




Capítulo 1
"Droga," rosnou Harvey enquanto tentava tirar o celular do bolso. Ele tinha acabado de parar em frente à casa dos pais e estava prestes a sair do carro. Olhou para o número que estava ligando, era vagamente familiar, mas ele não conseguia ter certeza de quem era.
"Harvey Regal falando," disse ao atender, esperando que fosse uma ligação de negócios. Essas nunca ficavam sem resposta.
"Oi," uma voz aguda soou e ele soube que não tinha nada a ver com negócios. "É a Clara." Ela disse como se o nome fosse suficiente para ele lembrar. Não era, mas pelo jeito familiar com que ela o tratava, Harvey estava quase certo de que tinha dormido com essa mulher.
"Clara..." ele pronunciou o nome dela com uma incerteza óbvia, pois houve um silêncio notável.
"Nos conhecemos naquela festa de aniversário alguns dias atrás e eu passei a noite..." Ele podia perceber que ela estava ficando um pouco irritada e ele se importaria mais se ela fosse alguém que ele quisesse ver novamente. Pelo fato de que ele nem conseguia lembrar o nome dela, Harvey tinha certeza de que a interação não foi nada memorável.
"Sim, eu lembro." ele não lembrava. "Você queria alguma coisa?" Ele passou a mão livre pelo cabelo, lembrando-se de parar de dar seu número pessoal. Engraçado que ele nem se lembrava de ter feito isso.
"Eu-uh," ela gaguejou, não certa se continuaria a conversa. Sua falta de interesse era palpável. "Você não ligou, então pensei em ser proativa e..."
"Escuta, Clara." Harvey a interrompeu. Ele sabia onde isso ia dar, mas não podia deixar que continuasse. "Eu me diverti muito com você na outra noite, mas não estou procurando nada sério agora. Acho que mencionei isso."
"Você mencionou," ela respondeu rapidamente, "Eu só pensei..."
"Ótimo. Fico feliz que você lembre dessa parte. Foi bom ouvir sua voz, Clara." Ele precisava encerrar a conversa.
"É," ela parecia atordoada. "Você também." Ele tomou isso como seu sinal para encerrar a conversa. Saiu do carro e entrou na casa. Imediatamente, se jogou no sofá dos pais. Pegou o controle remoto da TV do puff e começou a passar pelos canais. "Você não tem sua própria casa para se lamentar?"
Harvey virou a cabeça para ver sua irmã descendo as escadas. "Sim, mas lá não tem ninguém que ache minha presença irritante." Ele respondeu, com um meio sorriso. Eva revirou os olhos em resposta.
"Pensei que você ficaria animada em ver seu irmão, Evangeline." Ele provocou enquanto ela contornava o sofá, jogando-se ao lado dele.
"Odeio quando você me chama assim." Ela resmungou, puxando o controle remoto da TV das mãos dele. Harvey não resistiu.
"Eu sei." Ele deu de ombros e voltou sua atenção para o que ela tinha decidido assistir.
"Faz duas semanas que você não vem para casa." Ela voltou sua atenção para ele depois de alguns minutos de silêncio entre eles.
"Eu sei." Ele fechou os olhos e encostou a cabeça no encosto do sofá.
"Duas semanas é seu novo padrão agora?" ela perguntou.
"Como é?" Seus olhos se abriram. Ele se mexeu para poder ver o rosto da irmã.
"Você começou a sair com alguém e, vendo que agora você está aqui no sofá dos nossos pais em vez de estar em casa com sua namorada, sinto que esse relacionamento acabou." Ela o olhou em busca de esclarecimento. A última coisa que Harvey queria era que sua irmã mais nova soubesse de seus 'relacionamentos'.
"Primeiro, como você sabe da minha vida pessoal? Segundo, não era um relacionamento propriamente dito." Ele tentou escolher as palavras com cuidado.
"Nossos pais falam sobre nossas vidas um com o outro. Isso você deveria saber muito bem."
"Trinta anos e meus pais ainda não tiraram o nariz da minha vida." Ele refletiu, se perguntando como eles descobriram sobre seu último encontro.
"Minha preocupação é que você tem trinta anos e ainda não consegue manter um relacionamento por mais de duas semanas. Até eu já tive relacionamentos mais longos." Ela jogou o rabo de cavalo perfeito para trás e se afundou no sofá.
"Espera um segundo." Cada nervo no corpo de Harvey se acendeu. "Esse relacionamento de que você está falando é melhor ser com um amigo imaginário."
"Muito engraçado." Ela respondeu. "Talvez eu tenha exagerado. Eu só tive... bem, tenho um relacionamento." Ela explicou.
