




Oito
Eva abriu a boca, mas nenhum som saiu, sua garganta a traindo. Fechando a boca novamente, ela engoliu em seco, congelada no lugar enquanto Daniel se aproximava, parando apenas quando havia menos de um centímetro entre eles. Seus olhos nunca a deixaram, raiva e possessividade fervilhando em suas íris azuis como o mar do Norte em uma tempestade. O silêncio estava carregado de emoção enquanto a raiva de Daniel irradiava dele e o pavor de Eva pulsava dentro dela. Ela sentiu-se encolher sob o olhar dele, seu pulso saltando na garganta quase tirando-lhe o ar.
De repente, os olhos de Daniel se voltaram para Kade. "Pegue a bolsa dela. Quero estar de volta à casa da alcateia antes do anoitecer."
Eva sibilou quando a mão de Daniel a agarrou pelo braço direito com força e a puxou em direção à porta.
"Não!" Eva arfou e tentou se soltar.
Um rosnado encheu o quarto. Eva gritou quando de repente se viu prensada contra a parede e Daniel pairando sobre ela, os dentes à mostra enquanto seus olhos brilhavam em âmbar.
"Você vai vir comigo. Se tentar fugir de novo, vou fazer você se arrepender." Daniel disse com uma voz tão calma e fria que Eva jurou sentir cada sílaba cortando-a como uma faca.
Mais uma vez, ela se viu sem palavras, incapaz de reagir enquanto era puxada da parede e praticamente arrastada do bed and breakfast até uma caminhonete esperando na pequena entrada. O homem do café estava esperando por eles, um sorriso divertido no rosto ao ver o olhar assassino no rosto de seu Alfa enquanto ele puxava a garota de cabelos ruivos como uma criança travessa.
"Entre." Daniel ordenou assim que uma das portas traseiras da caminhonete foi aberta.
Eva hesitou, mas não por medo. Ela sabia que no momento em que entrasse na caminhonete, Daniel teria vencido. Sua teimosia floresceu então, seus dentes se cerrando enquanto sentia sua obstinação colar seus pés ao chão como se estivessem em blocos de concreto. Ela não gostava de ser mandada. Ela não gostava que Daniel pensasse que tinha vencido e que ela simplesmente o obedeceria.
Mas, ela sabia que estava sem sorte naquele momento e que tinha perdido essa batalha.
Engolindo seu orgulho como uma pílula amarga, ela subiu na caminhonete, fingindo não notar o violento bater da porta quando Daniel a fechou atrás dela. Ela podia praticamente sentir o gosto da raiva irradiando dele enquanto ele subia no banco do motorista, seu beta tomando o assento do passageiro da frente, deixando Eva sozinha atrás para se afundar em sua derrota.
A essa altura, a chuva caía em pesadas cortinas, empurrada por um vento tempestuoso. As gotas batiam nas janelas como pequenas agulhas; duras, frias e cortantes. Isso não ajudava em nada o silêncio na cabine da caminhonete. Esse ainda estava carregado de emoções e pensamentos não ditos.
Eva não tinha intenção de quebrar o silêncio e com certeza não ia se desculpar com Daniel. Em vez disso, pensou em seus pais e amigos e em como iria enfrentá-los. Ela só podia esperar que eles entendessem. Não era que ela quisesse machucá-los ou preocupá-los, ela simplesmente não conseguia encarar ser ligada a outro, especialmente a um alfa.
Em algum momento, Eva deve ter adormecido porque foi despertada bruscamente pelo bater de uma das portas do carro.
Olhando ao redor, Eva conseguiu distinguir sua casa apesar da escuridão. Nem Daniel nem Kade estavam no carro. Um momento depois, a porta do passageiro se abriu e Daniel olhou para Eva, o vento bagunçando seu cabelo. Seu olhar era sombrio e seu maxilar estava travado, fazendo-o parecer um deus irado... um deus muito irado e sexy.
"Sai." Ele ordenou.
