3 - Nessie
"Vou matar aquele desgraçado por interferir. Não me importa que ele já esteja morto." – Nessie
Quando Darkness finalmente voltou para seu quarto, encontrou as duas garotas do clube ainda dormindo, enroscadas uma na outra. Não querendo perturbá-las, ele pegou um travesseiro extra e um cobertor cinza leve. Esticando-se no chão, deixou sua mente vagar de volta para a jovem com insônia.
Quem poderia ser ela? Ela era muito inocente para ser uma prostituta. Talvez uma irmã? Nessie tinha dito que algumas garotas só trabalhavam na cozinha e não se prostituíam. Talvez ela fosse uma das funcionárias da cozinha.
De qualquer forma, Nessie provavelmente poderia dizer quem ela era. Com esse pensamento, o sono que geralmente o evitava finalmente o dominou.
A luz rosa pálida do amanhecer espiava entre as cortinas, acordando-o. Darkness se levantou e esperava ver as duas garotas ainda dormindo. Elas tinham ido embora e a cama estava desfeita, os lençóis estavam reunidos em uma pilha ao pé da cama. Ele tirou a fronha do travesseiro e jogou-a, junto com o cobertor, na pilha. O travesseiro nu foi para a pequena pilha de outros travesseiros no centro do colchão, próximo à cabeceira.
Nada mais estava fora do lugar. Algumas das prostitutas em casa o roubariam cegamente se acordassem com ele dormindo. Essas garotas eram diferentes. Não só eram tratadas de maneira diferente, mas também se comportavam com dignidade e respeito.
Ontem, quando os Cajuns e os Renegades chegaram, foram levados ao refeitório. O fato de terem um restaurante dentro do clube era muito incomum para um clube.
O grande hotel que havia sido transformado em clube tinha um restaurante totalmente licenciado dentro dele. Acima da janela de serviço para a cozinha, o refeitório tinha uma placa de madeira escura que Darkness supôs ter cerca de um metro de altura e o dobro disso em comprimento, com Cozinha da Nessie e um desenho do Monstro do Lago Ness embaixo das letras.
Sentado dentro da Cozinha da Nessie, havia um homem que parecia Danny Trejo, que se apresentou como Spider. Então ele explicou algumas coisas sobre o clube. Havia muitas crianças por perto e, portanto, qualquer atividade com as garotas do clube seria a portas fechadas. E quando elas não estivessem trabalhando. Se fossem pegas roubando, perderiam o emprego, o lugar para ficar e todos os benefícios de estarem associadas aos Saints.
Pensando nisso, Darkness tirou o jeans e entrou no chuveiro do banheiro anexo. Não demorou muito para esfregar seu grande corpo. Ele apreciava o chuveiro largo e o chuveiro alto. Se algum dia construísse sua própria casa, esse seria o modelo para seu banheiro.
Enxaguando o último resquício de sabão, ele pensou no suave cheiro de baunilha que impregnava a pele dela. Quase como um biscoito de açúcar quente. Tentador. De dar água na boca.
E o estranho cheiro de água sanitária. Talvez ela fosse da equipe de limpeza.
Vestido com seu jeans, camiseta preta, botas e o colete dos Cajuns, ele saiu do quarto e se dirigiu ao refeitório. A sala já estava cheia de homens, ele tinha sido informado que quase todos trabalhavam nas empresas de construção e nas lojas. Havia um grupo de adolescentes reunidos em torno de uma mesa. Várias famílias estavam comendo juntas.
"Darkness." Toad disse e ele se aproximou do presidente. "Você já comeu?"
"Não, acabei de descer." Ele admitiu e então sorriu. O presidente definitivamente saberia quem ela era. "Tive dificuldade para dormir ontem à noite, mas isso não é novidade."
Nessie apareceu ao lado deles, seus olhos verdes brilhando de raiva e outra emoção que Darkness não conseguiu identificar. "Preciso falar com você."
"OK. Me dê só um segundo. Ontem à noite, enquanto eu estava andando por aí, conheci-." Nessie agarrou sua orelha e o arrastou para longe. "Ai! Que porra é essa, mulher?"
Ela o arrastou pela cozinha e até seu escritório. A porta se fechou atrás deles, e ele ouviu o clique da tranca antes que ela o soltasse. Uma grande mão subiu para esfregar sua orelha agora sensível.
"Sente-se." Nessie ordenou, indo até a outra porta e trancando-a também. Quando se virou, ele ainda estava de pé, e ela repetiu a ordem.
