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Capítulo 6 - Uma mudança nos planos

Zezi se escondeu atrás de outra árvore, seus sentidos em alerta. Ela estava ouvindo atentamente qualquer movimento.

Já fazia dois dias ou talvez até mais, ela não conseguia dizer ao certo. Estava ficando sem suprimentos e havia deixado suas armas na tenda quando fugiu.

Seus olhos doíam pela falta de sono e ela tinha certeza de que devia estar fedendo. Fazia um tempo desde que tinha tomado banho e ainda não tinha encontrado nenhum rio, nem chovido. Não podia desperdiçar a água que tinha com ela no corpo, estava reservando para a sede.

Correu para a próxima árvore e encostou as costas nela. Mordeu os lábios para não chorar. Sentia-se tão fria e sozinha. Sentia falta da filha e do marido, mas sabia que não podia voltar. Se voltasse, não conseguiria ficar. Ele a levaria embora, seria forçada a partir com o inimigo.

Ela tinha certeza de que, com o Alfa sabendo de tudo agora, ele teria feito outro acordo que a envolvia.

Mas poderia culpá-lo? Era só ela, uma membro da alcateia, contra toda a alcateia. Qualquer Alfa faria isso.

Ela encontrou outro lobisomem que a atacou novamente. Desta vez, demorou um pouco mais para derrubá-lo. Ele se transformou em lobo no ar e seus passos vacilaram um pouco.

Ela também se transformou, virando sua loba. Uma enorme loba prateada que fez o outro se encolher. Sua loba tinha olhos azuis, assim como ela. Sua loba estava com raiva e desesperada. Ela rosnou em aviso para seu oponente, um lobo marrom que obviamente não tinha chance. Mas o lobo não ouviu e avançou contra ela.

Ela tentou ao máximo não matá-lo, mas aquele lobo estava determinado a fazer o contrário. Qualquer loucura que tivesse se instalado em seu cérebro. Então, quando ele cravou os caninos em seu braço, passando pela pelagem, ela não hesitou em cravar suas garras no pescoço dele, rasgando seus pulmões.

O lobo caiu com um baque, sem vida. A alguma distância, ela podia ouvir um lobo uivando de dor.

Eles estavam aqui.

Com sua bolsa na boca, sua ferida cicatrizando rápido, mas sua pelagem manchada de sangue, ela correu.


Quando finalmente voltou à forma humana, já era noite. Ela estava tão grata por ter embalado algumas roupas extras, senão teria que andar por essa floresta nua.

Estava com fome, cansada e com medo. Transformar-se em loba tinha consumido toda sua força e agora estava sem comida. Caiu no chão exausta.

Por quanto tempo exatamente poderia correr? Para onde estava correndo?

Para longe, sua mente respondeu.

Mas onde era "longe"? O que estava fazendo era certo? Era sensato?

Não conseguiu pensar por muito tempo porque logo o sono que vinha tentando evitar há um tempo a dominou.

Ela se viu caindo em um pesadelo do que aconteceu na noite em que se tornou uma renegada. A noite em que os vampiros invadiram sua alcateia e mataram todos.

Ela podia sentir tudo de novo, o medo correndo em suas veias ao descobrir que seus pais estavam mortos. Podia ouvir os gritos, sentir o fogo queimando, suas pernas doendo de tanto correr.

Tudo aconteceu quando ela tinha oito anos. Eles atacaram e sua alcateia não estava preparada. Foi uma emboscada, que aconteceu no meio da noite.

Enquanto corria sem rumo com lágrimas escorrendo pelo rosto, alguém a puxou rapidamente. Antes que pudesse gritar, uma mão cobriu sua boca enquanto a pessoa a levava para um corredor escuro.

A voz que ouviu fez com que parasse de lutar. Era uma voz que conhecia muito bem. Era George, o filho do Alfa.

"Corra e não olhe para trás. Corra, Zezi. Eu estarei bem aqui ao seu lado, faremos isso juntos."

Foi naquela noite que seu ódio pelos Vampiros começou. Até então, eram apenas histórias sobre sua crueldade, mas naquela noite, ela experimentou e perdeu tudo.

Exceto George.

Ele também perdeu tudo, mas ficou com ela e fizeram isso juntos.

Ela começou a tremer enquanto estava deitada no chão frio. Lágrimas escorrendo pelos olhos, as imagens ainda passando em sua mente, as vozes ainda altas em seus ouvidos.


Quando acordou novamente, estava cara a cara com um guerreiro. Seus olhos se arregalaram ao reconhecê-la. Imediatamente, ele percebeu quem ela era, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela já o havia derrubado no chão e o deixado inconsciente.

