




Capítulo 6 - Invadindo sua câmara
"Vamos, me diz onde você está ficando agora."
Amanda ouviu Noman reclamar pelo fone de ouvido. Ela estava confortavelmente deitada de bruços em frente à tela do laptop enquanto o aplicativo do Skype estava ligado. A primeira coisa que fez depois de sair do refeitório foi entrar em contato com seu melhor amigo, conforme combinado. Ela precisava de alguém para conversar, precisava de um escape para desabafar sua frustração com o desenrolar dos acontecimentos, e ele era a pessoa perfeita para isso.
"Não posso," ela balançou a cabeça. "Você sabe que não posso. O Chefe me instruiu a não contar."
"Ah, pelo menos liga a câmera para eu ver que você não está em algum lugar suspeito."
Amanda viu seu amigo fazer uma cara de cachorro pidão pela tela do vídeo. Essa era uma das cartas na manga de Noman para fazer alguém obedecer. Aparentemente, estava funcionando com ela.
Ela sorriu e pensou por um momento.
"Ok, vou ligar a câmera, mas não grita."
Ela pegou o mouse e clicou no botão de vídeo. No momento em que a tela abriu, os olhos de Noman se arregalaram.
"Caramba! Meu Deus! Você está mesmo em—"
"Sim," Amanda imediatamente interrompeu e revirou os olhos. "Agora fica de boca fechada, especialmente para o Matteo. Não conta isso para ele ou eu vou me meter em encrenca."
Noman fez uma saudação para ela. "Entendido, chefe, mas sério, como você está se saindo aí? Você já viu..." ele pausou e levantou as sobrancelhas, "Ele?"
Por "ele", Noman queria dizer o Mestre Vitalis.
Mas que droga? Por que ele pulou direto para esse assunto?
Amanda bufou. Ela se levantou e mudou de posição para um agachamento.
"Sim, jantei com ele esta noite," ela respondeu enquanto ajeitava sua camisola, uma camiseta larga. Por baixo, ela usava apenas uma calcinha.
"Onde? No quarto dele?" Noman sorriu, dando um significado diferente à palavra "jantar".
Amanda de alguma forma entendeu isso. "Dom! Você é louco, sabia?" ela gritou.
"Ahã, eu já sei," ele admitiu sem demora. "Agora, me conta os detalhes."
Amanda suspirou, levantou o joelho direito e apoiou o queixo nele. "Nós só conversamos sobre coisas normais, mas na maior parte foi um jantar silencioso e constrangedor."
"Pshhh, isso soa como ele mesmo, mas você não está me contando tudo. Vamos, me dá mais detalhes."
"Nada demais, Dom, mas teve uma vez que ele agiu de repente de forma diferente."
"O que você quer dizer?"
"Como um esquisitão diferente." Amanda mordeu o lábio. "Bem, sim, ele já é um esquisitão, mas tem algo diferente nele. Não consigo identificar."
Em resposta, Noman revirou os olhos. "Querida, ele tem um animal selvagem como animal de estimação, isso já é um ponto. Quer que eu enumere mais quatro?"
Amanda franziu a testa. "Não estou falando das coisas visíveis. Estou falando daquelas que eu posso sentir. A aura dele, é tão sombria."
Noman engasgou e cobriu a boca.
"Meu Deus, quase esqueci que você tem essa coisa de vidente."
"Coisa de vidente, hein?" Ela riu. "Você deveria aprender as palavras certas, Dom."
"Bem, tudo o que posso dizer é que tome cuidado aí." Ele passou a mão pelo cabelo. "Se você acha que ele é uma má notícia para você, então evite-o. Embora, seria um desperdício não provar aquele traseiro delicioso dele."
Amanda cruzou os braços sobre o peito. "Dom, eu trocaria de lugar com você de bom grado."
"Como eu queria, mana, como eu queria," ele refletiu. "Mas eu não sou apto para ser perseguido por mafiosos e afins. Pelo menos você fica nesse castelo como uma princesa, né? Aproveite seu tempo aí. Não se sinta pressionada com o caso de assassinato. Tudo vai acabar bem no final."
"Oh Dom, você é o melhor amigo que alguém pode ter," Amanda suspirou novamente.
