




Parte 6. Viajar para a Terra
Assim que se sentaram, Talia olhou ao redor, observando os detalhes intrincados esculpidos nas paredes do carro. O assento era macio e tinha uma alça para segurá-los. Ela tinha muitas perguntas na cabeça, mas Lukas parecia focado em seus cavalos. Para não acabar em uma vala, a princesa da lua ficou quieta.
A carruagem pousou na Terra. Lukas queria mostrar a ela o esconderijo secreto que ele vinha guardando há anos. Ela não podia acreditar. Talia tinha ouvido falar do lugar, das oportunidades e das vistas que ele oferecia, mas nunca teve a chance de ficar e aproveitar.
Assim que saíram, a princesa da lua respirou fundo. Ela adorava o cheiro das ervas selvagens no Monte Olimpo, mas aqui na Terra, elas cheiravam ainda melhor. Frescas e quentes. Abaixando-se, ela pegou um talo de grama e o girou entre os dedos, sorrindo como uma boba.
As coisas na Terra pareciam mais leves. Ela achava o Olimpo um pouco claustrofóbico, com todas as festas e outros deuses. Parecia lotado. Além disso, eles falavam sobre coisas altamente superficiais que não a interessavam nem um pouco. Na maioria das vezes, ela preferia ficar na cama com um livro. Mas no prado, ela sentia que podia se esticar. Relaxar. Respirar.
Ela estava ciente de que poderiam estar completamente sozinhos.
Por algum motivo estranho, ela não sentia medo. A princesa da lua olhou para o Príncipe, que a observava como se ela tivesse pendurado as estrelas para ele. Além disso, ele tinha sido tão gentil na festa, e Talia estava empolgada com a ideia de visitar a Terra com ele. Ela finalmente estava ali, e quem sabia quanto tempo ela teria para ficar fora do Olimpo sozinha.
Provavelmente sequestrada por Lukas sem aviso prévio. Talia poderia facilmente ficar chateada; em vez disso, ela escolheu um tom leve, piscando para o Príncipe.
“É assim que você faz todos os seus convidados visitarem você? Levando-os sem que saibam?”
Lukas riu. “Não. Normalmente não tenho visitantes aqui.” Ela corou com o jeito que ele a olhava, os olhos perfurando sua pele. “Eu ia te contar sobre isso, mas isso teria arruinado a surpresa.”
“Verdade” Ela murmurou.
Eles se sentaram na grama. Talia rolou de barriga para baixo e olhou para as flores ao seu redor. Ela estudou umas pequenas e delicadas flores brancas e amarelas que floresciam ao lado. Lukas estava ao seu lado, observando cada detalhe antes de se deitar de costas. Suas bochechas coraram com isso, e ela se juntou a ele, olhando para o céu claro acima deles.
O vento soprava por eles, frio e beijando suas mechas finas. Lukas resmungou ao seu lado, tentando afastar o cabelo. A princesa da lua soltou uma risada, alta e clara, empolgada e eufórica.
Era uma sensação inebriante.
Ela apoiou a cabeça nas mãos, sorrindo e murmurando suavemente. A princesa da lua sabia que não tinha muito mais tempo, mas aquele momento, aquela sensação de estar na Terra era a melhor que ela tinha sentido o dia todo. Especialmente com Lukas ao seu lado.
Talia sorriu suavemente para si mesma. Lukas era tudo o que ela pensava que o Príncipe do Sol não seria. Ele era gentil, de fala mansa e educado, e parecia interessado nela além de seu status como filha de um deus poderoso. Era tudo o que os outros deuses se importavam.
Por sua vez, Talia sempre quis viajar. Ver o mundo, ver todos os lugares de que suas irmãs falavam tão bem. Ela ouviu de Lukas sobre seus campos de asfódelos e não queria nada mais do que passar uma boa hora ou duas apenas caminhando entre as flores. Se não fosse por seu pai, sempre impondo restrições a ela e os olhos de águia de Hera, ela sairia um pouco mais.
Balançando a cabeça, ela se virou para Lukas. “Desculpe perguntar isso, mas não há muito dito ou escrito sobre você e seus irmãos. Como devo saber sobre você?"
A princesa da lua não conseguiu mais se segurar. Sua curiosidade foi mais forte. Além disso, ela queria conhecê-lo.
O olhar duro no rosto de Lukas se transformou em algo semi-afetuoso, e ele balançou a cabeça. “Eu posso não ter todos os poderes do meu pai, mas eles são suficientes para me virar. Meu pai, o Deus Sol, é o doador de luz e vida para a totalidade do cosmos; o severo garantidor da justiça; com a conexão quase universal da luz com o esclarecimento ou iluminação e a fonte de sabedoria.”
