




Capítulo 10
Ariel Smith
Lidar com eles é mais fácil do que com adultos. Comecei a pensar que, afinal, queria formar uma grande família, encher minha casa de crianças, tanto naturais quanto adotadas, mas para isso, eu precisaria encontrar o homem ideal e sabia que ainda não era o momento.
Eram quase 18h e meu dia de trabalho estava prestes a terminar. Logo eu poderia ver meu novo apartamento. Mas, estava pronta para sair quando houve um acidente de trânsito, resultando em muitos feridos. Todos os médicos foram chamados e corremos para a sala de emergência. Mas assim que passamos pela porta, vimos vários homens vestidos de terno, alguns levemente feridos e outros baleados, o que me fez questionar se o que realmente havia acontecido era um acidente de carro.
Médicos e enfermeiros se mobilizaram para começar o atendimento e eu fiz o mesmo, mas antes de me preparar, o chefe, Dr. Vladmir, me guiou até uma maca. Havia alguns homens de terno ao redor dela e o chefe, que parecia nervoso, disse:
— Vamos, Ariel, preciso que você atenda este homem, ok? Os outros já estão sendo atendidos!
Nos aproximamos da maca e os homens abriram espaço. Eu encarei meu paciente, que vestia um sobretudo preto. O chefe se aproximou e falou, como se o conhecesse:
— Desculpe pela demora, Sr. Drummond. Esta aqui é a Dra. Smith, ela vai cuidar dos seus ferimentos. Você está em ótimas mãos!
Dito isso, Dr. Vladmir se afastou, me deixando entre a dúzia de homens que cercavam o paciente. Eles não se afastaram e, com o coração na mão, comecei meu trabalho.
no momento...
Enfrentei os brutamontes, passando por eles e tentando fazer meu trabalho. Como por reflexo, um deles começou a bloquear meu caminho, mas ao notar que eu estava de jaleco, abriu espaço, permitindo que eu começasse o atendimento. Coloquei as luvas descartáveis e, pela primeira vez, encarei o paciente. O homem era um colírio para os olhos, uma delícia de se ver. Ele tinha cabelo preto e olhos azul-claros em um rosto sério que o tornava ainda mais bonito, um verdadeiro Deus.
Um homem bonito assim, acompanhado por seguranças, deve ser modelo, atleta, ator de cinema ou empresário, percebi, após avaliar discretamente as roupas formais e elegantes que o tornavam ainda mais atraente. Timidamente, me apresentei e pedi que ele tirasse o casaco e a camisa. Um segurança se aproximou para ajudá-lo, mas algo estranho aconteceu. Meu paciente, Arthur Drummond, como constava na prancheta, lançou um olhar intimidador para o homem e tirou as roupas sem assistência.
Controlei meus olhos, que queriam vagar pelo peito nu dele, respirei fundo e olhei para o braço dele, ferido por uma bala. Me aproximei, tocando sua pele com minha mão enluvada e notei que ele me olhava de forma estranha, como se estivesse surpreso ao me ver. Mas poderia ter sido apenas uma impressão, afinal, eu tinha tido um dia muito agitado e estressante.
Enquanto avaliava o ferimento no braço dele, podia ver a impaciência dos seguranças e começava a me sentir como um inseto ao redor dos brutamontes. Embora eu soubesse que era bonita, nunca tinha sido cercada por tantos homens bonitos e viris como naquele momento. O paciente também era um exemplo de virilidade, parecia uma rocha, afinal, tinha sido baleado no braço e não reclamou de dor nenhuma vez, nem mesmo quando toquei o ferimento, avaliando a extensão do dano.
Mas ele logo quebrou o silêncio:
— O que está esperando para me sedar? — Perguntou, arrogantemente.
A atitude dele me surpreendeu. Meu dia tinha sido exaustivo e eu não aceitaria ser tratada daquela forma por um paciente. Umedeci os lábios e controlei as palavras verdadeiras, dizendo:
— Sr. Drummond, estou avaliando o ferimento, por favor, tenha um pouco de paciência.
— Você é incompetente, faça seu trabalho direito!
— Estou avaliando seu braço e claramente fazendo meu trabalho, agora fique quieto e cale a boca!
Fui rude da mesma forma que ele, não consegui controlar minha boca e acabei respondendo com a mesma grosseria com que ele falou comigo. Mas instantaneamente um frio intenso percorreu meu corpo. Meu instinto me disse que eu tinha errado ao falar com o paciente daquela forma, mas não importava. O que era bonito no filho da mãe também era rude e arrogante. Sua aparência física mal importava mais, se um homem é bonito, mas arrogante, ele perde seu charme.