Eva não precisou ouvir duas vezes. Ela pegou sua mochila e saiu apressada da caminhonete, bufando quando Daniel bateu a porta novamente antes de agarrar seu braço e puxá-la em direção aos seus pais, que esperavam na porta do chalé.
"Meu bebê," Nora suspirou enquanto puxava Eva para um abraço apertado. "Eu estava tão preocupada."
"Desculpa." Eva sussurrou enquanto sua respiração falhava, tentando não chorar.
O som de uma porta de carro batendo (de novo) fez Eva olhar para trás a tempo de ver Daniel dando ré na caminhonete e desaparecendo em direção à casa da alcateia. Eva se perguntou brevemente como as janelas da caminhonete ainda não tinham quebrado com a maneira que Daniel estava batendo aquelas portas. Por outro lado, pelo menos ele estava descontando sua raiva na caminhonete e não em Eva, mas ela suspeitava que não demoraria muito para que ela estivesse na linha de fogo. Ela só esperava estar pronta para isso.
"Eu sei que acabei de voltar, mas será que eu poderia ir ver a Maria e o Duncan?" Eva perguntou.
"Claro." Nora sorriu tristemente. "Mas amanhã precisamos conversar."
"Eu sei..." Eva assentiu.
Com isso, Eva abraçou seus pais e prometeu voltar pela manhã.
Maria e Duncan moravam a apenas alguns minutos de distância e, com sorte, a maioria da alcateia ainda estava na casa da alcateia ou em suas casas, então ela poderia passar despercebida pela escuridão.
A loira animada estava esperando por Eva na porta, encostada no batente e afundada em um suéter de tricô gigante.
"Vem cá." A voz suave de Maria saudou Eva, puxando-a para um abraço. "Duncan foi ajudar na patrulha, então somos só nós duas."
"É ruim que eu preferisse estar na patrulha também?" Eva perguntou enquanto entravam no calor do chalé de Maria.
"Bem, eu até pensei em pedir para o Duncan te levar, mas sua mãe vai me matar por te esconder. Não preciso dar mais munição para ela."
"Bem, isso faz de nós duas alvos dela." Eva suspirou pesadamente e se jogou no velho sofá, olhando para o teto.
"O que aconteceu?" Maria perguntou enquanto se acomodava mais graciosamente ao lado de Eva, encolhendo as pernas sob si.
"Foi exatamente como você descreveu." Eva murmurou, lembrando-se de quando Maria falava animadamente sobre o vínculo de companheiro se formando entre ela e Duncan. "O cheiro dele, meu coração acelerado, aquela sensação de que algo despertou dentro de mim quando ele olhou para mim. Por um momento me senti tão completa e então me senti tão zangada e culpada. Ouma disse que eu era um presente da deusa para esse cara que eu nunca tinha conhecido e isso me fez sentir que meu amor por Noah não significava nada, que a morte dele foi conveniente. Eu senti que nada disso importava para ninguém além de mim."
"Isso não é verdade. Todos sentem falta do Noah. Ninguém o esqueceu." Maria sorriu tristemente.
O silêncio se instalou entre as duas mulheres, ambas pensando no homem que não estava mais lá para compartilhar memórias. Elas cresceram juntas, passaram por todas as provações de ser criança e depois adolescente juntas. Treinaram juntas e caçaram juntas, mas agora restavam apenas memórias. Noah se foi e, embora já tivesse passado um ano, a dor ainda era fresca e crua. A chegada repentina de Daniel Wolfe não ajudava em nada, especialmente quando Eva só queria ser deixada em paz. Agora ela não tinha apenas o luto para enfrentar, mas também a culpa e algo muito mais complicado... desejo.
Eva gemeu e fechou os olhos. "Ele é um maldito Cão do Inferno!"
"Bem, poderia ser pior. Ele poderia ser velho." Maria deu de ombros, tentando aliviar o clima.
Eva gemeu novamente e jogou uma almofada em Maria. "Não está ajudando!"