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Prólogo

"Preciso falar com você." Amber entrou apressada pela porta da frente, empurrando a irmã sem nem ao menos cumprimentá-la. Mia piscou surpresa, aproveitando o momento para se recompor. Ela queria desesperadamente rir da energia nervosa da irmã. A última vez que Amber estava tão agitada foi na universidade, quando um dos professores perdeu seu trabalho final e ela estava preocupada em reprovar.

"Venha para a cozinha, vou fazer aquele chá de ervas que você gosta," Mia deu um tapinha nas costas de Amber, guiando-a para a cozinha. Ela sabia que era melhor dar tempo para Amber falar sobre o que a estava atormentando. Isso, no entanto, não impediu que a curiosidade consumisse Mia.

O que poderia ser o problema?

"Desculpe ser eu a te contar isso, Mia." Se segurasse por mais tempo, temia vomitar. Quem sabia que verdades podiam ser tão devastadoras?

"Me contar o quê?" Mia deu dois passos lentos até a mesa da cozinha depois de fechar a geladeira com o quadril. Ela descarregou o que estava carregando na mesa, ficando mais preocupada a cada segundo. Ela achava que já tinha visto de tudo quando se tratava de Amber, mas isso era diferente. Sua irmã estava pálida e abatida.

"Você pode me contar qualquer coisa," Mia lembrou a Amber depois que ela ficou um pouco em silêncio.

"É melhor eu te mostrar." Amber alcançou sua bolsa lateral para pegar o celular. Ela exalou, olhando para a tela antes de entregar o celular para a irmã.

Mia viu uma foto de outra mulher saindo do carro do marido, uma mulher que parecia muito familiar. Ela olhou para a irmã. O celular em suas mãos ameaçando cair no chão. Um enjoo nauseante surgindo no estômago de Mia. Seu corpo inteiro tremendo.

"Deslize para a próxima foto." Amber sussurrou. Não havia satisfação em revelar a verdade para sua irmã. Nem um pouco. Mia fez o que lhe foi dito e viu seu marido entrando na casa de outra mulher.

"Quando isso foi tirado?" Mia perguntou, sua voz fraca, débil e desmoronando a cada segundo.

"Eu sei o que você está pensando, Mia." Amber exalou para abafar o tamborilar em seu peito. "Essa não é uma foto antiga. Foi tirada há vinte minutos."

Os azulejos de porcelana sob os pés sandaliados de Mia tremeram; um eco feroz de sua própria descrença furiosa. Sua cabeça se movia de um lado para o outro, olhos fechados.

"Ele prometeu." Ela sussurrou. Sua voz rachando.

"Ele prometeu." Ela repetiu as palavras para a irmã enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Amber não suportava a visão.

Será que os votos matrimoniais não significavam mais nada? A santidade do casamento era uma farsa contada para meninas como uma brincadeira doentia? Mia soltou um suspiro trêmulo para conter o fogo que ardia atrás de seus olhos. Ela não podia acreditar que essa era sua vida agora.

"Ma-ri-do." Ela gemeu a palavra em voz alta para as paredes insensíveis de sua cozinha. Suas mãos apertando o estômago, seus punhos cheios de tecido torcido. Amber estava de pé agora. Ela ficou na frente da irmã, seus braços estendendo-se para ela incertamente.

"Nossa filha tem apenas um mês." Ela soluçou no ombro da irmã.

"Eu sei. Vai ficar tudo bem, Mia." Amber apertou mais a irmã. "Você pode vir ficar comigo. Eu vou te ajudar com o bebê e-"

"Não." Mia engoliu o nó na garganta. "Eu preciso falar com ele." Ela lentamente se levantou do chão.

"O que mais há para falar?" O temperamento de Amber explodiu. "Ele quebrou todas as promessas que fez para você. E essa nem é a primeira vez."

"Me envie as fotos." Mia entregou o celular para Amber. Amber a encarou por um momento antes de obedecer.

O choro agudo do bebê ecoou pelo monitor na cozinha, "Ela acordou. Preciso ir ver como ela está."

"Mia." Amber não entendia a reação da irmã. Era como se um interruptor tivesse sido acionado e toda a tristeza tivesse desaparecido.

"Vá para casa. Eu ligo amanhã." Mia deu um abraço na irmã e foi para o quarto do bebê.


Gabriel Evans estacionou o carro na entrada de sua casa e entrou. Sua boca salivava ao pensar na comida da esposa. Ele exalou e empurrou a porta da frente. Sem pensar duas vezes, seus pés o levaram até a cozinha. Ele tinha trabalhado bastante apetite mais cedo, mas nada que uma boa refeição caseira não pudesse resolver.

