6 — Nenhum crime é perfeito
Nel
Na última semana, passamos por todos os tipos de informações potencialmente úteis e/ou inúteis que Greg conseguiu reunir na casa da alcateia; começando pela rotina diária de Milton, seus medicamentos e seus relatórios de saúde recentes até o cronograma das trocas de turno na casa da alcateia e vários cenários alternativos sobre como tirá-lo do caminho.
Hoje é o grande dia...
Greg vai entrar primeiro, pois eles o conhecem e não ficarão alertas com sua presença. Assim, quando for a hora da troca de turno dos guardas, ele pode nos dar tempo suficiente para que eu e Tim entremos furtivamente e cheguemos diretamente ao quarto de Milton na hora em que ele estiver tirando sua sesta diária. Faremos com que ele beba um tipo de veneno que desencadeará uma reação em cadeia com a medicação que ele está tomando atualmente, e então desapareceremos rapidamente. Escolhemos uma substância que desaparece muito rápido. Nosso trabalho estará completo antes que eles possam perceber que algo está errado. Suave e limpo. Quando perceberem que ele não desceu, os efeitos já devem ser irreversíveis e provavelmente nem suspeitarão de nada, pois parecerá um episódio regular de derrame. Mas mesmo que suspeitem, o veneno não será detectável a essa altura.
Nosso plano parece um pouco misericordioso demais para o meu gosto. Eu preferiria sequestrá-lo e torturá-lo até o último suspiro por todo o sofrimento que ele nos causou, mas isso seria muito arriscado e poderia facilmente sair pela culatra.
Então aqui estamos, escondidos atrás de uma cerca viva com Tim sob o efeito de fortes supressores de cheiro, esperando o sinal de Greg, quando de repente me atinge... Uma essência estranha e atraente, mais poderosa do que qualquer coisa que já senti. Algo almiscarado misturado com sândalo e magnólia que me paralisa. Meus olhos se arregalam, prestes a chorar. Levo toda a minha força de vontade para impedir minhas pernas de saírem do esconderijo e correrem atrás da fonte do cheiro; um grande macho musculoso com ombros largos e cabelo relativamente longo, preso em um coque, prestes a colocar seu capacete e andar de moto. Só consigo ver suas costas bem esculpidas de onde estamos, mas não há dúvida de que deve ser o notório Alfa Nicholas.
É uma luta difícil suprimir todos os meus impulsos de correr e apenas ficar escondida aqui. Sei que ele não pode sentir meu cheiro, pois o mascarei ativamente, mas se eu me mexer agora, um macho da força e inteligência dele perceberá nossa presença imediatamente.
O sinal de Greg chega, mas meus pés estão presos no chão, mesmo que o Alfa já tenha ido embora. Tim sente minha hesitação e segue o curso dos meus olhos, que estão fixos na estrada de onde a moto desapareceu. Uma pequena sombra de dor passa por seus olhos quando a realização o atinge com força, mas ele rapidamente disfarça com uma expressão séria. Agora, precisamos voltar para a segurança, ou estaremos todos condenados. O plano não pode continuar, e não há absolutamente nenhuma explicação plausível para estarmos aqui, se formos pegos. Tecnicamente, somos apenas invasores e, para uma alcateia, isso seria o mais próximo do que terroristas pareceriam no mundo em que cresci. Em outras circunstâncias, eu poderia até rir da ideia de minha tímida e introvertida versão universitária em missões terroristas, mas agora realmente não é o momento certo para isso.
Tim se move ao meu lado. Uma leve picada no meu pescoço me alerta por um segundo, mas então o mundo fica turvo. Todos os meus pensamentos estão com Greg e se ele conseguirá sair de lá a tempo, enquanto a escuridão começa a me consumir e eu perco a consciência...
Nick
‘Seu amigo nerd está aqui’ Matt me avisa mentalmente logo depois que saio da casa da alcateia em direção ao meu apartamento.
Greg está na casa da alcateia? Que dia é hoje? Tínhamos algum compromisso que eu esqueci? Eu dificilmente esqueço essas coisas, e não me lembro dele mencionar nenhum experimento importante pendente que justificasse ele aparecer sem avisar assim. Por algum motivo, algo parece errado, e minha intuição raramente erra sobre essas coisas.
‘O que ele quer? Ele está no meu escritório?’ Eu pergunto de volta.
Sem resposta...
‘Leo, Bob, para o meu escritório AGORA’ Eu os chamo enquanto viro minha moto para voltar e ver o que está acontecendo.
‘Matt, você o encontrou? O que está acontecendo?’ Tento chamá-lo novamente, mas ele está bloqueando nossa conexão e ainda não há resposta.
Ao chegar de volta, corro escada acima e encontro um Leo e Bob muito surpresos esperando por mim bem ao lado da minha porta.
“Algum de vocês dois chamou o Greg aqui e esqueceu de mencionar para o Matt ou os guardas?”
Eles trocam um olhar perplexo entre si e isso é toda a resposta que preciso.
“O que está acontecendo, Alfa?” Leo me pergunta, obviamente ansioso.