“Eu só posso controlar o calor e fornecer vida.”
A princesa da lua franziu as sobrancelhas. "O que isso quer dizer?"
“Você quer saber o que eu faço?" Lukas perguntou, um sorriso curvando seus lábios. Seu coração começou a bater descontroladamente enquanto ela assentia com a cabeça.
O tempo parou; isso é certo. Ela não conseguia entender por que Lukas se levantou e a maior parte do que ele estava entoando, já que estava convencida de que era algum tipo de ritual, mas não precisava apreciar a beleza disso. Talia o seguiu, ficando ao seu lado enquanto observavam as belas flores amarelas e brancas.
Ele tinha os olhos bem fechados, as mãos se movendo em um movimento circular. Era uma experiência totalmente religiosa, ouvi-lo entoar. O humor de Talia, seu espírito, todo o seu ser foi elevado a uma estratosfera mental.
Ela se sentiu encantada pela voz de Lukas. Sua voz a fazia querer formar uma religião inteira só para louvá-la; fazia-a querer escrever orações e encantamentos, e realizá-los todos os dias só para ouvir três segundos dessa bela melodia.
Depois de alguns segundos, ele parou de entoar e deu um passo para trás.
“Voltei," disse o Príncipe, sorrindo para ela, que ainda estava em um estado de encantamento. Ele apontou na direção das flores. “Agora, veja o que acontece."
"O que você fez?"
As flores começaram a encolher, mudando para uma cor feia e perdendo suas pétalas. Estava acontecendo muito rápido, e antes que ela percebesse, elas colapsaram, misturando-se com o solo. Um suspiro escapou de seus lábios.
“Só espere e veja,” Lukas murmurou suavemente enquanto começava a murmurar algo novamente, desta vez mais baixo.
E, assim, elas floresceram, voltando à sua forma original e banhando-se na luz. Era como se não tivessem colapsado segundos atrás. Ela não podia acreditar. Claro, Talia sabia sobre a Deusa da Primavera e como ela podia criar árvores e flores, mas isso não era nada parecido. Lukas deu vida a elas.
“Como você é tão bom nisso?”
Lukas parecia surpreso. “Eu tive muita prática.” Ele gentilmente puxou o braço e caminhou rapidamente até a porta. “Vou ver se está tudo no lugar lá dentro. Volto logo.”
“Lukas,” chamou a princesa da lua, pegando-o antes que ele saísse. “Obrigada.”
O Príncipe olhou para ela, seus olhos pesados de gentileza. “Claro, Talia.” Ele sorriu suavemente antes de desaparecer para dentro.
Passar tempo com Lukas acendeu um fogo em seu ventre. De alguma forma, ele a fez se sentir leve. Como se ela pudesse fazer qualquer coisa que quisesse. Como se tudo fosse possível. Talia não se sentia tão despreocupada há muito tempo, talvez nunca. Lukas parecia curioso sobre ela, parecia genuinamente interessado no que ela tinha a dizer.
Alguns segundos depois, a princesa da lua foi escoltada para dentro do enorme castelo, onde teve o privilégio de conhecer Cruis, mensageiro pessoal do Deus Sol e amigo de Lukas.
Ele a recebeu calorosamente enquanto caminhavam pelo longo corredor. “A maioria dos outros deuses fez o que chamamos de Tour da Terra enquanto estavam aqui. Eles visitam, ficam por trinta dias e depois vão embora, como se fôssemos uma atração turística. Não recebemos muitos visitantes agora, pois é época de festas no Olimpo.”
“Outra razão pela qual não damos festas assim aqui embaixo,” comentou Lukas secamente.
Ela olhou entre eles, seus olhos azuis se destacando das paredes negras do corredor. Havia muitas fotos com todos os tipos de deuses posando nos prados lá fora. Não é de se admirar. É a paisagem mais deslumbrante que ela já testemunhou.
“Você me deixaria ficar também?”
Cruis virou a cabeça para ela, os olhos arregalados. “Por um mês?”
Talia riu nervosamente, segurando seu vestido. “Não. Só por hoje.”
Ao mencionar dez dias, a princesa da lua engoliu em seco. Ela nunca tinha ficado fora do Olimpo por muito tempo; quando era mais jovem, sua mãe costumava levá-la para outra terra. Mas isso durava uma semana ou duas. A perspectiva de alguém escolher ficar na Terra por um período tão longo era inebriante.
“Você é mais do que bem-vinda para ficar, Talia,” disse Lukas, tirando a princesa da lua de seus pensamentos.
“Bem, então, eu adoraria ficar. Quero aquele tour de trinta dias em um dia.” Ela anunciou com um sorriso travesso nos lábios, fazendo Lukas sorrir de volta.