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Eu vou pegar

Era uma noite sem estrelas. Fria e com neblina. Certamente não era o momento ideal para dirigir. John Doe sabia disso, e sabia o que o esperava. Mas ele afastou esses pensamentos, confiando em dois fatos. Primeiro, ele não estava indo para Brookehurt. Sim, a casa de sua mãe ficava um pouco afastada da cidade. Levava cerca de vinte minutos para chegar lá a partir da casa dela. Segundo, não era noite de lua cheia. Nenhuma ameaça para se preocupar.

E assim, ele dirigiu. Mas a sensação de inquietação ainda estava nele.

"Mais um pouco," ele disse. Nesse momento, algo atravessou a estrada. Ele pisou no freio, olhos arregalados. Coração disparado. Ele desligou o motor, deixando apenas os faróis acesos. E escutou. Tudo o que podia ouvir era o som dos grilos.

Quando um minuto se passou e ele não ouviu nada, continuou, lembrando-se de não se preocupar. Que ele chegaria em casa. E quando chegasse, seria o fim das viagens noturnas. Meu Deus, o que ele estava pensando ao sair em uma hora tão imprópria? Se não fosse por Marie, sua esposa sempre reclamona, ele deveria ter saído muito antes do pôr do sol.

Ele suspirou. Deixe-o apenas terminar a viagem e assim que voltasse, daria um pedaço de sua mente a Marie. Mal o pensamento surgiu, houve um solavanco no porta-malas. Por reflexo, ele pisou no freio novamente. Lentamente e esperando que fosse apenas um sonho, ele se virou. E lá, agachado no porta-malas, estava uma criatura. Seu pelo tão claro quanto o céu, mas com olhos tão ferozes que você podia sentir seu olhar penetrante. Ela rosnou, fazendo John Doe gritar. Ele tentou ligar o carro, mas o motor se recusava a pegar.

Não, não, não. A criatura rosnou novamente enquanto John Doe continuava tentando ligar o carro. Então ela parou ao lado dele, quebrou a janela e enfiou o braço. John Doe se esquivou e esticou-se para o outro lado. Ele abriu a porta, mas antes que pudesse sair, a criatura agarrou sua perna. Suas garras penetrando profundamente em sua carne.

John Doe gritou enquanto a dor o consumia. Mas ele não ia desistir. Não, ele lutaria até que a criatura — o lobo fosse forçado a soltá-lo. E foi o que ele fez. Usando o outro pé, John pisou no braço da criatura, mas ao contrário do que ele pensava, ela não cedeu.

Em um movimento rápido, a criatura pulou para dentro do carro e montou em John. Ela então o silenciou fazendo um corte em sua garganta. Sangue fresco jorrou, sujando o banco do carro, desumanizando John. A criatura mergulhou a boca na ferida aberta, sugando o líquido da vida.

Quando terminou, ele se transformou. O pelo e as dores mortais desapareceram. As orelhas eriçadas se foram.

Era humano, com a única coisa que dizia o contrário sendo os caninos ainda pontiagudos. Ele saiu do carro e desapareceu na neblina, pronto para outra presa.


==Olivia==

"Caramba, não vejo a hora de ir ao banheiro," disse Leah, encostando a cabeça no encosto.

"Você com certeza precisa." Abri a porta do carro. "Obrigada pela noite."

Leah me deu um joinha. Fiquei observando ela ligar o carro e ir embora. Quando ela se foi, entrei no prédio e peguei o elevador até meu apartamento. Meus olhos estavam bem pesados. Que erro eu cometi ao aceitar os termos de Leah. Passamos o tempo bebendo. Não vou mentir e dizer que não me diverti. Me diverti, conheci pessoas novas, a música e tudo no bar era bem bom e animado, mas, nossa, podia ser barulhento. E as bebidas, não eram para mim. Me contentei com dois shots de vodka, e isso mexeu com minha cabeça.

Estava prestes a usar a chave para abrir a porta quando percebi que já estava aberta. Papai estava em casa? Um olhar de choque tomou conta do meu rosto. Isso era bem estranho, dado que ele tinha dito que ia viajar hoje. De qualquer forma, deixei o pensamento de lado e entrei.

A sala estava escura, então acendi o interruptor. Bocejei, caminhei até a cozinha ao lado da sala. Abri a geladeira, peguei um copo e me servi de água.

Depois de beber, fui para a sala, peguei minha bolsa e comecei a caminhar em direção ao meu quarto. Foi quando notei que o quarto do papai ainda estava aberto.

Estava entreaberto e eu podia ouvi-lo falar.

Aproximei-me e encostei o ouvido na parede.

"Por favor, só me dê essa semana. Eu vou conseguir. Por favor."

Meu coração saltou ao ouvir isso. Era obviamente um dos seus credores. Um grande nó se formou na minha garganta e levantei a mão para bater na porta dele, mas parei. Não sabia como abordá-lo. Não sabia como confortá-lo. Então, me virei e fui para o meu quarto.

Desabei na cama, olhando para o teto. As lágrimas que estavam nos meus olhos começaram a escorrer. Não podia suportar ver papai nesse estado. Isso me machucava além das palavras. O que me machucava ainda mais era minha incapacidade de ajudar. Fui tentada a começar a me arrepender, mas parei com isso. Não adiantava. O que eu tinha que fazer agora era tentar encontrar uma maneira de ajudá-lo. Isso era tudo.

Suspirando, me virei para o outro lado, olhando para a janela.

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