




Capítulo 2
Ao chegar ao estacionamento subterrâneo do hospital, estacionei o carro na minha vaga e fui até o elevador, que me levou à recepção. Quando as portas se abriram, comecei a caminhar, observando o número de pacientes sentados, esperando para serem atendidos pelos médicos.
Enquanto olhava, notei que as idades das pessoas eram bastante variadas. Passei pela recepcionista cumprimentando-a, e ela me respondeu com um breve sorriso; fiz o mesmo com os seguranças. Quando terminei meus cursos na universidade e vim trabalhar no hospital universitário, não demorou muito para fazer amigos, a maioria das pessoas era gentil e amigável. Embora alguns dos médicos fossem arrogantes e antipáticos, nunca deixei que isso me afetasse ou me fizesse menos feliz por estar ali.
Chegando ao vestiário onde guardávamos nossos pertences, cada um em seu respectivo armário, como na escola, encontrei alguns dos médicos que não faziam parte das pessoas legais do hospital. Sempre pareciam mesquinhos e achavam que eram melhores do que todos os outros. Eles me olharam de cima a baixo com completo desdém e saíram, sem nem dizer bom dia, mas não deixei que isso me abalasse. Em seis meses, se trocamos algumas palavras, foi apenas o essencial para realizarmos algum trabalho. Um deles trabalhava na área de neurologia, e o outro em cardiologia. Muitos entravam aqui com as especialidades já escolhidas, eu, por outro lado, persistia em não escolher, embora meus superiores chamassem minha atenção. Mesmo não sendo uma obrigação, eu poderia ter escolhido clínica geral. Era algo a se pensar. O doutor Vladmir, além de ser o clínico geral do hospital, era chefe e também professor. Foi ele quem me recomendou para este hospital e estava sempre presente nas consultas. Sua experiência ajudava de várias maneiras.
Coloquei a bolsa na prateleira do meu armário, abri-o, tirei meu jaleco e o vesti, depois saí daquela sala e caminhei até o quadro, procurando meu nome. Naquele dia, eu atuaria na minha ala favorita, a melhor de todas. Tirei meu caderno, copiando as informações do quadro. Graças a esse caderno, eu não me perdia nas minhas tarefas.
Meu plantão começaria no minuto em que eu terminasse minhas anotações e me dirigisse à obstetrícia, onde uma mãe de segunda viagem estava esperando. Embora eu achasse que era a área mais bonita para se trabalhar, poder segurar uma vida recém-nascida nos braços e receber todos os sentimentos maternos, e confortar pacientes era sempre um desafio. Mas, eu fazia o meu melhor para tornar o parto, mesmo quando difícil, confortável. Eram nove horas da manhã e eu ainda estava esperando a dilatação completa.
"Me dá mais remédio, por favor! Eu não aguento mais essa dor!" a paciente gritou.
Embora eu tivesse dado muitos analgésicos para manter a dor dela no mínimo, ela continuava reclamando.
"Eu não posso medicá-la de novo, senhora," informei, vendo-a respirar pesadamente, reprimindo a dor, "no corpo dela já há quantidades muito altas de..."
"NÃO IMPORTA, PORRA!" ela gritou, se contorcendo e agarrando os cantos da cama com toda a força.
O marido dela, ao lado, tentava acalmá-la.
"Esse bebê não vai sair, INFERNO!"
Instrui-a a fazer os exercícios de respiração para ajudar na dilatação, e ela fez, com muita dificuldade. Também aconselhei o marido a ajudá-la a se manter calma, com amor e carinho. Ver ele ajudando-a era bonito. A paciente estava dando à luz uma menina, mas não parecia muito feliz por ter um segundo bebê; por outro lado, o marido estava radiante.
"Minha joaninha, aguenta só mais um pouco!" ele encorajou, "Nossa menininha vai nascer!"
"JOANINHA É O CARALHO, SEU CABEÇÃO!"
Ela xingava e gritava. Verifiquei a dilatação e me certifiquei de que o bebê estava prestes a nascer.
"Estou sofrendo para dar à luz sua filha!"
"Senhor, por favor, ajude sua esposa. A dilatação está completa e suficiente para o parto," informei sem demora.
"Oh! GRAÇAS A DEUS!" A mulher ficou eufórica ao ouvir a notícia, mas então respirou fundo, controlando a ansiedade.
"Vamos, Dylan! Me ajuda!"
A contração veio mais forte e ela gritou de dor. O marido deu a mão a ela, como forma de apoio, e comecei a instruir:
"Vamos, empurre!"
"C-certo!"
Iniciamos o procedimento da forma mais calma possível. Esse era meu terceiro parto em seis meses, mas o nervosismo sempre me atingia. Respirei fundo para me acalmar e não correr o risco de preocupar a paciente.
Não demorou muito para a paciente começar a empurrar. Durante o processo, ela chorava e respirava pesadamente, e percebi que o marido dela tinha se tornado um manequim de vitrine perfeito.
Céus! Que esse homem não desmaie agora! pensei, preocupada.
"Isso aí, mamãe!" - encorajei, quando vi algo parecido com um grande caroço aparecer no meio do sangue da vagina dela.
"Eu consigo ver a cabeça! Empurre!"
Ouvi um barulho alto na sala. Como eu havia previsto, o marido desmaiou, mas foi rapidamente ajudado pelas enfermeiras que me acompanhavam.
"Seu merda!" Oh!
