




Capítulo 4
Ela estava se tornando minha mártir.
Ri com os lábios fechados, não me importava com o Sr. Clark, o que eu queria era não atrair atenção e duvido, pela minha experiência de vida, que aquele homem tenha feito algo além de me dar uma caneta.
"Todos tomem seus lugares, vocês não estão mais na pré-escola." Jess mediu meu corpo rindo e sentou-se na minha frente, logo meu cabelo loiro virou um tapete na minha mesa.
Eu tinha uma tesoura na minha bolsa, mas não tenho certeza se o estresse valeria a pena.
"Façam a chamada e abram o livro na página dez." Pelo menos meu livro ainda estava na minha bolsa, já que meu caderno havia se tornado um travesseiro de cabelo.
A aula durou cerca de uma hora e meia, era todo o tempo que tínhamos para extrair o máximo que pudéssemos, e durante todo esse tempo, eu desejava arrancar fio por fio daqueles fios loiros.
O Sr. Clark começou sua explicação e eu tentei não me deixar levar pelo conteúdo, eu precisava de estímulos para não cometer um assassinato capilar e ainda mais para não ser presa. Então me concentrei nele, tentando assimilar e absorver o conhecimento que ele estava transmitindo tão abertamente.
Não era incomum que os professores andassem pela sala no meio de uma explicação, e eu entendia que era uma forma de estar perto de todos e não perder o entusiasmo. Eu gostava disso, observar e absorver.
Jess se movia com os passos dele, o que fazia seu cabelo varrer minha mesa. Minha paciência estava prestes a se esgotar, então soltei o coque que estava mantendo por causa do hospital e por causa do cabelo ruivo que parecia ter sido criado para ser ressecado, massageei minhas têmporas e suspirei, talvez eu fosse ser uma paciente na ala psiquiátrica hoje.
O Sr. Clark não parou sua explicação, continuou a andar pelos corredores lentamente. Eu não estava mais olhando para ele quando ele parou entre mim e Jess, mais alguns passos dele, e alguns fios do meu cabelo foram tocados. Talvez eu estivesse incomodando o aluno atrás de mim, mas olhando para Jess eu sabia que não era exatamente isso que tinha acontecido.
Meu cabelo era um pouco mais curto que o dela, mas o cacho era o culpado. As ondas do meu cabelo desciam até minhas costelas e agora essas mesmas ondas estavam enroladas nos dedos do Sr. Clark.
Jess ia me matar no final da aula e eu agradeceria se ela o fizesse. O professor continuou sua aula um pouco mais atrás de mim e brincava insistentemente com a mecha de cabelo que estava entre seus dedos. Por alguma razão impertinente, olhei diretamente para ele, um erro sério de iniciante.
Agora eu via o que Jess e suas cobras viam, por razões óbvias, o Sr. Clark era um cara alto e deveria estar passando suas noites de sexta-feira com alguma mulher bonita comendo queijos e bebendo um ótimo vinho. Seu rosto bonito parecia ter mais de quarenta e cinco de longe, talvez não mais de trinta e dois. O rosto por fazer e o cabelo curto só para não ter que se preocupar, o rosto de alguém que tiraria sua calcinha com um suspiro.
"Educação, é o que todos pregam e deveria ser muito mais do que uma regra. Deveria ser uma obrigação." Engoli em seco enquanto ele terminava de dizer isso e se inclinava perto do ouvido de Jess. "Cortesia, Srta. Wilson, vou pedir pela última vez, ou vou colocá-la na última carteira para que você possa varrer a parede."
Segurei o riso, mas a turma não. Jess tirou o cabelo da minha mesa e o ajeitou apenas para um lado do ombro, aparentemente só para mostrar parte do pescoço para os olhos do professor.
"Perdoe-me, Sr. Clark..."
O Sr. Clark se endireitou e apertou meu ombro antes de ignorar Jess e voltar para sua mesa. Meu dia finalmente tinha ganhado sentido.
Ele continuou parte da sua explicação e eu sorri internamente ao olhar para o cabelo na minha frente, o ninho de cobras havia sido recolhido por enquanto e eu finalmente tive um pouco de paz.
A aula acabou e minha felicidade também. Arrumei minhas coisas e saí antes que jogassem milho para as galinhas, pelo menos pensei que tinha conseguido. O burburinho e as risadas começaram baixas atrás de mim antes de eu chegar ao elevador, então eles também entraram.
Meu brilho se foi quando lembrei que deveria ter prendido meu cabelo de novo, pois ele havia sido alvo dos longos dedos de Jess o tempo todo até as portas sinalizarem que estavam fechando.
"Você deveria ter cuidado, Sarah, e descobrir onde você pertence é um começo."
A porta quase fechou graças à mão apressada do Sr. Clark. Agora minha cova estava feita.
