




1- O desconhecido
PONTO DE VISTA DE GIULIA SANTORI
"Droga, estou atrasada!" murmuro.
Olho para o despertador ao lado da cama, que marca sete da manhã. Ele não tocou na hora esperada, me fazendo começar o dia um pouco irritada.
Pulo da cama, tiro o pijama e corro para o banheiro para começar minha rotina matinal. Tomo um banho quente, visto roupas confortáveis e depois tomo café da manhã.
Encaro meu reflexo no espelho, vestindo jeans, uma blusa branca e um moletom preto para me proteger do frio atual em Milão e, de certa forma, para esconder as curvas do meu corpo com o casaco pesado, já que sou um pouco tímida. Termino com tênis pretos casuais. Meu cabelo é longo e escuro, então o prendo em um rabo de cavalo arrumado. Aplico um toque de blush nas minhas bochechas pálidas, um rímel leve para realçar suavemente meu olhar e um gloss transparente para destacar meus lábios, e estou pronta.
Pego a bolsa que uso para carregar minhas coisas e desço as escadas de madeira que levam à sala de estar e cozinha integradas. Moro sozinha em um bairro residencial tranquilo. A casa não é uma mansão, mas é confortável o suficiente para uma vida pacífica.
O café da manhã é apressado, pois estou sem tempo. Rapidamente coloco cereal e leite em uma tigela, e assim que termino, saio apressada. Passando pelo pequeno jardim da frente, observo o tempo. Está nublado hoje, e considerando a hora, a atmosfera está calma, com pouca atividade.
Preciso pegar o ônibus, que fica a cinco minutos da minha casa. Sua rota inclui a Universidade Luigi, onde estudo Música, e esse é meu destino final.
Não demora muito para o ônibus chegar, parando para os passageiros que esperam, e eu entro.
"Bom dia, Giulia!" o motorista cumprimenta educadamente.
É uma rotina diária, então o motorista já está familiarizado com minha presença ali nesse horário na maioria dos dias.
Olho pela grande janela do ônibus. Milão é completamente diferente de Bolzano, uma pequena cidade a alguns quilômetros de distância, onde nasci e onde meus pais ainda moram. Às vezes, me sinto um pouco solitária, mas a universidade me mantém ocupada, ajudando a aliviar esse sentimento.
Cerca de quarenta minutos depois, chego à universidade. Desembarco rapidamente do ônibus, agradecendo ao motorista, Antoine, e corro para não perder a primeira aula.
Quando entro na sala de aula, o professor começa sua palestra diária, e eu agradeço silenciosamente à minha sorte por ter chegado a tempo de pegar a maior parte da explicação.
"Com licença, professor," digo suavemente e timidamente.
Ele concede permissão, e eu fico aliviada. Imediatamente vou para meu assento habitual, e algumas pessoas ao meu redor me olham. Meu rosto fica quente de tanto corar. Odeio ser o centro das atenções.
A aula continua sem problemas; hoje é principalmente teórica. Absorvo todas as explicações atentamente; sempre me dediquei a ser uma aluna exemplar e a dar o meu melhor.
"Parabéns, Giulia. Suas notas foram as melhores da turma," elogia o professor.
Sempre fui tímida e imersa no meu mundo desde jovem. Usei a música para me elevar, me sentir mais aberta e acalmar momentos de tristeza.
A aula de hoje é em período integral, o que significa que ocupa a maior parte do dia. O almoço é fornecido na cafeteria do campus, um lugar aconchegante onde os alunos podem ficar sem precisar sair. Sento sozinha em uma das mesas e faço minha refeição.
"O de sempre?" pergunta a garçonete, com seu sorriso sempre presente.
"Sim, por favor... Estou faminta," afirmo, retribuindo o sorriso.
Depois de terminar a refeição, há um momento de lazer, e escolho fazer uma das minhas coisas favoritas: tocar piano. Uma sala com instrumentos está disponível para os alunos, e aproveito o horário vago para sentar lá e tocar habilmente as teclas do piano, me imergindo no som perfeito que crio.
Volto para a aula depois disso, e há mais lições à tarde. Professores diferentes ensinam cada aula, mas estou familiarizada com todos eles, já que estou aqui há pouco mais de um ano.
