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Capítulo 2: Eu sou um pesadelo

CERCADA PELO REI DA LUA

CAPÍTULO 2

Paraíso.

A jornada tinha sido extenuante. Horas de caminhada, enfrentando criaturas selvagens e lobos hostis, nos trouxeram à beira do território de outra alcateia. Aninhada em uma cidadezinha adornada com vales de flores e árvores esparsas, os locais se curvavam em profundo respeito ao notar o príncipe, abrindo caminho para nossa procissão. Sentindo meu cansaço, o príncipe ordenou uma pausa.

Nos aproximamos de uma grande cabana, suas paredes adornadas com intrincados desenhos franceses, ladeada por potes de fogo na entrada.

"É aqui que você mora?" perguntei, minha voz carregada de desdém enquanto observava os arredores e os seguia para dentro.

"Já está encantada?" ele retrucou.

A grandiosidade da Alcateia de Atenas fazia essa morada modesta parecer insignificante. "Sua casa não passa de uma sombra miserável comparada a Atenas," zombei.

"Mas em Atenas, você era tratada como nada mais que lixo, uma abominação, se não me engano," ele rebateu com firmeza, suas palavras cortando minhas defesas.

Engoli uma resposta afiada, a verdade em sua afirmação me silenciando.

"Você é insuportável," murmurei entre dentes.

"O sentimento é mútuo, princesa."

Enquanto fervia em meu desprezo, sua voz profunda encheu o ambiente. "Dêem algo para ela comer. Ela é a mais frágil entre nós e não vai durar três dias sem alimento a caminho da Alcateia da Lua."

Ele não desviou o olhar da parede enquanto seus homens se curvavam e saíam.

"Alcateia da Lua? É assim que você chama seu território?" A curiosidade despertou, eu tinha ouvido sussurros sobre tal lugar.

"Você poderia ficar em silêncio por um momento? Talvez conserve um pouco de energia," ele disparou.

"É nomeado em homenagem à lua celestial, ou é algum tipo de metáfora? Porque você certamente não parece pertencer a um lugar assim."

"Espere!" Seu comando fez tudo parar. "Selar seus lábios e acorrentá-la. Eu preciso de paz," ele ordenou, e meus olhos se arregalaram de choque.

"Que tipo de príncipe acorrenta sua princesa? Para onde estamos indo depois disso, e o que diabos é a Alcateia da Lu—"

"Minha paciência está se esgotando. Tenho uma aversão particular por derramamento de sangue, então não me provoque."

Antes que eu pudesse protestar mais, minha boca foi selada com fita adesiva, minhas objeções abafadas não sendo ouvidas enquanto os homens saíam para buscar comida.

Ao retornar com a refeição, me encontraram silenciosa, presumivelmente dormindo.

"Deixem-na. Ela comerá quando acordar," ele instruiu, mas então notou minha luta contra as amarras, meus suspiros sufocados e desesperados.

"Aquela garota insolente—desamarrem-na."

Liberta, inspirei profundamente e devorei a comida.

"Nunca se deve amarrar uma dama. É desrespeitoso e bárbaro, e você ousa se intitular príncipe!" Eu o repreendi entre bocados, olhando furiosamente para os homens que retribuíram meu olhar com igual intensidade.

Nada parecia irritar essas pessoas. Eu estava desesperada por liberdade.

"Uma dama deve possuir graça e boas maneiras. Claramente, tais virtudes lhe escapam, assim como qualquer semblante de utilidade," ele cuspiu com veneno, sua paciência comigo finalmente se esgotando.

Em um acesso de fúria, eu me lancei, jogando a comida pelo quarto. Ela se espalhou pelo rosto e pelas vestes dele, e ele praguejou veementemente.

"Maldito seja, príncipe cego!" Eu gritei, minha voz ecoando com desafio.

Os homens não puderam mais permanecer passivos. Um tapa forte atingiu minha bochecha, incendiando uma tempestade de dor enquanto eu gritava.

"Eu juro, vou te matar antes de sairmos daqui! Quem você pensa que é?" Sua voz trovejou, sua compostura despedaçada pela minha insolência.

Eu finalmente o provoquei, uma satisfação distorcida se enrolando dentro de mim.

No silêncio carregado que se seguiu, eu o estudei. Que tipo de príncipe ele era? Ele parecia perdido em um mundo próprio, seu espírito distante, embora seu corpo estivesse presente.

