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5

Jacque entrou na casa dos Henry e seus nervos começaram a vibrar instantaneamente como uma banda de metais desafinada. E quando ela cruzou olhares com Fane, que estava parado no pé da escada, sentiu uma sensação estranha de formigamento na parte superior dos ombros e na nuca. Ela levantou a mão e a colocou no pescoço, inclinando-o um pouco como se estivesse rígido. A sensação não era dolorosa, mas era estranha.

Jacque tentou, sem sucesso, ela tinha certeza, captar o máximo de detalhes do garoto. Ele usava uma camiseta cinza escura de manga curta, jeans e botas de motociclista, e a carteira no bolso de trás estava presa com uma corrente de metal. Ele levava o visual de bad boy a um novo nível.

A expressão no rosto de Fane era de curiosidade. E poderia ser... nervosismo também? O pensamento surpreendeu Jacque. Ele não parecia do tipo nervoso.

Nos poucos momentos que levaram para se apresentarem, Jacque ficou completamente encantada. Estava apaixonada? Claro que não, mas desafiava qualquer mulher de sangue quente a ficar na presença de Fane Lupei e não babar. E se conseguissem, bem, então parabéns para elas. Certamente deviam jogar no outro time.

Uma voz de repente ecoou nas paredes de sua mente enquanto Fane levava sua mão aos lábios. Bem no fundo, Jacque sabia que era Fane fazendo toda aquela magia de falar pela mente. Mas parte dela simplesmente não queria aceitar isso. Afinal, como alguém poderia falar com outra pessoa através dos pensamentos? Não era possível, certo? E se fosse... bem... ela tinha visto O Iluminado. Não terminou muito bem.

Jacque piscou algumas vezes para clarear os pensamentos. O que ele poderia querer dizer com "finalmente" me conhecer? Será que essa voz sabia que estava esperando por mim? Novamente, ela escolheu ignorar a opção de que a voz pela qual estava realmente surtando poderia ser de Fane. Não havia razão para pensar que ele era um maluco até que fosse absolutamente necessário e sem dúvida. Ok, hora de ir para casa.

Jacque precisava falar com Sally e Jen sobre Fane. E tinha que decidir se contaria ou não esse segredo para sua mãe e, mais importante, precisava ter um bom e purificador ataque de pânico. Não necessariamente nessa ordem.

Jacque puxou a mão do aperto de Fane, e ele não tentou impedi-la. Ela se virou para olhar para sua mãe, levantou as sobrancelhas e perguntou: "Ok, você está pronta? Comida entregue. Missão cumprida. Estou pronta para ir." Antes que sua mãe pudesse responder, Jacque se virou para suas duas amigas. "Sally, Jen, vocês estão prontas para ir?"

"E deixar esse pedaço de carne sozinho? Eu não poderia fazer isso. Não seria nada amigável. Ai!" Ela gritou quando Sally pisou com força nos dedos do pé de Jen. "O que há com vocês duas?"

"Jennifer," disse Sally entre dentes cerrados. Ela levantou as sobrancelhas e fez um gesto com a cabeça em direção à porta. "Precisamos realmente ir. Temos aquela coisa para a qual não queremos nos atrasar."

"Que coisa?"

Outro pisão da ruiva. "Ai, filho da pu—"

"A coisa!" retrucou Jacque. "No lugar." Ela se abaixou e agarrou Jen pelo braço, puxando-a para cima. Sally fez o mesmo.

"Ah! Aquela coisa!" O rosto de Jen se iluminou. "Sim, extremamente importante. A coisa. Não podemos nos atrasar. Desculpe, Fane." Sally e Jacque reviraram os olhos e balançaram a cabeça.

Lilly olhou para sua filha com os olhos semicerrados. Depois de um momento, ela assentiu e se levantou. "Obrigada, Sara, por nos receber. Desculpe, temos que ir tão cedo. Foi um prazer conhecê-lo, Fane. Não se faça de estranho. Você é bem-vindo em nossa casa a qualquer momento."

Fane fez uma leve reverência, colocando a mão sobre o coração. "Como dizemos em meu país ao nos despedir, Până data viitoare, luna vă poate lumina calea, que significa, 'Até a próxima vez, que a lua ilumine seu caminho.'"

