
4
Jen estava sentada no jardim atrás da mansão, ainda vestindo o casaco que havia colocado horas atrás. Estava tarde e fazia frio, mas ela não queria entrar ainda. Não estava com vontade de responder às perguntas que sabia que suas duas melhores amigas inevitavelmente fariam. Ela levantou a cabeça para o céu claro, maravilhada com as milhares de estrelas que iluminavam a escuridão.
Um galho quebrou no chão à sua esquerda. Jen se virou na direção do som e viu Alina vindo em sua direção, envolta em um casaco pesado, carregando duas canecas de café. Ela não pôde deixar de sorrir para Alina ao pegar a caneca oferecida. Jen sentiu o calor do vapor subir e acariciar seu rosto enquanto levava a xícara aos lábios.
"Então, os Tweedle Dee e Tweedle Dum te mandaram, pelo visto." Jen indicou o chocolate quente pelo qual estava profundamente grata.
Alina soltou uma pequena risada enquanto se sentava no banco ao lado de Jen. "Culpada, tenho que admitir."
Jen deu de ombros, aceitando que não havia como suas duas amigas a deixarem sozinha. Ela estava feliz que fosse Alina quem tivesse vindo. Algo nela era tão pacífico e reconfortante.
"Jen, você está infeliz aqui?" Alina perguntou gentilmente.
"Não," Jen respondeu rapidamente. "Não, Alina. Sua casa é maravilhosa e você e Vasile nos fizeram sentir tão bem-vindos."
"Então por que você quer ir embora tão desesperadamente?"
Jen olhou de soslaio para Alina enquanto tomava outro gole. Ela engoliu devagar, saboreando o calor que se espalhava por seu corpo. "Sem ofensa, Alina, mas eu sei que você sabe sobre a bola de pelos." Alina riu das insistentes provocações de Jen sobre Decebel.
"Ok, culpada. Mais uma vez." Alina sorriu, mas depois seu sorriso desapareceu lentamente enquanto ela colocava a mão no braço de Jen. "Dê tempo ao tempo, Jen. Se for para ser, será." Jen começou a interromper, mas Alina continuou antes que ela pudesse. "Eu sei que você acha que, porque não está tendo nenhum dos sinais de acasalamento, é inútil, mas nunca estivemos perto de alguém com sangue de lobisomem tão diluído quanto o seu. Não há como prever as repercussões, então seja paciente, pequena. Ele vai perceber."
Jen assentiu lentamente, embora por dentro ainda tivesse sérias dúvidas.
"Acho que preciso ir ver Jacque e Sally e fazer um pouco de controle de danos." Jen fez uma careta.
"Provavelmente seria sensato," Alina disse enquanto elas se levantavam e caminhavam de volta para a mansão juntas.
Jen abriu a porta do quarto de Sally e encontrou suas duas melhores amigas sentadas no chão, revisando o dever de casa que o tutor havia passado. Nenhuma delas parou para reconhecê-la e ela podia admitir que merecia o desprezo.
"Então, acho que preciso me desculpar por ser uma completa idiota," Jen disse a elas, com remorso estampado no rosto.
Sally levantou os olhos lentamente. Seus olhos estavam franzidos em um olhar que pararia um homem adulto. "Olha, Jacque. A loba pródiga retorna. Que doce da parte dela."
Jen estremeceu com as palavras de Sally, que estavam carregadas de sarcasmo e gotejando veemência.
Jacque deu a Jen um olhar passageiro, como se ela não fosse mais do que um mosquito. "Hã, então é." E voltou ao seu dever de casa.
Droga, pensou Jen. Ela teria que se humilhar. Como ela odiava se humilhar. "Eu realmente sinto muito. Sei que vocês estavam preocupadas e que estão bravas comigo por ser egoísta."
