




Vindo para você
==Olivia==
Acordei com o som de uma ligação. Que ótimo, era da Leah.
“Bom dia, Leah. Obrigada pelo presente que eu realmente precisava.”
Ela deu um gritinho. “Você gostou? Eu sabia que sim!”
Revirei os olhos. O presente da Leah eram dois pares de lingerie da Victoria’s Secret. Entre as coisas mais absurdas que ela já tinha me enviado, essa liderava.
“Ah, sim. Porque eu trabalho em um clube e meu sucesso realmente depende de quão frágil é minha roupa íntima.”
“Não seja ingrata.”
“Não sou,” eu disse. “Mas você sabe como são essas coisas. Não me sinto confortável com elas.”
“É por isso que você deve aprender a se acostumar. Todo mundo usa lingerie, Olivia. Estamos em 2021.”
“Tanto faz. Obrigada, de qualquer forma.”
“De nada.”
“É.” A ideia veio. Talvez eu pudesse pedir dinheiro emprestado para a Leah. “Uhm, Leah?”
“Sim?”
“Posso, uhm, você pode me emprestar um pouco de... Deixa pra lá.” Eu não sabia como dizer.
“Não, não. Posso te emprestar o quê?”
“Ah, esquece, Inspetora,” eu disse, rindo. “De qualquer forma, tenho que ir.”
“Não tão rápido. Vamos lá, o que foi?”
“Leah, eu te disse. Não tem—” Vi meu pai entrando na cozinha. “Bom dia, pai.”
Ele acenou com a cabeça e foi ligar a torneira.
“Falo com você depois, Leah.” E desliguei a ligação antes que ela pudesse protestar. Observei meu pai se servir de um copo de água. Ele engoliu e me lançou um olhar.
“Você chegou tarde ontem.”
“Sim. Saí com a Leah depois do trabalho.”
“Como foi?”
“Divertido.” Normalmente, eu teria falado sobre como foi o dia, mas não o fiz. Eu podia sentir a dor nas palavras do meu pai. Algo o estava incomodando.
“Pai?”
Ele olhou para mim. Eu queria dizer que sabia que algo estava errado, mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Não consegui dizê-las.
Balancei a cabeça, indicando que ele não se preocupasse.
“Quero ter uma conversa com você,” ele disse.
Eu sabia! Algo estava errado. Naquele momento, a ansiedade tomou conta de mim. Minha mente vagou por várias possibilidades. Pelo jeito, o que quer que fosse, não era bom.
Ele se sentou no sofá ao meu lado. “Sente-se,” ele disse.
Fiz o que ele mandou, mesmo com os nervos à flor da pele.
“Olivia...” ele disse, lambendo os lábios. Sinal de alerta! Sempre que ele fazia isso, mostrava que algo estava errado. “Quero pedir desculpas. Fui uma pessoa terrível, um pai negligente. Eu...”
“Não faça isso, pai. Já passamos dessa fase.” Eu não suportava vê-lo se recriminando. Não suportava vê-lo se culpando constantemente pela morte da mamãe e pelo que ele considerava ser nosso infortúnio.
“Não importa como você coloque. Não importa o quanto você tente negar, você sabe a verdade,” ele disse. Ele desviou os olhos de mim e olhou fixamente para frente. Algo estava passando pela mente dele, e eu tentava descobrir o que era. “Eu fiz de novo, Olivia. Eu falhei com você.”
Eu não aguentava mais. Levantei do meu lugar e fui até ele. Peguei sua mão na minha. “Pai. Me diga, qual é o problema? Dinheiro?”
Ele me olhou bruscamente.
“Eu meio que adivinhei. Veja, isso não é um problema. Eu poderia te dar...” O balançar de cabeça dele me fez parar.
“É mais do que isso. Eu...” Ele enterrou o rosto nas mãos. “Deus, como eu digo isso?”
Eu olhava confusa. Uma expressão de preocupação no meu rosto.
Quando ele tirou as mãos do rosto, pude ver como ele estava vermelho. Ele estava prestes a chorar.
“Olivia, por favor, me diga que você vai me perdoar.”
“Do que você está falando, pai?”
Ele apertou os lábios, com dificuldade para engolir. “Eu... Eu sinto muito.”
“Você voltou a fumar?” Eu disse, temendo que ele tivesse recaído no hábito.
Ele deu uma risada amarga. “Eu queria.” Fungando e esfregando as palmas das mãos, ele olhou para mim. “Por favor, prometa que vai me perdoar.”
“Pai, eu prometo. Só me diga o que é, por favor.” Eu disse, minha paciência se esgotando.
“Eu...” Ele limpou a garganta. “Eu usei você como garantia.”
Eu pausei. Não tinha certeza se entendi o que ele disse. “O que você quer dizer?”
Ainda esfregando as palmas das mãos, ele disse. “Para um empréstimo. Eu usei você como garantia.”
Eu olhei para ele, ainda confusa. Dei uma risada curta. “É isso o problema? Vamos, pai. Você me prometeu que parou. Agora, estou realmente decepcionada que você voltou a fumar.”
“Isso não é efeito da nicotina, Olivia. Por mais que eu queira que isso seja um sonho, não é. Eles estão vindo atrás de você.”
“Eles? Do que você está falando?”
Ele desviou os olhos de mim e começou a chorar. Seu peito arfando violentamente.
Eu olhava em total descrença. “Quem são eles, pai?”