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"Você não acha que deveria ligar para ele?" Jacque perguntou a Fane enquanto caminhavam até o carro, movendo-se devagar para não escorregar no chão coberto de neve. Fane abriu a porta do passageiro para Jacque, mas ela não entrou. Ele percebeu que ela não se moveria até que ele respondesse todas as suas perguntas.

"Meu pai é quem vai decidir se Decebel deve ser chamado."

"Isso não é bom o suficiente," Jacque rosnou. "Não quando é minha amiga que está possivelmente cometendo o maior erro da vida dela." Ela se virou e, equilibrando-se com os braços abertos no chão escorregadio, voltou para a mansão.

Sally estava ao lado de Fane, com os braços cruzados na cintura tentando afastar o frio. Ela observou sua amiga partir. "Ela vai dizer ao seu pai o que ele deve fazer, não vai?"

"Eu continuo dizendo a ela que isso vai morder ela na bunda um dia desses."

Jacque empurrou a porta do escritório de Vasile sem bater. Alina estava em frente à mesa de Vasile e Jacque parou ao lado dela.

"Não se incomodem comigo. Continuem," Jacque disse a eles quando ambos pararam de falar para olhar para ela.

"O conceito de bater na porta de alguma forma diminuiu quando você deixou seu país?" As sobrancelhas de Vasile estavam erguidas.

"Peço desculpas, Alpha, mas é importante," ela respondeu e ficou orgulhosa quando sua voz saiu firme.

Alina envolveu um braço ao redor dos ombros de Jacque. "O que é importante?"

"Acho que Vasile deveria ligar para Decebel e dizer a ele para ir falar com Jen. Acho que Jen o ouviria," Jacque explicou.

"O que te leva a acreditar que Jen ouviria Decebel?" Vasile perguntou. "Pelo que entendi, ele era o motivo pelo qual ela estava indo embora."

A mandíbula de Jacque caiu. "Ela te disse isso? Ela realmente te contou como se sentia em relação a ele?"

"Bem, não com tantas palavras, mas eu vi como ela olhou para ele na sua cerimônia. Só há uma razão para uma mulher olhar para um homem daquele jeito." Vasile piscou para sua companheira.

"Vasile, pare de torturar sua nora," Alina repreendeu. "Vá em frente e conte a ela."

"Contar o quê?" Jacque perguntou ansiosa.

"Liguei para Decebel logo depois que você saiu do meu escritório."

"Você ligou?" Jacque perguntou com a testa franzida. "O que ele disse? Ele vai buscá-la? Ele se importou?"

"Calma, pequena." Alina riu.

Vasile se levantou da mesa e caminhou até Jacque. "Não posso falar pelos sentimentos de Decebel. Embora, o rosnado que ele soltou quando eu disse que Jen estava indo embora levaria a crer que ele sente algo por ela. E sim, ele vai vê-la. Espero que Sorin consiga continuar atrasando o avião sem que Jen desconfie."

"Droga," Jacque lamentou. "Ela provavelmente já saiu do avião e decidiu nadar até a América do Norte. Estamos falando da Jen. Ela desconfia de tudo."

"Eu aconselho que vocês três fiquem aqui e deixem Decebel lidar com isso por enquanto," Vasile disse seriamente, deixando claro para Jacque que era mais uma ordem do que um conselho.

Jacque assentiu e saiu do escritório em busca de Fane e Sally. Eles estavam onde ela os havia deixado, ao lado do carro.

"E aí?" Sally perguntou.

"Ele já tinha ligado para ele," Jacque contou a eles.

"Há uma razão para ele ser o Alpha," Fane provocou.

"É, é. Aproveite, lobinho," Jacque disse, estreitando os olhos para seu companheiro. "Seu pai aconselhou que ficássemos aqui e deixássemos Decebel cuidar disso."

"Então, ele vai buscá-la?" As sobrancelhas de Sally se ergueram surpresas.

"De acordo com Vasile."