Então, na hora de sempre, quando o dia chega ao fim, a última aula termina, e finalmente posso voltar para casa. Sigo o mesmo caminho até o ponto de ônibus da mesma linha, que me levará perto da minha casa.
"Como foi seu dia, Giulia?" Antoine sorri, sempre prestativo.
"Como sempre, Antoine. E o seu?" pergunto educadamente.
"Nada fora do comum até agora," ele ri.
Vou para um dos assentos vazios, e o mesmo trajeto de volta começa. Fecho os olhos, descansando a cabeça no assento do ônibus. Sinto-me cansada porque hoje foi um dia exigente em termos de aulas.
O sol já havia se posto, dando lugar à noite. O ônibus para na esquina a poucos minutos da minha casa. Desço, me despeço do motorista e volto para casa calmamente. Há pouca atividade na rua naquele dia, o que é esperado em um bairro tão tranquilo.
Mas, naquele momento, algo chama minha atenção. Logo à frente, há uma comoção estranha. É confuso entender o que está acontecendo, mas noto alguém correndo pela rua—provavelmente um homem, dada sua estatura alta e constituição muscular. Atrás dele, mais quatro homens seguem o mesmo caminho, e é nesse momento que entendo que é uma perseguição.
Estou muito perto da minha casa. Meus olhos se arregalam de choque com a cena diante de mim. O primeiro homem cai, e os outros se lançam brutalmente sobre ele, desferindo chutes e socos violentos, proferindo obscenidades que não consigo distinguir à distância.
Achei esse ato totalmente covarde. Saber que o homem sozinho não sobreviveria a esse ataque era injusto, pois ele não tinha meios de se defender. Não sei o que me deu, mas corri em direção a eles, gritando o mais alto possível, tentando salvar uma vida, mesmo que fosse de um estranho.
"A polícia está aqui!" grito o mais alto que posso.
Nesse momento, os homens param, trocando palavras incompreensíveis entre si. Um deles olha na minha direção, mas então eles fogem, indo na direção oposta até desaparecerem.
Olho para o homem no chão, se contorcendo e gemendo de dor. Meu coração está acelerado enquanto me aproximo dele. Ele precisa de ajuda. Deixo minha bolsa no chão e me ajoelho ao lado dele, sem saber o que fazer.
"Meu Deus, deixe-me... ajudar você," estou completamente confusa.
O homem coloca uma mão nas costelas provavelmente machucadas. Ele olha para o meu rosto, e mesmo coberto de sangue, consigo ver seu olhar fixo no meu. Nossos olhos se encontram por alguns segundos.
Minha atenção se desvia do olhar dele quando noto mais pessoas se aproximando, e fico alarmada. Temo que possam ser os mesmos homens que o atacaram, e nesse caso, estaríamos ambos em perigo.
"Vittorio... Vittorio, droga!" um deles grita.
À medida que se aproximam, percebo que não são os mesmos homens de antes. São conhecidos do homem que agora está horrivelmente ferido no chão. Um deles o ajuda com dificuldade, e eu dou alguns passos para trás, ainda atordoada com a situação.
"Ele estava sendo atacado, e eu... eu gritei. Eles correram para lá," aponto nervosamente na direção em que fugiram.
"Você está sozinha?" Ele me pergunta, olhando para mim com desconfiança.
"Sim," respondo, minha voz trêmula.
Eles me olham confusos, como se não pudessem acreditar que consegui fazer isso sozinha. Olho para o homem mais uma vez; agora que ele está de pé, apesar dos ferimentos e da aparência ensanguentada, posso ver que ele é bonito, com barba e traços italianos, um corpo atlético vestido com roupas formais pretas.
"Obrigado por salvá-lo. Precisamos cuidar desses ferimentos... vamos!"
Um deles expressa gratidão, gesticulando para os outros que ajudam o homem, aparentemente chamado Vittorio, a entrar em um carro luxuoso e escuro estacionado a poucos metros de distância.
Fico parada por alguns minutos, observando o carro se afastar. Coloco a mão sobre o peito, meu coração acelerado, ainda lutando para acreditar no que aconteceu. Pego minha bolsa do chão e caminho em direção à minha casa, tentando me acalmar e esquecer aquele incidente aterrorizante.