Sally se levantou abruptamente. "Preocupadas, sim. Bravas, não. Magoadas, com certeza. Jen, você não fala com a gente sobre o que está acontecendo. Você tem andado por aqui emburrada nos últimos dois meses. Você não fala sobre o lance do sangue de lobo, não fala sobre o Decebel, e então você faz o maior escândalo do século e começa a arrumar suas coisas, dizendo que não aguenta mais. Estamos aqui no escuro, sem saber o que fazer." A voz de Sally foi ficando mais alta à medida que seu desabafo continuava. "Mudei de ideia, estamos bravas. Magoadas, bravas e preocupadas."
Jacque olhava para Sally como se ela tivesse crescido um terceiro olho, enquanto Jen procurava um buraco para se enfiar.
"Desculpa, Sally. Não sei mais o que dizer, mas realmente sinto muito. Eu só tenho estado tão, droga, não sei. Frustrada, assustada, solitária-"
"Solitária?" Jacque interrompeu, obviamente magoada.
"Não porque vocês não estiveram aqui," Jen acrescentou rapidamente. "Não consigo descrever. Ok," Jen parou e sentou-se ao lado de suas duas melhores amigas, "vocês querem que eu fale, então lá vai. Quando Decebel foi embora depois da sua cerimônia, eu senti como se um buraco tivesse sido aberto dentro de mim. Não sei como descrever isso além de uma solidão absoluta. Tenho estado tão frustrada porque nunca fico deprimida por causa de um cara. Quero dizer, olá, sou a Jen. Não preciso de um cara." Ela passou as mãos pelo seu longo cabelo loiro, agitada. "Mas lá estava eu, suspirando por um lobisomem e não sei por quê. Não entendo por que ele simplesmente foi embora como se não se importasse." Jen enxugou as lágrimas que agora manchavam seu rosto. "E, pelo amor de Deus, estou cansada de chorar."
Jacque se levantou e abraçou Jen; Sally envolveu os braços em volta das duas. As três garotas ficaram ali em silêncio enquanto Jen tentava controlar suas emoções dispersas.
Finalmente, Sally quebrou o silêncio. "Bem, você está perdoada. Só pare de ser tão teimosa e fale com a gente, ok?"
Jen assentiu enquanto enxugava as últimas lágrimas. "Falar, entendi. Estou em cima disso, chefe," ela brincou.
"Então, você vai contar o que aconteceu hoje? Você sabe, com você e..." Sally insinuou.
"Entre mim e o Canino Branco? Bem, vou admitir que quando vi Decebel fiquei chocada. Como em 'o que diabos você quer dizer com uma mulher ficou tanto tempo sentada no vaso que ficou grudada nele' chocada."
"Ah, caramba. Eu tinha esquecido disso. Foi bizarro." Jacque fez uma careta.
"Ei. Lucy, Ethel, foco," Sally interrompeu.
"Ah, certo." Jen balançou a cabeça. "Então, chocada, porque ele era o último lobo que eu esperava ver. Para piorar, ele foi doce. O que só me irritou..." Jen parou, lembrando como Decebel havia momentaneamente ido para outro lugar enquanto olhava em seus olhos.
"O quê?" Sally perguntou.
"Provavelmente não é nada, mas houve um momento em que ele estava me olhando e meio que se desligou. Tive que dizer o nome dele várias vezes antes que ele voltasse. Então senti ele se afastar, se é que faz sentido. Quero dizer emocionalmente. Foi como se ele erguesse uma parede entre nós."
"Hmm, parece que é hora de eu investigar," Jacque disse.
"Ah, por favor. Sabemos que suas habilidades de detetive são lendárias." Jen revirou os olhos.
"Ei, só estou aprimorando minhas habilidades," Jacque disse indignada.
"O que você disser, Sherlock," Jen provocou.
"Certo, então conta o resto. O que mais ele disse?" Sally perguntou ansiosamente.
Jen procedeu a contar a elas, a pedido insistente, palavra por palavra o que foi dito entre ela e Decebel. E, como de costume, Jacque e Sally passaram o resto da noite dissecando a conversa. Jen jurava que elas tinham isso como uma forma de arte.