"E você tem muita sorte de me ter." Ele sorriu presunçosamente para ela. "A propósito, o que aconteceu entre você e o Matteo no topo da rocha esta manhã? Notei que você estava silenciosa o tempo todo quando desceu e parecia que o Matt também estava."
Amanda ficou em silêncio por um momento. Seus olhos caíram na varanda parcialmente aberta de seu quarto e na forma como a cortina de gaze branca balançava junto com a brisa fresca. Isso lhe deu tempo suficiente para repassar o momento que tiveram juntos naquele cume, especificamente o beijo, e Noman foi gentil o suficiente para esperar uma resposta.
"Nos beijamos," ela então informou após um minuto.
Noman apenas deu de ombros e soltou um suspiro relaxado.
"Mmhh, eu imaginei, e como foi? O que você sentiu?"
Amanda, antes de responder, mudou de posição novamente. Ela se deitou de lado, juntando as pernas e colocou a mão direita sob a cabeça para apoiar seu peso. Seu rosto ainda estava claro na tela do vídeo, uma vantagem para Noman porque ele podia ver a expressão triste enquanto ela confessava para ele.
"Eu senti algumas faíscas, Dom. Pequenas faíscas no estômago, mas foi só isso. Elas desapareceram no momento em que nos afastamos. Não ficou. Não permaneceu no meu coração."
Na tela do vídeo, os ombros de Noman caíram.
"Bem, isso não é uma boa notícia para o Sr. Vice-Presidente."
"Eu sei," Amanda sussurrou. "Ele tem feito o melhor para me conquistar."
"Você é uma mulher difícil de conquistar, Cait. Alguma chance de você mudar de ideia sobre ter relacionamentos? Talvez se você fizer isso, ficará mais aberta às investidas dos homens."
"Não posso," ela balançou a cabeça. "É melhor que eu não faça. Você já sabe disso, Dom."
"Eu sei. Por isso sinto pena do Matteo."
E bem na hora, o celular de Amanda, colocado ao lado do laptop, tocou e vibrou. O nome de Matteo apareceu instantaneamente na tela do telefone.
"Oh não," ela murmurou.
"O quê?" Noman se endireitou na cadeira e examinou o espaço dela através da transmissão.
"Falando nele, ele está me ligando agora," ela informou, trazendo o celular para frente do monitor para ele ver.
Ele torceu os lábios. "Bem, boa sorte com isso! Atenda ele agora, Cait. Falo com você amanhã."
"Ótima maneira de me animar, amigo," ela murmurou e suspirou.
Noman pressionou as palmas das mãos contra a boca e soprou beijos invisíveis no monitor.
"Beijos voadores! Mwahhh! Tchau!"
E sua atividade no Skype foi desligada.
Amanda sorriu e então se levantou da cama antes de apertar o botão de atender.
"Oi Matt, boa noite, você ainda não está dormindo?" ela disse depois de se encostar na porta de vidro da varanda.
"Sim, fiquei pensando em você," a outra linha respondeu. "O que você está fazendo agora?"
"Acabei de terminar de falar com o Noman."
"Ele está em alguma encrenca de novo?"
"Não," ela respondeu, sorrindo levemente.
Mas eu estou.
"Ele só quer conversar, Matt. Você sabe como ele é."
"Ah, entendi. Bem, de qualquer forma, vou te buscar amanhã? Já disse ao motorista da empresa para tirar o dia de folga e dar uma volta pela área."
Isso fez Amanda apertar os olhos e inspirar silenciosamente.
"Ah, sobre isso. Lembra do programa de proteção a testemunhas que o Chefe Moretti mencionou?"
"Sim, o que tem?"
"Eu já estou nele agora. Ela me realocou para uma casa segura esta noite."
"Uma casa segura? Onde?" A voz de Matteo, um decibel mais alta, soou instantaneamente preocupada.
"Ah, essa é a questão," Amanda mordeu o lábio. "É confidencial. Ela disse que é para minha segurança."
Ela pensou que ele reagiria de forma negativa, mas então ficou surpresa quando foi recebida apenas com silêncio e depois uma simples resposta após um minuto.
"Entendi. Vou falar com ela amanhã."
"Por favor, não mencione isso ao meu padrasto. Ele pode surtar."