Sua respiração parou ao ver sua esposa. Ela estava ocupada arrumando a mesa com saltos altos. "Caramba, você está incrível." ele exalou enquanto seus olhos percorriam o corpo dela. Fazia meses que ele não a via em nada além de camisetas largas e calças de moletom. Hoje à noite, ela estava toda arrumada em um vestido preto que chegava ao joelho. Olhos sombreados e misteriosos com a ajuda de sombra e delineador preciso. Tudo impecável.

"Estou?" Mia se endireitou, arqueando as costas enquanto o olhava com um pequeno sorriso. Tomado pela emoção, Gabriel avançou em direção a ela, alheio ao vacilar do sorriso dela e ao apertar dos músculos faciais. Ele envolveu os braços ao redor da cintura dela e a puxou contra seu corpo. Sua excitação pressionando contra o estômago dela e Mia se sentiu enjoada. Ela podia sentir o cheiro do sabonete e da pasta de dente desconhecidos em seu hálito e se perguntou por que nunca tinha notado isso antes.

"É assim que você me seduz?" ele abaixou a cabeça para o pescoço dela, colocando beijos de boca aberta ali. "Espero que haja algo extra especial debaixo desse vestido." ele rosnou.

"Parece que você é facilmente seduzido," Mia disse entre dentes. Ela puxou os braços dele de volta e o empurrou. A súbita ação o pegou de surpresa e ela conseguiu criar alguma distância.

"Quando sou confrontado com tanta beleza, como não seria?" ele arqueou as sobrancelhas e deu um passo à frente, pronto para alcançá-la novamente, mas Mia não podia permitir.

"Vamos atrasar o jantar um pouco?" ele sorriu, "Começar com a sobremesa?" a sugestão no tom dele foi suficiente para fazer o estômago dela revirar. Ela se esquivou do alcance dele. Que piada de mau gosto! A voz em sua cabeça gritou.

Ele não tinha vergonha? A excitação evidente em suas calças. Como ele podia achar que estava tudo bem tocá-la com aquelas mãos sujas que tinham dado prazer a outra mulher momentos antes de ele entrar em casa? Como ele podia ser tão cruel? Todo o esforço dela, todos os anos que ela dedicou a esse homem não significavam nada. Absolutamente nada!

"É por isso?" ela perguntou silenciosamente enquanto circulava a mesa para criar alguma distância, suas feições não traíam nada.

"Razão para o quê?" Sua natureza primitiva estava sendo provocada por esse jogo de gato e rato que ela estava jogando. Quem diria que sua tímida esposa tinha isso dentro dela para se aventurar na sedução? Todos os pensamentos sobre sua fome desapareceram e, pela primeira vez em muito tempo, ele teve um desejo ardente de tomar sua esposa contra a mesa da cozinha.

"Eu não tenho estado com a melhor aparência ultimamente, meu corpo está uma bagunça depois do parto..." Ela pausou, observando a testa dele se enrugar e seus olhos ficarem confusos.

"Agora você está absolutamente deliciosa," ele a interrompeu, praticamente salivando pela boca por um gosto de sua esposa.

"É por isso?" ela repetiu a pergunta novamente, suas mãos tremiam e ela segurou o encosto de uma cadeira para se equilibrar. Ela esperava que o mentiroso desgraçado simplesmente confessasse e a poupasse da agonia.

"Querida, eu não te entendo, razão para o quê?" Ele mal registrou a urgência na voz dela, confundindo-a com um jogo sexual. Suas mãos desceram até as calças e ele começou a desabotoar o cinto.

Porco repugnante! Ela estava enojada que ele sequer se dignasse a fazer sexo com ela. Ela não significava nada? Como ele podia tratá-la como uma prostituta qualquer? Incapaz de dizer mais palavras, Mia pegou seu celular e o jogou nele. Suas mãos atrapalharam, mas ele pegou, virando-o para olhar a imagem condenatória.

"Espiando-me, amor?" Sua fachada não se quebrou. Ele quase parecia divertido enquanto jogava o celular de lado, pronto para fixar os olhos nela novamente. O volume em suas calças apenas aumentou mais.

"Quase," Mia zombou, seus olhos escureceram, uma representação visível das sombras que engolfavam seu coração. Ele apareceu ao lado dela, cobrindo seus ombros nus com as palmas das mãos, sua cabeça descendo para descansar na dela. Mia o empurrou com um grunhido, criando espaço novamente. Ela odiava olhar para o rosto dele, odiava que pensava que seu amor seria suficiente para ele, mas não era. Nem mesmo a dor que ela passou no parto o fez pensar duas vezes!

Nem a filha deles de um mês de idade dormindo em seu berço. Nada!

"Que porra é essa, Mia?" suas sobrancelhas se franziram e seu tom se aprofundou. "Ficar difícil de conseguir pode se tornar irritante muito rapidamente."

"Você quebrou sua promessa para mim." Seus olhos arderam pela décima vez naquela noite. Desta vez havia raiva misturada.

