




Uma mordida de cada vez
==Matteo==
Lentamente, meus olhos se abriram. Fiquei olhando para o teto por algum tempo, antes de finalmente me levantar. Sentei na beirada da cama e passei a mão pelo cabelo.
Levantei, caminhei até o armário, abri e peguei meu roupão. Quando me virei, meus olhos encontraram algo... notável. Um amassado no chão. Uma carranca se formou no meu rosto enquanto eu olhava para a pilha de roupas espalhadas. Um sutiã, uma calcinha e um vestido. Olhei para a mulher na cama. Suas pernas estavam abertas, o cobertor incapaz de cobrir adequadamente seu corpo nu.
Fiquei olhando para ela por um tempo, antes de sair para escovar os dentes. Caminhei pelo corredor, até a varanda.
“Bom dia, senhor,” disse um empregado.
Peguei o jornal dele e me acomodei em uma poltrona. Logo, outros dois empregados vieram e prepararam meu veneno. Salada de frutas e uma xícara de chá.
Enquanto lia o jornal, espetei o garfo na salada de frutas. Comendo uma mordida de cada vez.
“Mande o Ricardo vir até mim,” eu disse.
Em pouco tempo, o referido empregado estava ali.
“Limpe meu quarto, por favor.”
Ele assentiu e saiu imediatamente. Não demorou muito para eu ouvir sons de protesto. Primeiro veio um grito.
“Porra, você não sabe bater na porta?” ela disse. “Saia, quero me trocar. Eu disse saia.”
Então, veio o grito dela. “Onde está seu chefe? Vou garantir que você seja demitido. Vai se foder! Porra.”
Permaneci impassível com a confusão que estava acontecendo e continuei lendo. Algum tempo depois, outro empregado veio.
“Senhor. Os membros do conselho estão online agora.”
Eu o dispensei com um gesto, levantei e fui tomar um banho. Vesti meu terno e entrei no meu escritório.
Sentei e me conectei.
“Bom dia, senhor.”
Não disse nada, então um dos membros do conselho apresentou a pauta da reunião. Passamos pela pauta e chegamos ao último ponto.
“Ainda temos alguns devedores, e—”
“Por que isso?”
“Bem, senhor...”
Levantei a sobrancelha esquerda, incentivando-o a continuar com o que tinha a dizer.
“A maioria deles ainda não ultrapassou o prazo.”
“E os outros que já ultrapassaram, o que tem a dizer sobre eles?” perguntei.
“Estamos trabalhando nisso.”
“Preciso de uma lista dos devedores.”
“Claro, senhor.”
Com isso, a reunião foi encerrada. Fiquei olhando para o laptop agora em branco, uma onda de frustração me envolveu. Odiava o fato de não estar fisicamente presente na reunião, mas era melhor assim.
Recostei-me na cadeira, fechando os olhos enquanto revisava tudo o que foi discutido na reunião. Devedores. Por mais que eu sentisse prazer em recuperar minhas coisas sempre que um devedor não cumpria o prazo, estava cansado de ouvir suas súplicas. Especialmente o homem que se chamava Pete. Ele havia tomado uma grande quantia de dinheiro emprestado de mim e não tinha me pago. Já estávamos no meio de abril. Era hora de eu pegar o que me pertencia.