz da Sra. Thorton interrompeu a conversa, fazendo Priyanka estremecer com a súbita intrusão. "Espero que todas tenham se divertido. No entanto, devo pedir que me sigam de volta aos seus quartos para se prepararem para o jantar."
"Bem, isso foi divertido, foi bom te conhecer, Thalia." Laila sorriu enquanto todas se levantavam. "Vamos te ver no jantar?"
"Eu..." Thalia admitiu que não tinha certeza e olhou para a Sra. Thorton quase como se pedisse permissão. A loira severa assentiu bruscamente e Thalia se voltou para Laila, sorrindo. "Eu estarei lá."
"Ótimo!" Laila sorriu antes de acenar e se dirigir de volta para a grande casa que parecia um castelo.
"Senhorita Khatri, o Sr. Connaught solicitou sua presença esta noite." A Sra. Thorton falou enquanto as garotas começavam a sair, seus olhos azuis penetrantes pousando em Priyanka, que estava ficando para trás.
Thalia não conseguia explicar, mas algo sobre esse pedido aparentemente inocente fez os pelos da nuca se arrepiarem. Seus olhos se moveram da Sra. Thorton para Priyanka, que estava congelada no lugar, seus grandes olhos negros arregalados. Ela era a própria imagem de um cervo pego nos faróis e, embora fosse invisível ao olho humano, Thalia podia ver a jovem tremendo.
"Por aqui, por favor, Senhorita Khatri," a Sra. Thorton praticamente latiu, fazendo a pequena garota pular e correr para ela como um gatinho assustado. "Senhorita Georgiou, se não houver nada com que eu possa ajudá-la, por favor, retorne ao seu quarto. Agora."
Cada fibra do corpo da loba gritava para não deixar Priyanka sozinha com a Sra. Thorton ou com Dante, e ainda assim ela havia aprendido no primeiro dia que não estava em condições de enfrentar a Sra. Thorton, muito menos Dante e seus seguranças. Em vez disso, tudo o que ela podia fazer era acenar com a cabeça e voltar para dentro, esperando que sua intuição sobre tudo aquilo estivesse errada.