




Capítulo Seis
Bowie evitou olhar nos olhos dela – preferindo fixar o olhar em seu queixo – e colocou a grossa tira de couro na boca dela, garantindo que seus dentes superiores ficassem separados dos inferiores. Os dois homens se posicionaram de cada lado da mesa. Bowie olhou para Ellie e fez uma careta, o remorso evidente em seu rosto incomumente anguloso. Jack derramou um pouco de água morna e limpa sobre o osso saliente, e Bowie segurou o outro lado da perna dela, mantendo-a no lugar. Ela tremia enquanto as mãos de Jack pairavam sobre o osso.
Sem qualquer aviso, Jack empurrou o osso dolorosamente de volta ao lugar. Ellie mordeu forte o couro, seus gritos abafados fazendo Jack e Bowie se encolherem. Ela sentiu seu mundo girar enquanto se contorcia de dor antes de finalmente perder a consciência.
Bowie cuidadosamente derramou o remédio na perna dela enquanto Jack a segurava no lugar. Eles trabalharam juntos rapidamente, enfaixando a perna dela firmemente e colocando-a em uma tala improvisada. Jack removeu as amarras dela e a puxou para uma posição sentada. Bowie trouxe um longo vestido branco para a mesa e começou a ajudar Jack a vestir Ellie. Era um vestido longo, de ombro caído, com mangas bufantes que passavam das mãos dela. A barra do vestido caía logo abaixo dos joelhos de Ellie e abraçava seu corpo firmemente.
“Eles estão vindo?” Jack perguntou suavemente a Bowie enquanto começava a amarrar as costas do vestido. Bowie mal balançou a cabeça, mas foi o suficiente para Jack perceber. Jack suspirou de alívio e ficou em silêncio, concentrando-se na tarefa. Quando finalmente vestiram Ellie, Jack trouxe outra tigela de água limpa e fria para a mesa. Ele começou a borrifar gotas gentilmente no rosto dela. Ellie se mexeu levemente, então Jack continuou até que ela começasse a acordar. Ela abriu os olhos lentamente, absorvendo o ambiente. Estava confusa no início, mas então de repente lembrou-se do que havia acontecido e praticamente pulou dos braços de Bowie.
“Ah, filho da mãe!” Ela enterrou o rosto nas mãos e gemeu. “Achei que estava sonhando.” Jack riu ao lado dela, e Ellie abaixou as mãos o suficiente para lançar um olhar sujo para ele. “Vai se ferrar, Jack.”
“Jack?” ele perguntou com uma voz profunda, confuso com o nome que ela lhe deu.
“Sim, Jack. Sabe? Tipo ‘Jack Frost’?” Jack apenas olhou para ela de forma inquisitiva e Ellie riu. “Você não conhece ‘Jack Frost’? Onde estou? Marte?” Ellie riu da própria piada e depois fez uma careta quando a dor atravessou sua perna.
Jack trocou um olhar com Bowie e balançou a cabeça levemente. Ellie se endireitou, intrigada. Era óbvio que ela não deveria ter visto a troca entre os dois. A mesa em que Ellie estava sentada deixava suas mãos na altura da cintura dos dois homens, então ela aproveitou esse fato para obter a informação que queria. Ela se virou para Jack e abriu a boca como se fosse dizer algo. Em vez disso, suas mãos dispararam e agarraram Jack pelos testículos. Ele gritou de dor e tentou se afastar, mas Ellie apenas apertou mais forte.
“Fique parado, ou eu vou arrancar seu saco e enfiá-lo na sua garganta,” ela avisou. Jack congelou no lugar, em pânico – e aparentemente ligeiramente excitado. Ellie revirou os olhos e ignorou a contração que sentiu nas calças dele. “Diga-me, Jack, onde diabos eu estou?”
“Eu – eu realmente não posso dizer,” ele gaguejou. Ellie começou a apertar mais forte e ele gritou de dor. “Tudo bem! Tudo bem!” Ellie afrouxou o aperto, mas apenas um pouco. “Você foi trazida para o nosso reino,” ele engasgou.
“Seu reino? O que você quer dizer? Isso é algum tipo de coisa estranha de ‘larping’? Porque, deixe-me dizer, eu não estou interessada nisso, muito obrigada.”
“Não sabemos o que isso significa. Tudo o que sei é que você foi trazida para cá, para o nosso reino,” ofereceu Bowie.
“Seu ‘reino’?” Ellie gritou, frustrada. “O que isso sequer significa?”
