Capítulo 1 A Profecia da Lua
A colônia estava sob ataque e todos foram pegos de surpresa por um bando inimigo, e mesmo que estivessem sempre alertas, dessa vez não tiveram tempo de se preparar.
Era uma daquelas noites escuras como breu, onde mal se pode ver qualquer coisa sem a ajuda do luar.
No meio da Floresta Leste, havia uma batalha acontecendo entre duas alcateias. Era difícil dizer a qual bando cada lobo pertencia, exceto pelo cheiro que exalavam.
Havia rugidos por toda parte e gritos daqueles que não tiveram tempo de se transformar ainda.
"Gerard, pegue a Selena e saia daqui," alguém gritou.
Era uma mulher idosa, com cabelos grisalhos e olhos doces, mas sábios. Era fácil perceber que ela era muito inteligente. Ela estava tentando evitar o golpe de um lobo marrom, protegendo-se com um bastão de metal. Ela acertou a cabeça dele com uma força imensa, e o lobo desabou instantaneamente.
"Rápido!" ela gritou novamente para o jovem do seu bando.
Ele correu para dentro da casa, desviando dos lobos que lutavam pelo caminho.
Selena era a jovem filha do Alfa do bando, Bryce, um líder míope e tirânico.
Gerard encontrou a criança agachada em um canto do seu quarto, tremendo e cobrindo os ouvidos.
Ela não tinha nenhuma experiência com batalhas. Era muito jovem e nem sequer conseguia se transformar em lobo ainda. Os barulhos lá fora eram incrivelmente altos, e cada vez que havia uma batida perto do quarto, Selena pulava do chão.
"Ei, garotinha," ele disse calmamente, agachando-se ao seu lado. "Que tal sairmos dessa confusão por um tempo e tomarmos um sorvete?"
Ele tentou soar o mais calmo possível, mas estava começando a parecer impossível continuar fingindo, já que os barulhos não eram um bom sinal do que estava acontecendo fora da casa.
Os olhos de Selena encontraram os dele e estavam cheios de lágrimas. Seu cabelo escuro estava todo bagunçado e ela estava de pijama, o que indicava que a menina deveria estar dormindo antes do ataque começar.
Ela assentiu com a cabeça, pegando a mão que ele oferecia para ajudá-la a se levantar do chão.
Gerard a pegou nos braços e correu para fora do quarto, tomando um desvio que levava aos fundos da casa. Ele rezou para que nenhum outro lobo chegasse lá antes dele, porque esse era seu único plano.
Depois de correr por um tempo, Gerard achou que o caminho estava livre de perigo, então colocou Selena no chão. Ele olhou para trás e não conseguiu ver nada. Estava muito escuro e ele só podia contar com o luar e as luzes de alguns carros passando em uma estrada próxima.
"Você está bem, garota?" ele perguntou a Selena.
"Sim."
"Você acha que consegue andar a partir de agora? Você é meio pesada para uma menina jovem, sabia?" ele tentou fazer uma piada para animá-la um pouco.
Ela sorriu, mas num piscar de olhos, mudou para uma expressão aterrorizada, vendo algo atrás dele.
"Cuidado!" ela gritou, apontando para alguém vindo em direção a eles. Gerard só teve tempo de se virar e ver um lobo muito grande e furioso rosnando para ele.
"Selena, corra!" ele gritou para ela, antes de se transformar em um lobo cinza.
Selena ficou paralisada por um momento, vendo os dois lobos gigantes lutando diante de seus olhos. Foi quando ela ouviu o som de um galho quebrando um pouco mais longe dali, que pareceu perceber o que deveria fazer.
Ela começou a correr como se sua vida dependesse disso, o que de fato dependia. Suas pernas não eram muito longas e, como criança, ela não tinha muito fôlego para correr longas distâncias, especialmente com o nariz entupido de tanto chorar.
Os barulhos atrás dela pareciam estar ficando mais próximos, mas ela não ousava olhar para trás.
A única coisa que ela continuava repetindo em sua mente era "transforme-se, transforme-se", mas ela sabia que isso não aconteceria. Especialmente porque ela ainda não tinha idade suficiente para isso e a primeira vez seria muito dolorosa.
Com esses pensamentos girando em sua mente, Selena se distraiu e tropeçou em algum tipo de galho que a fez cair no chão, batendo a cabeça fortemente em uma pedra e desmaiando imediatamente.
O lobo que a seguia parou de correr assim que ela caiu, quase não acreditando em sua sorte. Ela estava correndo muito rápido para uma criança tão jovem.
Quando ele estava prestes a fazer um movimento e matá-la, foi atingido por uma força massiva em seu lado direito, vinda da direção da floresta. O impacto foi tão forte que ele nem viu o que o atingiu.
Ele rolou algumas vezes no chão, antes de cravar suas garras no solo, perdendo velocidade e se levantando novamente sobre as quatro patas.
Olhando para cima, ele viu uma loba gigante com uma pelagem branca e majestosa como a lua. Ela tinha olhos azuis brilhantes e o olhava com um olhar mortal.
Assim que ele se preparou para atacar, a loba branca correu em sua direção, com a mandíbula aberta e mordeu seu ombro direito. O lobo rosnou alto, e a loba branca o lançou a alguns metros de distância.
Quando ele caiu no chão, desmaiado, a loba branca foi em direção à menina inconsciente e a colocou, cuidadosamente, em suas costas.
Ela levou Selena de volta para sua casa e a colocou adormecida em frente à porta. A luta já havia terminado.
Quando a Vovó abriu a porta, viu Selena dormindo no chão, e quando olhou para cima, viu as costas de uma loba branca indo na direção da floresta.
A Vovó levou Selena rapidamente para seu quarto e foi para a floresta, para o lugar onde viu a loba branca desaparecer.
Foi quando ela viu uma luz brilhante e tinha a forma mais bonita. Ela poderia jurar que estava olhando para a lua. A forma era de uma mulher com longos cabelos brancos, olhos azuis brilhantes, e ela sorriu gentilmente para a Vovó.
"Quem é você?" a Vovó perguntou, espantada com sua beleza.
"Eu sou o Espírito da Lua," ela respondeu simplesmente.
"Você salvou minha neta? Você era a loba branca que vi há alguns minutos?"
A bela mulher a encarou por mais um tempo e disse:
"Sim."
Ela ainda tinha aquele sorriso suave em seu rosto brilhante.
"Sua neta está destinada a algo realmente grande," o Espírito da Lua continuou.
"O que é?" a Vovó perguntou.
"Quando chegar a hora certa, ela se unirá ao meu filho e trará paz para ambos os bandos."
"Seu filho?" a Vovó continuou, sem entender exatamente o que o espírito queria dizer. "Quem é ele?"
"Eventualmente, tudo ficará claro. Apenas proteja a criança e mantenha-a viva."
A Vovó assentiu, embora ainda tivesse muito a perguntar.
Ela não sabia o que o destino reservava para Selena. Temia ainda mais pela vida de sua neta agora, mas sempre sentiu que a menina tinha uma energia diferente emanando dela. Ela só não conseguia explicar por quê.
Até aquele momento.