Capítulo 4
Ailee
Sempre fui a princesa do meu avô. Só não percebi a extensão completa disso até depois de completar dezoito anos. Foi então que comecei a ser preparada para assumir o lugar do meu avô. É incomum uma mulher assumir, mas acho que não é inédito, já que está acontecendo. Foi quando comecei a ver o lado mais sombrio das coisas. Coisas que provavelmente sempre soube que estavam lá, mas escolhi ignorar. Como ver Callen matar alguém bem na minha frente quando o cara tentou me sequestrar na escola. Ele ia tentar me usar contra meu avô para fazê-lo renunciar. Ou como o fato de que minha família traficava armas e lidava com algumas drogas ilegais. A lista de coisas às quais o nome O’Sullivan está ligado é bastante longa. Há uma coisa que me orgulho de dizer que não nos envolvemos, e isso é o tráfico de pessoas. Na verdade, trabalhamos para parar grupos que fazem isso. Esse foi meu primeiro assassinato. Eliminei um homem que vendia crianças como escravas sexuais. Isso mesmo, sou uma assassina treinada. Já torturei a pior escória do país sem piscar. É por isso que me chamam de rainha do gelo. Quando preciso obter informações, me torno gelo. Nada me afeta. Eliminarei qualquer um que trafique escravos sexuais. Especialmente envolvendo crianças. Não me arrependo disso. E faria de novo. Tenho orgulho disso.
Estava tão perdida em pensamentos sobre minha vida e o Sr. Ripley que não percebi que havíamos chegado. Callen me acompanhou para dentro enquanto meu motorista Finn estacionava. Me joguei no sofá, de repente muito cansada. Infelizmente, me canso facilmente hoje em dia. Callen foi para a cozinha preparar meus remédios da noite. Você pensaria que eu já estaria acostumada com essas coisas, mas ainda odeio tomar pílulas. Não gosto de como me fazem sentir. Sempre gosto de manter a cabeça clara.
Quando Callen veio até mim, colocou um grande copo de suco de laranja na mesa de centro e estendeu a mão. Peguei meu suco e a primeira de cinco pílulas. Assim que engoli a primeira, Callen disse: "Você estava com muita coisa na cabeça no caminho para cá. Quer falar sobre isso?" Engoli a segunda pílula antes de responder. "Não sei o que dizer. Não sei o que estava esperando. Algo. Talvez mais. Ele parecia querer mais. Como se acreditasse em mim. Então aquela mulher apareceu. Talvez o avô estivesse certo e devêssemos continuar procurando." "Você não acha que ele vai ajudar?" Suspiro. "Geralmente sou boa em ler as pessoas. Mas com ele, não tenho a menor ideia." Tomei a quarta pílula e inclinei a cabeça para trás. "Você estava esperando algo mais do que a medula dele, não estava?"
Tomei a última pílula, a maior, e bebi o resto do suco para engolir. Olhei para Callen. "É errado querer conhecer o homem? Quero dizer, além das histórias que a mãe me contou. Ou talvez que ele queira me conhecer. Só um pouco." Callen não respondeu, apenas sentou ao meu lado e colocou o braço ao redor, colocando minha cabeça em seu ombro. "Não há nada de errado em querer conhecer seu pai. Só não quero que você crie muitas expectativas. Se ele doar, isso pode ter que ser suficiente para você. Se ele não quiser conhecer a pessoa maravilhosa que você é, então é a perda dele." Me aconcheguei mais perto de Callen. Ele tem sido meu apoio, a pessoa em quem confio, ou choro no ombro quando preciso. Ele e Finn veem um lado meu que não mostro para outras pessoas. Basicamente, deixo o gelo derreter quando estamos só nós. "Você está certo. Tenho muita família. Não preciso dele se ele não me quiser. Fiz as pazes com isso há muito tempo. Não deveria me incomodar agora."
Ele beijou o topo da minha cabeça e se levantou. "Essa é a minha garota. Vamos comer algo e depois você precisa descansar. Primeiro dia de tratamento amanhã." Odeio isso. Não quero fazer quimioterapia de novo. Foi difícil o suficiente na primeira vez, quando eu era adolescente. Pelo menos eu tinha minha mãe comigo. Mas ela se foi há doze anos. Sei que meu avô estará aqui para mim e tenho Callen e Finn, então não estou completamente sozinha. Sou a herdeira do império O’Sullivan. Sou conhecida por ter um coração de gelo para aqueles que não me conhecem muito bem. Preciso ser assim. Mas para aqueles poucos selecionados, posso mostrar minhas emoções. E agora eles sabem que estou com medo.