Ela estava furiosa, aplicando mais força. Fiquei assustada com o bebê escorregando para fora da vagina dela. Pisquei três vezes para me recompor e cortei o cordão umbilical. Envolvi o bebê em um cobertor e o entreguei à mãe, que estava recuperando o fôlego.
"Seu bebê é lindo," elogiei o recém-nascido e a mãe sorriu, "Parabéns, mamãe!"
Ela pegou o pequeno pacote e beijou o topo da testa dele. Mesmo cansada, não parava de sorrir e abraçar sua filha.
Às 11 da manhã o parto foi concluído e eu pude seguir com meu dia, de acordo com as anotações no caderno. Antes do almoço, fui visitar a mãe que ajudei no parto e notei que o marido estava ao lado dela, ele havia acordado. A esposa dormia e passaria uma noite no hospital, se recuperando, até receber alta na manhã seguinte.
De volta ao vestiário, tirei meu celular da bolsa e liguei para Noah, meu amigo que trabalha e mora aqui em Los Angeles, com Giovana. Eles compartilhavam um apartamento, não por razões financeiras, mas porque era algo que haviam planejado durante os anos do ensino médio. Noah era estilista e muitas vezes isso me salvava. Foi ele quem fez minhas roupas para a formatura da escola. Caindo no estereótipo dos homens no mundo da moda, Noah era gay e, para mim, era gratificante ter um amigo sem segundas intenções.
"Pequena, como você está? Estava esperando sua ligação."
"Noah! Estou ótima e você?"
"Estou bem. Fico feliz que tenha me ligado," ele respondeu.
"Liguei para almoçarmos juntos." Está livre? perguntei, esperando uma resposta positiva.
"Para você, estou sempre livre. Saiba disso."
"Eu pergunto por educação." Sorri, falando com um tom convencido.
"Devo chamar a Giovana? Ela está um caco, como sempre nos dias de folga!"
"Claro! Você sabe o quanto ela valoriza o sono." Respirei fundo, pensando onde poderíamos ir. "Que tal a Maccheroni Republic?"
"Perfeito! Até lá," ele disse, desligando.
Guardei meu celular e, sem demora, me dirigi ao estacionamento, entrei no carro e fui em direção à comida e, claro, aos meus amigos. Por Deus! O trabalho me dava fome! Estacionei no local combinado e entrei no restaurante. Vi Noah e Giovana sentados a uma mesa e fui até eles, notando as expressões de cada um quando me olharam.
"Por Deus! Que olheiras... " Giovana comentou sem demora.
"Não espere que uma residente médica durma regularmente," respondi enquanto puxava uma cadeira e me sentava.
"É só por esse motivo?" Noah perguntou, com um olhar questionador.
"Você sabe... sempre sou acordada pelos gritos do meu pai e, além disso, moro bem longe daqui, então não há a menor possibilidade de uma boa noite de sono."
"Eu não entendo. Por que você não vem morar aqui? Seria muito mais fácil e saudável," ele sugere.
"No nosso apartamento tem um quarto disponível, seria muito legal se nós três morássemos juntos."
"Deixe seu pai se virar sozinho! Você é maior de idade e está construindo sua carreira, não tem obrigação de sustentar aquele baba..."
"Noah!" Giovana interveio, antes que seu amigo concluísse a ofensa.
"O quê?! Só estou falando a verdade. Roberto não merece a filha que tem!"
"Vou pensar sobre isso."
"Você ainda está pensando?" Aquele bêbado não merece seus esforços. Você é um diamante no meio de...
"Noah! Segure essa língua, porra!" Giovana o repreendeu, mais uma vez.
"Tá bom, tá bom!" - Noah me olhou fixamente, mas suas sobrancelhas estavam abaixadas, de maneira suplicante - só pense com carinho, mas pense bem.
"Então..." Giovana mudou de assunto e, sorrindo para mim, perguntou "como foi seu dia no trabalho?"
Encostei minhas costas na cadeira de madeira e respirei fundo enquanto lembrava do que tinha feito antes de ir ao restaurante encontrá-los.
"Tive um parto hoje," revelei, ainda lembrando do momento fatídico.
"Nossa! Ariel fazendo partos. Deve ter sido exaustivo," disse Noah.
"Exaustivo? A paciente é que teve a xoxota rasgada," disse Giovana, exageradamente.
"Era isso ou uma cesárea, mas a paciente não quis."
"E se fosse necessário?" Tipo, se houvesse complicações? Noah perguntou.
"Então eu explicaria a situação e a convenceria."
"Que adrenalina."
"Nem me fale," eu disse.
Encerramos aquele assunto e chamamos o garçom para fazer o pedido. A comida ainda demoraria um pouco e teríamos mais tempo para colocar a conversa em dia. Quando o almoço chegou, ficamos em silêncio até terminarmos, tudo estava delicioso. Ainda tínhamos bastante tempo, então pedimos sobremesa e conversamos sobre o trabalho da Giovana. Ela trabalhava na famosa empresa do pai e se esforçava muito para que não pensassem que estava lá por nepotismo, porque além disso, ela era uma mulher muito trabalhadora. Além disso, ela tinha desentendimentos com o pai. Eles não se davam muito bem desde que ela descobriu que ele traía sua mãe. Mesmo com essa discórdia, Giovana continuou a morar com os pais, só se mudando quando a mãe faleceu.
Nos conhecemos desde o ensino médio. Somos praticamente os três mosqueteiros ou as três espiãs.