Jesse continuava puxando aquela mecha de cabelo como se estivesse na quinta série, era como se ela tivesse esquecido que agora era uma mulher adulta. Suspirei alguns segundos antes de socar seu rosto sorridente.
"Importunação é crime, Srta. Wilson."
Ela tossiu e riu antes de dar um passo à frente.
"Estamos só brincando, não é, Sarah?"
Bufei, a pré-escola seria o lugar ideal para ela.
O elevador finalmente abriu e ele fechou a porta para eles e estendeu a mão para mim, me dando passagem antes que me incomodassem novamente.
"Srta. Taylor..." Engoli minha saliva com tanta dificuldade que demorou um pouco para meu cérebro detectar a informação e me fazer andar.
"Obrigada, Sr. Clark." Gaguejei e saí, recebendo um aceno de cabeça com um sorriso quase doce.
Eu não estava preparada para o que viria a seguir, especialmente se dependesse de Jess e da minha vida acadêmica. Saí correndo do prédio, tentando me afastar o máximo possível dos olhos acusadores e da leve zombaria do Sr. Clark.
E eu tinha esquecido de devolver a maldita caneta.
"Você gostaria de comer o lixo tóxico do hospital também? Olha, eu não me oponho." Mike tirou a caneta da minha mão, eu devia estar mordendo ela há horas. "Isso tiraria o peso de se preocupar com o descarte ilegal."
"Não me faça responder do jeito que eu quero."
Ele sorriu e sentou-se ao meu lado.
"E você deveria estar em casa, qual é o seu problema?"
Pensei por alguns segundos. Eu tinha recebido um pouco de atenção especial do Sr. Clark, ao que parecia. Também um juramento de morte dos olhos castanhos de Jess e um trabalho onde meu supervisor não me deixava trabalhar, que problema eu contaria para ele?
"Nada demais, não vou bater o ponto, só me deixe ocupar a mente," murmurei cansada.
Mike era um cara legal, trinta e dois anos se não me engano, e com um sorriso encantador.
"Vamos lá, você precisa beber e eu preciso descansar a mente."
Eu não precisava trabalhar e por causa da faculdade, já estava na hora de dormir. Mas eu precisava trilhar o caminho do alcoolismo e ser tão irresponsável quanto uma porta, minha mãe adoraria saber disso.
"Nada de boa noite Cinderela." Zombei e ele bufou, fazendo uma cara de infelicidade.
"Merda. Rohypnol seria melhor? Eu estava pensando em Frontal, mas queria você acordada, mulheres inconscientes não são minha praia. Tenho pavor de bonecas."
"Você precisa de tratamento, Mike."
Ele riu e caminhamos para o outro lado da rua, onde havia alguns bares. Eu não era exigente e poder esquecer meu dia conturbado mergulhando a cabeça em um barril de cerveja era bom o suficiente.
O bar era tão simples quanto um pub, mas a cerveja era boa e Mike não era má companhia, pelo menos fora do hospital. Eu já tinha bebido com ele algumas vezes e me divertido mais do que pensava ser possível, pelo menos era fácil com ele.
"Ivy vai estar no seu lugar amanhã, estou oficialmente te colocando de castigo." Franzi as sobrancelhas ouvindo aquele absurdo enquanto nos sentávamos no banco do bar. "Podemos ser notificados, Sarah, você tem trabalhado demais e já excedeu suas horas permitidas para o mês."
O barman encheu minha caneca e eu quase virei de uma vez.
"Você não faria isso comigo." Suspirei irritada, faltar ao trabalho seria trágico para minha mente conturbada.
Mike deu de ombros, não era brincadeira.
"Eu preciso de um emprego de verdade." Finalmente disse e terminei minha bebida. "Horas extras estão me matando e não pagam tão bem quanto eu preciso."
Mike virou seu shot de whisky e bateu o copo na mesa.
"Não ouse me deixar sozinho naquele hospital, eu não tenho cérebro para aguentar toda aquela merda sem sua ajuda."
"Me contratar como faxineira ajudaria minha vida financeira e me privaria de sair daquele manicômio." Se ele pudesse fazer isso, seria minha salvação.
Meu copo foi reabastecido e Mike me pediu um shot, ia ser uma longa noite.
"Você está tentando me embebedar, Michael?" Ri, despejando o whisky na garganta e sentindo-o queimar minha alma, ele deu de ombros e riu. "Bom, porque eu preciso disso."
O calor do álcool começou a aquecer meu corpo, era bom, familiar, e parecia ainda melhor depois que eu tirei a jaqueta das costas. Livre, ajustei as alças da minha regata e soltei aquele maldito coque. Minha cabeça estava latejando pela força que usei para amarrá-lo, graças, é claro, à importunação de Jess.
"Você deveria ser banida, Sarah." Mike deu mais um gole, olhando para as garrafas na prateleira.