Eles sabem que suas posições estão em jogo se Greg estragar tudo, já que foram eles que garantiram por ele. Ele ainda é apenas um renegado e talvez tenha sido errado da minha parte sair dos nossos métodos tradicionais com ele. Mas ele nos ajudou várias vezes até agora com sua expertise. Além disso, ele tem um talento natural para tudo relacionado à tecnologia e assumiu voluntariamente a organização de nossos sistemas de software e segurança. O que só significa que ele os conhece muito bem...
Qual é o seu jogo, Greg? Por que nos trair assim?
‘Nick, você não vai gostar, mas precisa vir ao porão imediatamente’ Matt me avisa novamente e eu quase corro para lá. Eu os encontro facilmente em uma cela seguindo seus cheiros. Greg está deitado no chão, com o rosto de lado e a bota de Matt pressionando seu pescoço. Ambos parecem sem fôlego, o que significa que lutaram. Quem diria que o nerd Greg poderia lutar decentemente contra Matt o suficiente para cansá-lo?
Dou alguns passos para dentro e olho com a sobrancelha levantada, cruzando os braços na frente do peito.
“Quem vai ser gentil o suficiente para me explicar o que diabos está acontecendo aqui?”
“Simples, Nick... Ele estava invadindo, porque quando os guardas me informaram de sua presença e ele me viu, tentou fugir.”
“Matt, nos deixe a sós, por favor,” digo em uma voz firme e clara.
“Sim, Alfa!”
É raro Matt me chamar pelo meu título. Geralmente é uma maneira de expressar seu desacordo. Ele não confia em Greg e, honestamente, agora, eu não sei por que confiei também.
‘Porque ele é um gênio e ajudou você com entusiasmo em tudo o que você pediu,’ diz uma pequena voz na minha cabeça que está tentando me impedir de matá-lo.
‘Mas você confiou em um renegado e sabe o que dizem... uma vez renegado, sempre renegado,’ diz outra voz do outro lado da minha mente.
Enquanto isso, com Matt fora, Greg se sentou no chão da cela. Suas mãos esfregam o pescoço, mas seus olhos estão fixos no chão, sem ousar encontrar os meus.
“Me dê algo, Greg... Qualquer coisa, para mantê-lo vivo. Estou realmente lutando aqui. Eu não quero você morto. Você é mais valioso para mim vivo.”
“Então não me mate... É tão simples quanto isso. Você é o Alfa aqui. É puramente sua escolha,” ele responde.
Há uma certa desafiadora em sua atitude, que eu não sei como lidar.
“Exatamente, Greg... Eu sou o Alfa aqui e, como tal, sou responsável por toda a segurança e bem-estar de todos aqui. Mas como eu esperaria que um renegado qualquer entendesse uma coisa dessas?” Eu retruco, com ironia escorrendo das minhas palavras.
“Vou dizer isso apenas uma vez e nunca mais, Alfa... Posso ser um solitário e não me encaixar nas regras da alcateia, mas tenho amigos que honro e pelos quais daria minha vida. Somos livres, mas não imorais. Tudo o que fiz foi para protegê-los. Nunca tive a intenção de minar você ou machucar pessoas inocentes.”
Ele soa decisivo, mas triste. E ele não está me dando o suficiente...
“Então o que você pretendia fazer, se não prejudicar a alcateia?”
“Receio não poder elaborar sobre isso, Alfa. A decisão é sua agora. Estou aqui e não resistirei a qualquer escolha que você fizer,” ele diz, expondo seu pescoço para mim como um sinal de submissão.
“Junte-se à alcateia, Greg... Faça nosso juramento. Misture seu sangue com o nosso. Prometa sua lealdade a mim e eu pouparei você.”
“Eu não posso fazer isso, Alfa.”
Ele carrega essa tristeza misteriosa e derrotada em sua voz que eu não consigo entender. Mesmo que ele esteja me desafiando e minha decisão, há essa verdade brutal em suas palavras. Ainda assim, é mais do que óbvio que ele está escondendo muito e eu não gosto disso.
“Por que não?”
“Porque se eu fizer isso, estarei tão bom quanto morto de qualquer maneira...”
O que diabos isso quer dizer?
“Estou tentando aqui, Greg... Tipo, realmente tentando... Mas minha paciência está se esgotando,” digo, massageando minhas têmporas.
“O que você realmente quer, Greg? Para onde você iria se eu lhe desse uma alternativa? Um passe livre de sua própria escolha?”
“Provavelmente para a universidade... Voaria para longe e continuaria minha pesquisa em Northam. Essa seria a única saída, boa o suficiente para ambos os lados.” ele diz pensativo.
“Com uma condição...” as palavras saem antes que minha mente possa filtrá-las.
“Você não pode se comunicar com ninguém sobre isso. Eu vou te apoiar com tudo o que tenho, mas os únicos que saberão sobre isso serão você, eu, Matt, Leo e Bob, não sua ‘família’, nem minha alcateia. Não me traia novamente porque eu vou perceber imediatamente.”
E com isso, eu me viro e deixo para Matt, que estava esperando do lado de fora, para arranjar os detalhes. Preciso chegar à minha cobertura o mais rápido possível. Não estou me sentindo bem. Há essa dor absurda, intensa e aguda no meu peito e na cabeça que está piorando a cada segundo. Não sei o que fazer com isso, e não consigo entender de onde veio também...