"Se eu pudesse ser uma mosca naquele avião..." Sally disse enquanto esfregava as mãos.

"Eu sei, né?" Jacque concordou.

Com a decisão tomada, Jen acelerou os passos em direção à saída do avião. Ela pegou a maçaneta, puxou-a e caminhou direto para uma parede sólida.

"Ummph" Jen grunhiu, depois congelou. Ela conhecia aquele cheiro. Ótimo, pensou, lá vou eu de novo com essa coisa de cheiro. Mas ela realmente conhecia aquele cheiro: amadeirado, picante e masculino. Um macho muito, muito irritado. Ela deu um passo para trás e lentamente levantou o queixo para olhar o rosto do lobo cuja memória a assombrava há dois meses.

"Indo a algum lugar, Jennifer?" Decebel perguntou, com os olhos semicerrados e os lábios apertados.

Jen olhou para os olhos âmbar brilhantes. Ela não conseguia falar, não conseguia se mover, e naquele momento até respirar parecia ser demais para seu corpo. O feitiço foi quebrado quando ela ouviu Decebel rosnar e percebeu que estava olhando diretamente nos olhos dele. O lobo dele veria isso como um desafio. Ela deu um passo para trás, mas, desafio ou não, não desviou o olhar. Lentamente, a raiva e a dor que a atormentavam voltaram, fluindo por seu corpo entorpecido, dando-lhe vida e a capacidade de falar novamente.

"Na verdade, estou indo a algum lugar. Não que seja da sua conta." Jen levantou uma sobrancelha enquanto cruzava os braços sobre o peito. "Então, se você puder sair, eu posso seguir meu caminho." Jen não podia acreditar na dor que perfurou seu coração ao dizer a Decebel para ir embora. Ela teve que usar toda sua força para não estremecer com suas próprias palavras.

Indiferente à atitude altiva de Jennifer, Decebel entrou no avião. E, a menos que Jennifer quisesse seu peito pressionado contra o dela, fez com que ela desse mais um passo para trás.

"Eu tenho que discordar de você. Eu considero muito da minha conta quando se trata de você."

Decebel observou as emoções passarem pelo rosto de Jennifer, tão transparentes para ele. Ele esperou que ela respondesse, sabendo que seria espirituosa e afiada, uma das muitas coisas que ele admirava nela. Ela não decepcionou.

"Engraçado isso," ela começou. "Se eu sou tanto da sua conta, onde você esteve nos últimos dois meses? Se eu sou tanto da sua maldita conta, então você deve ter uma desculpa fenomenal para não ter vindo nem ao meu aniversário de dezoito anos." Jen não conseguiu esconder a mágoa por trás de suas palavras. Ela abaixou a cabeça, mordendo o lábio para não chorar. Não funcionou.

Decebel deu um passo à frente, atraído por ela por razões que ele ainda não entendia. Tudo o que ele sabia era que ficar ali vendo-a magoada era insuportável para ele. Ele colocou os dedos sob o queixo dela e levantou seu rosto para olhar em seus olhos cheios de lágrimas. Naquele momento, ele estava em um tempo e lugar diferentes. Ele olhou para um rosto com olhos verdes, não azuis. Um rosto com cabelos castanhos escuros emoldurando-o em vez de loiros. Ele assistiu enquanto segurava seu corpo frágil em seus braços, sua vida se esvaindo. Ele segurou até que sua forma estivesse imóvel, apenas uma casca deixada para murchar da terra.

"Decebel." O som da voz de Jennifer o trouxe de volta ao presente, mas a memória daquele corpo sem vida o lembrou do que acontecia quando ele se importava com alguém, do que acontecia quando ele não conseguia manter aqueles que amava seguros. Ele soltou a mão do queixo dela e deu um passo para trás, não perdendo a mágoa que passou pelo rosto dela.

"Você é da minha conta porque é a melhor amiga da companheira do meu príncipe. Como Beta, é meu trabalho mantê-la segura," ele respondeu, seu comportamento de repente muito mais formal.