Ela ouviu uma risada sombria de Matteo então.
"Não se preocupe. Eu não vou."
"Obrigado, Matt. Eu te devo muito."
"Não mencione isso. Você é minha responsabilidade enquanto estamos neste país, afinal. O Sr. O'Malley vai processar meu culo se descobrir sobre sua situação atual."
"É, nossa," ela exalou profundamente e deu um passo para trás para fechar a porta de vidro.
"Ei, Cait, sobre esta manhã, eu..."
"Oh merda!" Amanda xingou alto. Ela estava toda ouvidos para o que ele estava prestes a dizer, mas o interrompeu involuntariamente quando viu um visitante inesperado dentro de seu quarto ao se virar.
"O-o quê? O que aconteceu, Cait?" Matteo, com uma voz profundamente preocupada, perguntou.
Amanda respirou fundo e piscou várias vezes. Ela não podia acreditar que o animal de estimação do Mestre já estava deitado confortavelmente em sua cama.
"N-nada. Só tem um gato grande que decidiu entrar no meu quarto," ela afirmou.
Se fosse qualquer outra coisa, ela teria sentido medo, mas lembrando como a fera pulou alegremente em cima dela dias atrás, ela percebeu que não precisava se sentir assustada. Apesar de sua aparência, o animal era incrivelmente amigável.
"Um gato grande?" Matteo repetiu, soando confuso. "Você não tem medo de gatos."
"É, bem, eu tenho que ir." Ela se moveu para a cama e subiu nela com a mão livre estendida sobre a testa da pantera. "Preciso tirar esse gato da minha cama. Vamos nos falar, Matt!"
"Espera, Cait!"
"Tchau!"
E ela desligou.
Ela jogou o celular nos travesseiros e soltou um suspiro profundo.
"Oh Deus, você acabou de me salvar, garoto, mas por que você está aqui?" Amanda esfregou o queixo da pantera e olhou para os lados, para frente e para trás e quase todos os cantos de seu quarto para garantir. "Seu Mestre está com você?"
O animal apenas fechou os olhos silenciosamente, não dando nenhuma resposta a Amanda.
Ela, em troca, franziu a testa. "Você quer dizer que saiu escondido sozinho?"
Ainda não houve resposta.
"Ah, bom. Isso é melhor, na verdade." Amanda continuou a esfregar o queixo dele. "Não acho que conseguiria me recompor se ele estivesse aqui depois daquela nossa pequena discussão no jantar."
A pantera abriu os olhos e abaixou a cabeça no colo dela. Ele ronronou e fez um som de miado, contente.
Isso fez Amanda rir.
"Sabe, ao contrário do seu Mestre, você age de forma contrária à sua aparência. Você é um fofinho, Sr. Pantera."
"O nome dele é Bagheera."
Oh doce mãe do céu!
Amanda rapidamente olhou para cima, seu coração disparando como foguetes no céu ao ouvir a voz de Cord.
Meu Deus. Ele está aqui!
Ele se deixou entrar novamente e desta vez, estava muito mais perto da cama do que da última vez que a visitou.
Mas como? Como ele conseguiu entrar novamente sem que ela percebesse? Será que ela estava tão absorta acariciando o animal que não viu? Ou ele era realmente esse perseguidor habilidoso, pronto para atacá-la mais do que seu animal de estimação faria?
Amanda tentou uma pausa respiratória. Respiração profunda. Dentro e fora. Droga.
Ela se sentiu inadequadamente vestida por um momento.
"Bag-Bagheera, hein," ela falou e agiu naturalmente, continuando a acariciar o animal ainda relaxado. "Como no filme, Mogli: O Menino Lobo?"
"Sim, equivalente a isso," Cord respondeu com facilidade, como se não estivesse ciente da surpresa registrada no rosto da mulher. Isso o divertiu porque, em vez de ela exigir a razão de sua presença abrupta, ela apenas seguiu com o assunto em questão.
Amanda evitou olhar para ele. "Não vejo você como um tipo de cara que gosta de filmes infantis, Sr. Vitalis. Especialmente porque você acabou de invadir meu quarto novamente como um fantasma se movendo sem ser detectado."
"Eu não sou um tipo de cara que gosta de filmes infantis," Cord esclareceu. "Acontece que gostei do nome quando adotei esse traidor de besta."
