




Prefácio
Virginia
A caminhada do ponto de ônibus até minha casa era cansativa, ainda mais depois de passar uma hora e meia em um veículo público lotado. Mas fazia parte da minha rotina e eu só podia aceitar.
Cheguei em casa ansiando por sentar e colocar os pés em algum lugar, pois eles estavam latejando dentro dos tênis. Não importava o quanto o fabricante insistisse que eram confortáveis, não havia possibilidade de passar quase o dia todo em pé de forma agradável.
"Mãe!" chamei, depois de jogar minha bolsa no sofá duro e desgastado da sala da modesta casa onde eu morava com meus pais há vinte anos. "Mãe!"
Ela não respondeu e a preocupação logo tomou o lugar do cansaço, e eu praticamente corri para fora da pequena casa, procurando algum sinal da Dona Beth, popularmente conhecida como minha mãe.
Só consegui respirar normalmente de novo quando vi que minha mãe estava apenas dormindo tranquilamente no quarto dela.
Provavelmente estava tão exausta de mais um dia de trabalho que foi para a cama cedo e não acordou nem quando eu gritei por ela.
Pensei em como meus pais tinham trabalhado duro na vida, e como sempre tentaram me dar o melhor que a falta de condições financeiras permitia, e prometi a mim mesma, mais uma vez, que faria qualquer coisa para poder dar a eles uma vida confortável, pelo menos agora na velhice. Eu faria qualquer coisa, desde que não prejudicasse ninguém.
Voltei para a sala e chequei meu celular em busca de mensagens e chamadas perdidas, já que não o tinha tocado desde que saí do trabalho duas horas atrás.
Meu pai chegou naquele momento e parecia exausto. Depois de um dia de trabalho como pedreiro e com quase sessenta anos, isso era bem compreensível.
"Oi, pai!"
Aproximei-me do melhor pai que alguém poderia ter e tentei abraçá-lo, mas ele se esquivou, estendendo a mão para me impedir de fazer o que eu queria.
"Estou todo sujo, filha."
"Não me importo," falei em um tom carinhoso, e mesmo contra a vontade dele, dei um abraço apertado no Sr. Francisco e beijei sua bochecha.
"Menina teimosa. Sempre fazendo o que quer." Apesar das palavras, o tom dele também era carinhoso. "Vou tomar um banho, e podemos jantar."
"A mãe já está dormindo," comentei, me preparando para arrumar algo para comermos.
"Ela me ligou para dizer que ia dormir cedo." Ele me informou. "Mas nosso jantar está no forno."
"Então vou esperar você, e jantamos juntos."
Meu pai concordou com o gesto e foi para o quarto, enquanto eu fui ler minhas mensagens.
Mariana: Amiga, descobri um jeito de a gente ganhar muito dinheiro.
Mariana: E só afeta nossas vidas e de mais ninguém!
Sorri ao ler o que minha melhor amiga, que era completamente louca, mas que eu amava como uma irmã, me enviou, meu coração já acelerado.
Virginia: Muito dinheiro?
Mariana: Muito!
Virginia: Tem certeza?
Mariana: Estou falando de milhares de reais, amiga.
Fiquei imediatamente curiosa sobre como poderia ganhar tanto dinheiro assim, além de ganhar na loteria, mas não importava o que fosse, era muito dinheiro para eu perder essa oportunidade.
Eu tinha certeza de que Mariana não estava me chamando para cometer um assalto ou algo do tipo.
Virginia: Seja o que for, estou dentro!
Quando entrei no Season Hot Club com Mariana, o nervosismo tomou conta de todo o meu corpo, mas fechei os olhos e pensei no dinheiro que poderia mudar a vida dos meus pais e, quando os abri novamente, me enchi de autoconfiança e fui em frente. Eu faria isso.
Mariana tinha descoberto um clube secreto, que tinha uma forma muito incomum de entretenimento para aqueles que tinham muito dinheiro.
O clube oferecia leilões onde os homens podiam dar lances em vários tipos de "bens", desde um encontro com a mulher de sua escolha até uma noite de sexo, ou até mesmo a virgindade de alguém, que poderia ser tanto de uma mulher quanto de um homem.