"Continue." Ele a incentivou.
"Ele está na minha turma e estamos juntos há um ano." Um pequeno sorriso se espalhou pelo rosto dela.
"Nossos pais já o conheceram?" Harvey resistiu à vontade de acertá-la com uma almofada.
"Você está maluco?" ela se levantou, olhos arregalados e desfocados. "Eles nem sabem que ele existe." Ela sussurrou, olhando ao redor para garantir que ninguém mais estivesse por perto.
"Bem, espero que você possa resolver isso antes do fim da semana ou eu vou contar para eles." Era a vez de Harvey sorrir.
"Você não faria isso!" a voz dela ecoou pela casa.
"Não faria o quê?" Angela entrou na sala. "Vejo que você finalmente lembrou de nos visitar." Ela voltou sua atenção para Harvey.
"Eu sempre lembro, mãe." Ele respondeu enquanto ela lhe dava um beijo na bochecha.
"Sobre o que vocês estavam falando?" os olhos dela passaram entre os dois. Eva olhou para Harvey, seus olhos enviando sinais silenciosos.
"Nada importante." Ele respondeu. Angela estreitou os olhos para eles, mas ninguém disse mais nada.
"Tá bom. Vou terminar de lavar a roupa. Você vai ficar para o jantar, Harvey?" ela perguntou enquanto se afastava.
"Sim!" ele respondeu e ela saiu.
"Obrigada por não dizer nada." Eva sussurrou.
"Eu te dei condições. Conte para a mamãe e o papai até o fim da semana ou eu conto." Ele repetiu cada palavra cuidadosamente. Eva revirou os olhos.
"Eu não acredito em você." Ela deu de ombros.
"Experimente." Sua voz mal era audível. "Melhor ainda, por que eu não apareço na sua escola um desses dias e conheço o cara?" ele sugeriu.
"Eu te odeio." Ela respondeu, cruzando os braços sobre o peito. Seu olhar voltou a se fixar na tela da TV.
"Eu sei." Harvey estava satisfeito. "Então, o que vocês jovens fazem em relacionamentos hoje em dia?" Ele a olhou intensamente. Jurava que, se ao menos um rubor colorisse suas bochechas, ele perderia a cabeça. Eva tinha apenas 13 anos. Ela não tinha o direito de entreter qualquer relacionamento com ninguém. Ele sabia que as crianças amadureciam muito mais rápido recentemente, mas 13 anos era simplesmente muito jovem.
"Coisas normais. Nos vemos na escola, almoçamos juntos e fazemos videochamadas à noite, embora secretamente." Ela respondeu. "Sinceramente, não é tão difícil. Não sei por que você não consegue."
Harvey bufou. "Na sua idade, qualquer comunicação com alguém do sexo oposto é chamada de amizade. Você é muito jovem para ter um namorado." Seus traços endureceram, embora ele não fosse tolo. Tentar dizer a uma adolescente o que fazer seria um tiro pela culatra. "De qualquer forma, como eu disse, não era um relacionamento. Era uma fase de se conhecer e nos cansamos um do outro." A verdade é que ele se cansou de fazer sexo com a mesma mulher. Não havia mais nada que o mantivesse interessado. Era apenas hora de seguir em frente.
"Como você pode se cansar de alguém em apenas duas semanas?" Eva lançou-lhe um olhar sujo. "Você não pode conhecer alguém em apenas duas semanas de conversas."
Harvey deu de ombros. Ela tinha um ponto, no entanto, ele não estava interessado em conversas. Ele apenas sabia que não ia dar certo.
"Relacionamentos adultos são mais complicados do que você pensa." Isso era a única coisa que ele estava disposto a dizer à irmã.
"Parece uma desculpa boba só para dizer que você não quer se comprometer com uma mulher." Ela o empurrou com o pé.
"Quem disse que eu não quero?" Ele agarrou o tornozelo dela e afastou, limpando qualquer poeira que pudesse ter acabado em sua camiseta.
"Você. Você se recusa a ver alguém por mais de duas semanas." Ela achou adequado lembrá-lo de seu próprio comportamento revelador.
"Não, eu me recusei a ver essa pessoa por mais de duas semanas." Ele esclareceu. "É um evento isolado."
"Homens." Ela gemeu, incapaz de continuar a conversa. Ela era muito jovem para discutir com o irmão. Ele nunca a levava a sério.
"Isolado, uma ova." Eles não tinham notado o pai se aproximando para se juntar a eles.
"Claro que você teria uma opinião." Harvey rosnou de brincadeira.