"Traidor?" Amanda levantou uma sobrancelha.
"Sim, traidor," Cord respondeu com menos acidez do que esperava. "Não gosto quando esse animal foge de mim para ficar com você. É por isso que estou aqui, para levá-lo de volta."
Amanda, para seu desgosto, não conseguiu conter uma risada. Ela rapidamente limpou a garganta e respirou fundo. "Quieto, ele não é um traidor." Ela passou a mão na pelagem brilhante da fera. "Ele é apenas um animal amigável."
Cord esboçou um pequeno sorriso em resposta. "Huh, você deveria ver como ele trata os outros que vivem aqui."
Amanda levantou a cabeça e franziu a testa. Ela olhou para ele diretamente, sem qualquer reserva, e disse, mudando de assunto, "Sabe, às vezes quando você aparece de repente, me faz pensar que você não é cego de verdade. Me faz pensar que você usa essa venda por outros motivos."
"Outros motivos?" ele repetiu, divertido.
"Sabe, tipo, uhm, coisas... picantes."
Ela não tinha certeza de por que mencionou isso, mas, inferno, já era tarde demais para voltar atrás agora. Graças a Noman e suas histórias de conteúdo adulto, ela acabou soltando uma palavra sem sentido que não deveria mencionar para esse tipo de homem.
Cord, em reação, avançou e parou a poucos metros da beira da cama. Ele a dominava. Ela se sentia como uma anã diante dele.
"Conte, Amanda. Explique sobre essas... coisas picantes de que você fala." Sua voz ficou mais sombria, mais profunda, mais rouca, e Amanda sentiu um arrepio repentino ao ouvi-la.
"Você é... você é louco," ela comentou, ligeiramente sem fôlego. Ela deveria ser imune a esse tipo de ataque aos sentidos. Ela tinha certeza disso. Mas por que agora? Com ele?
Cord de alguma forma levou suas palavras a sério. "Oh, acredite em mim, Amanda, louco não é um adjetivo suficiente para me definir."
Amanda respirou fundo e endireitou as costas. "Uhm, talvez você devesse ir agora, Bagheera." Ela moveu o colo e empurrou a cabeça do animal para cima. "Seu Mestre precisa do sono de beleza dele."
Cord riu levemente e, droga, isso fez o coração de Amanda saltar do peito. Que melodia!
Ela olhou para ele e ele olhou para ela, ou pelo menos era o que parecia com ele ainda usando aquela maldita venda.
Havia uma atração magnética. Isso era o que ela sentia e ele também. Como se uma corrente forte os ligasse.
Embora para outras mulheres isso pudesse ser um bom sinal romântico e um chamado para a felicidade, para Amanda, inferno, ela odiava isso. Realmente odiava. Ela não gostava que homens entrassem em sua vida. Isso significava problemas para ela. Significava desgosto. Exatamente como o que sua mãe experimentou com seu pai biológico.
A pantera desceu da cama e, assim que fez isso, Cord se virou para sair, cortando seu pequeno momento celestial.
"Tenha uma boa noite de sono," ele disse e nada mais.
"Para você também," Amanda respondeu, escondendo um rubor indesejado ao abaixar a cabeça em direção ao chão.
Quando ele estava prestes a cruzar o limiar, Amanda levantou a cabeça e olhou para suas costas largas, fazendo buracos ali se fosse possível. Para seu choque, ela percebeu que ele nem estava usando uma bengala, apesar de seu estado frágil.
Estranho. Agora, sua suspeita de que ele não era cego dobrou.
Ela ouviu a porta principal se fechar, indicando a saída completa dos dois invasores do quarto. Com um suspiro de alívio, ela correu para fechar a porta do quarto. Ela não ia correr riscos agora e arriscar outro invasor, especialmente estando apenas de camisola.
Ela apagou as luzes, atravessou o quarto, puxou o plugue do laptop e se jogou no colchão, deixando uma luz suave do abajur na mesa de cabeceira.
"Cord Vitalis..." ela sussurrou, fechando os olhos. "Quem é você?"
Naquela noite, Amanda sonhou com a cor vermelha, com um pingente de ametista e com alfinetes e agulhas picando sua pele.
Especificamente em seu pescoço.