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CAPÍTULO DOIS - COMPANHEIRO

Meu plano naquele momento no reino humano era meio improvisado, porque era bem simples. Eu tinha dinheiro suficiente para me sustentar por dois meses, então decidi ficar quieto por esse tempo até surgir alguma ideia do que fazer.

Ouvi a voz inconsciente do vento enquanto ele bagunçava meu cabelo, fazendo-me parar no meio do passo, com os lábios entreabertos e os olhos fixos em atenção. Senti uma folha leve cair no meu ombro e virei para olhar a folha marrom que exalava o cheiro do outono. Peguei a folha e meus lábios se curvaram em um sorriso. Nem eu sabia por quê, mas parecia que o futuro tinha algo surpreendente a me oferecer. Não tinha certeza do que poderia ser, mas esperava que fosse algo agradável, algo que pudesse preencher o vazio no meu peito.

Um mês depois***

Eu pensei que ficaria no meu apartamento alugado até surgir uma ideia sobre o que fazer da minha vida, mas nada saiu como planejado. Pelo menos, não da forma que eu esperava, porque descobri que estava grávida. Do bebê do Vivion, claro, nunca o traí. Agora, eu tinha que me preocupar com algo além da minha dor de coração. Era engraçado como a vida funcionava, mas não havia o que fazer.

Pela primeira vez em semanas, decidi sair. Não por mim, mas pelo ser que crescia dentro de mim. Era surpreendente que, mesmo com meu estado mental frágil, saber que havia um ser dependente de mim para viver fosse o suficiente para me tirar do lamaçal em que minha mente estava presa.

Me arrumei, vesti uma calça preta e uma camisa laranja de botão com textura fofinha, e saí para as ruas movimentadas. Eu não fazia ideia de como o mundo humano funcionava, porque não tinha saído para observar ou socializar, mas, pelo que podia ver nas paredes e postes, havia inúmeros anúncios exibindo vagas de emprego. Entre tantos, um chamou minha atenção. O nome da empresa era Trident, e eles estavam contratando para cargos de gerência.

Olhei o endereço no cartaz e encontrei o caminho até lá.

Consegui passar pela segurança de alguma forma e obtive informações sobre onde seria a entrevista para gerência, usando meus ouvidos sensíveis a ultrassom. Aprendi rápido, entrei no elevador e localizei o lugar apenas escutando.

Quando estava prestes a abrir a porta e entrar, um segurança apareceu e bloqueou minha visão. "Você não pode entrar a menos que tenha sido convocada para uma entrevista", disse ele.

Olhei para o homem ríspido e dei um sorriso gentil para baixar sua guarda. "Não se preocupe, fui chamada para uma entrevista. Por que mais eu estaria aqui?"

O segurança hesitou, mas abriu a porta, e eu segurei um sorriso de canto enquanto entrava, apenas para ver dois homens bem-arrumados sentados atrás de uma mesa polida, com várias pilhas de documentos nas mãos, enquanto três candidatos estavam sentados em cadeiras individuais, com os batimentos cardíacos um pouco mais acelerados do que o normal para humanos calmos. Passei o olhar por eles rapidamente antes de encarar os entrevistadores, que me lançaram uma expressão confusa.

"Oi, pessoal, meu nome é Isabelle e estou aqui para a entrevista."

"Bom, acho que você não está na lista—"

"—Em vez de se preocupar com essa ingenuidade, por que não me testar agora mesmo, aqui?" Eu os encarei com o queixo erguido. "Tenho experiência em gerenciar registros financeiros e humanos— quero dizer, pessoas." Era verdade. Quando trabalhei no clube como dançarina, precisei aprender a recusar educadamente homens desagradáveis que queriam se aproveitar de mim, então, de certa forma, isso poderia contar como gestão de pessoas. Quanto à parte dos registros financeiros, eu não tinha a menor ideia, mas isso realmente importava?

"Senhorita, você está causando uma cena. Segurança!"

"M-mas eu tenho experiência!"

"Então prove!" O homem mais velho, de cabelos grisalhos, se levantou, me encarando com seus excêntricos olhos azul-claros.

"Como?" perguntei, um pouco mais baixo.

"Envie seu currículo para a empresa e venha quando a empresa te convidar." Ele falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Ouvi a porta se abrir e, antes que eu percebesse, fui arrastada para fora pelo segurança de antes.

"Por favor, esperem!" gritei, mas não adiantou nada, pois a porta da sala de entrevista se fechou na minha cara. O segurança me levou até a saída no canto do corredor e me lançou um olhar de desprezo. "Eu devia ter percebido que você era uma fraude, quase me fez perder o emprego."

"E-ei…" Antes que eu conseguisse encontrar palavras para me defender, ele já tinha ido embora.

Suspirei e me virei para sair. Talvez eu precisasse de mais prática com essas construções sociais humanas.

Dei um passo em direção à saída quando o cheiro mais delicioso que eu já havia sentido invadiu meu nariz.

Fiquei paralisada, perplexa e nostálgica com a sensação que atravessou meu coração, destruindo as pequenas torres que eu havia construído sobre fundações falsas.

A porta da saída se abriu e eu me deparei com o homem mais lindo que já tinha visto, meu homem. Ele parou na minha frente, seus olhos azul-vidrado encarando os meus, mas eu estava tão insegura que não consegui decifrar sua expressão.

Depois de alguns segundos, meu coração estava completamente vulnerável, e meu lobo ansiava por ser abraçado por ele, para preencher o espaço sagrado que Vivion deixou ao me rejeitar.

Para confirmar o que eu estava sentindo, me aproximei dele, peguei sua mão direita e a coloquei sobre a parte superior do meu peito.

"Não estou sonhando, né?" murmurei para mim mesma. Apenas o toque da pele do seu braço me intoxicava e me deixava com uma sensação de necessidade. Uma necessidade de que sua alma se conectasse à minha.

A deusa da lua me deu um segundo companheiro. Eu sorri.

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