Cinco
Duas semanas depois
Dizer que Daniel estava com raiva era um eufemismo.
Nunca tinha sido desrespeitado de tal maneira. E o fato de que foi sua própria companheira que causou tal cena e depois teve a audácia de desaparecer, de fugir dele sem uma palavra, só piorava a situação.
Se não fosse pelo fato de que a Silver Moon era aliada dos Hellhounds, ele teria destruído a matilha só por retaliação. Mas ele não fez isso. Em vez disso, manteve sua raiva engarrafada enquanto calmamente enviava homens para procurar a garota. Era frustrante, mas Daniel tinha que se lembrar de que o propósito principal de estar ali não era por causa de sua companheira fugitiva, mas por causa dos negócios.
O que deveria ser uma viagem de três dias agora se estendia por duas semanas. Slade tinha voltado ao território dos Hellhounds por alguns dias, mas retornou já que os negócios com os Ouma ainda não tinham sido resolvidos. Na verdade, desde o desastre da primeira noite, Daniel mal tinha visto a mulher, o que só o levava a acreditar que toda essa viagem tinha sido uma perda de tempo.
Então, naquela manhã (e completamente do nada), os Ouma solicitaram que Daniel e Slade se juntassem a ela em seu escritório naquela tarde.
Finalmente estavam indo direto ao ponto.
Pegando seu telefone, ele discou o número de Kade, esperando que o outro atendesse.
"O que foi?"
"Alguma novidade?" Daniel resmungou.
"Ainda não." Kade respondeu. "Te aviso se ouvir algo diferente dos outros."
Daniel cerrou a mandíbula, contando silenciosamente para evitar descontar sua raiva na parede do quarto.
"Estou prestes a entrar em uma reunião. Se não houver pistas até esta noite, estou pensando em voltar."
"Beleza."
Assim, a ligação terminou e Daniel ficou não menos frustrado. Pegando sua jaqueta, ele saiu do quarto, vestindo a jaqueta jeans enquanto descia as escadas correndo para encontrar seu pai no saguão.
"Você a encontrou?" Slade perguntou.
"Não."
"Merda." Slade resmungou enquanto caminhavam em direção ao escritório de Eshe. "Ela definitivamente é filha do pai dela."
"Como você conhece o Axl, afinal?" Daniel franziu a testa.
"Você é muito jovem para lembrar, mas ele era um Hellhound até conhecer a Nora. Ele decidiu se mudar para cá porque o lugar o atraía e eles precisavam de alguém que não tivesse medo de fazer o que precisava ser feito." Slade deu de ombros e parou quando chegaram à porta. "Se ele tivesse ficado, teria sido meu beta."
Isso surpreendeu Daniel, seus olhos se arregalando um pouco. Se Axl e Nora tivessem se mudado para Hellhound em vez de Silver Moon, então Eva teria sido a próxima na linha para ser beta. Isso também significaria que eles teriam se encontrado muito mais cedo. Daniel se perguntou como Eva teria sido se tivesse crescido como uma Hellhound. Ela teria saído igual a Daniel? Fria, calculista, disposta a fazer qualquer coisa para sair por cima?
Ele não teve chance de fazer mais perguntas, pois a porta do escritório se abriu e Eshe olhou para eles com um sorriso acolhedor.
"Entrem, entrem." Ela os convidou. "Estava ansiosa para falar com vocês dois. Esta é Inga, minha Beta e chefe de segurança."
Eshe apresentou a mulher alta vestida com o uniforme preto que os guerreiros daqui pareciam usar. Inga parecia ter a mesma idade da mãe de Daniel, com cabelos loiros dourados presos em um rabo de cavalo apertado e olhos cinza sérios. Ela observava cada movimento com a intensidade de uma soldada experiente. Seu rosto não revelava nada.
"Faz muito tempo desde a última vez que conversamos." Slade começou, uma vez que todos estavam sentados. "Eu não achava que ouviríamos de você novamente."