Ela arrumou suas coisas rapidamente, afastando a fome.

Eles já estavam aqui?! Quanto tempo ela tinha dormido?!

O sol espreitando por entre as árvores respondeu sua pergunta e ela rangeu os dentes.

Era dia!

Ela sabia que não deveria ter adormecido! E agora, o que faria?

Antes que pudesse ir muito longe, ouviu uma corrente de prata balançando rapidamente pelo ar. Com sua audição aguçada, sabia onde ela iria cair. Pulou do chão naquele instante; a corrente que deveria prender suas pernas segurou o ar.

Ela olhou para trás, para seu atacante, e foi aí que cometeu um erro. Lá estava seu marido, atrás dela, seus olhos carregando uma dor sufocante.

Correntes de prata se enrolaram firmemente em suas pernas, alterando seu equilíbrio e arrancando-a bruscamente de seus pensamentos. Ela caiu com um baque. Tentou soltar as correntes rapidamente, mas elas queimaram suas mãos, e ela gritou de dor.

"George..." Ela chamou em um sussurro doloroso. Ele se aproximou, ao lado de seu atacante; seus olhos ainda não haviam deixado de mostrar toda aquela dor.

"O Alfa não quer que te machuquem." Ele disse quando finalmente ficou na frente dela.

"George...?"

"Aconselho que venha conosco em silêncio."

Suas palavras doeram. Ela entendia que ele poderia estar bravo por ela ter partido sem explicação, mas ele deveria saber o motivo.

Isso era simplesmente doloroso. Como ele poderia se voltar contra ela assim? De todas as pessoas, ele deveria entender!

Ela piscou as lágrimas que se recusavam a parar de rolar por suas bochechas e sorriu dolorosamente.

"Ou o quê? Você vai me matar?"

"Zeta Zezi..."

"Tanto faz, Beta." Ela olhou para as correntes ainda enroladas em suas pernas antes de olhar para eles.

"Vocês definitivamente não me levarão viva. Vou garantir isso."

O maxilar de George se apertou, e então, de repente, um sorriso cruzou seus lábios. A confiança de Zezi foi substituída por confusão.

Será que ele, talvez, queria que ela morresse?

George se virou rapidamente, acertando o pescoço do guerreiro ao seu lado. O guerreiro caiu inconsciente, e então ele pressionou o polegar na testa dele. Seus olhos reviraram por um momento antes de voltarem ao normal, e ele jogou o guerreiro de lado.

Então ele piscou para ela.

"Eu esperava que você dissesse isso."

O alívio a inundou e, em meio à dor, ela se viu sorrindo de volta para ele.

Esse era o George que ela conhecia. Aquele que esteve com ela todos esses anos enquanto eram renegados, aquele que sempre estava disposto a correr qualquer risco por ela. Aquele que decidiu aceitar sua proposta para serem companheiros escolhidos quando descobriram que ela nunca teria um. Embora agora, ela realmente não soubesse como se sentia sobre isso, era reconfortante ter George com ela. Reconfortante tê-lo aqui com ela novamente, como todas as outras vezes em que ele nunca a deixou.

Ele tirou luvas grossas do bolso e desfez as correntes. Levantou-a, carregando-a nos braços porque ela não conseguiria andar por um tempo até a ferida cicatrizar. O que ia demorar um pouco, considerando que era prata.

George tinha uma habilidade passada de geração em geração. Ele podia fazer as pessoas esquecerem coisas se quisesse. Assim como fez com o guerreiro, ele esqueceria de ter visto Zezi ou quem o atacou. Era principalmente um jogo de sorte com o poder, porque às vezes funcionava e outras vezes não. Esse foi um daqueles poucos momentos de sorte em que funcionou.

Ele os levou até um rio, onde ela pôde tomar banho e trocar de roupa. Durante toda a jornada, ambos ficaram em silêncio.

Quando finalmente chegaram a um lugar onde podiam descansar, George cuidou de suas feridas. Ela estava se curando a uma taxa bastante rápida, mas ainda precisaria de um tempo para ficar fora dos pés.

Ela se encostou na árvore onde estava sentada, cansada. Bebeu a garrafa de água que George lhe deu enquanto olhava para a embalagem de comida vazia. Era tão bom ter a barriga cheia novamente.

"Desculpa." Ela finalmente reuniu coragem para enfrentar o que vinha evitando. Ele olhou para ela de onde estava sentado a alguma distância e depois desviou o olhar.

Quando ele se tornou tão difícil de ler? Tão distante. Parecia que quem ele era enquanto a salvava há pouco tempo havia sido completamente substituído.

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