Jen olhou para Fane com uma sobrancelha levantada e um sorriso sexy só dela. "Como sabemos que você não está realmente dizendo, 'Moças, vocês têm peit...'"

Sally tapou a boca de Jen com a mão. Jacque empurrou a loira, sem filtro, enquanto Sally impedia suas palavras de saírem.

"O que ela quis dizer foi 'Igualmente'," Sally gritou por cima do ombro.

Jacque continuou a empurrar Jen em direção à porta, tentando muito não olhar para ver se Fane estava observando, mas de alguma forma sentindo que ele estava. Ela podia sentir os olhos azuis dele perfurando suas costas, e Jacque esperava não ter manchas de suor. Ela perdeu a batalha pela dignidade própria no último momento e olhou timidamente por cima do ombro. Claro, os olhos azuis cristalinos de Fane estavam fixos nela. Ele tinha um sorriso conhecedor no rosto, e seus olhos estavam ligeiramente semicerrados. Jacque sentiu como se Fane soubesse algo que ela não sabia, e ele achava isso extremamente divertido. Esse pensamento a fez estremecer por mais razões do que ela gostaria de considerar naquele momento.

"Estamos indo, Jacque. Que saco." Ela ouviu Jen resmungar. Jacque tinha começado a empurrar um pouco mais forte depois de ter encontrado o olhar do rapaz em questão.

"Bem, vá um pouco mais rápido, por favor!" Jacque sussurrou com os lábios apertados.

"Calma," rosnou Jen. "E vou matar vocês duas por pisarem nos meus dedos."

"Foi necessário," disse Jacque.

"Por quê?"

"Eu explico depois. Vamos."

As garotas caminharam rapidamente pela calçada e atravessaram a rua, nem se preocupando em ver se a mãe de Jacque estava atrás delas. Tudo o que Jacque conseguia pensar era que precisava colocar alguma distância entre ela e aquele gato. Ok, ela ainda não conseguia evitar chamá-lo de gato. "Bem, droga, é verdade, então vá se jogar num lago já." Ela resmungou para si mesma enquanto o calor do Texas a castigava. O asfalto refletindo o sol só tornava tudo mais quente, e Jacque percebeu que seus pés se moviam mais rápido por mais razões do que apenas um estudante de intercâmbio que a deixava confusa.

Uma vez dentro da casa, as três garotas subiram as escadas rapidamente e entraram no quarto de Jacque. Sally fechou a porta com firmeza e se virou, pressionando as costas contra ela e fixando os olhos em Jacque. Os lábios de Sally estavam apertados, e seus grandes olhos castanhos estavam semicerrados como uma águia focando sua presa.

"Que diabos, Jac." Jen bufou antes que Sally pudesse falar o que estava tão obviamente estampado em seu rosto acusador.

Ok, talvez ela tivesse surtado um pouco no final, mas o que elas esperavam? Ela estava ouvindo vozes! Jacque respirou lenta e profundamente. Parecia que ela estava fazendo isso muito ultimamente. "Primeiras impressões?" Jacque incentivou.

"Ah, não sei, talvez algo como OH MEU DEUS, gaguejar, babar, CARA, ofegar, respirar fundo, CÉUS," Jen disparou.

A cabeça de Sally balançou como uma verdadeira boneca bobblehead. "Sim, o que ela disse, mas com mais ofegos e respirações profundas do meu corpo completamente e totalmente inapropriadamente excitado."

"E você?" Jen perguntou. "Você não parecia tão hipnotizada quanto nós. Por que isso?"

"Ah, não sei." Jacque suspirou. "Talvez porque eu estava, sabe, um pouco distraída pela VOZ NA MINHA CABEÇA!" Jacque percebeu que estava gritando. Ela passou as mãos pelo rosto e apertou os olhos com força. "Desculpe, não deveria descontar meu estresse em vocês duas. Eu só estou, só estou... não sei... surtando, acho." Ela não estava pronta para discutir o fato de que tinha quase certeza de que a voz era de Fane. Isso só abriria uma nova lata de vermes, e ela ainda não tinha descoberto o que fazer com os vermes que já estavam lidando.

"Você tentou responder à voz? Sabe, como responder através dos seus pensamentos?" Sally perguntou timidamente.