"Eu não fiz nada disso." Ele rebateu com um suspiro indignado, como se ela estivesse falando absoluta loucura.

Talvez ela estivesse louca. Por que mais ela estaria entretendo isso? Mia não sabia o que estava esperando, mas não era isso.

"Você me traiu, Gabriel." Ela olhava nos olhos dele, mas não havia remorso, nem choque. Nada! Ela realmente significava tão pouco.

"Eu não estou te traindo." Foram as únicas palavras que ele disse, depois das quais ele estampou um sorriso largo no rosto. "Eu te amo." outra tentativa de alcançá-la, de beijar as terríveis acusações embora e, por mais que Mia quisesse acreditar nele, ela não podia. Ele era um mentiroso, um traidor, um fraude. Ela deu os melhores anos de sua vida a ele e ele os desperdiçou.

"Não me toque!" ela gritou quando ele se aproximou e ele parou em suas trilhas. Seu comportamento finalmente alterando.

"Pare de ser tão dramática, Mia." ele suspirou, puxando uma cadeira para se sentar. Ele pegou um garfo e começou a devorar sua refeição.

"Você não pode estar falando sério agora?" Em estado de choque com o quanto ele se importava pouco. Ele não via que ela estava sofrendo? Que ele era a causa disso?

"Se você não vai me foder, então o mínimo que pode fazer é me deixar comer. Estou faminto." ele engoliu um pouco de água, sem prestar atenção nela.

"Você não foi fodido o suficiente por um dia?" ela gritou para ele, sua garganta doendo. E ele teve a audácia de sorrir.

"Obviamente não." ele respondeu, revirando os olhos como se ela fosse a parte ofensiva. Mia bufou, passando as mãos pelo cabelo e fechando os olhos.

"Eu não posso acreditar que você está fazendo isso comigo." ela disse mais para si mesma.

"Eu não fiz nada, Mia. Você é quem está fazendo uma cena por nada. Um homem não pode cometer um erro? O que aconteceu com 'na saúde e na doença'?" ele gemeu, a comida tendo gosto de papelão para ele porque estava irritado com o comportamento decepcionante dela.

"Erro?" ela o encarou incrédula. "Você caiu e acidentalmente enfiou seu pênis em outra mulher?" ela começou a rir histericamente.

"Você é um pedaço de merda! Eu estive aqui 'na saúde e na doença'." ela gritou. "Eu desisti de tudo, coloquei meu futuro em suas mãos e você tratou isso como se fosse lixo!"

"Calma, Mia. Você vai acordar o bebê." ele continuou.

"Vamos nos divorciar, Gabriel. Diga que vai fazer isso e eu me acalmo." ela pronunciou as palavras entre dentes cerrados, sua mandíbula doendo pela força não natural. Gabriel a estudou, não era a primeira vez que ela pedia o divórcio.

Dois anos atrás, depois de encontrá-lo entretendo outra mulher na cama deles, ela estava determinada a deixá-lo, só Deus sabia por que ela não aproveitou a chance naquela época. Ele prometeu, de joelhos, passar o resto da vida corrigindo suas transgressões e ela acreditou nele. Deu-lhe outra chance e para quê? Para ser humilhada mais uma vez.

Ele bufou e balançou a cabeça. O garfo em sua mão batendo no prato à sua frente enquanto ele se recostava na cadeira para olhar para ela. "Vou te fazer um favor," ele deu de ombros. "Diga que eu me divorcio de você, você acha que vou permitir que você saia com minha filha?"

O coração de Mia disparou. Ele não podia estar dizendo o que ela pensava? Ele não faria isso. Isso seria cruel demais, até para ele.

"Você tem duas escolhas." Ele respondeu após alguns minutos de deliberação. "Vá embora, mas tenha certeza de que nunca terá nem cinco minutos sozinha com minha filha." ele ameaçou.

"Nossa filha." seu sangue gelou. Desgraçado!

"Não se você escolher deixá-la." ele respondeu despreocupadamente. Essas eram as palavras de um homem que acabara de proclamar que a amava?

"Mia, se você me deixar, você deixa nossa filha. Eu posso proporcionar a ela uma vida estável, mas você não pode. Esqueceu que desistiu do seu emprego quando ficou grávida?" ele estava usando a dependência dela contra ela e ela não tinha ninguém além de si mesma para culpar. Ela confiou nele e agora estava pagando o preço.

"Você é nojento." ela cuspiu nele.

Mia fechou os olhos em uma tentativa fraca de impedir que o líquido quente rolasse por suas bochechas. "Podemos ter uma boa vida juntos, Mia. Pense nisso." Ele beijou sua bochecha e saiu da cozinha.

Mia desabou na cadeira. Suas lágrimas fluindo com força total ao som do choro de seu bebê pelo monitor.

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