Anestesiei o ferimento e removi a bala. Depois de me certificar de que não havia sangramento interno, costurei e me preparei para falar com o paciente rude. Descartei as luvas, fazendo um som com a garganta, para que ele tirasse a atenção do celular e olhasse diretamente para mim. No aparelho, pensei ter visto uma foto minha, mas ele bloqueou a tela e olhou para mim, esperando que eu falasse.
— Acabei de costurar seu braço e aconselho que fique no hospital, sob observação, por pelo menos uma hora, mas se preferir, posso liberá-lo agora — disse educadamente, deixando a grosseria de lado.
Ele não respondeu e o jeito como me olhava me deixou constrangida. Decidi que não esperaria uma resposta dele e virei as costas para ir embora. Mas, após dar alguns passos, senti meu pulso esquerdo ser agarrado e, assustada, virei o corpo para ver quem estava me segurando. Era o paciente Arthur Drummond e fiquei surpresa, afinal, a mão que segurava meu pulso firmemente era do mesmo braço que havia sido baleado.
— Eu não autorizei sua retirada — Arthur disse, com a voz seca e baixa.
— Eu não preciso da sua autorização — respondi rapidamente, por reflexo.
Ele me lançou um olhar assustador e comecei a me sentir apavorada, mas, tentando ser firme, consegui dizer:
— Você pode ir, está liberado!
Seus olhos se estreitaram e ele deu um sorriso cruel enquanto falava:
— Agora você pode ir.
Dando passos longos e com a adrenalina circulando pelo meu corpo, saí da sala de emergência e fui para o vestiário pegar meus pertences. Me dirigi ao estacionamento e entrei no carro. Colocando minha bolsa no banco do passageiro, peguei a chave e liguei o veículo. O motor ronronou suavemente e tive a estranha sensação de estar sendo observada. Olhei ao redor do estacionamento, mas não vi ninguém. Ignorei a sensação, coloquei o celular no suporte, abri a localização que Giovana havia me enviado no GPS e, finalmente, fui ver meu novo apartamento.
Estacionei o carro e, ainda dentro do veículo, olhei para o prédio, era enorme. Não sabia se tinha cometido um erro ou se estava no lugar certo. Conferindo o endereço e percebendo que era ali mesmo, saí do carro e caminhei em direção à rua.
Meu novo endereço.
No 12º andar, saí do elevador e fui até o número do apartamento. Ao girar a maçaneta, percebi que a porta estava aberta. Achei estranho, mas entrei, procurando o interruptor, apertei o primeiro botão na parede e algumas luzes se acenderam.
“Surpresa!“
Fiquei assustada com os gritos de Giovana e Noah, mas logo os reconheci e percebi que nas mãos de Noah havia um enorme bolo de chocolate e nas de Gio, três latas de refrigerante.
“Querem me matar de susto?“
Joguei minha bolsa no sofá da sala e me aproximei deles. Noah estava dizendo:
“É o seu novo cantinho, Ariel, você realmente achou que a primeira vez que passasse por essa porta entraria sem nenhuma surpresa?“
Eles me mostraram o apartamento e fomos para a cozinha atacar o bolo. Comemos e conversamos sobre meu trabalho e o que aconteceu mais cedo. Escolhi não comentar sobre o paciente com o ferimento de bala porque, para mim, era desnecessário falar sobre pessoas rudes. Enquanto conversávamos, Giovana sugeriu uma festa em uma boate para celebrarmos minha nova fase de vida. Mas, honestamente? Para mim, festas eram cansativas. A boa e velha conversa entre amigos com petiscos saborosos, para mim, era o melhor tipo de festa ou celebração.
Às 21h, Gio e Noah voltaram para suas casas. Fechei a porta do apartamento, me virei e encarei a sala. Finalmente, estava sozinha e não ouvia nenhum ruído, era a paz que eu precisava. Vi que a geladeira havia sido abastecida pelo anjo da Giovana, coloquei as louças sujas na máquina e subi as escadas para o quarto.
Coberta por edredons, a cama parecia extremamente confortável. Me aproximei e sentei, confirmando meus pensamentos. Olhei para minhas malas, mas deixei para desempacotá-las no dia seguinte, afinal, seria meu dia de folga e se começasse a arrumar o armário naquela hora, não terminaria até o meio da manhã. Abri uma das malas e tirei apenas o moletom. A caminho do banheiro, me livrei das roupas e tomei um banho. Finalmente, estava pronta para deitar na cama muito convidativa do apartamento onde morava sozinha.
Apaguei as luzes do quarto e me deitei. Fui tomada pelo cansaço e pelo sono acumulado.