"Eu realmente não acho que você está em posição de julgar, Brad." Angela voltou segurando uma cesta de roupa.
Harvey levantou as sobrancelhas e assentiu em agradecimento. Eva riu. Ela não conhecia toda a história dos pais, mas reuniu o mínimo ao longo dos anos. Provavelmente apenas no sentido de que Brad era um pouco mulherengo. Quanto à verdadeira realidade, ela estava completamente alheia. Ela nem sabia que Harvey era adotado.
"O que você quer dizer, amor?" Seu corpo inteiro ficou imóvel. Seus traços ofendidos. Brad sabia que seu passado havia causado um tremendo sofrimento a Angela e, embora o relacionamento deles tivesse crescido, ele tinha crescido, muito do trauma que ele a fez passar nunca poderia desaparecer completamente. Ao longo dos anos, eles encontraram maneiras de rir sobre isso e ele deixava. Era a maneira dela de tentar mudar a situação em que estavam para algo suportável.
"Você realmente quer que eu fale sobre isso?" ela questionou e, mesmo agora, ele se concentrou no amor que via nos olhos dela. Ele fingiu contemplar a pergunta. Em resposta, Angela jogou uma meia nele da cesta de roupa, desejando não ter acabado de lavá-las.
"É, Brad. Você quer que ela fale sobre sua juventude menos favorável?" Harvey zombou. Todos os olhos se voltaram para ele.
"Corajoso." Eva comentou, esperando que Harvey fosse atacado.
"Nem tente desviar a atenção para seu pai." Angela respondeu e o sorriso desapareceu do rosto de Harvey.
"Eva, você pode levar sua roupa para o seu quarto?" Eva olhou ao redor da sala e gemeu.
"Ninguém nunca me deixa ficar para a parte boa." Ela reclamou. Brad a puxou para mais perto e deu um beijo em sua testa antes que ela se levantasse, pegasse a cesta das mãos da mãe e desaparecesse.
Angela voltou sua atenção para o filho. Ela o encarou por alguns momentos. Brad deu um tapinha nas costas de Harvey, um sinal silencioso de pena de seu pai.
"O que está acontecendo com você ultimamente?" Angela perguntou, sentando-se ao lado de Harvey.
"Eu não sabia que algo estava acontecendo." Ele desviou e Angela revirou os olhos. Ele realmente se deu ao trabalho de olhar para ela. Fazia quinze anos desde que ele foi acolhido pela família e ele não tinha notado as pequenas rugas na testa ou ao redor da boca dela antes.
"Ela simplesmente não era a pessoa certa." Ele cedeu. Sim, ele amava seu pai, mas sua mãe era a única pessoa que achava que ele valia algo e ele nunca poderia retribuir seu amor e encorajamento.
"E você decidiu isso com base em um caso de duas semanas?" Brad riu, cruzando as pernas para ficar mais confortável.
"Ugh." Harvey sentiu arrepios por todo o corpo. "Essa é uma conversa estranha para ter com meus pais, vocês entendem isso, certo?"
"Por quê? Nós tivemos casos nos nossos dias. Caramba, como você acha que sua mãe e eu começamos?" Brad interveio.
"Brad!" Angela exclamou, um leve rubor aparecendo em suas bochechas.
"UGH." Harvey cobriu o rosto com as palmas das mãos. "Eu não quero saber disso." Ele se perguntou se algum dia conseguiria tirar a imagem da cabeça.
"Enfim, voltando ao assunto." Angela tentou salvar a conversa. "Você tem tido esses curtos," ela fez uma pausa, "relacionamentos, ultimamente. Estou apenas me perguntando se é porque você ainda não está sério."
"Se eu for honesto, eu simplesmente não encontrei alguém com quem eu esteja disposto a ter um relacionamento." Ele mordeu o lábio inferior, pensativo. "Eu vejo vocês dois e vejo um relacionamento perfeito, eu não encontrei alguém com quem eu pudesse ter isso." Ele disse.
"Relacionamento perfeito?" Brad e Angela repetiram as palavras em uníssono. Eles se entreolharam.
"Harvey, não existe algo como um relacionamento perfeito." Angela segurou as mãos dele nas dela.
"Sua mãe está certa. Não se esqueça de que lutamos com unhas e dentes para chegar onde estamos." Brad acrescentou.
"Tudo o que você quer precisa ser cultivado com muito trabalho e compromisso, e isso inclui relacionamentos." Angela passou os dedos pelo cabelo de Harvey. Seu filho havia crescido e, por um segundo, ela se perguntou como a vida teria sido diferente se os eventos que aconteceram não tivessem ocorrido.