Sua beleza era inegável, com traços divinos marcados pela cegueira. Seu cabelo dourado ondulado parcialmente obscurecia seus olhos, mas por baixo das mechas, eles brilhavam como cristal. Seu nariz era de uma perfeição esculpida, e aqueles lábios—pecaminosamente convidativos—atraíam o olhar, me irritando com seu charme distrativo.

"Eu sou o pesadelo que você nunca mais quer encontrar. Me solte e me deixe em paz," sibilei, meu olhar firme.

"Tragam-me água," ele ordenou aos seus homens, que rapidamente me desamarraram e se apressaram para longe.

Embora suas vestes estivessem manchadas e seu rosto sujo, meu coração permanecia intocado pela piedade.

"Você deveria contar suas bênçãos, princesa. Primeiro, pela minha cegueira. Segundo, porque eu preciso de você," ele disse, sua voz fria.

"Quem precisa de uma companheira fraca? Que príncipe precisaria?" zombei, minha voz carregada de desprezo.

"Você ficaria surpresa com o que sou capaz. Se eu tivesse a visão e a crueldade que você me atribui, já teria julgado seu valor, arrancado seus olhos e silenciado sua língua afiada permanentemente," ele ameaçou, suas palavras cortando o ar como uma lâmina.

Lágrimas ameaçaram trair minha determinação, mas eu as contive.

Seus homens retornaram, e ele limpou o rosto com uma dignidade que desmentia o caos de momentos antes.

"Tragam mais comida para ela. Ela deve permanecer viva por razões que são só minhas," ele ordenou.

"Meu apetite desapareceu. Fique com sua comida," retruquei, minha voz um sussurro de desafio.

"Vão!" ele os dispensou, e mais uma vez, fui presa pelas algemas.

Enquanto a calma se instalava na cabana, eu observava meus arredores. O pequeno espaço era meticulosamente mantido. Uma cama bem arrumada repousava junto à janela, um tapete persa adicionando calor ao chão de madeira. Vasos de flores adornavam os cantos, e uma grande vela verde lançava um brilho reconfortante da parede.

O cansaço se abateu sobre mim como um manto pesado, e enquanto o sono puxava minha consciência, eu tive um último vislumbre do rei de pedra. Ele estava sentado no chão com uma graça estranha, seu olhar fixo na parede, tão imóvel e enigmático como sempre.


O rosnado do lobo ecoou na quietude, seus dentes afiados expostos em um sorriso grotesco enquanto seus olhos brilhantes pareciam se banquetear de mim. Eu estava paralisada de medo, minha voz abafada pela fita sobre minha boca, meus membros acorrentados.

À medida que a besta se aproximava, meu coração batia com um único e desesperado pedido por liberdade. Milagrosamente, como se o próprio universo tivesse atendido meu chamado silencioso, as algemas se abriram, e a fita foi arrancada dos meus lábios, a dor aguda e repentina.

O instinto tomou conta. Eu me levantei de um salto, meu único pensamento era escapar do predador iminente. Mas o lobo, como se desinteressado pela perseguição, desviou, movendo-se com um andar determinado em direção a um destino invisível.

Despertei com um sobressalto, percebendo que tinha sido um pesadelo, um terror conjurado pelo meu subconsciente. A escuridão me envolvia, o silêncio da cabana era palpável, e o príncipe—imóvel como uma estátua—mantinha sua vigília junto à parede.

Minha respiração ficou presa ao olhar para baixo. As algemas estavam abertas, a fita descartada ao meu lado no chão. Realidade e sonhos se confundiam.

Que feitiçaria era essa?

Uma onda de adrenalina percorreu meu corpo. Seria isso uma mera coincidência, ou meu sonho tinha sido uma premonição? Seria um sinal de que eu deveria aproveitar essa chance e fugir?

Perguntas giravam na minha cabeça como um redemoinho, mas a urgência da fuga não deixava espaço para hesitação. Eu tirei as algemas com mãos trêmulas, cautelosa com a possibilidade de que a cegueira do príncipe fosse uma farsa.

Seus homens roncavam em sono profundo. Esse era meu momento.

Com uma respiração profunda, passei na ponta dos pés por eles, meu coração disparado enquanto me esgueirava na noite. A terra era desconhecida, traiçoeira, mas a vontade de ser livre me impulsionava para frente, me fazendo correr o mais longe e rápido que minhas pernas permitissem.

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