"Isso significa que você foi trazida do reino humano para o reino mítico," uma voz fria e sedosa disse por trás deles. Ellie pulou, surpresa, e Jack aproveitou a oportunidade para se afastar dela. Ele e Bowie caíram de joelhos, curvando-se profundamente para o homem à sua frente. Ellie cuidadosamente balançou as pernas para fora de um lado da mesa para poder se virar e encarar o homem atrás dela.
O homem era alto, como todas as pessoas aqui pareciam ser. Ele usava uma máscara de veludo preto que cobria metade do rosto, com vidros escuros nos buracos dos olhos, escondendo a verdadeira cor de seus olhos. Uma longa capa preta e fluida pendia ominosamente de sua figura esguia. O capuz estava levantado, cobrindo completamente seu cabelo. Ele acenou com a mão descuidadamente, dispensando Jack e Bowie da sala. Eles se levantaram silenciosamente e saíram sem dizer uma palavra. O homem voltou sua atenção para Ellie e deslizou em sua direção até ficar de pé na frente dela. Ellie teve vontade de chutá-lo na virilha, mas o homem colocou as mãos firmes nos joelhos dela e balançou a cabeça, rindo.
"Nem tente. Eu não sou tão burro quanto os ajudantes, você não vai me pegar com uma tática tão suja."
"Que pena. Você parece exatamente o tipo de cara que merece um bom chute no saco," ela disse docemente. O homem sorriu amplamente para Ellie, exibindo um conjunto de dentes anormalmente perfeitos.
"Você não é como a maioria dos humanos que passam por aqui. Parece não ter medo de nós."
"Medo? Por que eu teria medo de um homem que esconde quem é? Você é ou muito feio por baixo dessa máscara ou alguém muito poderoso. De qualquer forma, não me importo. Não pretendo ficar aqui mais do que o necessário," Ellie disse de forma casual. Ela limpou um pouco de sujeira imaginária do vestido e olhou para o homem friamente.
"Você é muito atrevida. Eu gosto bastante da sua ousadia," ele disse com interesse. Seus olhos percorreram o vestido apertado e o rosto de Ellie queimou de raiva e frustração. Ela odiava ser olhada como um pedaço de carne.
"Minha ousadia? O que você é – um gângster dos anos 1920?" O homem riu novamente. Ele parecia achar tudo o que ela dizia interessante ou engraçado, embora suas reações deixassem Ellie nervosa. Ele parece perigoso. Eu provavelmente deveria ser legal e calar a boca. Ellie, contra seu melhor julgamento, ignorou o pensamento. "Para onde eu vou para sair daqui? Não gosto muito das pessoas daqui."
"Você, querida, vai ter que esperar até o leilão acabar. Então, eu vou te levar para casa e vamos nos divertir muito juntos," o homem disse sedutoramente. Ele se inclinou mais perto de Ellie e ela instintivamente se afastou dele.
"Ugh, você é meio assustador, sabia?" Droga. Eu realmente não sei quando parar de falar. Ellie engoliu em seco quando o homem de repente ficou muito quieto. Ela podia praticamente sentir a raiva emanando dele. Ah, eu estraguei tudo. Ela se repreendeu mentalmente e observou o homem cautelosamente, esperando sua resposta.
"Assustador, é?" Ele empurrou as pernas de Ellie dolorosamente e ficou diretamente na frente dela, seu rosto mascarado a poucos centímetros do dela. Ela ofegou e tentou se afastar dele, mas ele agarrou sua garganta e a manteve no lugar. Ele aproximou o rosto da linha do maxilar dela e inalou profundamente. Ellie estremeceu, enojada. O homem lambeu seu queixo, arrastando a língua do maxilar até o lóbulo da orelha. Ela tentou ficar imóvel para que ele não apertasse ainda mais sua garganta já sensível. "Querida, você não tem ideia de quão assustador eu posso ser. Oh, mal posso esperar para te levar para casa, bichinho." Ellie sentiu seu estômago revirar quando ele a soltou. Ele caminhou de volta para a abertura pela qual havia entrado e parou. "Ah, e mais uma coisa. Não tente escapar. Você está no reino mítico. Não há chance de você escapar daqui sem uma fada como eu para te guiar. E confie em mim, há muitas coisas perigosas que espreitam na floresta ao nosso redor que adorariam cravar os dentes em você." Ele riu friamente e saiu da sala, deixando Ellie se sentindo mais desesperada do que jamais havia se sentido antes.