"Bem, estou te liberando desse trabalho ao ir embora. Então, sem preocupações, Dec. Sou perfeitamente capaz de sentar em um avião sozinha." Jen se virou para voltar, mas não foi longe antes de sentir uma mão forte fechar em seu braço. Decebel a virou para encará-lo e ela pôde ver emoções passando pelo rosto bonito dele. Pela vida dela, ela não sabia o que eram.

"Você não vai embora, Jennifer. Jacque precisa de você e Sally agora. Por algum motivo, pensei que você não fosse o tipo de amiga que abandona aqueles que dependem de você." Decebel achou que a maneira mais fácil de fazer Jennifer cooperar seria irritá-la e apresentar-lhe um desafio.

Jen puxou o braço da mão de Decebel. Ela endireitou os ombros e ficou o mais ereta que pôde. Então, deu um passo à frente e ele jurou que tinha que haver vapor saindo da pele dela. Ela enfiou o dedo no peito de Decebel enquanto o encarava.

"Primeiro, você não sabe nada sobre mim, então não ouse me dizer que tipo de amiga você acha que eu sou. Segundo, eu nunca, jamais abandonaria uma das minhas amigas. Ao contrário de um certo canino peludo que eu conheço, eu não saio sem lidar com o que minhas amigas precisam. Jacque sabe que eu preciso voltar para os Estados Unidos. Ela tem Fane e Sally."

"É mesmo?" Decebel desafiou.

"Sim, Cujo. É isso mesmo." O queixo de Jen se projetou para frente enquanto ela rangia os dentes.

"Se Jacque é tão compreensiva, então por que ela foi até Vasile para pedir que ele me chamasse para vir te buscar?" O olhar no rosto de Decebel quando ele terminou de falar era o de um gato que acabara de pegar um passarinho. Ele observou enquanto a mandíbula de Jennifer caía com suas palavras. Ele ficou em silêncio e deixou a informação se estabelecer. Finalmente, ela olhou novamente em seus olhos – a única, além de seu Alpha, que tinha permissão para fazer isso – e passou a mão pela testa.

"É por isso que você veio, porque Vasile te mandou?"

Decebel podia ver que sua resposta tinha o poder de esmagá-la e possivelmente afastá-la, tornando mais fácil manter distância. Ele olhou nos olhos azuis dela, olhos que imploravam por verdade, dolorosa ou não.

"Vasile me ligou." O rosto de Jennifer caiu, então Decebel continuou rapidamente. "Mas ele não me ordenou a vir te buscar."

A cabeça dela se ergueu com suas palavras, seus olhos procuraram qualquer indício de mentira no rosto dele. Decebel tinha certeza de que ela perguntaria por que ele veio, mas em vez disso, ela respirou fundo. De repente, ela parecia cansada, derrotada.

"Tá bom, eu vou ficar. Mas não porque você disse que eu tenho que ficar. Vou ficar por Jacque." Jen foi contornar Decebel e sair pela saída do avião. Quando ela empurrou a porta e sentiu o ar frio de dezembro e o sol em seu rosto, ela se virou para o lobo que a observava silenciosamente. "Eu vou ficar, mas você precisa garantir que fique fora do meu caminho. Eu não preciso que você pense que preciso de um irmão mais velho para cuidar de mim e me dizer o que fazer, então não faça." Ela saiu do avião e o ar fresco e gelado queimou seus pulmões. Sorin estava com a porta do passageiro aberta para ela.

Decebel olhou para o espaço vazio que havia sido Jennifer. Ele fechou os olhos e respirou fundo pelo nariz, apreciando o cheiro dela. Balançando a cabeça, ele abriu os olhos.

"Jennifer," ele sussurrou seu nome reverentemente para o avião vazio. "Definitivamente não te vejo como uma irmã, e não acho que conseguiria ficar fora do seu caminho, mesmo que quisesse."

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