Jacque balançou a cabeça. "Sinto que se eu fizer isso, estarei apenas solidificando o fato de que estou perdendo a cabeça."

"Você NÃO está perdendo a cabeça. Algo definitivamente está acontecendo com esse cara, Fane. Ninguém, e quero dizer ninguém, pode ser tão bonito, fazer você querer se enroscar e ronronar quando ele fala com você, e não ter algum tipo de magia sobrenatural. Algo está estranho, e não é o frango frito da sua mãe," Jen disse a ela.

Jacque se virou para a janela e abriu as persianas. Ela olhou para a casa dos Henry do outro lado da rua e se perguntou o que fazer sobre Fane Lu-seja-lá-qual-for-o-sobrenome-dele. Jacque ouviu suas duas melhores amigas se aproximarem. Elas colocaram os braços ao redor dela.

"Eu sei que já disse isso antes, e vou continuar dizendo até que entre nessa sua cabeça indomável e cacheada. Vai ficar tudo bem. Você não está sozinha nisso, ok?" Sally disse firmemente.

"Sim, amiga, você nos tem, não importa o que aconteça," Jen concordou. "Além disso, somos muito curiosas para não ficar por perto e ver o que acontece."

Sally puxou uma mecha do cabelo de Jen como se a estivesse repreendendo. "Ai! Droga, só estou dizendo!" Jen resmungou.

Jacque se afastou da janela, enxugou as lágrimas que nem tinha percebido que estavam ali e abraçou suas amigas. "Ok, eu sei que vocês precisam ir para casa e garantir aos seus pais que ainda estão vivas e não foram abduzidas nem nada. Mas vocês acham que podem voltar mais tarde?"

Ambas as garotas assentiram.

"Eu vou ter que lavar roupa e arrumar meu quarto para acalmar minha mãe, você sabe como é, mas depois posso voltar e passar a noite de novo se sua mãe estiver de boa com isso," Jen explicou.

Sally também falou. "Sim, posso voltar por volta das 19h. Só preciso cuidar de algumas tarefas também."

"Ok, isso parece bom. Vou avisar minha mãe. Tenho certeza de que ela não vai se importar."

Jacque as acompanhou até a porta da frente e observou enquanto cada uma caminhava até seus carros. Ela ficou na porta olhando para elas até que não pudesse mais vê-las.

Jacque ficou no hall de entrada olhando para o nada. Seus olhos perderam o foco no mundo ao seu redor, e sua mente estava a mil. Ela estava tentando decifrar os pensamentos, mas era inútil, pois estava cansada, emocional e começando a perceber que, desde que saiu da casa dos Henry e se afastou de Fane, estava usando todas as suas forças para não se virar e correr, não andar, mas correr como um gato com um rojão amarrado no rabo, de volta para ele. O que diabos estava errado com ela?

A cabeça de Jacque se ergueu quando ouviu sua mãe gritando do andar de cima.

"Jacque? Preciso ir à loja por um tempo. Tenho um novo estoque para cuidar, e como consegui contratar mais funcionários, finalmente posso me atualizar." Sua mãe chegou ao topo da escada e olhou para ela. Inclinando a cabeça, perguntou: "Você está bem, querida? Parece um pouco desgastada."

"Não, estou bem, só um pouco cansada. Não dormi bem na noite passada," Jacque mentiu. Então ela pensou em como estava sentindo as emoções de sua mãe tão fortemente mais cedo e decidiu dizer algo. "E você, mãe? Está bem?"

"Estou bem, só tenho muita coisa na cabeça, só isso. Nada com que se preocupar. Por que você não deita um pouco? Você vai ficar bem enquanto eu estiver fora? Precisa que eu pegue alguma coisa para você enquanto estou fora?"

"Não, vou ficar bem. Obrigada. Ah, sim, eu queria ver se você está de acordo com Sally e Jen passarem a noite aqui de novo hoje."

"Desde que os pais delas estejam de acordo. Vocês podem pedir pizza se eu não estiver em casa na hora do jantar," ela respondeu.

Jacque abraçou sua mãe e se despediu antes de subir para o seu quarto. Ela fechou a porta, apagou as luzes e colocou seu CD do Evanescence no aparelho de som. Estranhamente, a música a acalmava. Então ela se deitou na cama e fechou os olhos.

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