Ambos se sentaram em lados opostos da mesa.
"Você ouviu uma voz ontem à noite e ela te levou até ela."
Ele assentiu. "Você sabe quem ela é?"
"Sim. Ela será sua luz. Você não deveria tê-la encontrado ainda. Não a procure."
"Eu preciso dela. Você entende isso." Se alguém entenderia o equilíbrio necessário entre a luz e a escuridão do mundo, seria essa mulher que podia ver nas sombras.
"Sim, eu entendo." Nessie suspirou. "Ele deveria ter mantido a boca morta fechada. A garota não está pronta para ser sua luz."
"Estou perdendo minha batalha." Ele admitiu suavemente. Mesmo agora, ele podia sentir a escuridão opressiva se aproximando ao seu redor.
Ela assentiu. "Eu vejo isso te engolindo. Ele também vê. É por isso que ele te levou até ela. Se você a procurar agora, ela não virá até você. E você precisará dela mais tarde."
"O que eu faço?" ele podia ouvir o desespero em sua própria voz.
"Conforte-se em saber que ela está por aí. Ela virá até você quando for a hora. Não antes."
"Eu preciso da luz dela." Ele implorou.
"Eu sei. Não a procure. Ela não está aqui. Mas ela virá até você."
"E se eu só quiser vê-la? Nada mais. Eu só preciso da luz dela."
Nessie balançou a cabeça. "Não faça isso. Se você a perseguir agora, perderá muito mais do que apenas a luz dela."
Assentindo, ele se levantou e saiu do escritório com toda a intenção de seguir as ordens dela. Mas então ele voltou para o refeitório. Toad acenou para ele voltar.
"Minha sobrinha tem a tendência de pensar que manda no clube." Toad sorriu e os Saints na mesa riram. "E ela estaria certa."
"Verdade." Um homem mais velho com cabelo loiro sujo disse.
"Toad disse que você conheceu alguém ontem à noite durante suas andanças." Zydeco sorriu. "Como se as duas que você levou para a cama não fossem suficientes."
"Não estava pensando nela assim." Darkness disse balançando a cabeça. Embora, ele estivesse pensando nela assim.
"Minha filha disse que conheceu um Cajun ontem à noite no cantinho de leitura dela." O loiro disse. "Eu sou Trigg, presidente de um clube irmão."
"Ela lê a Enciclopédia quando não consegue dormir?" Darkness sorriu sentando-se.
"Sim." Ele riu. "O médico a colocou em remédios há alguns anos. Estava realmente afetando ela na escola."
"Os remédios ajudaram?" Zydeco perguntou. Era uma discussão comum. Zydeco se preocupava com a insônia que Darkness sofria. Até agora, ele tinha conseguido convencer a Marinha de que isso não o afetava. Ele não tinha certeza de quanto tempo mais poderia continuar assim.
"O primeiro a fez dormir por três dias seguidos. O segundo a fez perseguir fadas pela floresta na nossa sala de estar." Trigg balançou a cabeça ao lembrar. "Não temos uma floresta na nossa sala de estar."
"Eu me lembro das fadas." Toad riu.
"Eu também. E dos serviços sociais depois da emergência. O médico teve que ir ao tribunal e dizer ao juiz que ele realmente prescreveu o remédio para ela." Uma mulher disse sentando-se entre os dois presidentes. "Eu sou Sid."
"Você a colocou no ônibus?" Trigg perguntou puxando-a para perto.
"Sim." Ela disse tristemente. "Eu não estou pronta para que nosso bebê cresça."
Trigg beijou o cabelo dela. "Você tem mais um ano antes que ela se forme no ensino médio."
"Ela é tão jovem e já sofre de insônia?" Santa perguntou.
Ninguém percebeu que Darkness estava abalado com a revelação repentina. Ela era apenas uma criança. Ele tinha beijado uma criança. Ele se sentiu enojado consigo mesmo.
Sentindo olhares sobre ele, ele olhou para cima e encontrou Nessie, dando-lhe um olhar compreensivo. Levantando-se, ele caminhou em direção a ela.
"Ela é uma prospect." Nessie disse a ele. "Isso é tudo que vou te dizer. É tudo que você precisa saber."
"Eu a beijei." Ele sussurrou baixinho.
"Eu sei." Nessie olhou para cima com olhos verdes pálidos que pareciam olhar diretamente para sua alma. "Não há nada que eu possa dizer que te tranquilize. A única coisa que posso te dizer é que ela também sente a atração. Ela é atraída por você, assim como você é atraído por ela."