"Tudo acontece por uma razão." Eshe sorriu, olhando para os dois homens de seu assento atrás de uma grande mesa preta com detalhes dourados. "Se a Deusa quisesse, teríamos permanecido como estávamos para sempre."
"Mas ela não quis." Daniel inclinou a cabeça um pouco, seus olhos nunca deixando Eshe enquanto tentava avaliar suas intenções. "O que aconteceu?"
"Você aconteceu." A anciã respondeu, seus olhos de obsidiana brilhando enquanto olhava para Daniel com um sorriso suave. "Há alguns meses, a Deusa me enviou uma mensagem. Ela me falou sobre você e seu presente, Eva. Ela me mostrou que este era o futuro de nossas matilhas."
Daniel franziu a testa. Ele não estava entendendo. Eshe não estava dizendo nada de novo em relação ao que já havia revelado na noite anterior. Isso o frustrava. Ele não gostava de enigmas ou jogos mentais. Apenas diga como é e siga em frente.
"Ok, mas por que agora? Por que não quando eu tinha dezoito ou vinte e um anos?"
"Porque você não estava pronto e nem Eva." Eshe respondeu simplesmente.
"Eu tenho quase 50 anos." Eshe continuou. "Meu marido vive em Gana com nossos filhos. Eles têm suas próprias famílias para cuidar. Eu desisti de vê-los crescer porque a Deusa me disse que eu precisava estar aqui, liderando a Silver Moon. Minha família nunca reclamou, nunca se arrependeu, mas sacrificamos muito para garantir a prosperidade não apenas da Silver Moon, mas de todas as matilhas ao redor do mundo.
"Mas agora meu tempo aqui está chegando ao fim. É hora de eu deixar o cargo de Alfa desta matilha e voltar para minha família. Normalmente, eu escolheria um substituto. É assim que funciona com outras matilhas, mas nós não somos outras matilhas. A Deusa nos guia. A Deusa nos mostra o caminho, como tem feito para matilhas ao redor do mundo por milhares de anos.
"Daniel, a Deusa me enviou uma mensagem falando sobre você e Eva, mas ela também me disse algo muito mais importante do que tudo isso. Algo que garantirá a existência de nossa espécie por muitos anos.
"Pedimos que você viesse aqui porque gostaríamos de pedir a você, os Hellhounds, para se fundirem com a Silver Moon e assumir como Alfa de ambas as matilhas."
Descendo do ônibus, Eva suspirou cansada enquanto seguia a multidão até o terminal. Fazia duas semanas desde que ela havia deixado o território da Silver Moon. Ela não tinha entrado em contato com ninguém, apesar de sentir uma falta desesperadora de sua família, Maria e Duncan. A culpa de ter saído sem uma palavra ainda pesava em seus ombros, mas não o suficiente para suprimir o medo de aceitar Daniel Wolfe como seu companheiro.
Ela estava ciente de que não tinha como saber se o Alfa dos Hellhounds havia deixado a Silver Moon, tornando seguro seu retorno, mas seu instinto lhe dizia que ele não iria embora, não depois de Eva tê-lo envergonhado ao praticamente rejeitá-lo.
Inverness não era o destino original de escolha de Eva, mas ela temia que cruzar a fronteira chamasse atenção, especialmente porque não tinha certeza de quais cidades e vilas eram controladas pelos Hellhounds. Ela não tinha exatamente feito de sua missão de vida aprender sobre o território da matilha dos Hellhounds. Além disso, ela queria ficar o mais perto possível de casa, mesmo que isso significasse permanecer no território de sua matilha e ser vista.
Então, ela decidiu ir um pouco mais ao sul e ficar em uma pousada em uma cidade próxima. Seu cio estava chegando e estar no meio do nada era perigoso.
Agora ela só precisava encontrar um lugar para se esconder e uma maneira de chegar lá. Parecia simples o suficiente.
Exceto que Eva estava ocupada demais olhando os painéis de partidas para notar o homem com um patch familiar na jaqueta observando cada movimento dela enquanto puxava um telefone do bolso e tirava uma foto dela.