Embora a prática fosse algo que eu poderia considerar muito grotesco, todas as pessoas que estavam no leilão tinham vindo por conta própria, assim como minha amiga e eu, mas é claro, a motivação era o dinheiro, já que os valores podiam chegar a milhares de reais.
Eu entendia que, embora todos estivessem ali por livre e espontânea vontade, o fato de um homem dar lances por sexo ou, pior, virgindade em um leilão desses dizia muito sobre ele.
Pensar que eu teria que me entregar a uma pessoa assim me dava um arrepio na espinha. Concentrei-me novamente no dinheiro, era o que me impulsionava a estar ali naquela noite.
Olhando ao redor da sala, notei que havia um bar muito "normal" e que o lugar estava bem movimentado. Olhei para Mariana, e ela assentiu, indicando que deveríamos ir até o balcão, onde algumas pessoas estavam atendendo os clientes.
Depois que nos disseram para onde deveríamos ir, seguimos naquela direção, onde fomos instruídas a procurar por Pamela, que era responsável por organizar os leilões.
"Vocês são as amigas do Luan, que vão participar do leilão de virgindade?"
A mulher estava vestida de forma muito sensual e era bonita, e nos olhou avaliando quando perguntamos se ela era Pamela.
"Sim, somos nós." Mariana respondeu, e sua voz mostrava a incerteza em suas palavras.
"Estamos totalmente dentro." Decidi intervir.
Luan, que trabalhava com Mariana em uma loja no centro da cidade, também era garçom no clube e nos explicou que eles só aceitavam pessoas que mostrassem que estavam dispostas a ir até o fim com aquele acordo, porque não queriam correr o risco de que o "bem" leiloado acabasse desistindo do negócio.
"Como vocês sabem, eu sou Pamela. Vou guiá-las pelo nosso leilão, e vocês podem desistir a qualquer momento." Ela falou gentilmente, mostrando sua satisfação com nossa confirmação. "No entanto, depois que eu subir ao palco, vocês não terão mais essa opção."
Nos olhamos com certo medo, Mariana e eu, mas fiz um gesto discreto para ela, para que soubesse que eu permaneceria firme até o fim da história.
"Como a Virginia disse, não pretendemos desistir." Minha amiga assegurou, agora de forma mais firme.
"Venham comigo, então."
Seguimos ela por um corredor longo e estreito que seguia a decoração de todo o espaço, em tons de prata e branco, tudo muito brilhante, totalmente o oposto do que eu imaginava para um ambiente daquele tipo, e rapidamente chegamos em frente a uma porta, que ela abriu e nos mandou entrar.
Era uma sala muito espaçosa com várias pessoas dentro, todas muito jovens e em vários estágios de nudez.
Entendi que a sala seria uma espécie de camarim e que as pessoas ali deveriam participar das "atrações" da noite.
Assim que Mariana me contou sobre o clube e o que acontecia lá, meu primeiro pensamento foi recusar, porque tinha medo de que alguém me visse naquele lugar e a história se espalhasse, chegando aos meus pais, que já eram idosos e ficariam muito tristes se soubessem o que eu estava prestes a fazer.
Mas Luan nos disse que todos que estavam lá usavam máscara para preservar sua identidade e isso me deixou mais tranquila. No entanto, naquela sala, não havia ninguém usando máscara ainda, e eu tinha medo de encontrar alguém que conhecesse. Por mais improvável que fosse, tudo era possível.
Olhei bem para todos e não reconheci ninguém, o que me fez suspirar de alívio.
"Vocês trouxeram as roupas, conforme instruímos pelo telefone?"
"Sim, está aqui com a gente," respondi.
"Ótimo. Vocês podem se trocar aqui e, quando for a hora de se apresentar no nosso salão, eu mesma virei buscá-las."
Ela saiu e nos deixou na sala, a insegurança querendo tomar conta novamente.
"Estou nervosa," confessei a Mariana.
"Eu também, mas vamos fazer como você repetiu a semana toda, desde o momento em que te contei sobre essa possibilidade louca." Ela disse com um sorriso nervoso no rosto. "Vamos ficar calmas e pensar apenas no dinheiro."